A PROTEÇÃO DO CONSUMIDOR IDOSO: CONTEXTOS E CONCEITOS DA VULNERABILIDADE AGRAVADA¹
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- Alícia Belo Sá
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1 A PROTEÇÃO DO CONSUMIDOR IDOSO: CONTEXTOS E CONCEITOS DA VULNERABILIDADE AGRAVADA¹ JOSÉ, Thaielly Silva 2 ;FERREIRA, Vitor Hugo do Amaral³ 1 Trabalho desenvolvido no Grupo de Estudos Política e Sociedade de Consumo - UNIFRA ²Curso de Direito do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Santa Maria, RS, Brasil. 3 Professor-orientador, Docente Curso de Direito, Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Mestre em Integração Latino Americana (UFSM) thaielly@live.com;vitorhugodir@hotmail.com; RESUMO O presente artigo versa sobre a proteção do consumidor idoso na sociedade de consumo, estudo este que nasce dentro do contexto da massificação da produção, bem como na forte influência que esta tem na vida daqueles que estão inseridos nela. Por consequência dentro das relações de consumo temos, por óbvio, inserido o conceito da vulnerabilidade, princípio norteador desta relação. Tendo que o consumidor é parte hipossuficiente da relação. Assim, ligando outros princípios básicos, como o da igualdade e o da liberdade encontrou-se um contexto já apresentado pela doutrina, o da hipervulnerabilidade ou, ainda da vulnerabilidade agravada que abrange crianças e adolescentes, deficientes, bem como o consumidor idoso. O enfoque principal do estudo busca demonstrar que dentro da igualdade material, deve-se proteger de forma mais eficiente este consumidor que muitas vezes vem sendo lesado por esta condição (agravada) relacionada a sua idade. Palavras-chave: consumidor; vulnerabilidade agravada; idoso; igualdade. 1. INTRODUÇÃO O presente artigo volta-se para as questões que envolvem as relações de consumo, a vulnerabilidade do consumidor, bem como sobre o idoso dentro do contexto da sociedade de consumo. Tendo como principal enfoque a hipervulnerabilidade desses. Desta forma, visa-se analisar os principais conceitos, características, e ainda a evolução das relações de consumo até chegarmos à relação atual. Ocorre que, no decorrer do estudo, notou-se a forte ligação existente entre os princípios do direito do consumidor com os princípios constitucionais, como a igualdade e a liberdade. Assim, chega-se a igualdade material, tão buscada pela constituição visando colocar todos os cidadãos em um mesmo patamar de igualdade. Na sociedade de consumo não pode ser diferente, devendo todos os consumidores estar em igualdade, apesar das diferenças de idade, por exemplo. O conceito de vulnerabilidade agravada, ou hipervulnerabilidade, como alguns doutrinadores vêm tratando, é um conceito extremamente novo que vem sendo aplicado aos consumidores idosos, crianças, adolescentes e portadores de necessidades especiais. O 1
2 que essa classificação leva em consideração é o fato de serem alvos fáceis dos fornecedores de produtos e serviços, uma vez que tem sua vulnerabilidade potencializada. Um exemplo destas relações entre fornecedores e hipervulneráveis podem ser as seguintes: os idosos em relação aos créditos consignados oferecidos pelas instituições financeiras, crianças e adolescentes em contrapartida, são presas fáceis da publicidade enganosa e ainda, os portadores de necessidades especiais que acabam sendo prejudicados pela má prestação dos serviços aos quais aderem, ou pela ausência de prestação do serviço adequada à necessidade do consumidor. O referencial teórico deste trabalho aborda conceitos jurídicos, doutrinários e jurisprudenciais, tendo em vista que serão analisadas as diversas questões e formas de aplicação da norma a respeito do tema. Todas as discussões contidas neste trabalho foram realizadas pelos autores baseadas em informações obtidas de fontes secundária. Apesar das informações do estudo de caso terem sido obtidas de fontes indiretas, a riqueza deste estudo está na verificação da aplicabilidade e coerência da abordagem proposta, ao mesmo tempo em que identifica algumas limitações no estudo em questão. 2. A SOCIEDADE DE CONSUMO E A CONSTITUCIONALIZAÇÃO DO DIREITO DO CONSUMIDOR O Código de Defesa do Consumidor Brasileiro é uma legislação, pode-se dizer nova, recente, levando em consideração o contexto histórico mundial ao qual faz menção a meios de proteção ao consumidor ou ainda, que procura regular de alguma forma as relações de consumo. Assim, partindo do ano de 1962, nos Estados Unidos, quando surge a expressão direito do consumidor, ROSA (1995) afirma que para muitos o momento inaugural desta evolução da questão histórica encontra-se na expressão do presidente Kennedy, quando enviou sua mensagem ao Congresso em 12 de março de 1962, definindo os direitos dos consumidores. Já no Brasil, o termo veio a ser incorporado no texto da Constituição Federal de 1988 com o seguinte disposto: O Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor (BRASIL, CF, 1988). Desse aspecto em diante, mostrasse a relevância deste tema desde sua primeira menção, as formas de aplicação e ainda, os princípios norteadores. Estas normas vieram para regularizar, bem como equilibrar esta relação, que envolve de um lado o fornecedor detentor do poder e o consumidor, o vulnerável, hipossuficiente da relação de consumo. Neste contexto, identifica-se a condição a qual, geralmente o consumidor esta inserido: a de submisso. A Constituição Federal por sua vez, vêm, como já dito anteriormente, regular estas situações para que o consumidor não seja visto desta forma. 2
3 Dessa forma, nota-se que o constituinte ao ditar que o estado deverá proteger os direitos dos consumidor, buscouaplicar oprincípio da igualdade fazendo com que este princípio irradiasse efeitos dentro das relações privadas. Assim, reconheceu o consumidor como parte vulnerável da relação de consumo, pretendendo por meio de lei especial defendê-lo. Assim, o princípio da igualdade faz com que se equilibre esta relação, fazendo com que o consumidor não se torne submisso frente ao fornecedor. Ainda, dentro dos princípios constitucionais que norteiam o direito do consumidor estão o da liberdade, e o da boa-fé objetiva como uma consequência do princípio da igualdade. No que tange ao princípio da liberdade, este é aqui consequência lógica e imediata do princípio da igualdade, pois não é, possivel admitir a existência da igualdade sem liberdade (BONATTO, MORAES, 1998, p.35). Nota-se que é sabido que a falta de liberdade faz com queuns se tornem mais fortes que os outros. Da mesma maneira é no direito do consumidor, onde deve haver essa liberdade do consumidor juntamente com a igualdade para que haja equilíbrio entre as partes da relação consumerista. Nesse sentido, expressa-se Claúdia de Lima Marquesem relação ao que se esta expondo que a Constituição é a garantia e o limite de um direito privado constituido sob seu sistema de valores, o qual inclui a defesa do consumidor (BENJAMIN, BESSA, MARQUES, 2010, p. 81). Assim, a incidência do Código de Defesa do Consumidor em 1990, reforçou a defesa e estabeleceu-se normas, a fim de regular as relações de consumo, as quais vem aumentado e se tornando cada vez mais complexas em decorrencia dos inúmeros meios existentes para a ampliação desta relação. A sociedade de consumo é fruto do binômio consumidor versus fornecedor. É um conceito contempâneo que criou forças em decorrencia dessa massificação do consumo. Cada vez mais, as pessoas buscam suas satisfações pessoais dentro do consumo, o qual vem a ser influenciado pelas publicidades, bem como pelas estratégias de marketing que visam atrair esse consumidor vulnerável para dentro desta relação. Em relação a essa vulnerabilidade e a aplicação deste princípio no âmbito do direito do consumidor, que se passa a versar no próximo item. Mostrando assim, a importância deste elemento para manter a igualdade dentro da relação de consumo. 3. A VULNERABILIDADE COMO ELEMENTO ESSENCIAL ÀS RELAÇÕES DE CONSUMO Para começar a falar em vulnerabilidade do consumidor primeiro, deve responder a certas questões, por exemplo, quem é esse consumidor? Em relação a quem ele é vulnerável? E ainda, mostrar as relações existentes entre fornecedores e consumidores. 3
4 Partindo da premissa que consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire produtos ou serviços como destinatário final (BRASIL, 2012), a sociedade em geral que compra algum bem ou ainda, que contrata de alguma forma algum serviço é consumidor. Já no que tange ao conceito de fornecedor, o Código de Defesa do Consumidor expõe que é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços (BRASIL, 2012). Assim, temos formada dos dois principais componentes da relação de consumo. Como se pode perceber, o fornecedor em nível superior em relação ao consumidor pois, aquele possui mais condições econômicas e técnicas sobre os itens e serviços, o qual oferta para a sociedade. Sendo assim, o consumidor é hipossuficiente na questão econônica, técnica e, ainda jurídico e informacional frente ao consumidor. Com efeito, temos nitidamente mostrado a dissipariedade entre esse binômio fornecedor versus consumidor dentro da relação de consumo. É neste momento, que surge a questão do princípio da vulnerabilidade, estando até mesmo inserido no CDC esta condição, conforme preceitua o art. 4º, I. Sem este princípio não pode-se falar em igualdade, liberdade e harmonização dentro da sociedade de consumo. Pode-se perceber a relevância deste princípio dentro da relação de consumo na seguinte passagem de Leonardo Roscoe Bessaque afirma que a fragilidade do consumidor sintetiza a razão de sua proteção jurídica pelo Estado. O consumidor é a parte frágil nas mais diversas e variadas relações jurídicas estabelecidas no mercado de consumo (BESSA, 2009, p. 37). Ainda, um fator que potencializa essa vulnerabilidade é a questão do consumismo, da publicidade e do marketing. Os meios de informação cada vez mais influenciam a sociedade a adquirirem produtos que antes eram desnecessários. Outras vezes ainda, por meio da publicidade enganosa, criam no consumidor o desejo de adquirir para terem satisfeitas a sua realização pessoal, e o markentig por sua vez, exerce esse poder persuasão sobre o consumidor. Nesta senda, encontra-se dentro dessa massificação do consumo a questão do superendividamento, que vem a ser uma consequência da má aplicação do princípio da vulnerabilidade, é o ápice da questão envolvendo os diversos conceitos trabalhados acima. O mercado de consumo, principalmente em face de sua conformação massificada, enseja, em diversos aspectos, ofensas á dignidade da pessoa humana, por exemplo, pela criação de fatores que levam ao flagelo do superendividamento (BESSA, 2009, p. 39). Assim, demonstrados os elementos que envolvem a relações de consumo, os fatores exteriores que agravam a vulnerabilidade deste consumidor. Notou-se que a vulnerabilidade 4
5 é vista dentro do direito do consumidor como um princípio básico, que visa proteger esse consumidor dos inúmeros ataques que são submetidos. Passa-se agora a análise dos elementos intrínsecos que agravam essa vulnerabilidade, ou seja, a condição em que o consumidor esta inserido e a influência que esta condição traz para dentro da relação de consumo. Notar-se-á que tal condição como a de deficiente, criança, adolescente e a dos idosos em especial potencializam essa condição, tornando-os hipervulneráveis. 4. A (HIPER)VULNERABILIDADE DO CONSUMIDOR Nesse momento, encontra-se então um princípio inerente da Constituição Federal Brasileira, o qual já se dissertou anteriormente, qual seja o princípio da igualdade. Tendo-se que a igualdade prevista na Constituição Federal se trata de uma igualdade jurídico-formal. Melhor explicado nas palavras de José Cretella Júnior, o qual diz que consiste a igualdade em considerar desigualmente condições desiguais, de modo a abranger, tanto quanto possível, pelo direito, as diferenças sociais (CRETELLA Júnior, 1992, p. 179). Diz-se que a vulnerabilidade é a forma como o consumidor pode ser atacado dentro da sociedade de consumo. Desta forma, o consumidor pode ser atacado de diversas maneiras, sofrendo pressões que invadem a sua privacidade, na maioria das vezes sendo o alvo de maciças publicidades que criam necessidades de consumo antes inexistentes (BONATTO, MORAES, 1998, p. 43). Pode-se perceber que o consumidor é naturalmente vulnerável, tendo em vista que está diariamente sofrendo influências externas pelos fornecedores em relação àqueles. Assim, havendo diferentes tipos de consumidores nas relações de consumo, devem existir diferentes graus de vulnerabilidade para que esta seja aplicada de forma justa conforme a igualdade jurídico-formal, protegendo de forma mais eficiente àqueles que acabam sendo enquadrados como presas fáceis da sociedade consumerista. Neste aspecto, encontra-se nas palavras de Claúdia de Lima Marques, o que se pode chamar de uma hipervulnerabilidade. Estes são os consumidores hipervulneráveis, são os que possuem uma vulnerabilidade agravada, conforme seguinte disposto que nos traz quem são estes consumidores (MARQUES, 2012, p.41): Identifica-se hoje também uma série de leis especiais que regulam as situações de vulnerabilidade potencializada, especial ou agravada, de grupos de pessoas (idosos, crianças e adolescentes, índios, estrangeiros, pessoas com necessidades especiais, doentes, etc.), e estes grupos de pessoas também atuam como consumidores na sociedade, resultando na chamada hipervulnerabilidade. 5
6 Nessa senda, depois de caracterizada esta hipervulnerabilidade, e exposto quem são estes consumidores, importante se torna expor como deve ser aplicada esta hipervulnerabilidade nos casos concretos. Verificar-se-á também como se poderá proteger de forma mais eficiente este grupo de consumidores que por sua idade ou condição, tornam-se alvos fáceis de publicidade enganosa ou abusiva, bem como das facilidades oferecidas principalmente, pelas instituições que oferecem crédito fácil e rápido e, ainda nas questões relacionadas com a saúde e planos de saúde. Como citado anteriormente, nota-se que a questão da publicidade enganosa ou abusiva já esta fixada no Código de Defesa do Consumidor em seu art. 36, 2º 4 Este dispositivo visa proteger os consumidores em geral vulneráveis na forma do CDC. Assim, verifica-se que este proveito, o qual o artigo dispõe, é infinitamente maior do que se refere ao consumidor hipervulnerável. Imperioso se mostra trazer para o presente trabalho os julgados mais recentes, no sentido de reprimir tais casos, em que o consumidor hipervulnerável de alguma maneira tornou-se ou tornar-se-ia prejudicado em decorrência de tal conduta, inaceitável pelo Código de Defesa do Consumidor e, ainda das legislações especiais a cada caso, como por exemplo, o Estatuto do Idoso, Estatuto da Criança e do Adolescente e o Estatuto do Índio. Assim, temos o seguinte (RIO GRANDE DO SUL, 2009): Ementa: APELAÇÃO CÍVEL. CONSUMIDOR. SERVIÇOS DE TELEFONIA MÓVEL. FALHA NA PRESTAÇÃO DOS SERVIÇOS. COBRANÇAS ABUSIVAS. VULNERABILIDADE AGRAVADA DO CONSUMIDOR IDOSO. CONSIDERAÇÃO. RESCISÃO DO CONTRATO DETERMINADA. DEVOLUÇÃO DE VALORES. DANOS MORAIS. NÃO CONFIGURAÇÃO. Considerando a verossimilhança das alegações do autor, no sentido de que o serviço de telefonia móvel contratado para utilização no exterior mostrouse defeituoso, culminando com cobranças abusivas, bem como tendo em vista a vulnerabilidade agravada do consumidor idoso, é de se julgar procedente o pedido de rescisão de contrato, sem o pagamento de multa, tornando-se inexigíveis os valores a título de ligações internacionais, determinando-se, outrossim, a devolução do valor pago pelo aparelho celular [...]. APELO PARCIALMENTE PROVIDO. (Apelação Cível Nº , Nona Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Marilene Bonzanini Bernardi, Julgado em 18/02/2009). (grifou-se) 4 Art. 36, 2 É abusiva, dentre outras a publicidade discriminatória de qualquer natureza, a que incite à violência, explore o medo ou a superstição, se aproveite da deficiência de julgamento e experiência da criança, desrespeita valores ambientais, ou que seja capaz de induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança. 6
7 Esta ementa, mostra de forma clara como o Tribunal de Justiça do Rio Grande de Sul vem tratando a questão da vulnerabilidade agravada. Desta forma, pode-se perceber que no caso em tela, a condição de idoso agravou a relação de consumo que, apesar de não se ter considerado o dano moral, decretou-se se imediato a resolução do contrato, a fim de evitar maiores prejuízos ao consumidor. No presente julgado, além de discorrer sobre a hipervulnerabilidade, mostra ainda a importância da ligação deste conceito aos princípios constitucionais (RIO GRANDE DO SUL, 2012): Ementa: RECURSO INOMINADO. CONSUMIDOR. VÍCIO DO PRODUTO EM GARANTIA ESTENDIDA. LEGITIMIDADE PASSIVA. DANO MORAL. CARACTERIZAÇÃO. É parte passiva legítima para responder por vício do produto também o comerciante, porque foi ele quem vendeu ao consumidor a garantia estendida do equipamento. Dano moral caracterizado no caso concreto, uma vez que o consumidor foi tratado com extremo descaso, ainda mais em vista de sua condição de deficiente físico, além de descabidas as exigências impostas para a restituição do valor pago, obrigando-o a ingressar em juízo. [...] RECURSO DESPROVIDO. (Recurso Cível Nº , Primeira Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator: Pedro Luiz Pozza, Julgado em 14/06/2012). (grifou-se) Neste último julgado colacionado, encontra-se a aplicação do dano moral em decorrência do vício do produto adquirido pelo consumidor na condição de deficiente físico, em que o descaso com que foi tratado por estar nesta condição. Nota-se, com a pesquisa realizada no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, que a ainda é pouca aplicação deste conceito de vulnerabilidade agravada, mas percebe-se também que vem aumentando nos últimos anos a incidência destes julgados. Importante ressaltar, que o que se vem tentando incorporar à jurisprudência, bem como na sociedade em geral, como diz Claúdia de Lima Marques é humanizar o direito civil e proteger os novos vulneráveis, dentre eles o consumidor (MARQUES, 2012, p. 42). Neste momento, apresentado a questão da hipervulnerabilidade e, quem são eles os hipervulneráveis e, a forma como os mesmo vem sendo protegidos, passasse para o enfoque principal do estudo em questão, o consumidor idoso dentro da sociedade de consumo e sua condição de vulnerável agravada. 4. O CONSUMIDOR IDOSO E A VULNERABILIDADE AGRAVADA O Código de Defesa do Consumidor nasce da necessidade de colocar os dois polos da relação de consumo em igualdade. Assim, o CDC visa proteger a todos os consumidores 7
8 de forma que estes, como já demonstrado anteriormente, possuem uma vulnerabilidade em alguns casos, potencializada, agravada pela sua condição perante os outros consumidores, como os idosos, objeto principal do presente artigo. Tem-se hoje uma realidade em que se vive mais em decorrência da qualidade de vida que se tem. Assim, nota-se, o envelhecimento da população esta fazendo com que estes idosos, cada vez mais, estejam inseridos nas relações de consumo. No trecho, abaixo transcrito (BUENO, LIMA, 2009, p. 276), mostrasse a questão da vulnerabilidade em decorrência do aspecto biológico do idoso: Os autores ressaltam que a vulnerabilidade individual ou biológica refere-se ao grau e à qualidade da informação que os indivíduos recebem sobre o problema, ou seja, o tipo de informação de que a pessoa dispõe e como a utiliza. No envelhecimento as alterações biológicas tornam o idoso menos capaz de manter a homeostase quando submetido a alguma fator de estresse, tornando-o mais susceptível ao adoecimento, morte e crescente vulnerabilidade. Por todo o exposto, os idosos possuem estatuto próprio, a Lei /2003. Esta lei visa proteger pessoas com idade igual ou superior a 60 anos, e ainda garantir todos os direitos inereneste a estes, como saúde, educação, trabalho e justiça, proporcioando assim, uma velhice mais digna a estes. É nítida a questão de vulnerabilidade que o idoso possuiemrelação os consumidores em geral. Este idoso é mais facilmente atraido por planos de saúde, por empréstimos consignados bem como, por publicidades abusivas e/ou enganosas com o oferta de produtos que prometem, entre outros absurdos, retardar o envelhicimento, por exemplo. Com efeito, nota-se um diálogo entre o Código de Defesa do Consumidor e o Estatuto do Idoso posto que, o idoso é parte hipervulnerável nas relações de consumo, por todos os motivos expostos no item anterior que caracterizou o consumidor hipervulnerável. Cumpre ressaltar ainda que o Supremo Tribunal Federal também vem se manifestando a cerca do tema posto que, conforme já evidenciado, os Tribunais Estaduais já vem considerando a vulnerabilidade agrada do consumidor idoso. A expressão mais forte, que envolve a questão dos idosos veio do STF, dignidade humana do idoso (SUPREMO, apud MARQUES, 2012, p. 47). Nota-se também, a questão da publicidade, das instituições financeira e a hipervulnerabilidade do idoso dentro desta questão ou ainda, vulnerabilidade agravada como alguns doutrinadores preferem referir. Após as observações feitas a cerca do caso, percebeu-se que o consumidor idoso sofre, principalmente, com as questões envolvendo instituições financeiras, aderindo muitas 8
9 vezes sem entender do que se trata, aos créditos consignados que virão a ser descontado mensalmente das respectivas contas correntes e, ainda com relação aos planos de saúde. Estes contratos crédito consignado muitas vezes são assinados utilizando a facilidade de manipulação dos idosos pela sua condição de hipervulneráveis. Prática lamentável, mas corriqueira. Apesar de que dentro do Poder Judiciário os idosos tem direito a tramitação preferencial em razão da idade, muitas vezes na hora de revisar tais contratos saem prejudicados. Em relação aos planos de saúde os idosos encontram barreiras com a questão da faixa etária ocorre, que o próprio estatuto do idoso veda tal conduta aos planos de saúde. Neste aspecto que se torna imperiosa a atuação do CDC juntamente com o Estatuto do Idoso, visando reprimir e punir tais condutas. Por derradeiro, a partir de todo o estudo realizado pode-se perceber que o aumento da expectativa de vida faz com que aumente as relações de consumo envolvendo os idosos. Ainda, como consequência destas relações encontra-se o idoso como um consumidor hipervulnerável que tem no CDC e no seu estatuto a proteção que necessita. 5. METODOLOGIA Para formulação do presente artigo foi usado como método de abordagem o método dedutivo visto que,partiu-se da questão-geral - sociedade de consumo partindo ao encontro da questão-particular, o consumidor-idoso em estado de vulnerabilidade agravada. Outrossim, referente ao método de procedimento, buscou-se utilizar os métodos histórico e compativo. O método histório tendo em vista que para se analisar a sociedade de consumo necessário se fez entender toda a evolução do tema e, comparativo na medida em que foram examinados julgados no intuito de encontrar decisões, jurisprudências que se pudesse comparar o tratamento diferenciado da legislação ao consumidor hipervulnerável e o consumidor vulnerável in natura. 6. CONCLUSÃO O presente artigo buscou mostrar os elementos que envolvem as relações de consumo, bem como os princípios constitucionais norteadores e ainda, dando principal enfoque ao princípio da vulnerabilidade e os desdobramentos desse. A partir desses estudos, e pesquisas em doutrinas e jurisprudências do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul verificou-se que certas condições da pessoa humana as tornam mais vulneráveis que outras e, assim, chegando aos hipervulneráveis. 9
10 Com efeito, os idosos hipervulneráveis foram objeto deste ensaio, buscando-se identificar a importância do tema, na medida em que é crescente a exposição destes as práticas abusivas. Neste cenário, o consumidor está amparado, inclusive em caráter constitucional, à garantia da promoção da defesa dos seus direitos em razão da sua vulnerabilidade diante das relações de consumo. Se assim é no contexto geral, por certo, o consumidor-idoso encontra situações que vão além da vulnerabilidade inicial, o que permite falar em vulnerabilidade agravada, ou mesmo hipervulnerabilidade. Dessa forma, novos paradigmas são construídos em outros contextos, cenários; novos conceitos oportunizam repensar a proteção do consumidor (idoso) por meio da condição de especialidade que lhe é pertinente. REFERÊNCIAS BESSA, Leonardo Roscoe. Aplicação do Código de Defesa do Consumidor: Análise Crítica da relação de consumo. 2º Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais Ltda, BUENO, Cléria Maria Lobo Bittar; LIMA,Lara Carvalho Vilela. Envelhecimento e gênero: A vulnerabilidade de idosas no Brasil. 2º vol. Revista Saúde e Pesquisa, Disponível em: < Acesso em 19 ago BRASIL. Supremo Tribunal Federal.REsp /SP, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, Disponível em: < el&b=acor#doc3> Acesso em: 19 ago BRASIL. Vade Mecum. Colaboração de Luiz Carlos Curia, Livia Cespedes e Juliana Nicoletti. 7ª Ed. São Paulo: Saraiva, CRETELLA JUNIOR, José. Comentários à Constituição Brasileira de º Ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, MARQUES, Claudia Lima (Coord.). Diálogo das Fontes: do conflito à coordenação de normas do direito brasileiro. São Paulo: Revista dos Tribunais, RIO GRANDE DO SUL. Jurisprudência Tribunal de Justiça. Porto Alegre. Disponível em: < Acesso em: 19 ago ROSA, Josimar Santos. Relações de Consumo. A defesa dos interesses de consumidores e fornecedores. São Paulo: Editora Atlas S.A,
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