Os limites da repartição regional e local de poderes dependem da natureza e do tipo de federação

Transcrição

1 Da repartição de competências Prof. Dr. João Miguel da Luz Rivero Faculdade juridicamente atribuída a uma entidade, órgão ou agente do Poder Público para emitir decisões. Competências são as diversas modalidades de poder de que se servem os órgãos ou entidades estatais para realizar suas funções. José Afonso da Silva A Federação, a rigor, é um grande sistema de repartição de competências. E essa repartição de competências é que dá substância à descentralização em unidades autônomas. ALMEIDA, Fernanda Dias Menezes de (2000) Autonomia Etimologia do grego autos (próprio) + nomos (norma), significa edição de normas próprias, corresponde, nos casos de Estados-membros, à capacidade de se darem as respectivas Constituições e leis. Os limites da repartição regional e local de poderes dependem da natureza e do tipo de federação Estados Unidos - A descentralização é mais acentuada, dando aos Estados Federados competências amplas; Brasil - A Competência da União é mais dilatada, restando limitado campo de atuação aos Estados-membros, onde a existência de competências exclusivas dos municípios comprime ainda mais a área estadual.

2 O Princípio geral que norteia a repartição de competências entre as entidades componentes do Estado Federal é o da predominância de interesses, que assim se manifesta: ENTE FEDERATIVO INTERESSE União Estados-membros Municípios Distrito Federal Geral Regional Local Regional+ Local Ao D.F., acumulam-se em regra, competências estaduais e municipais (Art. 32, 1º) com a exceção prevista no Art. 22, XVII, da CF/88. CLASSIFICAÇÃO DAS COMPETÊNCIAS As competências podem ser classificadas quanto à forma, conteúdo, extensão e origem. QUANTO À FORMA Enumeradas ou expressa - quando estabelecida de modo explícito, direto, pela Constituição para determinada entidade (Arts. 21 e 22 p. ex.); Reservada ou remanescente - compreende toda matéria não expressamente incluída numa enumeração (Art. 25, 1º: cabem aos Estados as competências não vedadas pela Constituição); Residual - consiste no eventual resíduo que reste após enumerar a competência de todas as entidades, como na matéria tributária, em que a competência residual - a que eventualmente possa surgir apesar da enumeração exaustiva - cabe à União (Art. 154, I). Implícita ou resultante - quando se refere à prática de atos ou atividades razoavelmente considerados necessários ao exercício de poderes expressos, ou reservados.

3 QUANTO AO CONTEÚDO Distingui-se em competência econômica, social, político-administrativa, financeira e tributária e internacional (direitos de paz e guerra, tratados, que no Estado Federal é competência exclusiva da União). QUANTO À EXTENSÃO Exclusiva - quando é atribuída a uma entidade com exclusão das demais (Art.21); Privatista - enumerada como própria de uma entidade (Art. 22, Parágrafo único); Comum, cumulativa ou paralela - significa a faculdade de legislar ou praticar certos atos, em determinada esfera, juntamente em pé de igualdade, consistindo, pois, num campo de atuação comum às várias entidades, sem que o exercício de uma venha a excluir a competência de outra, que pode assim ser cumulativamente (Art. 23); Concorrente - compreende dois elementos: a)possibilidade de disposição sobre o mesmo assunto ou matéria por mais de uma entidade federativa. b)primazia da União no que tange à fixação de normas gerais (Art. 24) Suplementar - significa o poder de formular normas que desdobrem o conteúdo de princípios ou normas gerais ou que supram a ausência ou omissão destas (Art. 24, 1º a 4º). QUANTO À ORIGEM Originária - desde o início é estabelecida em favor de uma entidade; Delegada - quando a entidade recebe sua competência por delegação daquela que a tem originariamente (arts. 22 e 23). As Constituições adotaram três técnicas para solucionar a questão da repartição de competências. Essas técnicas conjugam poderes enumerados, reservados ou remanescentes. Na enumeração dos poderes da União reservando-se aos Estados os poderes remanescentes (E.U.A, Suíça, Argentina, ex-urss, Iugoslávia, México e Austrália); Na atribuição dos poderes enumerados aos Estados e dos remanescente à União (Canadá); Na enumeração das competências das entidades federativas (Índia e Venezuela).

4 SISTEMA DA CF/88 A CF/88 adota a repartição de competências que se fundamenta na técnica da enumeração dos Poderes da União (arts. 21 e 22), com poderes remanescentes para os Estados (art.25 1º) e poderes definidos indicativamente para os Municípios (art. 30). REPARTIÇÃO EM MATÉRIA ADMINISTRATIVA Cabe à União (algumas) art. 21: Manter relações com os Estados estrangeiros e participar de organizações internacionais; declarar guerra e celebrar a paz; assegurar a defesa nacional; emitir moeda; organizar e manter o Poder judiciário, o Ministério Público e a Defensoria Pública do Distrito Federal; COMPETÊNCIAS ADMINISTRATIVAS DOS ESTADOS-MEMBROS Aos Estados-membros são reservadas as competências administrativas que não lhe sejam vedadas pela Constituição, ou seja, cabe na área administrativa privativamente ao Estado todas as competências que não forem da União (art.21), dos municípios (art.30) e comuns (art.23) COMPETÊNCIAS ADMINISTRATIVAS DOS MUNICÍPIOS: A competência administrativa autoriza o município a atuar sobre assuntos de interesse local, identificados a partir do princípio da predominância do interesse, especialmente sobre as matérias expressamente consignadas nos incisos III ao IX do art. 30 da Constituição Federal. COMPETÊNCIAS ADMINISTRATIVAS DO DF A Constituição Federal, no rol de competências administrativas comuns a todos os entes federativos, também inclui o Distrito Federal (art. 23). Além disso, em regra, poderá administrativamente reger-se pela somatória das competências estaduais e municipais

5 COMPETÊNCIA ADMINISTRATIVA COMUM (UNIÃO, ESTADOS, D.F. E MUNICÍPIOS) zelar pela guarda da constituição, das lei e das instituições democráticas e conservar o patrimônio público; preservar as florestas a fauna e a flora; cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas portadoras de deficiências; estabelecer e implantar política de educação para a segurança do trânsito. REPARTIÇÃO EM MATÉRIA LEGISLATIVA União - A CF/88 prevê nos 29 incisos do art. 22 as matérias de competência privativa da União, definindo preceitos declaratórios e autorizativos da competência geral na legislação federal e demonstrando clara supremacia em relação aos demais entes federativos, em virtude da relevância das disposições. DELEGAÇÃO DE COMPETÊNCIA DA UNIÃO PARA OS ESTADOS (ART. 22, PARÁGRAFO ÚNICO) Requisito formal - a delegação deve ser por objeto de lei complementar devidamente aprovada pelo Congresso Nacional, por maioria absoluta dos membros da Câmara dos Deputados e pelo senado Federal; Requisito material - somente poderá ser delegado um ponto específico dentro de uma das matérias descritas nos vinte e nove incisos do art. 22 da Constituição Federal, pois a delegação não se reveste de generalidade, mas de particularização das questões específicas, do elenco das matérias incluídas na privatividade exclusiva da União. Assim, nunca se poderá delegar toda a matéria existente a um dos citados incisos; Requisito implícito - o art. 19 da Constituição Federal veda a criação por parte de qualquer dos entes federativos de preferências entre si. Dessa forma, a lei complementar editada pela União deverá delegar um ponto específico de sua competência a todos os Estados, sob pena de ferimento do princípio da igualdade federativa. COMPETÊNCIA EXCLUSIVA E SUPLEMENTAR DO MUNICÍPIO (PREDOMINÂNCIA DO INTERESSE LOCAL) Competência genérica em virtude da predominância do interesse local (art. 30, I); hipóteses já descritas, presumindo-se constitucionalmente o interesse local (arts. 30, III a IX e 144, 8º);

6 Competência suplementar (art. 30,II). Ao DF, conforme preceitua o art. 32, 1º, da CF/88, são atribuídas as competências legislativas atribuídas aos Estados e Municípios, excetuada a competência para a organização judiciária, do Ministério Público e da Defensoria Pública do Distrito Federal e dos Territórios, bem como a organização administrativas destes, que é privativa da União, nos termos do art. 22, XVII, da Constituição Federal. SISTEMA DE EXECUÇÃO DE SERVIÇOS Quem executa os serviços de entidades que compõe o Estado Federal, funcionários próprios ou de outra entidade federativa? Existem três sistemas: Sistema imediato - segundo o qual a União e os Estados mantêm, cada qual, sua própria administração, com funcionários próprios, independentes uns dos outros subordinados ao respectivo governo; Sistema mediato - pelo qual os serviços federais, em cada Estado, são executados por funcionários deste, mantendo a União pequeno corpo de servidores incumbidos da vigilância e fiscalização desses serviços; Sistema misto - combina os dois anteriores, permite que certos serviços federais sejam executados por funcionários estaduais e outros por funcionários federais, e vice-versa, certos serviços estaduais são realizados por funcionário federais. O sistema brasileiro é o de execução imediata (arts. 37 e 39) A EC nº 19/98 Deu novo conteúdo normativo ao art. 241, porém desnecessário. Pois tudo que nele se prevê poderá ser objeto da lei complementar indicada no art. 23, parágrafo único. Consórcios - acordo firmado entre entidades da mesma espécie (Município com Município, Estado com Estado); Convênios - instrumento que veicula acordos de entidades de espécies diferentes (União-Estado, União-Município, Estado-Município).