TIAGO JOSIE KOHUT ASSOCIAÇÃO COMERCIAL E EMPRESARIAL: UMA FERRAMENTA DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO EMPRESARIAL NO PARANÁ
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1 0 UNIVERSIDADE DO CONTESTADO UnC CURSO MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL TIAGO JOSIE KOHUT ASSOCIAÇÃO COMERCIAL E EMPRESARIAL: UMA FERRAMENTA DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO EMPRESARIAL NO PARANÁ CANOINHAS 2014
2 1 TIAGO JOSIE KOHUT ASSOCIAÇÃO COMERCIAL E EMPRESARIAL: UMA FERRAMENTA DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO EMPRESARIAL NO PARANÁ Trabalho apresentado como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento Regional, pelo Programa de Mestrado em Desenvolvimento Regional da Universidade do Contestado UnC - Campus Canoinhas, sob orientação do professor Dr. Reinaldo Knorek. CANOINHAS 2014
3 2 ASSOCIAÇÃO COMERCIAL E EMPRESARIAL: UMA FERRAMENTA DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO EMPRESARIAL NO PARANÁ TIAGO JOSIE KOHUT Esta Dissertação foi submetida ao processo de avaliação pela Banca Examinadora como requisito parcial para a obtenção do Título de: Mestre em Desenvolvimento Regional. E aprovado na sua versão final em 18 de julho de 2014, atendendo às normas da legislação vigente da Universidade do Contestado UnC e Coordenação do Curso do Programa de Desenvolvimento Regional. Coordenador do Curso Sandro Luiz Bazzanella BANCA EXAMINADORA: Presidente da banca: Prof. Dr. Reinaldo Knorek Membro externo: Profa. Dra. Ana Paula Silva Yamauti Membro: Prof. Dr. Walter Marcos K. Birkner Suplente: Prof. Dr. Sandro Luiz Bazzanella
4 3 LISTA DE SIGLAS ACE ABNT CACB CEPUnC EUA FACIAP IBGE IPARDES ONG PIB PR SEBRAE UnC Associação Comercial e Empresarial Associação Brasileira de Normas Técnicas Confederação Brasileira de Associações Comerciais e Empresariais Comitê de Ética e Pesquisa da UnC Estados Unidos Federação das Associações Comerciais e Empresariais do Estado do Paraná Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social Organização não Governamental Produto Interno Bruto Paraná Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas Universidade do Contestado
5 4 LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 Cenário pós-tocquevilliano... 27
6 5 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 Como é a infraestrutura da ACE Posicionamento Gráfico 2 Como é a infraestrutura da ACE Atratividade Gráfico 3 Serviços da ACE Posicionamento Gráfico 4 Serviços da ACE Atratividade Gráfico 5 Treinamentos ofertados pela ACE Posicionamento Gráfico 6 Treinamentos ofertados pela ACE Atratividade Gráfico 7 Empreendedorismo Posicionamento Gráfico 8 Empreendedorismo Atratividade Gráfico 9 Desenvolvimento Posicionamento Gráfico 10 Desenvolvimento Atratividade Gráfico 11 Função social das ACEs Posicionamento Gráfico 12 Função social das ACEs Atratividade... 56
7 6 LISTA DE QUADROS Quadro 1 Autores e definições de capital social Quadro 2 Resultado da Pesquisa Realizada pelo SEBRAE-PR, referente as Características Empreendedoras... 32
8 7 LISTA DE TABELAS Tabela 1 Descrição da capital Curitiba PR Tabela 2 Municípios associados à FACIAP, com população entre e habitantes Tabela 3 Municípios associados à FACIAP, com população entre e habitantes Tabela 4 Municípios associados à FACIAP, com população acima de habitantes... 41
9 8 SUMÁRIO 1 APRESENTAÇÃO DO TEMA PROBLEMA JUSTIFICATIVA HIPÓTESE OBJETIVOS Objetivo Geral Objetivos Específicos REFERENCIAL TEÓRICO O DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO FORMAÇÃO DE CAPITAL SOCIAL CAPITAL SOCIAL E CULTURA ASSOCIATIVISMO EMPREENDEDORISMO MATERIAIS E MÉTODOS DESCRIÇÃO DO LOCAL DA PESQUISA ECONOMIA FEDERAÇÃO DAS ASSOCIAÇÕES COMERCIAIS E EMPRESARIAIS DO ESTADO DO PARANÁ RESULTADOS E DISCUSSÃO INFRAESTRUTURA SERVIÇOS TREINAMENTOS EMPREENDEDORISMO DESENVOLVIMENTO FUNÇÃO SOCIAL DAS ACEs CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERÊNCIAS APÊNDICE - QUESTIONÁRIO PESQUISA DE CAMPO... 64
10 9 1 APRESENTAÇÃO DO TEMA O tema central dessa dissertação é uma análise sobre o associativismo como uma ferramenta de desenvolvimento empresarial, destacando-se, sobretudo a Associação Comercial e Empresarial do Paraná (ACEs-PR). Esse tema tem sido um dos focos crescente em debates acadêmicos e empresariais, e até mesmo em discussões do senso comum, pois representa um fenômeno recente no desenvolvimento social, embora não se constitua em uma ideia recente, haja vista que o conceito de associações é empregado na teoria organizacional desde o começo do século XX, partindo do princípio básico de que uma vez unidas e confiando umas nas outras, tornam-se mais fortes, e essa união faz com que encontrem as soluções para problemas comuns. As associações são instituições que buscam promover a educação, cultura, política e os interesses de determinadas classes. O propósito das associações é reunir atributos que permitam uma adequação ao ambiente competitivo em uma única estrutura, sustentada por ações uniformizadas, porém descentralizadas e independentes, que possibilitem ganhos em escala, sem perda de flexibilidade das empresas associadas; nelas a iniciativa, a criatividade e a diversidade são molas propulsoras do trabalho, permitindo-lhes funcionar como verdadeiras escolas de cidadania, em busca das transformações que a sociedade exige. De acordo com o Código Civil, em seu artigo 53, as associações são pessoas jurídicas constituídas pela união de pessoas que se organizam para fins não econômicos. Não há, entre os associados, direitos e obrigações recíprocos, mas entre os associados e a associação. A união de empresários tem sido analisada por meio dos conceitos de fusão empresarial, clusters e outras formas de redes, todavia, para a presente pesquisa, a abordagem será a do associativismo competitivo empresarial, organizado por meio das ACE (Associações Comerciais e Empresariais) do Estado do Paraná. Dessa forma, buscou-se focar o fato confiança, como condição sine qua non para o agrupamento das empresas, e, por meio dela, a geração de capital social. Nessa abordagem, foram utilizados os conceitos dos principais teóricos nessa temática: Tocqueville, Putnam, Fukuyama e Peyrefitte, buscando explicações necessárias
11 10 para o fortalecimento da economia paranaense e sua importância no contexto regional. A Associação Comercial do Paraná, uma entidade de classe sem fins lucrativos, fundada em 1890, pelo Barão do Serro Azul, oferece aos seus associados, micro e grandes empresas uma série de benefícios, tais como: análise de crédito (pessoa física e jurídica), certificação digital, nota fiscal eletrônica, cursos livres, locação de auditório e salas para treinamento, plano de previdência, planos de saúde, publicações, além de outros serviços. 1.1 PROBLEMA Uma das principais tendências que se intensifica na economia moderna, sob o marco da globalização e do processo de reestruturação industrial é a que diz respeito às formas de relações intra e interempresas, particularmente, aquelas envolvendo pequenas e médias organizações (AMATO NETO, 2000). As Associações Comerciais e Empresariais são entidades corporativistas, não meramente representantes de determinados setores da economia, mas entidades prestadoras de serviços, desde a simples reprodução de documentos a consultas de proteção ao crédito, treinamentos, parcerias, convênios e, principalmente, o fomento de discussões socioeconômicas sobre questões gerais e de âmbito municipal, estadual ou federal. Nesse ambiente, o associativismo pode tornar-se um diferencial competitivo, uma das formas de competição e diferenciação do processo produtivo, dos produtos e serviços. De certa forma, desenvolve apoio e incentivo aos empresários para inovar e gerar mudanças, tanto no processo produtivo quanto ao relacionamento, fortalecendo, dessa forma, a confiança entre eles. Por outro lado, Pereira et al (2005) apud Silva (2007) ressaltam que todas as empresas não devem, necessariamente, participar de associações para crescer, no entanto, acredita-se que essa forma de associação alavancaria a sua estrutura. Para compreender a importância da confiança para o desenvolvimento de ações coletivas, primeiro é necessário compreender como se comportam as pessoas ao se agruparem, quais são suas motivações e expectativas. Ao fazer parte de uma associação, existe a cooperação e o alinhamento de interesses em uma ação
12 11 coletiva, constatando-se que os indivíduos têm necessidades comuns, que só podem ser atendidas por meio de ações conjuntas (PEREIRA; PEDROSO, 2005). As ações conjuntas para suprir os interesses individuais geram, de forma natural, problemas que circundam o não entenderem da realidade do outro, formas de pensar, atitudes e ações incompatíveis, resultando um desequilíbrio no relacionamento comercial. Fukuyama (1996), ao analisar a confiança, destaca como fundamental a questão cultural, que pode ser caracterizada pelos hábitos e tradições de determinada sociedade. Para ele [...] o bem-estar de uma nação, bem como sua capacidade de competir, é condicionado a uma única, abrangente característica cultural: o nível de confiança inerente à sociedade (p.21). A necessidade de confiar é tão importante quanto a vontade de ser confiável, porém hábitos e tradições muitas vezes falam mais alto. Pode-se considerar que a cultura regional gera relacionamentos entre empresários que formam as associações. Um dos fatores que influenciam esse aspecto é a falta de confiança e pensamento independente de alguns empresários quanto à inovação de produtos; redução de preço no produto disponibilizado no mercado, aquisição de máquinas e equipamentos. Tocqueville, em sua obra A Democracia na América, atribuiu grande importância à propensão dos americanos a formar organizações civis e políticas, e essas associações não são apenas de caráter comercial e industrial, mas associações com várias outras finalidades, associações formadas com base na confiança e no apoio mútuo. Em sua viagem aos Estados Unidos, EUA, Tocqueville tinha como principal objetivo identificar empiricamente o modelo de organização da sociedade que estava sendo formado. A democracia foi caracterizada como a melhor forma de governo, por incentivar a igualdade e a liberdade dos povos, que podem e devem agir para que o Estado não se torne despótico, autoritário e centralizador do poder, permitindo-se, assim, que a população participe das decisões que afetam os seus interesses e a forma de conduzir sua vida. Diante do contexto social que se formava nos EUA, com tão poucos ignorantes, em que a população tinha oportunidades e acesso à educação, foi criado um ambiente propício à defesa dos seus direitos individuais e coletivos. Tocqueville (2005), concluiu que a participação popular, assim como a descentralização administrativa e a organização de associações contribuíram para a defesa da cidadania e manutenção das instituições públicas. Outro dos seus pressupostos é que a melhor
13 12 democracia é aquela que permite o maior número de facções de interesses presentes na sociedade, ou seja, aquelas que ampliam as possibilidades de geração de capital social. Putnam (1996, p.179) afirma que a confiança é uma das formas de capital social, [...] cuja oferta aumenta com o uso, em vez de diminuir, e que se esgotam se não forem utilizados. Ou seja, quanto mais os empresários confiarem uns nos outros, maior será a confiança mútua, aumentando, dessa forma, a cooperação e alcançando melhores resultados. Já Fukuyama (2000) coloca como centro da sua discussão o individualismo, sendo a virtude básica das sociedades modernas. Quanto mais tornam-se autosuficientes, menos disposição apresentam para associar-se, e quanto menos se associam, menores são as possibilidades de produzirem cooperando, afinal, uma condição sine qua non para confiança é o coletivismo, como o autor afirma: A confiança é um subproduto vital das normas sociais cooperativas que constituem o capital social. Se pode contar que as pessoas mantenham seus compromissos, respeitem normas de reciprocidade e evitem o comportamento oportunista, então os grupos irão se formar mais facilmente e aqueles que se formarem estarão aptos para atingir fins comuns de forma mais eficiente (FUKUYAMA, 2000, p.60). Fazer parte de uma associação requer que cada parceiro dê sua contribuição para agregar valor, requer comprometimento, cooperação mútua, confiança entre os parceiros, tendo em mente que todos os associados estão do mesmo lado e possuem objetivos semelhantes. As relações de confiança permitem à comunidade superar mais facilmente o que os economistas chamam de oportunismo, no qual os interesses comuns não prevalecem, porque o indivíduo, por desconfiança, prefere agir isolada e, não, coletivamente (PUTNAM, 1996). Existe uma relação direta entre o grau de engajamento das pessoas em relação ao agrupamento, com a eficácia das organizações a que eles representam; quanto mais participativos e operantes forem os empresários numa associação, melhores serão seus resultados. Putnam (1996, p. 8), referindo-se ao envolvimento dos indivíduos, agrega a confiança como fator fundamental para que exista a cooperação, a solidariedade e o espírito público. Estabelece relações claras entre o capital social e sua importância para a cooperação espontânea, assinalando que a confiança se alimenta da própria
14 13 confiança, potencializando-se, tanto quanto mais é utilizada. Partindo desse pressuposto, tendo a confiança como base para a formação de capital social, questiona-se: como as ACEs-PR podem ser uma ferramentas de desenvolvimento que contribui para a promoção do capital social e da ampliação das atividades comerciais e empresariais no Estado Paraná? 1.2 JUSTIFICATIVA Justifica-se a relevância teórica deste estudo ao contribuir para o debate sobre o desenvolvimento regional, sob a ótica do cenário atual de crescimento econômico, caracterizado pela expansão das atividades produtivas, pelas fusões e incorporações, capitaneadas por investimentos de empresas estrangeiras, pelas privatizações e, principalmente, pela formação de associações, com objetivo de agregar valor aos produtos e serviços por meio da cooperação. A preocupação com o desenvolvimento sustentável das regiões e das comunidades atrelado à necessidade de promoção do crescimento econômico adaptado às novas realidades do mercado, e suas necessidades tecnológicas e de conhecimentos cada vez mais distintos, faz com que as empresas encontrem nas associações o suporte necessário para manterem-se proativas e inovadoras. Dessa forma, é condição básica estudar a formação de capital social, por meio das associações, sua formação, estrutura e a forma com que atuam junto aos seus associados. Em termos práticos, o estudo buscará trazer à luz dos estudos econômicos a importância das associações para o desenvolvimento regional, bem como a atuação dessas associações, e, quantitativamente, constatar a influência desse tipo de agrupamento nas regiões em que são atuantes. 1.3 HIPÓTESE Para que este trabalho se fundamente com pesquisa, levanta-se a seguinte hipótese: a) Se as ferramentas de apoio ao desenvolvimento comercial e industrial do Paraná utilizadas pelas ACEs nas atividades comerciais e empresarias são
15 14 eficazes e eficientes, então é verificável uma melhora na promoção do capital social e econômico nos municípios onde elas estão inseridas. 1.4 OBJETIVOS Objetivo Geral Investigar a importância das ACEs no desenvolvimento comercial e empresarial no Estado do Paraná Objetivos Específicos a) Classificar as ACEs no Estado do Paraná; b) Identificar as ferramentas de desenvolvimento comercial e empresarial utilizadas pelas ACEs no Estado do Paraná; c) Analisar a contribuição das ACEs para o desenvolvimento da indústria e comércio no Estado do Paraná. d) Analisar a percepção os empresários associados sobre a importância no posicionamento e na atratividade da função das ACEs no Estado do Paraná.
16 15 2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 O DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO Desenvolvimento econômico é um tema que começou a ser teorizado somente no início do século XX, haja vista que a preocupação daqueles que se ocupavam das finanças das nações era melhorar as condições de vida de sua população, que sofria com o analfabetismo, com os surtos de fome, já que dependiam única e exclusivamente daquilo que plantavam, ficavam à mercê das intempéries climáticas. Também a necessidade de segurança superava os objetivos econômicos e sociais, as viagens eram longas e perigosas, as guerras pela posse das terras eram frequentes. Foi com o surgimento do Estado moderno e as grandes descobertas marítimas que se iniciou uma preocupação constante com as relações econômicas, que, por sua vez, propiciavam o desenvolvimento econômico das regiões. A partir da década de 1970, vários estudiosos apontaram as diferenças entre desenvolvimento e crescimento, sendo o desenvolvimento caracterizado pelo aumento ou redução da pobreza, desemprego e desigualdade e o crescimento pela geração de riquezas. Souza (2005) acredita que a origem da questão do desenvolvimento econômico encontra-se no pacto social, derivado do pensamento mercantilista, principalmente no século 18, com o surgimento das escolas fisiocráticas na França, e clássica na Inglaterra. De fato, constata-se que não existe uma definição universalmente aceita de desenvolvimento. Porém uma primeira corrente de economistas (pode-se citar dois autores neoclássicos Meade e Solow; e outros teóricos keynesianos, como Harrod, Domar e Kaldor) de inspiração mais teórica considera crescimento como sinônimo de desenvolvimento; já uma segunda corrente (destacam-se economistas com Lewis, Hisrschman, Myrdal e Nurkse), voltada para a realidade empírica, entende que o crescimento é condição indispensável para o desenvolvimento, mas não é condição suficiente (SOUZA, 2005). Nessa segunda corrente podem-se citar também: Prebish, Furtado, e Singer, além de outros autores de tradição cepalina e marxista. Segundo essa corrente, o
17 16 desenvolvimento econômico implica mudanças de estruturas econômicas, sociais, políticas e institucionais, com a melhoria da produtividade e da renda média da população, como bem afirma Chenery (1981, p.9, apud SOUZA, 2005, p.6): Pode-se considerar que o desenvolvimento econômico é um conjunto de transformações intimamente associadas, que se produzem na estrutura de uma economia, e que são necessárias à continuidade de seu crescimento. Essas mudanças concernem à composição da demanda, da produção e dos empregos, assim como da estrutura do comércio exterior e dos movimentos de capitais com o estrangeiro. Consideradas em conjunto, essas mudanças estruturais definem a passagem de um sistema econômico tradicional a um sistema econômico moderno. Dessa forma, Souza (2005) acrescenta que existem algumas condições básicas para que o desenvolvimento econômico aconteça: a) existência de crescimento contínuo, superior ao crescimento demográfico; b) mudanças estruturais e melhoria de indicadores econômicos, sociais e ambientais; c) fortalecimento da economia local, regional e nacional; d) ampliação da economia de mercado; e) elevação da produtividade e do nível de bem-estar da população; f) preservação ambiental e desenvolvimento de consciência ecológica da população. Com o desenvolvimento, a economia adquire maior estabilidade e diversificação, o progresso tecnológico e a formação de capital tornam-se progressivamente fatores endógenos, isto é, gerados no interior do país, embora a integração internacional seja um processo gradual e irreversível. Para Boisier (1999), o conceito de desenvolvimento econômico tem suas raízes na economia neoclássica, fundamentada no pós-guerra, inicialmente, associado ao crescimento, mensurado pelo PIB, como pode ser observado na afirmação de Echevérnia, espanhol considerado o pai da Sociologia lationoamericana do desenvolvimento, que relata que o desenvolvimento econômico é um processo contínuo, cujo mecanismo essencial é a aplicação repetida do excedente em novos investimentos, o que também resulta na melhoria da qualidade de vida da população (citado por BOISIER, 1999, p.2). A pobreza e o desemprego são dois fatores passíveis de mensuração, porém as desigualdades existentes em determinados locais é um fator que vai além. Para
18 17 que se possa traçar o perfil de determinada região, é necessário que seja feita uma análise particular e pontual dessa realidade, buscando identificar as razões que ocasionam as desigualdades. Em relação ao bem-estar da população, Vazquez-Basquero (2000, p.5) define desenvolvimento regional da seguinte forma: [...] como um processo de crescimento e mudança estrutural através do uso de potencial de desenvolvimento no território leva a melhorar o bem-estar da população de uma localidade ou região. Quando a comunidade local é capaz de liderar o processo de mudança estrutural, a forma de desenvolvimento pode concordar com o chamado desenvolvimento local endógeno. O processo de crescimento e mudança estrutural a que o autor se refere, tende a ser o principal obstáculo ao desenvolvimento, haja vista que disso depende a visão dos gestores das políticas públicas. Boisier (1999, p.6) afirma que El desarrollo es la utopía social por excelência, pois quando uma determinada comunidade alcança status de desenvolvida, logo traça novas metas, e será necessário empreender novos esforços, o que mostra o dinamismo da economia, que evita a estagnação. Boisier (1999) afirma que o desenvolvimento regional consiste em um processo de mudança estrutural localizado (em um âmbito territorial denominado região), que se associa a um permanente processo de progresso e da própria região, de uma comunidade ou sociedade que habita nela e de cada individuo membro dessa comunidade e habitante desse território (tradução nossa). O processo de desenvolvimento regional se produz pela utilização eficiente do potencial econômico local, que é facilitado pelo bom funcionamento das instituições e por eficientes políticas públicas, que promovam as mudanças estruturais necessárias para mudar a visão da região, de mero suporte físico dos objetos, atividades e processos econômicos, para uma agente de transformação social. A economia de cada região está vinculada ao sistema de relações econômicas do país, em função de sua especificidade territorial, e de sua identidade econômica, política, social e cultural (VAZQUEZ-BARQUERO, 2000). Boisier (1999) traz duas dimensões do desenvolvimento, o humano e o social, ficando clara a ideia de que não existe desenvolvimento de uma região, se as pessoas que dela fazem parte não se desenvolverem da mesma forma. Nesse sentido, encontra-se na formação de capital social uma alternativa para agregar valor às regiões.
19 FORMAÇÃO DE CAPITAL SOCIAL O conceito de capital social é atualmente utilizado em pesquisa de campos disciplinares variados, unindo os interesses da sociologia, da economia, da ciência política e das áreas relacionadas à saúde, desenvolvimento econômico e educação. Dessa forma, faz-se necessário trazer à luz do conhecimento científico a definição de vários autores, elencados no quadro a seguir por Matos (2009, p.42): Quadro 1 Autores e definições de capital social AUTOR ENFOQUE Robert Putnam Destaca aspectos das organizações sociais que facilitam a coordenação das ações coletivas e a cooperação entre elas: redes, normas de confiança, bem comum, coesão social e participação. Perspectiva microssociológica (relações intergrupais). Bordieu Capital social é um conjunto de relações sociais que o indivíduo ou um grupo mobiliza a seu favor, com o intuito de obter lucros e ter acesso, ou manter-se no polo dominante de um determinado campo. James Coleman Função ou efeito do capital social e ênfase em redes densas e fechadas. O capital social é definido por sua função, sendo composto de uma variedade de aspectos ligados à estrutura social e que facilitam certas ações dos indivíduos que fazem parte dessa estrutura (relações intragrupais). Pierre Bordieu O conjunto de recursos reais ou potenciais disponíveis aos integrantes de uma rede durável de relações mais ou menos institucionais. Agregação de recursos mobilizados por meio das redes sociais. Alexis de A capacidade associativa e o aperfeiçoamento das instituições geram Tocqueville ampliação da vida democrática. Ronald Burt Ressalta a importância das redes abertas e cheias de lacunas estruturais. O posicionamento estratégico de certos atores nas redes (amigos, colegas e conhecimentos) os permite colocar pessoas em contato, sendo possível mediar a atuação dos participantes nas redes. Francis Fukuyama A habilidade das pessoas em trabalharem juntas com base em propósitos comuns em grupos e organizações. A existência de um conjunto de valores informais e normas compartilhadas que facilitam a cooperação. Peyrrefitte O desenvolvimento é um florescimento resultante convergência de fatores culturais favoráveis. Não é o subdesenvolvimento que é preciso explicar, mas o desenvolvimento. Fonte: Matos (2009, p.42) O capital social pode ser compreendido de duas formas distintas, em seu sentido individual, conceito trabalhado por Bordieu, e em seu sentido comunitário, conceito desenvolvido por Putnam (cujo precursor foi Coleman). Bordieu (1998) relata: [...] o exemplo dos recursos atuais ou potenciais que são ligados à posse de uma rede durável de relações mais ou menos institucionalizadas de interconhecimentos e de inter reconhecimento, ou em outros termos, o pertencimento a um grupo como exemplo de agentes que são também unidos através de ligações permanentes e úteis (BORDIEU, 1998, p.2).
20 19 De modo geral, pode-se considerar que capital social é o conjunto de recursos provenientes das relações sociais, pode-se citar como exemplo de formação de capital social os fenômenos coletivos, como: sindicatos, cooperativas, partidos políticos e associações em geral. Paiva (2010) relata que, em seu entendimento, capital social é todo recurso econômico, no sentido de que alavanca a produção e a produtividade econômica do sistema, que resulta na interação social e que não é apropriável de forma privada. Para ele, o capital social melhora a capacidade do sistema de superar as soluções perversas que caracterizam uma economia mercantil competitiva, garantindo a conquista de boas soluções, a partir da negociação ganha-ganha. Dessa forma, a base do capital social é a constituição de um sólido sistema de intercâmbio de signos e informações. Para Putnam (2006), o capital social diz respeito a características da organização social, como confiança, normas e sistemas, que contribuam para aumentar a eficiência da sociedade, facilitando, dessa forma, a ações coordenadas, afirma: Assim como outras formas de capital, o capital social é produtivo, possibilitando a realização de certos objetivos que seriam inalcançáveis se ele não existisse [...] Por exemplo, em um grupo cujos membros demonstrem confiabilidade e que depositem ampla confiança uns nos outros é capaz de realizar muito mais do que outro grupo que careça de confiabilidade e confiança [...] Numa comunidade rural, onde o agricultor ajuda o outro a enfardar o seu feno e onde os implementos agrícolas são reciprocamente emprestados, o capital social permite a cada agricultor realizar o seu trabalho com menos capital físico sob a forma de utensílios e equipamentos (PUTMAN, 2006, p.177). Sendo assim, o capital social facilita a cooperação espontânea, efetivando um relacionamento baseado na confiança e no companheirismo, sendo os participantes perfeitamente cientes dos riscos do descumprimento das regras impostas, fazendo com que a aceitação de novos participantes nesse grupo, esteja condicionada a uma reputação de honestidade e confiabilidade. Outra característica própria do capital social, baseado na confiança, normas e cadeias de relacionamentos, é o fato de que ele normalmente constitui um bem público, ao contrário do capital convencional, que normalmente é constituído de um bem privado: Por ser um atributo da estrutura social em que se insere o indivíduo, o capital social não é propriedade particular de nenhuma das pessoas que dele se beneficiam (PUTNAM, 2006, p.190), porém a participação ativa em associações e
21 20 outras formas de organização contribuem sobremaneira para a visibilidade individual, tornando-se um passaporte para outra atividade da vida social. De acordo com Fernandes (2002), Putnam estudou durante mais de 20 anos o processo de formação de capital social na Itália, sua incidência por meio da descentralização do governo (iniciado a partir de 1970), analisando o desenvolvimento desigual das regiões. Em seu estudo, utilizou uma metodologia comparativa em 20 regiões daquele país, e, a partir de análise fatorial e regressão múltipla, entre os anos de 1976 e 1989, realizou mais de 700 entrevistas com conselheiros regionais, líderes comunitários (como banqueiros, líderes rurais, prefeitos, jornalistas, líderes sindicais e empresários), além da sondagem eleitoral, e criou um índice de desempenho institucional, estabelecendo 12 variáveis a saber: 1) Estabilidade do gabinete; 2) Presteza orçamentária; 3) Serviços estatísticos e de informação; 4) Legislação reformadora; 5) Inovação legislativa; 6) Creches; 7) Clínicas familiares; 8) Instrumentos de política industrial; 9) Capacidade de efetuar gastos na agricultura; 10)Gastos com saneamento local; 11)Habitação e desenvolvimento urbano; 12)Sensibilidade da burocracia. Com base nessas variáveis, Putnam buscou avaliar o produto e não os resultados dos indicadores, com intenção de trazer o foco ao modo como eram desenvolvidas as políticas, e não, necessariamente, ao resultado destas, pois, para ele, encontrar o caminho do desenvolvimento das políticas era mais importante que simplesmente o resultado. Dessa forma seria possível utilizar o estudo como fórmula para desenvolvimento de outras regiões do país e de outros países. A partir do resultado do seu estudo, Putnam pôde constatar que as regiões localizadas ao norte da Itália tinham padrões e sistemas dinâmicos de engajamento cívico, com cidadãos mais participativos nas questões políticas e tais confiantes uns nos outros. Já as regiões localizadas ao sul não apresentavam uma política estruturada, a vida social era caracterizada pela fragmentação, isolamento e uma
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