AULA 13. A repartição de atribuições ou competências entre as entidades federativas é essencial para se caracterizar um Estado Federal.
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1 Turma e Ano: Flex A (2014) Matéria / Aula: Direito Constitucional / Aula 13 Professor: Marcelo Leonardo Tavares Monitora: Mariana Simas de Oliveira AULA 13 Conteúdo da aula: Estado Federal Brasileiro (Sistema Constitucional, Estados). O ESTADO FEDERAL BRASILEIRO Sistema constitucional de repartição de competências A repartição de atribuições ou competências entre as entidades federativas é essencial para se caracterizar um Estado Federal. Em Direito Constitucional não há diferença entre competência e atribuição; os termos podem ser utilizados como sinônimos. Exemplo: o art.84 da CRFB\88 trata de atribuições da Presidência da República e utiliza o termo compete. Glossário: Competência exclusiva: é aquela atribuída pela Constituição a uma entidade federativa sem possibilidade de delegação. Competência privativa: é aquela atribuída pela Constituição a uma entidade federativa com possibilidade de delegação. A Constituição só é técnica com a diferença entre competência exclusiva e privativa nos artigos 21 ao 24, onde trabalha o tema de repartição de competência. Em outras passagens ela não é técnica, como se observa do art.84: Compete privativamente ao Presidente da República ; nomear Ministro não é delegável e, portanto, é competência exclusiva e não privativa. Outro exemplo é encontrado no art.61, 1º: a Constituição atribui privativamente ao Presidente competência legislativa, mas, considerando que ela é indelegável, na verdade, trata-se de competência exclusiva.
2 Competência comum: também denominada competência concorrente horizontal ou comum horizontal. É aquela que a Constituição atribuiu a mais de uma unidade federativa que passará exerce-la de acordo com os seus interesses. CRFB\88 (ex.: cuidar de documentos públicos) U E DF M Competência concorrente vertical ou concorrente: a União tem atribuição de editar normas gerais que vincularão as demais entidades federativas. Tanto a União, naquilo que lhe interessar, como as demais entidades podem editar normas suplementares (específicas de complementação). A Constituição prevê que na falta das normas gerais da União os Estados podem editar as normas supletivas, que são normas gerais provisórias e precárias, até que a União cumpra a sua obrigação constitucional de editar a norma geral. Exemplo: matéria relativa à previdência dos servidores públicos a Lei 9717\98 é norma geral e vincula todas as entidades federativas. Se um determinado Município, ao instituir a sua norma suplementar de previdência, não quiser criar o salário família não há problema, o que a norma geral da União quer evitar é a que as leis suplementares não tenham pensão ou aposentadoria. Quando uma entidade edita norma supletiva e, posteriormente, a União legisla sobre o tema através de norma geral, o termo técnico é suspensão da lei porque não há revogação de uma norma editada por uma entidade federativa por outra. Organização de competência na CRFB\88 A CRFB\88 parte de dois pressupostos. O primeiro, quanto à abrangência, é obrigatório; a Constituição atribui as matérias de interesse geral à União, de interesse regional aos Estados e de interesse local aos Municípios. O segundo pressuposto é uma construção política: a Constituição opta por enumerar, em regra, as atribuições da União e dos Municípios, sendo o resíduo do Estado. Dispõe o art.25, 1º, da CRFB\88: Art.25. 1º. São reservadas aos Estados as competências que não lhe sejam vedadas por esta Constituição. Competência residual.
3 Atribuição administrativa Art.21. Atribuição exclusiva da União (várias delas são atribuições típicas de Estado). Art.23: Comum União, Estados, DF e Municípios. Art.25, 1º: Residual do Estado. Obs.: apesar de o DF cumular atribuições de Estados e Municípios, algumas delas ele perde em favor da União, como no caso de organização e manutenção das polícias civil e militar e do corpo de bombeiros (art.21, XIV, CF). Note-se que o DF não tem MP próprio. Quem organiza o Judiciário do DF também é a União (ele tem judiciário, mas quem o organiza é a União). Atribuição legislativa Art.22. Atribuição privativa da União (as principais matérias como Direito Penal, Civil, etc.) Note-se que o parágrafo único prevê a possibilidade de delegação, devendo ser observados os seguintes requisitos: (i) (ii) (iii) Previsão da delegação por lei complementar; Somente pontos específicos podem ser delegados (exemplo: determinado assunto específico sobre Direito Civil); A União não pode utilizar do mecanismo para agravar a desigualdade regional. Art.24: Competência concorrente. Como dito, a União também pode editar normas suplementares para ela, mesmo tendo editado a norma geral. Exemplo: a Lei 8666\93 (licitações e contratos), em parte é lei de normas gerais e em parte de normas específicas para os órgãos da União; em matéria previdenciária as normas gerais são ditadas pela Lei 9717\98 e a Lei 8112\90 (Regime Jurídico Único da União) tem um capítulo de previdência para os servidores federais, criando, por exemplo, o auxílio reclusão enquanto a lei geral prevê apenas que os sistemas previdenciários dos servidores devem ter, no mínimo, pensão e aposentadoria.
4 O caput do art.24 não inclui o Município no rol das entidades com competência concorrente, devendo ser feita interpretação juntamente com o art.30, II: Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: (...). Art. 30. Compete aos Municípios: (...) II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber; (...) Organização do Ministério Público: - Normas gerais: Lei 8625\93. - A União cria o MPU através de lei complementar; - Cada Estado, através de lei complementar, cria o MPE. Art.25, 1º: Residual do Estado. Observações sobre a Legislação tributária O Direito Tributário, como se observa do art.24, I, da CRFB\88, é matéria de competência legislativa concorrente (regra). É característica própria da legislação tributária que as normas gerais tributárias sejam editadas através de lei complementar da União (art.146, III, CF). Exemplo: as normas gerais de IR encontram-se no CTN (recepcionado como LC para a maioria da doutrina). Existem duas leis complementares posteriores ao CTN que instituíram normas gerais de tributos: LC de contribuição de melhoria lei geral para todos os entes federativos; LC sobre normas gerais de ISS. Não há lei complementar de normas gerais sobre o IPVA e cada Estado editou suas normas supletivas. Há necessidade de a lei provisória ser Lei Complementar estadual? R.: O STF entende que a norma supletiva pode ser ordinária, sob o seguinte argumento: quando a CF quer que a norma seja editada por lei complementar ela trata disso especificamente. É o que ocorre com o IPVA (Rio de Janeiro tem lei ordinária sobre o imposto referido). As normas suplementares, em regra, podem ser editadas por lei ordinária, sendo possível que a Constituição exija lei complementar mesmo para instituir o imposto (imposto sobre grandes fortunas, por exemplo).
5 Note-se que não há atribuição residual para que o Estado institua imposto ou contribuição social, na forma dos artigos 154, I e 195, 4º, da CRFB\88: Art A União poderá instituir: I - mediante lei complementar, impostos não previstos no artigo anterior, desde que sejam não-cumulativos e não tenham fato gerador ou base de cálculo próprios dos discriminados nesta Constituição; (...) Art.195. (...) 4º - A lei poderá instituir outras fontes destinadas a garantir a manutenção ou expansão da seguridade social, obedecido o disposto no art. 154, I. Os pressupostos do art.154, I, devem ser aplicados de forma adaptada para o art.195, 4º. Há um exemplo histórico sobre o tema: a LC 84\96, hoje revogada, instituiu contribuição para a seguridade social pela competência residual. Essa LC foi revogada por uma lei ordinária, pois passou por um processo de perda de natureza jurídica de LC para lei ordinária. *** Diferença entre a estrutura federativa do Brasil e dos EUA Nos EUA, o Estado Federal é formado pela União e Estados federados. No Brasil, o Estado Federal é formado pela União, Estados, DF e pelos Municípios. A Constituição tem duas passagens que tratam desse tema: Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: (...) Art. 18. A organização político-administrativa da República Federativa do Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos desta Constituição. Em regra, não há hierarquia entre as entidades federativas, mas existem dois pontos importantes na Constituição sobre o tema: (i) Saúde artigos 196\198, CRFB\88:
6 Art A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. Não há hierarquia entre entidades federativas, mas sim entre os órgãos de saúde do SUS. Exemplo: a Secretaria Municipal de Saúde tem que observar os atos normativos da Secretaria Estadual de Saúde que tem que observar os atos normativos do Ministério da Saúde. Isso possibilita mais flexibilidade em possível intervenção da União na área da saúde, não havendo necessidade de observância dos requisitos formais da intervenção. (ii) Assistência art.203\204 Art As ações governamentais na área da assistência social serão realizadas com recursos do orçamento da seguridade social, previstos no art. 195, além de outras fontes, e organizadas com base nas seguintes diretrizes: I - descentralização político-administrativa, cabendo a coordenação e as normas gerais à esfera federal e a coordenação e a execução dos respectivos programas às esferas estadual e municipal, bem como a entidades beneficentes e de assistência social; O caráter hierárquico é especificado na Lei 8742\93. ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS, DF, MUNICÍPIOS e TERRITÓRIOS DOS ESTADOS Os Estados se auto-organizam através de Constituições (exercício do poder constituinte decorrente) e leis próprias, observados os princípios limitadores (cláusulas pétreas, princípios constitucionais sensíveis, princípios indicativos e extensivos). O art.26 trata dos bens dos Estados. Registre-se que muitas terras devolutas que pensamos ser da União, na verdade são dos Estados (as da União são especiais, como na área de fronteira art.20, I).
7 Ainda com relação aos bens, o Estado tem um mecanismo não previsto na Constituição, mas em lei, para construir seu patrimônio no caso de herança jacente. O art.27 é mais específico quanto aos órgãos dos Estados, que são entidades federativas triorgânicas, com poderes Legislativo, Executivo e Judiciário. Poder Executivo O poder executivo no Estado é exercido pelo Governador, eleito por quatro anos na mesma eleição para escolha do Presidente, admitia uma reeleição. O Governador tem foro por prerrogativa de função no STJ. O STF, por construção jurisprudencial, exige para o recebimento da denúncia contra o Governador, autorização da Assembleia Legislativa, aplicando analogicamente a norma constitucional. Não há necessidade de autorização da Assembleia para medidas cautelares, contra o Governador, anteriores à ação penal. O Governador pode, por exemplo, ser preso preventivamente por ordem do STJ sem autorização da Assembleia. O crime de responsabilidade cometido pelo Governador se assemelha ao cometido pelo Presidente da República, mas a Constituição não diz qual o órgão é responsável nesse caso. As Constituições estaduais, geralmente, atribuem a responsabilidade à Assembleia Legislativa. Poder Legislativo O órgão legislativo estadual é monocameral: Assembleia Legislativa. As suas atribuições são: constituinte decorrente; legislativa; deliberativa (editar resoluções); fiscalizadora de contas. Nesta última função ela é auxiliada pelo TCE, que, por sua vez, é composto por sete conselheiros, com todas as prerrogativas dos desembargadores (ocupam cargo vitalício, são inamovíveis e julgados no STJ). O STF, por jurisprudência, entende que a composição dos TCEs deve ser feita em paralelo ao que a Constituição prevê para o TCU. Exemplo: alguns cargos de conselheiros devem ser indicados pelo Governador, outros pela Assembleia legislativa; dentre os cargos indicados pelo Governador, quatro devem ser de carreira. A Assembleia Legislativa é composta por deputados estaduais, que têm todas as prerrogativas dos parlamentares federais: imunidade formal quanto à prisão e processo, imunidade material ou inviolabilidade (art.53, CRFB\88).
8 Os deputados estaduais têm a sua imunidade garantida em qualquer lugar do território nacional. Se um deputado estadual do RJ der uma entrevista, nesta qualidade, no RS ele estará protegido pela inviolabilidade. O Supremo já decidiu que a inviolabilidade é relativa, protegendo o parlamentar que se encontre nessa condição. A Constituição prevê que a remuneração, que hoje é subsidio instituído por lei, dos deputados estaduais deve ser no máximo de 75% dos parlamentares federais.
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