AS ESCOLAS MARGINAIS: CENTRO DE MUDANÇAS
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1 Programa Desenvolvimento Profissional e Inovação Institucional Departamento de Didática e Organização Escolar Faculdade de Pedagogia Universidade de Barcelona AS ESCOLAS MARGINAIS: CENTRO DE MUDANÇAS Doutoranda SILVIA MARIA FERREIRA MONTEIRO DE ANDRADE Dirigida pela Dra. Dª Inmaculada Bordas Alsina Barcelona, 15 julho de 2006
2 AS ESCOLAS MARGINAIS: CENTROS DE MUDANÇAS 391 QUARTA PARTE CONCLUSÕES.
3 392 Silvia M.F. M. de Andrade
4 AS ESCOLAS MARGINAIS: CENTROS DE MUDANÇAS 393 CAPÍTULO 8. CONCLUSÕES 8.1. Conclusões gerais Os centros estudados têm situações similares em relação ao contexto Os centros estudados e suas tipologias O corpo docente O corpo discente 8.2. Conclusões específicas A motivação Aprendizagem das meninas e meninos As condutas sociais negativas em relação a outras pessoas A conduta negativa em relação ao meio A conduta negativa em relação a si e aos colegas Desestruturação familiar O desempenho dos professores
5 394 Silvia M.F. M. de Andrade
6 AS ESCOLAS MARGINAIS: CENTROS DE MUDANÇAS 395 No decorrer deste trabalho, foi estudado o comportamento do indivíduo nas instituições públicas escolares que apresentam graves problemas de ordem social e cultural e a atuação dos profissionais nas referidas instituições. Neste ambiente não propício ao processo de ensino/aprendizagem, constatou-se a preponderância da questão da violência envolvendo alunos carentes vindos de famílias desestruturas e ingressando na escola já repletos de problemas, como a subnutrição, falta de afeto e diálogo familiar, bem como abandono, falta de instrução e baixa alto estima. Ao ingressarem na instituição escolar, ao contrário de se depararem com um ambiente capaz de ajudá-los, encontram o despreparo por parte da maioria dos professores, péssimas condições dos centros de ensino, falta de recursos, ausência de estimo ao estudo, tudo constituindo fatores geradores de um trabalho pedagógico muito aquém das expectativas sobre um mínimo de padrão de qualidade no campo do ensino-aprendizagem. Não considerando uma questão perdida, mas tendo presente os profundos níveis de dificuldades, apresentou-se estratégias para os professores de primeira a quarta série, com o objetivo de enfrentarem o desafio de educar, mesmo diante de quadro social tão drástico, servindo as mesmas de estímulo tanto ao professor quanto aos alunos, para satisfazerem as necessidades básicas de aprendizagem, promovendo uma fundamental participação do educando e educador, possibilitando, para ambos, o desenvolvimento de habilidades e gerando domínio da comunicação, expressão oral e escrita, matemática e lógica, especialmente saber como ensinar e aprender a aprender. A partir disto, chega-se às seguintes conclusões:
7 396 Silvia M.F. M. de Andrade 8.1. CONCLUSÕES GERAIS Os centros estudados têm situações similares em relação ao contexto Contexto Externo Bairros com graves problemas de marginalização Famílias dos alunos desestruturadas Formação cultural dos pais baixíssima (analfabetos) Moradias dos alunos são precárias Alunos com problemas físicos e psicológicos, pois maltratados pelos próprios pais Contexto Interno Instituições com mais de quarenta anos de existência Poucos professores efetivos e muitos ACTs Alta rotatividade dos professores Inexistência de Projeto Político Pedagógico Planejamento das aulas efetuado exclusivamente com base nos livros didáticos fornecidos pelas prefeituras As estratégias de ensino usadas pelos professores não são aplicadas de forma diversificada e não são motivadoras para os alunos, o que desenvolve um baixo nível de aprendizagem Os centros estudados e suas tipologias Ao contrário do que é idealizado em relação à escola, a situação atual da escola pública brasileira é desoladora. Além dos entraves de ordem político-econômica (abandono oficial), tem-se, ainda, uma proposta de ensino que se atém ao saber cumulativo e restrito somente aos livros didáticos, além da forma errônea de avaliação, que faz com que a escola seja um ambiente maçante e desmotivador, conforme constatado nas
8 AS ESCOLAS MARGINAIS: CENTROS DE MUDANÇAS 397 escolas pesquisadas A meta de formação de cidadãos críticos, comprometidos e participativos só pode ser atingida se a instituição de ensino atuar dentro destas mesmas metas. Às escolas carentes restou cobrir a lacuna deixada pelos pais, no que se refere à educação de seus filhos, por isto sua atuação necessita ser determinante na criação de paradigmas de cidadania, de solidariedade e de comprometimento, o que leva aos docentes, enquanto educadores, uma tarefa de formadores sociais A partir das observações realizadas, conclui-se ser possível a construção de escolas de mudanças comprometida com o preparo de seus discentes à cidadania, dando-lhes, outrossim, condições de produção do conhecimento, não se restringindo a repetições das informações já existentes, que obedecem à classe dominante, mas estimulando o prazer em aprender, dando o devido valor à leitura, à escrita e à matemática para que, futuramente, enquanto indivíduos, os alunos sintam-se inseridos na sociedade O corpo docente. Em relação aos professorado devemos indicar: Formação contínua. Detectam-se profundas e variadas transformações no campo educativo que implicam uma preparação especial para os professores Continuísmo didático e pedagógico. Constatam-se algumas resistências dos professores em exercício, que querem continuar na situação atual Relutância na sala de aula. Existe, por parte de alguns grupos de professores, uma grande dificuldade e resistência na utilização de estratégias didáticas inovadoras Formação. Outros grupos de professores pedem formação permanente e atualização em técnicas individualizadas, para: melhorar o ensino/aprendizagem, considerando as diferenças de cada aluno diminuir o fracasso escolar Passividade. A inércia dos professores impede a criação de condições
9 398 Silvia M.F. M. de Andrade para um melhor posicionamento do corpo docente diante das autoridades de ensino O corpo discente A motivação. Os alunos perdem motivação para o aprendizado diante as estratégias tradicionais que se utilizam Melhoria do ambiente escolar Diminuição da violência Comunicação. Os professores utilizam formas de linguagem complexas na relação com os alunos e, com isto, a comunicação e a aprendizagem se tornam difíceis. A comunicação, em muitos casos, é unidirecional (professor aluno) Afetividade. A incomunicabilidade entre professor e aluno gera problemas afetivos CONCLUSÕES ESPECÍFICAS A motivação: Pais e alunos frustrados com a instituição escolar; Não há incentivo nas escolas para utilização do material pedagógico; Os conteúdos não são motivadores para a aprendizagem; O aluno não se interessa em aprender; A infra-estrutura é desmotivadora; A linguagem do professor é um obstáculo à motivação A aprendizagem das meninas e meninos: Ingressam nas escolas já com graves problemas para desenvolver a aprendizagem devido ao contexto familiar; Não sabem ler e escrever corretamente mesmo na terceira e quarta
10 AS ESCOLAS MARGINAIS: CENTROS DE MUDANÇAS 399 séries (mal alfabetizados); Não há interação com a linguagem do professorado; Sentem-se excluídos do contexto As condutas sócias negativas em relação a outras pessoas: Não respeitam as normas das escolas e as normas sociais; Não respeitam os mais velhos e nem os professores; São indisciplinados; Há inversões de valores; Comportamento agressivo e violento; A lei do mais forte A conduta negativa em relação ao meio: Os alunos depredam o patrimônio público não escolar; Os alunos depredam o patrimônio escolar, prejudicando o trabalho dos professores; Postura negativa quanto ao seu desenvolvimento cultural; Não possuem limites A conduta negativa em relação a si e aos colegas: Não se aceitam mutuamente; Existência de forte baixa estima; São preconceituosos e descriminam os colegas; Não se importam com a higiene em relação ao bem estar do corpo e em geral Desestruturação familiar: Falta de recurso para se manter; Baixo nível de instrução; Más condições de saúde; Dificuldade de diálogo;
11 400 Silvia M.F. M. de Andrade Relacionamentos violentos; Desqualificação paternal; Sofrimento com a descriminação e preconceito O desempenho dos professores: Sabem que devem mudar suas práticas pedagógicas; Sentem-se inseguros; Não são hábeis para lidar com crianças carentes; Sentem-se frustrados e desanimados com o magistério; São mal remunerados; Não conhecem a realidade da escola na qual atuam; Não impõem limites aos alunos; Não sabem lidar com as diferenças; Não há, na maioria, uma preocupação em evitar a evasão; Não exercem políticas pedagógicas anti-repetência e antiviolência. Em resumo, detectamos uma situação negativa de contexto: em motivação, no desenvolvimento do ensino e da aprendizagem, na atividade do professorado e na formação permanente. Mesmo diante desta realidade, nossa proposta é a de projetar modelos simples e práticos que considerem todos os fatores mencionados nesta conclusão para propor e realizar estratégias de ensino/aprendizagem.
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