TRABALHADORAS DOMÉSTICAS

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1 Foto: Agência Câmara Notícias TRABALHADORAS DOMÉSTICAS 1

2 IGUALDADE DE DIREITOS CONSTITUCIONAIS PARA TRABALHADORAS DOMÉSTICAS sumário IGUALDADE DE DIREITOS CONSTITUCIONAIS PARA TRABALHADORAS DOMÉSTICAS...3 TEXTO FINAL DA PEC APROVADA NO SENADO...6 UM POUCO DE HISTÓRIA DESTA LUTA...8 AS MULHERES E AS NEGRAS SÃO A MAIORIA...9 LAUDELINA CAMPOS MELO, A PIONEIRA BENEDITA DA SILVA, UM SÍMBOLO DESTA LUTA AGRADECIMENTOS DA COORDENADORA DA BANCADA FEMININA DA CÂMARA FEDERAL O Congresso Nacional promulgou uma emenda à Constituição do Brasil, Emenda 72 de 2013, que estabelece para as trabalhadoras e trabalhadores domésticos direitos iguais aos direitos já garantidos para todos os trabalhadores no Artigo 7º da Constituição. Antes, a Constituição Federal distinguia as trabalhadoras domésticas dos demais trabalhadores. Só assegurava os direitos de salário mínimo, décimo terceiro salário, proibição de reduzir salário, repouso semanal remunerado, férias anuais, licença gestante, licença paternidade, aviso prévio, aposentadoria pelo INSS. Agora as trabalhadoras e os trabalhadores domésticos tem todos os direitos dos demais assalariados: Jornada diária de 8 horas; Limite de 44 horas semanais; 1ª EDIÇÃO 2 TRABALHADORAS DOMÉSTICAS TRABALHADORAS DOMÉSTICAS 3

3 Direito ao pagamento de horas-extras excedentes; Hora extra, no mínimo 50% acima do valor da hora normal; Fundo de Garantia por Tempo de Serviço obrigatório; Salário mínimo nacional ou estadual obrigatório; Décimo terceiro salário, com base na remuneração integral; Proibição de redução salarial; Proibição de atraso de salário; Repouso semanal remunerado, de preferência aos domingos; Férias anuais remuneradas, com o salário e mais um terço; Licença maternidade de 120 dias, com estabilidade no emprego; Licença paternidade conforme a lei; Aviso prévio proporcional, no mínimo 30 dias; Aposentadoria pelo INSS; Salário igual para trabalho igual; Reconhecimento de convenções e acordos coletivos da categoria; Proibição de discriminação por cor, sexo, idade, deficiência física, estado civil; Proibição de trabalho noturno para menores de 18 anos; Proibição de trabalho para menores de 16 anos, exceto aprendizes acima de 14 anos; Observância de normas de saúde, higiene e segurança no trabalho. Há mais direitos também agora assegurados, embora dependam ainda de norma regulamentadora a ser editada: Remuneração extra para o trabalho noturno; Proteção contra demissão arbitrária ou sem justa causa; Seguro desemprego, em caso de demissão involuntária; Salário-família; Direito à creche e pré-escola para filhos até 5 anos; Seguro contra acidente de trabalho. 4 TRABALHADORAS DOMÉSTICAS TRABALHADORAS DOMÉSTICAS 5

4 TEXTO FINAL DA EMENDA CONSTITUCIONAL APROVADA E PROMULGADA EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 72, DE 2013 Altera a redação do parágrafo único do art. 7º da Constituição Federal para estabelecer a igualdade de direitos trabalhistas entre os trabalhadores domésticos e os demais trabalhadores urbanos e rurais. As Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, nos termos do 3º do art. 60 da Constituição Federal, promulgam a seguinte Emenda ao texto constitucional: Artigo único. O parágrafo único do art. 7º da Constituição Federal passa a vigorar com a seguinte redação: Art. 7º Parágrafo único. São assegurados à categoria dos trabalhadores domésticos os direitos previstos nos incisos IV, VI, VII, VIII, X, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XXI, XXII, XXIV, XXVI, XXX, XXXI e XXXIII e, atendidas as condições estabelecidas em lei e observada a simplificação do cumprimento das obrigações tributárias, principais e acessórias, decorrentes da relação de trabalho e suas peculiaridades, os previstos nos incisos I, II, III, IX, XII, XXV e XXVIII, bem como a sua integração à previdência social. (NR) 6 TRABALHADORAS DOMÉSTICAS TRABALHADORAS DOMÉSTICAS 7

5 UM POUCO DE HISTÓRIA DA LUTA DAS TRABALHADORAS DOMÉSTICAS Não é de hoje que as trabalhadoras domésticas lutam por melhores condições de trabalho e reconhecimento de sua profissão. A luta pelos direitos desta categoria, teve início na década de 1930, com a pioneira Laudelina Campos Melo. Há pouco mais de 40 anos, em 1972, a Lei nº regulamentou a profissão de empregada doméstica e empregado doméstico, como a profissão que presta serviço no âmbito residencial. Em 1988, a Constituição Federal garantiu alguns novos direitos à categoria. Mas, as empregadas e os empregados domésticos ainda não tinham assegurados todos os direitos de outros assalariados, o que agora veio a acontecer. Segundo relatório de um Grupo de Trabalho formado pelo Governo Federal, Sindicatos e Organização Internacionmal do Trabalho, a categoria geralmente tem carga horária de trabalho maior, arca com a responsabilidade do cuidado não só da casa, mas da família que vive no lar, suporta grande pressão dada à repetição e diversidade de tarefas que têm que dar conta ao mesmo tempo, além de recair sobre ela a complexidade das relações e problemas familiares que é obrigada a absorver. NO SERVIÇO DOMÉSTICO AS MULHERES SÃO A MAIORIA, E AS NEGRAS A MAIORIA ENTRE AS MULHERES Um em cada dez trabalhadores brasileiros é empregada ou empregado doméstico. São cerca de 7 milhões de pessoas. Quase 93% são mulheres. As mulheres negras são 61% da categoria. A maioria não tem carteira assinada, nem jornada de trabalho regularizada, e ganham menos da metade da média dos salários dos trabalhadores em geral. São pessoas que trabalham em residências nas variadas tarefas domésticas como limpeza,cozinha, cuidado das crianças (babás), lavagem de roupas, vigilância, condução de veículos 8 TRABALHADORAS DOMÉSTICAS TRABALHADORAS DOMÉSTICAS 9

6 (motoristas), cuidado de jardins, acompanhamento de idosos ou doentes, gerenciamento da casa (governantas), e os caseiros. O trabalho doméstico herdou do sistema de escravidão toda a carga de desvalorização de mão- -de-obra barata. Muitas vezes os empregadores, nesse caso chamados de patrões e patroas, não reconhecem essa função como atividade produtiva importante para seu desenvolvimento pessoal e da sua família. O trabalho doméstico é a única profissão que tinha direito diferenciado na Constituição Federal. A Organização das Nações Unidas, através da Organização Internacional do Trabalho,já aprovou a Convenção 189 e a Recomendação 202 que reconhece o valor econômico e social do trabalho doméstico e estabelece sem ambiguidade que se trata de trabalho. A situação é relatada como grave no mundo. Mais de 56% das trabalhadoras e trabalhadores domésticos não tem direito legal a um limite nas horas de trabalho. Cerca de 45% não têm direito sequer a um dia livre na semana. 36% das trabalhadoras Foto: Agência Senado domésticas não têm direito à licença maternidade no mundo. Ainda cerca da metade dos países do mundo excluiu os trabalhadores domésticos de sua legislação trabalhista. Ainda nos casos em que estão amparados pela lei quase nunca se beneficiam de direitos iguais aos outros trabalhadores. 10 TRABALHADORAS DOMÉSTICAS TRABALHADORAS DOMÉSTICAS 11

7 Laudelina Campos Melo A PIONEIRA LAUDELINA CAMPOS MELO foi a primeira trabalhadora doméstica, de que se tem notícia que organizou as trabalhadoras domésticas para a luta por seus direitos. Mineira, nascida em Sua mãe e seu pai foram alforriados pela Lei do Ventre Livre, em Com a morte prematura do pai, Laudelina teve então que abandonar os estudos, ainda na escola primária, para cuidar dos cinco irmãos menores, enquanto sua mãe trabalhava fora. Aos 20 anos, passou a ser empregada doméstica, o que a levou a mudar-se para Santos, São Paulo, onde casou-se e teve um filho.em Santos passou a integrar um grupo chamado Frente Negra que abrigava várias entidades com propósitos de ampliação política e cultural para a população negra. Em 1936 criou uma associação para empregadas domésticas ao mesmo tempo em que outras eram criadas na cidade de São Paulo, sob a coordenação do professor Geraldo de Campos Oliveira, presidente do Clube Cultural Recreativo do Negro e membro do partido Libertador. Durante o Governo Vargas, as organizações de trabalhadores foram proibidas. Só após a abertura política, a associação retornou às atividades, tendo Laudelina à frente como presidente. Em 1948, foi convidada pela família para a qual trabalhava para ser gerente do hotel fazenda que tinham em Mogi das Cruzes, São Paulo, lá permaneceu por três anos. Com a morte de sua patroa, Laudelina foi para Campinas, cidade onde davam preferência às empregadas brancas. Inconformada com este fato, Laudelina foi ao jornal Correio Popular para se manifestar contra os anúncios preconceituosos por eles publicados.integrou-se então ao Movimento Negro de Campinas. 12 TRABALHADORAS DOMÉSTICAS TRABALHADORAS DOMÉSTICAS 13

8 Em 1961, obteve o apoio do Sindicato da Construção Civil de Campinas para fundar, em suas dependências, a associação de empregadas domésticas de Campinas. A Associação Profissional Beneficiente das Empregadas Domésticas atuou em diferentes frentes, especialmente na luta contra o preconceito racial. Cerca de 1200 trabalhadoras domésticas compareceram ao ato de inauguração da associação, em 18 de maio de Em 1968 adoeceu durante o processo de sucessão da entidade, o qual levou a dissolução da entidade. Retomou a direção da entidade em 1982, procurada por suas antigas companheiras. Em 1988 a associação transformou-se no sindicato das empregadas domésticas. Morreu em Foto: Agência Câmara Notícias BENEDITA DA SILVA, UM SÍMBOLO DESTA LUTA Fonte: Dicionário Mulheres do Brasil de 1500 até a atualidade. Jorge Zahar editor, RJ, Benedita da Silva, hoje deputada federal do PT do Rio de Janeiro, foi empregada doméstica durante um período de sua vida. Foi relatora na Câmara Federal do Projeto de Emenda Constitucional 14 TRABALHADORAS DOMÉSTICAS TRABALHADORAS DOMÉSTICAS 15

9 das trabalhadoras e trabalhadores domésticos. Nasceu numa favela do Rio de Janeiro (Morro do Chapéu, Mangueira). Sua família era muito pobre. Sua mãe era lavadeira e seu pai era pedreiro e lavador de carros. Ela começou a trabalhar aos 7 anos de idade vendendo doces e ajudando sua mãe a lavar e entregar roupas. Trabalhou em casas de família e em fábrica. Participou de movimentos de favelas. Formou-se em Enfermagem e Assistência Social. Em 1982, foi eleita vereadora do PT na cidade do Rio de Janeiro. Em 1986 foi eleita Deputada Federal.Nesta condição foi Constituinte, onde se dedicou entre outras lutas, aos direitos de trabalhadoras e trabalhadores domésticos, e direitos das mulheres e dos negros. Em 1994 foi eleita a primeira senadora negra da história brasileira. Em 1998 foi eleita vice-governadora do estado do Rio de Janeiro, e veio a assumir o cargo de governadora em Foi ministra da área social no governo do presidente Lula. AGRADECIMENTOS DA COORDENADORA DA BANCADA FEMININA DA câmara FEDERAL Como coordenadora da Bancada Feminina da Câmara Federal, composta por todas a mulheres de todos os partidos na Câmara, destaco o papel decisivo das deputadas, junto com as senadoras, para a aprovação da Emenda Constitucional que garantiu todos os direitos trabalhistas às trabalhadoras e aos trabalhadores domésticos.a relatora deste projeto na Câmara, foi a deputada Benedita da Silva, e no Senado, a senadora Lídice da Mata. Nós, mulheres, lideramos esta luta parlamentar, junto com a Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas, hoje presidida por Creuza Maria Oliveira, e com os Sindicatos das Trabalhadoras Domésticas em todo o país. Tivemos o apoio da CUT e de outras centrais sindicais, da Secretaria de Políticas para as Mulheres,hoje dirigida pela ministra Eleonora Menicucci, e da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial,hoje dirigida pela ministra Luiza Bairros. Tivemos o apoio também 16 TRABALHADORAS DOMÉSTICAS TRABALHADORAS DOMÉSTICAS 17

10 da ministra do Tribunal Superior do Trabalho, Delaíde Arantes, que já foi trabalhadora doméstica. Evidentemente tivemos o apoio dos deputados e senadores, que aprovaram por ampla maioria na Câmara e por unanimidade no Senado esta mudança constitucional. Nossa homenagem a todas as trabalhadoras e trabalhadores domésticos do Brasil, de hoje e do passado, a todas e todos que ao longo da história lutaram pelos direitos desta categoria, e àquelas e àqueles que contribuiram com seu voto no Congresso Nacional para a aprovação desta Emenda Constitucional. Deputada Janete Rocha Pietá PT/SP Coordenadora da Bancada Feminina na Câmara Federal Foto NA APROVAÇÃO DA PEC Ao centro, a presidenta da Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas, Creuza de Oliveira, à esquerda da foto deputada Benedita da Silva, ministra Eleonora Menicucci, a ministra do Tribunal Superior do Trabalho Delaíde Arantes, deputada Janete Pietá e a senadora Ana Amélia. À direita na foto a senadora Lídice da Mata, a senadora Vanessa Grazziotin, a ministra Luiza Bairros, a senadora Ana Rita, a secretária da SPM Tatau Godinho, e atrás, assessoras parlamentares. 18 TRABALHADORAS DOMÉSTICAS TRABALHADORAS DOMÉSTICAS 19

11 Em homenagem a todas as militantes dessa luta vitoriosa janetepieta@uol.com.br twitter.com/janetepieta 20 TRABALHADORAS DOMÉSTICAS