Adaptação ao envelhecimento
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- Domingos Wilson de Lacerda Imperial
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1 Adaptação ao envelhecimento Os idosos não constituem um grupo homogéneo. Assim, existem diferentes padrões de adaptação ao envelhecimento que dependem: Idade da reforma; Classe socioeconómica; Estado civil; Sexo; Religião. Estas características produzem traços distintivos de adaptação vital. Tradicionalmente a adaptação à velhice concentrou-se em três grupos de factores: Saúde; Apoio socioafectivo; Recursos económicos; (Actualmente sabe-se se que estes factores são a base de outras variáveis, veis, por ex., a participação social) 1
2 Objectivos da educação na velhice a) Emancipação dos idosos. b) Libertação dos sistemas representados pela idade cronológica (cultura juvenilizada). c) Independência económica. Porquê? Existe uma dominação social sobre a terceira idade, através de instrumentos sociais como a burocracia, o mercantilismo e a medicalização. É preciso quebrar a linearidade do percurso vital tradicional : Uma idade para aprender Uma idade para exercer Uma idade para descansar reforma e desvinculação social. 2
3 A actividade é essencial para: Educação, cultura e lazer Envolvimento social. Envelhecimento saudável e satisfatório - decorrentes da idade. compensação de perdas Reflexões sobre o tempo livre Velhice e lazer A palavra grega scholé unia a ideia de aproveitar o tempo livre à ideia de formação e educação geral através de estudos e debates. O termo romano otium significava a base dos estudos mas também designava a tranquilidade e a vida particular. No séc. XX ocorreu a democratização do tempo livre para as populações industrializadas. 3
4 O tempo livre tinha função de descanso; permitia a recuperação das forças. Paulatinamente alargou-se a outras actividades: culturais, estéticas, de auto-realização Contudo Não é a actividade em si que leva à satisfação, mas a percepção subjectiva do reconhecimento e da integração social a partir das actividades realizadas. (Kolland,2000) Assim Os reformados não conseguem trocar o trabalho profissional por alguma actividade de lazer visto que o trabalho propicia a sensação de se estar integrado na sociedade, de existir utilidade e reconhecimento. Já o lazer, não traz a mesma sensação, deixando um sentimento de vazio. 4
5 As actividades desenvolvidas pelas pessoas idosas precisam de ter significado vital. Para que uma actividade seja significativa precisa de ter algum vínculo com a identidade da pessoa: profissão, biografia, valores Barreiras ao lazer Sociedade quando não oferece espaços por causa da imagem e do papel social atribuídos aos idosos. Impedimentos concretos dos idosos. (doenças, idade avançada ) Resistências internas, provenientes do próprio imaginário dos idosos. 5
6 Actividades de lazer em geral A sua realização depende de condições financeiras, educação, escolaridade e cultura. As actividades preferidas dos idosos são realizadas dentro de casa (72%). Porquê? Passam mais tempo dentro de casa. Devido a Saúde; Dificuldades de locomoção; Insegurança em espaços públicos. Actividades mais praticadas pelos idosos dentro de casa 1. Ver televisão ( 93 % ) 2. Ouvir rádio ( 80 % ) 3. Cuidar de plantas ( 63 % ) 4. Leitura ( 52 % ) 5. Cuidar de animais ( 43 % ) 6. Bordado/Tricô ( 16 % ) 7. Palavras-cruzadas ( 13 % ) 6
7 Visitas a museus e frequência de teatros e cinemas são feitas pelos mais ricos. Quanto mais baixa a escolaridade, menor a frequência de actividades de lazer. Porquê? Dificuldades de acesso, falta de hábito e de valorização. Comparando os idosos jovens (65-70) com os idosos mais velhos (+ 80) verifica-se: Nos mais velhos: Diminuição geral do nível de actividades; Menos actividades de lazer fora de casa; Diminuição das actividades que requerem disposição/predisposição. 7
8 A única actividade que diferencia totalmente homens e mulheres, são os trabalhos manuais com agulhas. Actividades de lazer indicadas pelos idosos, por ordem de preferência: 1. Ver TV 2. Passear/Viajar 3. Descanso 4. Actividades culturais (ler e ouvir música) 5. Trabalhos manuais Além da TV, a actividade preferida para os idosos sem instrução formal é o descanso. O sonho de todos os idosos é realizar mais actividades fora de casa. 8
9 Viajar é o sonho de todos os idosos jovens. O que os impede? 1 - Dinheiro (33%) 2 Saúde ( 17%) 3 Outras razões. Contudo, 25% afirmaram que nada impede essa realização. As barreiras são de origem pessoal: Falta de costume. Medo do desconhecido. Preconceitos da sociedade. 9
10 1. Caminhada 2. Bicicleta 3. Ginástica Actividade física f na terceira idade Os homens, idosos jovens, com maior grau de escolaridade são os que praticam mais actividade. As mulheres suplantam os homens na hidroginástica. No Brasil existem grupos de terceira idade com diferente cariz: Grupos de cunho religioso. Grupos de actividades físicas. Grupos de música. Grupos de viagens. Os grupos de convivência são uma minoria e são integrados por pessoas com ensino secundário ou superior. 10
11 Educação, cultura e envelhecimento UNESCO Promover a educação ao longo da vida. O periódico Educacional Gerontology nº 1 (1976) propôs a educação da população geral em relação ao envelhecimento e a formação de profissionais para trabalhar com idosos. Quanto mais elevado o nível de escolaridade, maior a probabilidade de preservação das capacidades intelectuais. Mas não é necessariamente a escolaridade em si que causou estes efeitos, pois ela é vinculada a outros factores, como melhores condições de vida e campos profissionais mais estimulantes que redundam em benefícios para a saúde, ao nível da informação, à moradia e à segurança. 11
12 O crescimento da oferta educacional para idosos tem aumentado mas a sua participação ainda é pequena. Depende da proximidade com a educação que as pessoas mantiveram ao longo da sua vida. A oferta desses programas nem sempre satisfaz os idosos: Quando os jovens tentam ensinar aos idosos como devem envelhecer. Quando as actividades se limitam a preencher tempos vazios e se tornam substitutos de uma participação real e activa na sociedade. Não se trata de simplesmente oferecer quaisquer actividades para idosos, mas que elas tenham relação com a sua identidade, com as suas competências e necessidades. 12
13 Informática (Entrada no trabalho e nos lares) Aprender a trabalhar com algo que não existia é um desafio. Esta aprendizagem não deve ser simultânea com a dos jovens, pois estes aprendem mais rapidamente. A escolarização diferencia o grupo das pessoas idosas em relação à informática. Europa taxas de envelhecimento muito elevadas e com tendência para subir. As actuais políticas sociais para este grupo etário, não só têm em conta a satisfação das suas necessidades básicas, mas também preocupação com a sua qualidade de vida. 13
14 A Carta Internacional da Educação para o Lazer (1993) equipara o lazer a outros direitos humanos: O lazer é um direito humano fundamental, tal como a educação, o trabalho e a saúde, e ninguém devia ser privado desse direito por questões de género, orientação sexual, idade, raça, religião, estado de saúde, incapacidade ou situação económica (artigo 2.4.) A Constituição espanhola de 1978 consagra o lazer dos idosos no seu artigo 50º: Os poderes públicos ( ) promoverão o seu bem estar através de um sistema de serviços sociais que se ocuparão dos problemas específicos relacionados com a saúde, habitação, cultura e lazer. A melhor maneira de encarar a terceira idade do ponto de vista da d educação é através s dos tempos livres. ( Midwinter,1992) 14
15 Entender o papel da educação para o lazer entre os nossos idosos é assumi-la como um recurso da sua integração social, de procura de participação, que preencha de modo satisfatório e gratificante os seus tempos livres, ampliando o seu círculo de relações sociais e melhorando as suas capacidades físicas e psíquicas; em suma, melhorando a sua qualidade de vida. A cessação da actividade profissional, a ausência de familiares, inclusive do próprio cônjuge, a perda ou diminuição das relações sociais: propiciam o isolamento social, alimentam sentimentos de solidão, passividade e frustração induzidos pelo não fazer nada, não se sentirem úteis, provocando a exclusão e marginalização sociais. 15
16 A pedagogia do lazer impõe a identificação de recursos de lazer. Os recursos de lazer estão a aumentar. Contudo, nem todos beneficiam das mesmas oportunidades. Limitações transportes Recursos financeiros Contactos sociais Saúde físicaf Estas limitações estão sobretudo presentes nos idosos de meios rurais. 16
17 Quarta idade (Génova e Linares,2000) Trata-se de uma população maioritariamente feminina que se distingue por ser grande consumidora de recursos de saúde e de cuidados sociais. Não vivem os últimos anos de vida na posse das suas faculdades físicas e psíquicas. A intervenção socioeducativa e terá de ser feita por profissionais com qualificações pedagógicas e de educação social. Artigo 50º da constituição permite deixar para trás o modelo assistencial (em que o indivíduo é o sujeito passivo da atenção que a sociedade e os especialistas lhe dão) e pressupor um comportamento autónomo e participativo das pessoas idosas, tornando-as aptas para participarem nas actividades mais vitais da comunidade. 17
18 Plano galego para pessoas maiores ( ) 2006) Quatro estratégias de actuação: 1. Aposta no envelhecimento em casa. 2. Aposta no combate à dependência. 3. Aposta na co-responsabilidade social: integração e participação. 4. Aposta na qualidade. Lei da Administração Local da Galiza (1997) define as competências dos municípios (art 8º, 2) : Actividades e instalações culturais e desportivas, ocupação de tempos livres e turismo, execução de programas próprios destinados a crianças, jovens, mulheres e terceira idade 18
19 Os quadros normativos não estabelecem a existência de profissões ligadas a funções socio-educativas e de animação. Apenas contemplam os indivíduos que executam tarefas existenciais: assistente social e um auxiliar ao domicílio. Características gerais da oferta: Predomínio do sector público sobre o privado. O âmbito de actuação preferencial é o municipal ( o município é o referente-base). Categorização das actividades programadas, ordenadas consoante a sua frequência: 1. Actividades na área da dinâmica ocupacional (trabalhos manuais, grupos corais e de teatro). 2. Actividades na área social e de cidadania (festas, almoços, excursões, bailes, jogos de mesa e actividades de voluntariado). 3. Actividades na área do desenvolvimento físico-psíquico (ginástica e estimulação cognitiva). 4. Actividades na área formativo-cultural (cursos, conferências). 19
20 Associações de idosos TIPOS DE INSTITUIÇÕES São iniciativas da sociedade civil, especialmente vocacionadas para as actividades de lazer e a animação sociocultural. É a forma mais genuína de participação, pois a sua constituição, a definição dos seus objectivos e dos seus mecanismos de funcionamento dependem da capacidade de iniciativa dos seus membros. Surgem por iniciativa dos idosos e são geridas pelos próprios. Centros sociais Não são centros específicos para idosos pois surgem para complementar os lares de idosos. São entidades abertas a toda a população onde se promovem e oferecem actividades, serviços e instalações à população de um determinado espaço. Contudo, na prática são utilizados exclusivamente por idosos. 20
21 Centro de dia É um recurso social de permanência diurna (uma alternativa à institucionalização), especialmente concebido para pessoas idosas que sofram de algum grau de dependência (física ou psíquica). Incluem o fornecimento de cuidados de saúde além de alimentação e transporte adaptado. Embora a sua função prioritária não seja a organização de actividades socioculturais e recreativas, a sua oferta inclui, devido ao tempo livre dos utentes, um leque cada vez mais amplo de possibilidades de preenchimento do mesmo. 21
22 EDUCAÇÃO PERMANENTE Em 1972 refere-se que a educação permanente engloba todas as formas de educação, a totalidade da população e as diferentes etapas da vida das pessoas. Relatório Delors (1996) é relançado o conceito de educação permanente, denominado educação ao longo da vida. A educação ao longo da vida torna-se um imperativo democrático que deve oferecer ao indivíduo a capacidade de dirigir o seu destino e outorgar-lhe os meios necessários para atingir um equilíbrio entre trabalho, aprendizagem e vida activa. É mais necessária na idade adulta porque é a que precisa mais de adaptação às mudanças. 22
23 A educação permanente refere-se a: - todos os sujeitos de qualquer idade, - todos os níveis educativos, - totalidade dos métodos, - totalidade dos meios e agentes de formação. Trata-se de um processo contínuo e progressivo de todos os indivíduos. A alfabetização (ler e escrever) é necessária mas insuficiente. Novas formas de alfabetização são hoje as línguas estrangeiras, a linguagem informática, a técnico-científica, as novas expressões artísticas, a capacidade de resistência à tensão da vida laboral, o auto-emprego, a adaptação a novas formas de trabalho. Estas alfabetizações são alguns dos objectivos da educação permanente. 23
24 Actualmente é necessário: - dar lugar à formação em Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), - reestruturar a oferta de actividades de tempos livres, - incidir sobre a nova bagagem sociocultural. A educação ao longo da vida permite: - mudar a visão negativa acerca da terceira idade; -Preparar os indivíduos para desfrutarem do tempo depois da saída da vida laboral Sair da vida laboral não implica abandonar a vida activa. Esta etapa deveria apresentar-se como a mais activa porque é quando desfrutam completamente do seu tempo. 24
25 Habitualmente as intervenções dirigidas aos idosos nada têm a ver com eles pois são efectuadas por pessoas que não têm nada em comum, nem a idade. Os medos e as expectativas de cada grupo etário são diferentes. Num estudo realizado em 1998 perguntou-se à sociedade em geral e aos idosos: qual é a circunstância que mais temem Idosos: 1. Dor 2. Perda de amigos 3. Perda de memória População em geral: 1. Doença 2. Perda memória 3. Dependência 25
26 Em 2002 a perspectiva de vida nos países desenvolvidos era de 77,4 anos. Não é possível considerar os 65 anos como uma idade onde começa o declínio físico, psicológico e social da pessoa. Os 65 anos devem ser uma etapa onde se inicia um novo planeamento da utilização do tempo de ócio. Isto só será possível se for concedida ao idoso a possibilidade de participar: -Nas decisões que o afectam. - Nos acontecimentos que o rodeiam. 26
27 Propostas conclusivas: Planos globais (para toda a população e com a intervenção de vários técnicos e profissionais). Planos específicos ( para determinados grupos). Formação de profissionais. 27
28 Programas Universitários rios para Idosos Evolução desta oferta educativa (Lemieux, 1997): Programas de primeira geração programas culturais de tempos livres com objectivo de entreter os idosos. Programas de segunda geração - programas que passam a incorporar actividades educativas. Programas de terceira geração programas educativos regulamentados, com um plano de estudos específico e características formais próprias de um contexto universitário. Algumas conferem títulos próprios. 28
29 Ao analisar a formação para idosos destacam-se quatro tipos de atitudes: 1. Recusa e marginalização (a formação para este grupo é improdutiva e desnecessária) 2. Organização dos serviços sociais para dar resposta ás necessidades assistenciais. 3. Participação para que os idosos possam intervir na sociedade, a partir dos seus conhecimentos e da sua experiência. 4. Actualização que valorize o seu ser mais do que o seu fazer. Modelo sociocompetente por oposição ao modelo assistencial. 29
30 Estes indivíduos não devem retirar-se mas sim lançar-se em novos objectivos e explorar novas oportunidades. Este grupo de sujeitos que designamos de pessoas idosas está longe de se encontrar numa situação que requeira, fundamentalmente, serviços assistenciais. Pode e deve dispor de oportunidades de formação. Do lazer passivo lazer activo. O que os motiva a inscreverem-se em programas: 1. Adquirir novos conhecimentos 2. Complementar conhecimentos 3. Lutar contra a solidão e o isolamento 4. Mobilização das faculdades intelectuais 5. Busca de uma nova forma de lazer (intelectual) 6. Interesse por determinados temas. 30
31 Definição dos programas universitários É a própria universidade que gera, desenvolve, promove e mantém essas actividades ; são programas universitários. Características destes programas: a) Enquadramento institucional; b) Elementos organizativos; c) Infra-estruturas; d) Aspectos pedagógicos. Ver: Guía de Programas Universitarios de Personas Mayores Velásquez, M. e outros,
32 Verifica-se maior escolha de conteúdos enquadrados nas seguintes áreas de conhecimentos: a) Humanidades e Ciências Sociais b) Ciências Jurídicas e Económicas c) Ciências da Terra e do Ambiente d) Ciências Biossanitárias e) Ciências Tecnológicas Elementos organizativos dos programas: a) Plano de estudos fixo b) Duração em consonância com um curso académico e com o calendário universitário. c) Avaliação d) Garantir um nível de formação compatível com o título universitário. Não deve ser designado por programa universitário qualquer tipo de actividade a favor das pessoas idosas. 32
33 A Universidade de Santiago criou o IV Ciclo Universitário que constitui um ciclo específico inserido no contexto da formação contínua ou formação ao longo da vida, aberto a todas as pessoas. As Universidades de Corunha e de Vigo organizam a sua formação em três ciclos: 1º ciclo com 27 créditos = Bacharelato Sénior (1 crédito = 10 horas lectivas) 2º ciclo com 18 créditos = Licenciatura Sénior 3º ciclo = Doutoramento Sénior (Submissão de um trabalho de investigação à comissão correspondente). Compete aos docentes universitários: Leccionar as disciplinas Adequar os conteúdos à capacidade de compreensão dos sujeitos Ter em conta as situações específicas de aprendizagem (tempos, ritmos, interesses) Preencher os tempos académicos com outras actividades não circunscritas ao espaço da sala de aula. Dificuldade: heterogeneidade das formações que exige adaptar e preparar materiais diversos. Evitar: aulas excessivamente teóricas. 33
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