Equações Diferenciais Ordinárias
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- Washington Mascarenhas Fialho
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1 Equações Diferenciais Ordinárias NOTAS DE AULA INSTITUTO DE CIÊNCIAS MATEMÁTICAS E DE COMPUTAÇÃO ICMC-USP Universidade de São Paulo - USP São Carlos, 19 de agosto de 29
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3 Índice Introdução 3 1 Propriedades gerais Problema de valor inicial Existência de soluções O teorema do ponto fixo de Schauder Teorema de Áscoli Prolongamento de soluções Existência e unicidade de soluções Diferenciabilidade de ponto fixo com relação a parâmetros Dependência contínua e estabilidade Estabilidade no sentido de Liapunov Sistemas autônomos: generalidades Preliminares Retrato de fase Conjuntos limites Conjuntos invariantes Conjunto minimal Sistemas lineares e linearização 55 3
4 4 Índice 3.1 Introdução Princípio da superposição Matriz fundamental Equações escalares de ordem n Fórmula da variação das constantes Equação adjunta de uma equação escalar de ordem n Sistemas lineares com coeficientes constantes Autovalores e autovetores Soluções reais Determinação de matriz fundamental de ẋ = Ax Método para achar a base de M λ (A) Forma canônica de Jordan Equações de ordem n com coeficientes Constantes Sistemas lineares autônomos bidimensionais Sistemas lineares periódicos: teoria de Floquet Estabilidade e instabilidade Estabilidade de sistemas lineares com coeficientes constantes Estabilidade de sistemas lineares e perturbados Estabilidade de sistemas perturbados A propriedade do ponto de sela Motivação Desigualdade integral Estabilidade: método direto de Liapunov Introdução Método direto de Liapunov Teorema de estabilidade e estabilidade assintótica de Liapunov Instabilidade Primeiro teorema de instabilidade de Liapunov Segundo teorema de instabilidade de Liapunov Teorema de instabilidade de Cetaev
5 Índice Invariância e estabilidade: teoria de La Salle Introdução Apresentação do método Estabilidade assintótica global Introdução Apresentação do método Limitação de soluções Teoria de Poincaré-Bendixon Motivação Aplicações da teoria de Poincaré-Bendixon Teorema de Hartman Generalidades Localização Exercícios Lista Lista Lista Lista Lista Referências Bibliográficas 143 Índice Remissivo 145
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7 Introdução O propósito destas notas é abordar de maneira geral a teoria qualitativa de equações diferenciais ordinárias e servir como base para alunos de mestrado e doutorado em matemática. 3
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9 Capítulo 1 Propriedades gerais 1.1 Problema de valor inicial Sejam D R R n = R n+1 um subconjunto aberto e f : D R n uma função contínua. Definição Uma solução da equação diferencial ordinária (EDO) ẋ = f(t, x) em um intervalo I R é uma função x : I R n tal que i) G(x) = {(t, x(t)) : t I} D; ii) x é diferenciável em I; iii) ẋ = f(t, x(t)), para todo t I. Definição Seja (t, x ) D. Um problema de valor inicial (P V I) para a equação ẋ = f(t, x) consiste em encontrar um intervalo I contendo t e uma solução x(t) da equação em I tal que x(t ) = x. Notação: { ẋ = f(t, x) x(t ) = x (PVI) 1.2 Existência de soluções Nesta seção nos dedicamos a encontrar condições nas quais um determinado PVI possui solução e também quando esta solução é única. Exemplo Seja f : R R definida por { se x < f(x) = x se x. 5
10 6 Propriedades gerais Consideremos o PVI { ẋ = f(x), x() =. Para cada c > a função x c (t) definida por (t c) 2, se t c x c (t) = 4, se t < c é solução do PVI acima. Solução. Se x <, temos que x(t) = c. Usando a condição inicial segue que x() = = c. Portanto x(t) = para x <. Se x, temos que ẋ = x. Como dx = ẋdt segue dx dx = dt = dt x x 2 (t c)2 x + c 1 = t + c 2 x =, c = c 1 c 2. 4 (t c) 2, se t c Portanto temos x(t) = para todo t e x c (t) = 4 são soluções do PVI., se t < c Figura 1.1: Gráfico de x c (t) Lema Seja f : D R n+1 R n contínua. Então x(t) é solução de ẋ = f(t, x) em I com x(t ) = x, (t, x ) D se e somente se x(t) é contínua em I, (t, x(t)) D para todo t I e x(t) = x(t ) + t f(s, x(s))ds. Demonstração. ) Pelo Teorema Fundamental do Cálculo temos t ẋ(s)ds = f(s, x(s))ds t x(t) = x(t ) + f(s, x(s))ds. Sendo x solução de ẋ(t) = f(t, x(t)) as outras hipóteses estão satisfeitas trivialmente. ) É trivial. t
11 1.3 O teorema do ponto fixo de Schauder O teorema do ponto fixo de Schauder Definição Sejam X um espaço de Banach e A X um subconjunto de X. A é dito convexo se para todo x, y A tem-se que θx + (1 θ)y A, θ (, 1). Figura 1.2: Conjunto convexo Teorema (Ponto fixo de Schauder). Sejam X espaço de Banach, A X um subconjunto convexo e compacto e seja f : A A contínua, então f tem um ponto fixo em A. Definição Sejam X e Y espaços de Banach, A X um subconjunto de X e f : A X Y uma aplicação. Dizemos que f é uma aplicação compacta se f leva cada limitado de A em um conjunto relativamente compacto de Y Observação Se f é uma função que leva conjuntos limitados em conjuntos relativamente compactos, f não é necessariamente contínua. De fato, considerem a seguinte função x 2, se x < 1 f(x) = x, se x > 1, se x = 1. Se B = ( 1, 3) então f(b) = ( 1, 1) (1, 3 ) e f(b) = [ 1, é contínua. 3 2 ] é compacto, mas f não Figura 1.3: Gráfico da Observação Definição Sejam X e Y espaços de Banach. Dizemos que f : X Y é completamente contínua se f for compacta e contínua. Observação Se f : X Y for linear então f é compacta se e somente se f for completamente contínua. Figura 1.4: Envoltória convexa fechada de f(a) Corolário Sejam X um espaço de Banach, A X um subconjunto limitado, fechado e convexo de X e f : A A completamente contínua. Então f tem um ponto fixo em A.
12 8 Propriedades gerais Demonstração. Como f(a) A e A é fechado então f(a) A. Sendo f completamente contínua f(a) é compacto. Além disso co (f(a)) (= é o menor conjunto convexo e fechado que contém f(a)). Pelo ( Teorema ) de Mazur ( temos ) que co (f(a)) é compacto. Como co (f(a)) A e f(co f(a) ) f(a) co f(a). O Teorema de Schauder garante que existe um ponto ( ) fixo em co f(a) A. 1.4 Teorema de Áscoli Sejam K e M espaços métricos com K compacto. Consideremos o conjunto C(K, M) = {f : K M : f é contínua} com a topologia da convergência uniforme; isto é, a topologia dada pela distância d(f, g) = max d(f(x), g(x)), x K para f, g C(K, M). Definição Um subconjunto E C(K, M) é equicontínuo se dado ɛ > existe δ = δ(ɛ) > tal que se d(x, y) < δ então d(f(x), f(y)) < ɛ, f E, x, y K. Figura 1.5: Conjunto equicontínuo Teorema (Teorema de Áscoli). Sejam K e M espaços métricos com K compacto e E C(K, M). Suponha que estão satisfeitas: 1. Para cada x K o conjunto E(x) = {f(x) M : f E} é relativamente compacto em M; 2. E é equicontínuo. Então E é relativamente compacto. Corolário Sejam K espaço métrico compacto e E C(K, R m ) tal que 1. Existe N tal que f(x) N, x K, f E; 2. E é equicontínuo. Então E é relativamente compacto. Exemplo Sejam I = [a, b], M, β > e E = {φ : I R n : φ(t) β, φ(t) φ(s) M t s, t, s I} C(I, R n ). Do Corolário segue que E é relativamente compacto. Em C(I, R n ) consideramos a norma ϕ = sup ϕ(t). t I
13 1.4 Teorema de Áscoli 9 Solução. Seja E(t) = {ϕ(t) R n : ϕ E}. E(t)é relativamente compacto. De fato, como ϕ(t) β, t I, ϕ E. Segue que E(t) R n é um conjunto limitado, logo E(t) é compacto em R n. E é equicontínuo. De fato, dado ɛ >, existe δ > tal que se t s < δ então φ(t) φ(s) M t s < Mδ < ɛ, t, s I, φ E, basta tomar δ < ɛ M. E é fechado. De fato, seja {φ n } E uma sequência tal que φ n φ C(I, R n ). Como φ n φ e φ n β tem-se que φ β. Também φ n (t) φ n (s) M t s, φ n, t, s I, como é uma função contínua tem-se que φ(t) φ(s) M t s, t, s I. Portanto φ E. Assim E é fechado e E = E é compacto. Teorema (Teorema de Peano). Sejam f : D R n uma função contínua e (t, x ) D. Então o PVI { ẋ = f(t, x), x(t ) = x (1.1) tem pelo menos uma solução. Demonstração. A ideia é aplicar o Corolário do Teorema de Schauder ao operador (T φ)(t) def = x + t f(s, φ(s))ds. (1.2) Vejamos em que condições T estará bem definido. Sejam α, β > parâmetros os quais serão ajustados convenientemente no decorrer da demonstração. Definamos os seguintes conjuntos X = C([t α, t + α], R n ) R = R(α, β, t, x ) def = {(t, x) R n+1 : t t α, x x β} A = A(α, β, t, x ) def = {φ C([t α, t + α], R n ) : φ(t) x β, t [t α, t + α], φ(t ) = x }. Figura 1.6: Os subconjuntos R e D Consideremos α, β suficientemente pequenos de modo que R D. Assim definamos T : X X dado pela equação (1.2) e vejamos em que condições T deixa A invariante. Observe que, onde M max f(t, x). (t,x) R (T φ)(t) x t f(s, φ(s)) ds Mα,
14 1 Propriedades gerais Tomando α suficientemente pequeno podemos supor que Mα < β. Mostremos que nestas condições T mantém A invariante. Se φ A temos (a) A aplicação t [t α, t + α] (T φ)(t) é contínua; (b) (T φ)(t) x ) β (c) (T φ)(t ) = x. Logo T (A) A. t [t α, t + α]; Além disso A é fechado, limitado e convexo. i) Fechado. Seja {φ n } A tal que φ n φ. Como [t α, t + α] é compacto φ n φ uniformemente então φ é contínua. Assim e Portanto φ A. ii) Limitado. É imediato. φ(t ) = lim n φ n (t ) = x ; φ(t) x = lim n φ n (t) x = lim n φ n (t) x β. iii) Convexo. Se φ, ψ A então θφ + (1 θ)ψ A, θ (, 1). De fato, Observe que θφ(t ) + (1 θ)ψ(t ) = θx + (1 θ)x = x. θφ + (1 θ)ψ é contínua. θφ(t) + (1 θ)ψ(t) x = θφ(t) + (1 θ)ψ(t) (θx + (1 θ)x ) θ φ(t) x + (1 θ) ψ(t) x θβ + (1 θ)β = β. Mostremos agora que T é contínua em A. De fato, se t [t α, t + α], então (T φ)(t) (T ψ)(t) f(s, φ(s)) f(s, ψ(s)) ds. Como f é uniformemente contínua em R, dado ɛ > existe δ > tal que t x y < δ, x, y R f(s, x) f(s, y) < ɛ, s [t α, t + α]. Se φ ψ = max φ(s) ψ(s) < δ então (T φ)(t) (T ψ)(t) ɛα e segue a s [t α,t +α] continuidade de T. Mostremos agora que T é completamente contínua. Como T é contínua, basta mostrar que T é compacta e para isto basta mostrar que T (A) é relativamente compacta. Aplicaremos então o Corolário do teorema de Áscoli a T (A).
15 1.5 Prolongamento de soluções 11 Como T (A) A e A é limitado basta então mostrar que T (A) é equicontínuo. De fato, se φ A e t, s [t α, t + α] então (T φ)(t) (T φ)(s) f(τ, φ(τ)) dτ M t s. Logo T A é equicontínuo. s Do Teorema de Schauder segue que T tem um ponto fixo e do Lema segue que o ponto fixo é uma solução do PVI (1.1) em [t α, t + α]. Corolário Sejam f satisfazendo as condições do Teorema e U D um subconjunto compacto. Então existe α = α(u) >, tal que para todo (t, x ) U, o PVI { ẋ = f(t, x), x(t ) = x tem pelo menos uma solução definida em [t α, t + α]. Figura 1.7: Os subconjuntos U e D. Demonstração. Seja V um subconjunto aberto tal que U V e V é compacto, V D e M f(t, x). sup (t,x) V Escolhemos α, β tal que Mα < β e tal que R := {(t, x) : t t α, x x β} V, (t, x ) U. A seguir acompanha-se a demonstração do Teorema 1.4.4, tomando-se A = A(α, β, t, x ) com α e β escolhidos acima. Figura 1.8: Os subconjuntos U e V 1.5 Prolongamento de soluções Nesta seção vamos considerar D R n+1 um subconjunto aberto. Definição Seja φ uma solução de uma equação diferencial ẋ = f(t, x), onde f : D R n é uma função contínua, num intervalo I. Dizemos que a solução ˆφ : Î Rn é uma continuação (extensão ou prolongamento) de φ se Î I e ˆφ I = φ.
16 12 Propriedades gerais De maneira natural, baseando-se na definição acima define-se continuação à direita (à esquerda). Lema Seja f : D R n uma função contínua. Suponhamos que φ : (a, b) R n é solução de ẋ = f(t, x) (a) Se f for limitada em D, então existe φ(b ) (resp. φ(a + )) (b) Se existir φ(b )(resp. φ(a + )) e (b, φ(b )) D (resp. (a, φ(a + )) D) então φ pode ser prolongada a (a, b] (resp. [a, b)). Demonstração. (a) Seja t (a, b). Para todo t (a, b) temos Se M sup f(t, x), temos que (t,x) D φ(t) = φ(t ) + t f(s, φ(s))ds. φ(t) φ(s) M t s para t, s (a, b). Do critério de Cauchy segue que existe φ(b ) (resp. φ(a + )). (b) Como existe φ(b ), podemos definir ˆφ : (a, b) R n por ˆφ(t) = Como φ(t) = φ(t ) + f(s, φ(s))ds para todo t (a, b) temos que t ˆφ(t) = ˆφ(t ) + t f(s, ˆφ(s))ds, t (a, b] { φ(t), t (a, b) φ(b ), t = b. e daí ˆφ(t) é solução em (a, b]. Teorema (Teorema da continuação de solução). Seja f : D R n uma função contínua e x(t) uma solução de ẋ = f(t, x). Se x(t) é continuável então x(t) admite um prolongamento não continuável. Além disso se x(t) é solução em [a, ω) e for não continuável à direita então x(t) tende à fronteira de D quando t ω, ou mais precisamente, dado um compacto U D existe t U [a, ω) tal que (t, x(t)) / U se t (t U, ω). Idem à esquerda. Demonstração. Analisaremos somente a continuação à direita. Se x(t) é continuável podemos supor que x(t) está definida num intervalo fechado [a, b]. Se x(t) tiver uma extensão a [a, ) nada mais há para provar. Supomos então que x(t) não tem nenhum prolongamento a [a, ).
17 1.5 Prolongamento de soluções 13 Figura 1.9: Subconjunto V. Seja U um compacto. Sem perda de generalidade podemos supor que (t, x(t)) U t [a, b], pois poderíamos redefinir U juntando o conjunto {(t, x(t)) : t [a, b]} que é compacto. Seja V aberto com V compacto tal que U V V D e M sup f(t, x). (t,x) V Do Corolário segue que existe α = α(u, M) >, tal que existe uma solução x(t) definida em [a, b + α], que é prolongamento de x. Se (b + α, x(b + α)) U podemos repetir o processo e encontrar uma continuação a [a, b + 2α]. Assim sendo, como U é compacto, existe um inteiro m e extensão x : [a, b + mα] R n tal que (b + mα, x(b + mα)) / U. Consideremos agora uma sequência V n, com V n compacto, U V n, V n V n+1 D, V n aberto, n = 1, 2, e tal que V n = D. Supomos também que (b, x(b)) V 1. n=1 Para cada n existe b n e extensão de x(t) a [a, b n ] de modo que (b n, x(b n )) / V n. Podemos supor ainda que (b n ) é crescente. Se (b n ) fosse não limitada, existiria uma extensão a [a, ) contrariando a hipótese. def Logo (b n ) é limitada e daí existe lim b n = ω R. n Assim x(t) admite uma extensão a [a, ω). Afirmação. x(t) não pode ser estendida a [a, ω]. Suponhamos que sim. Então (ω, x(ω)) D e lim x(t) = x(ω). Como V n = D, existe n tal que (ω, x(ω)) V n. De acordo com t ω n=1 a construção feita anteriormente, n > n (b n, x(b n )) / V n V n V n V n. Assim (b n, x(b n )) Vn C, que é fechado. Como (b n, x(b n )) (ω, x(ω)) temos que (ω, x(ω)) Vn C o que é uma contradição. Logo x(t) não tem prolongamento à [a, ω] e fica assim provada a primeira parte do teorema. Passemos então a segunda parte. O caso ω = é trivial. Suponhamos que ω <. Seja U D compacto e A = {t [a, ω) : (t, x(t)) U}. Se A for vazio não há o que provar. Afirmação. sup A < ω. Suponhamos que não. Então existe t n w tal que (t n, x(t n )) U. Como U é compacto, podemos supor que (t n, x(t n )) (ω, y) U. Como f é limitada em uma vizinhança de (ω, y), do Lema 1.5.1(b) segue que x(t) pode ser prolongada a [a, ω + α] o que é uma contradição. Logo t U := sup A < ω e (t, x(t)) / U para t [t U, ω). Os seguintes corolários são consequências do Teorema
18 14 Propriedades gerais Corolário Sejam Ω R n aberto e f : [a, ) Ω R n uma função contínua. Se x(t) é solução de ẋ = f(t, x), x(t) K Ω (K compacto), t [a, ω) e x(t) é não continuável à direita então ω = +. Demonstração. Se ω < então consideramos U = [a, ω] K. Do Teorema segue que existe t U [a, ω) tal que (t, x(t)) / U para t [t U, ω) o que é contradição pois (t, x(t)) [a, ω) K, t [a, ω). Logo ω = +. Corolário Seja f : [a, ) R n R n contínua. (a) Se φ : [a, ) R + é uma função contínua, x(t) é solução não continuável de ẋ = f(t, x) definida em [a, ω) e x(t) φ(t), t [a, w) então ω = +. (b) Se x(t) é solução não continuável de ẋ = f(t, x) definida em [a, ω) então ou ω = + ou ω < + e neste último caso x(t) + quando t ω. Demonstração. (a) Se ω < + tomamos H max t [a,ω] φ(t), K = {x Rn : x H}. Temos então que x(t) K, t [a, w). Do Corolário segue que ω = + o que é uma contradição. (b) Suponhamos que ω < +. Dado H > tomamos o compacto U = [a, ω] K. Do Teorema 1.5.2, existe t H [a, ω) tal que (t, x(t)) U para t (t H, ω), isto é, x(t) > H para t (t H, ω). Isso implica que x(t) + quando t w. Lema (Desigualdade de Gronwall). Se α R, β(t) e φ(t) são funções reais contínuas que satisfazem φ(t) α + β(s)φ(s)ds, para a t b então a φ(t) αe a β(s)ds, a t b. Demonstração. Seja V (τ) def = τ a β(s)φ(s)ds. Então V (τ) = β(τ)φ(τ) β(τ)[α + τ β(s)φ(s)ds] β(τ)α + β(τ)v (τ) V (τ) β(τ)v (τ) αβ(τ). a Multiplicando ambos membros por e τ e a β(s)ds V (τ) β(τ)e d dτ [e τ β(s)ds a temos: τ τ β(s)ds β(s)ds a V (τ) αβ(τ) e a τ a β(s)ds V (τ)] αβ(τ) e τ β(s)ds a.
19 1.5 Prolongamento de soluções 15 Integrando de a até t, e lembrando que V (a) =, temos e a t β(s)ds V (t) α φ(t) α αe a τ e β(s)ds a β(τ) α[1 e a }{{} dτ = α β(τ)dτ a ] β(τ)dτ α. a d dτ ( e τ β(s)ds a )dτ Logo φ(t) α e β(s)ds a. Lema (Desigualdade de Gronwall Generalizada). Se φ, α : [a, b] R são funções contínuas, β(t) é Lebesgue integrável em [a, b] e φ(t) α(t) + β(s)φ(s)ds, para a t b então φ(t) α(t) + a β(s) α(s)e s β(u)du ds, para a t b. Demonstração. Seja V (t) def = a a β(s)φ(s)ds. Então V (t) = β(t)φ(t) β(t)α(t) + β(t)v (t) V (t) β(t)v (t) β(t)α(t). Multiplicando esta última desigualdade por e d dt (e Integrando de a até t, temos: e a a β(s)ds a temos β(s)ds V (t)) β(t)α(t) e t β(s)ds V (t) φ(t) α(t) V (t) a φ(t) α(t) + β(s)α(s)e a a β(s)ds a. s β(u)du a ds β(s)α(s)e β(s)α(s)e β(u)du s ds β(u)du s ds
20 16 Propriedades gerais Observação: Se α(t) é crescente e contínua (logo existe α(t) para quase todo t) então β(s)α(s) e s β(u)du ds = t α(s) d t ds (e β(u)du s )ds a a Int.P/partes = [α(t) α(a)e t β(u)du a e s β(u)du α(s)ds]. Logo a φ(t) α(a)e a t β(u)du + e a β(u)du α(s)ds Logo α(a) e a t β(u)du + e φ(t) α(t)e a a β(u)du [α(t) α(a)]. β(u)du s. Concluímos que se α(t) é crescente e φ(t) α(t) + φ(t) α(t)e a β(u)du s. β(s)φ(s)ds então t β(u)du β(u)du Observe que para g(s) = es temos ġ(s) = β(u)e s. Isto é, g é decrescente, g(s) g(a), s [a, t] então e s t β(u)du e β(u)du a. Exercício Seja f : [, ) R n R n contínua satisfazendo f(t, x) h(t) x +b(t) onde h, b : [, ) R + são contínuas. Mostre que toda solução não continuável de { ẋ = f(t, x) x() = x (1.3) está definida em [, ) Solução. Seja φ : [, τ) R n a solução não continuável de (1.3), isto é φ(t) = x + f(s, φ(s))ds.
21 1.6 Existência e unicidade de soluções 17 Estimando esta solução temos φ(t) x + f(s, φ(s)) ds x + (h(s) φ(s) + b(s))ds x + b(s)ds + h(s) φ(s) ds. A função α(t) = x + b(s)ds é crescente, pois se < t 1 < t 2, então α(t 1 ) = x + 1 b(s)ds x + Logo α(t) = b(t). Pelo Lema de Gronwall temos que φ(t) α(t) e 2 h(s)ds. b(s) = α(t 2 ). Fazendo ψ(t) = α(t)e τ = +. h(s)ds temos φ(t) ψ(t), t [, τ). Do Corolário 1.5.4, 1.6 Existência e unicidade de soluções Sejam (M, d) um espaço métrico e Λ um conjunto não-vazio. Definição Dizemos que T : M Λ M dada por T (x, y) é uma contração uniforme relativamente a y Λ se existir ρ [, 1) tal que d(t (x 1, y), T (x 2, y)) ρd(x 1, x 2 ), x 1, x 2 M, y Λ. Teorema (Teorema de Banach-Cacciopoli). Sejam M um espaço métrico completo, Λ um espaço métrico e T : M Λ M uma contração uniforme relativamente a y Λ. Então para cada y Λ existe um único ponto fixo em M, x = x(y) def = g(y). Se para cada x fixado em M a aplicação y Λ T (x, y) M for contínua então g(y) é contínua em Λ. Definição Seja D R n+1 um subconjunto aberto e f : D R n uma função. Dizemos que f é localmente Lipschitziana com relação à segunda variável se para cada compacto U D existir constante real k = k(u) tal que f(t, x) f(t, y) k x y, (t, x), (t, y) U.
22 18 Propriedades gerais Exercício Sejam D R n+1 subconjunto aberto e convexo, f : D R n e f x : D R n forem contínuas então f é localmente Lipschitziana com relação à segunda variável. Se f for contínua em D então o Teorema de Peano garante que por cada ponto (t, x ) D existe pelo menos uma solução de ẋ = f(t, x) definida em um intervalo I α = [t α, t + α] onde α = α(t, x ). Suponhamos que f seja tal que exista uma única solução definida em I α, para cada (t, x ) fixado em D. Então o PVI { ẋ = f(t, x), x(t ) = x (1.4) tem uma única solução não continuável definida num intervalo (w (t, x ), w + (t, x )). O conjunto E = {(t, t, x ) : w (t, x ) < t < w + (t, x ), (t, x ) D} R n+2 é chamado domínio de definição da aplicação solução x(t, t, x ). O conjunto γ(x) = {(t, x(t, t, x )) D : t (w (t, x ), w + (t, x ))} é chamada trajetória da solução do PVI (1.4) que passa por (t, x ). Figura 1.1: Conjunto E Teorema (Teorema da existência, unicidade, continuidade com relação às condições iniciais). Se D R n+1 é aberto e f : D R n contínua e localmente Lipschitziana relativamente a x. Então para cada (t, x ) D existe uma única solução não continuável x(t, t, x ) do PVI (1.4). Além disso E é aberto e x(t, t, x ) é contínua em E. Demonstração. Seja U um compacto de D, V aberto, V compacto tal que U V V D. Seja M max f(t, x) e seja k a constante de Lipschitz relativamente a V. (t,x) V Escolhemos α, β suficientemente pequenos de modo que Mα < β, kα < 1 e tal que R = {(t, x) R n+1 : t t α, x x β} V para todo (t, x ) U. Figura 1.11: R V V D Consideremos agora a transformação x(t + t ) def = φ(t) + x. Assim, resolver o PVI (1.4) é equivalente a resolver o PVI { φ = f(t + t, φ(t) + x ), φ() = (1.5)
23 1.6 Existência e unicidade de soluções 19 que é ainda equivalente a achar soluções contínuas da equação integral φ(t) = f(s + t, φ(s) + x )ds, ou ainda fazendo τ = s + t temos φ(t) = t +t f(τ, φ(τ t ) + x )dτ. t Observamos que a solução do PVI original será recuperada através da tranformação x(t) = φ(t t ) + x. Vamos procurar φ no conjunto F = {φ C([ α, α], R n ) : φ() =, φ(t) β} com a norma do supremo. Figura 1.12: Conjunto F C([ α, α], R n ) Observamos que a transformação acima foi feita de modo a evitar que o espaço onde será procurada a solução dependa de (t, x ). Definimos assim o operador T : F R F (φ, (t, x )) (T (t,x )φ)(t) = t +t f(τ, φ(τ t ) + x )dτ, o qual o denotaremos simplesmente por (T (t,x )φ)(t) = (T φ)(t). É fácil ver que T está bem definido em F. T deixa F invariante. De fato, seja φ F. Então t (T φ)(t) é contínua em [ α, α], (T φ)() =, (T φ)(t) Mα β, t [ α, α]. Logo T F F. T é uma contração uniforme relativamente a (t, x ) U. De fato, se φ, ψ F então (T φ)(t) (T ψ)(t) αk sup α s α t φ(s) ψ(s), t [ α, α]. Logo existe um único ponto fixo de T, φ(t, (t, x )) em F, isto é T φ(t, (t, x )) = (T (t,x )φ)(t) = φ(t, (t, x )). Como a aplicação (t, x ) T (t,x )φ F é contínua, temos do Teorema (Banach-Cacciopoli) que a aplicação (t, x ) U φ(, (t, x )) F é contínua. Como φ é uma função contínua de t, temos que (t, t, x ) [ α, α] U φ(t, (t, x )) é contínua, pois φ(t + h, (t + τ, x + ξ)) φ(t, (t, x )) = φ(t + h, (t + τ, x + ξ)) φ(t + h, (t, x )) + φ(t + h, (t, x )) φ(t, (t, x )).
24 2 Propriedades gerais Voltando à equação original, os resultados acima dizem que existe α > tal que o PVI (1.4) tem uma única solução definida em [t α, t + α]. Mostremos que isso implica unicidade não local, ou mais precisamente que o PVI (1.4) tem uma única solução não continuável. De fato, suponhamos que existam duas soluções x(t), y(t) do PVI (1.4), definidas em [t, β) de modo que x(t) = y(t), para t [t, t + α] e que exista t 1 > t + α tal que x(t 1 ) y(t 1 ), t 1 < β. Seja s = sup{τ : x(t) = y(t), t [t, τ]}. Claramente s < t 1. Aplicando o que á foi provado acima temos que existe α > tal que o PVI { ż = f(t, z), (1.6) z(s) = x(s) tem uma única solução definida em [s, s+α], o que é uma contradição, pois arbitrariamente próximo de s (à direita) existem pontos em que x e y diferem. Nosso próximo objetivo é mostrar que E é aberto e que x(t, t, x ) é contínua nas três variáveis. Entretanto, mostraremos primeiro um resultado. Se x(t, t, x ) tem intervalo maximal (w, w + ) e [a, b] (w, w + ) então existe δ > tal que (t 1, x 1 ): d((t 1, x 1 ), (t, x )) < δ então x(t, t 1, x 1 ) está definida para todo t [a, b] e dado ɛ >, δ > tal que d((t 1, x 1 ), (t, x )) < δ então x(t, t, x ) x(t, t 1, x 1 ) < ɛ, De fato, seja γ >, suficientemente pequeno, de modo que U := {(t, x) R n+1 : t [a, b], x x(t, t, x ) γ} D. t [a, b]. Figura 1.13: [a, b] (w, w + ) Como a aplicação (t, x ) φ(, (t, x )) é contínua (na verdade uniformente) em [ α, α], onde α = α(u) >. Isso implica que dado ɛ >, δ > tal que se d((t 1, x 1 ), (t, x )) < δ então φ(t, (t, x )) φ(t, (t 1, x 1 )) < ɛ, t [ α, α] e daí x(t, t, x ) x(t, t 1, x 1 ) = φ(t t, (t, x )) φ(t t 1, (t 1, x 1 )) + x x 1 < ɛ, desde que t t α e t t 1 α. Tomando δ < α 2 temos t 1 t < α 2 := β. Assim, se t [t β, t + β] temos t t 1 = t t + t t 1 α e daí x(t, t, x ) x(t, t 1, x 1 ) < ɛ. Concluímos que dado ɛ >, δ > tal que se d ((t 1, x 1 ), (t, x )) < δ então x(t, t, x ) x(t, t 1, x 1 ) < ɛ, t [t β, t + β] onde β = β(u) >. Consideraremos agora t (t + β, t + 2β). Como foi feito anteriormente, existe δ 1 >, δ 1 < ɛ, tal que se d((t 1, x 1 ), (t + β, x(t + β, t, x ))) < δ 1 então x(t, t, x )
25 1.6 Existência e unicidade de soluções 21 x(t, t 1, x 1 ) < ɛ, t [t + β β, t + 2β] = [t, t + 2β]. Concluímos assim que se d((t 1, x 1 ), (t, x )) < δ então x(t, t, x ) x(t, t 1, x 1 ) < ɛ, t [t β, t + 2β]. Por um processo recursivo utilizando passos de tamanho β podemos cobrir o intervalo [a, b]. Concluímos então que dado ɛ > δ > tal que d((t 1, x 1 ), (t, x )) < δ então x(t, t, x ) x(t, t 1, x 1 ) < ɛ, t [a, b]. Figura 1.14: [t β, t + 2β] [a, b] E é aberto. De fato, sejam (s, t, x ) E e [a, b] (ω, ω + ) tal que s (a, b). Como foi feito anteriormente, dado ɛ >, δ >, tal que (s δ, s + δ) (a, b) e então d((t 1, x 1 ), (t, x )) < δ (1.7) x(t, (t, x )) x(t, (t 1, x 1 )) < ɛ, t [a, b]. (1.8) Assim temos que se τ (s δ, s + δ) e (t 1, x 1 ) satisfaz (1.7) temos que τ (w (t 1, x 1 ), w + (t 1, x 1 )). Logo, para τ (s δ, s + δ), (τ, t 1, x 1 ) E e vale (1.8) o que implica que E é aberto. Figura 1.15: Continuidade de x com relação a t, t, x Da continuidade de x(, t, x ) segue que dado ɛ >, δ > tal que vale (1.8) acima e x(τ, t 1, x 1 ) x(s, t, x ) x(τ, t 1, x 1 ) x(τ, t, x ) + x(τ, t, x ) x(s, t, x ) < ɛ. Teorema Se além das condições do Teorema a função f depende também de um parâmetro λ, isto é, f(t, x, λ) para λ variando em um conjunto fechado G R k, é contínua em D G e localmente Lipschitziana com a constante k independente de λ, então para cada (t, x ) D e λ G, existe uma única solução não continuável do { ẋ = f(t, x, λ) (PVI λ ) x(t ) = x. Além disso x(t, t, x, λ) é contínua nas quatro variáveis. Demonstração. Segue a linha do Teorema 1.6.2, tomando M := sup{ f(t, x, λ) : (t, x, λ) V G} e observando que o ponto fixo φ(, (t, x, λ)) depende continuamente de λ. Podemos supor, sem perda de generalidade, que G é limitado. Lema Seja (f n ) n N C(D, R m ) com D R m+1 aberto, tal que f n f, quando n, uniformemente em subconjuntos compactos de D.
26 22 Propriedades gerais Seja (t n, x n ) D, n, tal que (t n, x n ) (t, x ) D, quando n. Para n, consideremos o PVI { ẋ = f n (t, x) (PVI n ) x(t n ) = x n. Se φ : (w, w + ) R m a única solução não continuável de (PVI ) e t [a, b] (w, w + ), então existe n suficientemente grande tal que para todo n n o (PVI n ) tem solução φ n definida em [a, b] e φ n (t) φ (t), uniformemente em [a, b]. Demonstração. Para facilitar vamos supor que t (a, b). Sejam < µ 1 < µ 2 suficientemente pequenos de modo que, se U e V são vizinhanças abertas de raio µ 1 e µ 2, respectivamente, de {(t, φ (t)) : a t b} tal que U V V D. Seja M > max f (t, x). Então existe n tal que se n n então max f n (t, x) M. (t,x) V (t,x) V Figura 1.16: (t n, x n ) (t, x ), n Relembrando o Corolário (do Teorema de Peano), vemos que podemos tomar α, β >, com Mα < β de modo que o (PVI n ), n n tem solução φ n definida em [t n α, t n + α] e (t n, x n ) U. Como t n t, temos que, para n suficientemente grande, todas as soluções estarão definidas em [t α 2, t + α 2 ]. Mostremos que φ n (t) converge para φ (t) uniformemente em [t α, t 2 + α ], quando 2 n. Aqui precisaremos do seguinte resultado de Topologia: Seja M um espaço métrico e (p n ) uma sequência de elementos de M. Então p n p se e somente se toda subsequência de (p n ) tem subsequência convergente e toda subsequência convergente de (p n ) converge para p. Seja (ψ n ) uma subsequência de (φ n ). Como ψ n = f n (t, ψ n (t)) M temos que o conjunto {ψ n : n N} é equicontínuo, onde ψ n : [t α 2, t + α 2 ] Rm, pois ψ n (t) ψ n (s) ψ n (θ) t s M t s, θ (t, s). Como (ψ n ) é uniformemente limitada, segue do Teorema de Áscoli, que (ψ n) tem uma subsequência uniformemente convergente. Figura 1.17: U V V D Seja (ψ nk ) uma subsequência convergente de (ψ n ), convergindo para ψ (t). Como ψ nk (t) = x nk + f nk (s, ψ nk (s))ds. t nk
27 1.6 Existência e unicidade de soluções 23 Fazendo k temos que ψ (t) = x + f (s, ψ (s))ds, t [t α t 2, t + α ]. Como o 2 (PVI ) tem uma única solução não continuável temos que φ (t) = ψ (t), t [t α 2, t + α 2 ]. Utilizando-se um processo recursivo pode-se recobrir o intervalo [a, b] com intervalos de comprimento α e obter-se a informação para [a, b]. Corolário Seja f : (t, x, λ) D G R n+1 R k R n contínua e localmente Lipschitziana em relação a x, G fechado, com a constante de Lipschitz independente de λ G. Seja [a, w + ) o intervalo maximal à direita da solução do { ẋ = f(t, x, λ ) (PVI λ ) x(a) = x, e b tal que [a, b] [a, w + ). Então para (x, λ) suficientemente próximo de ( x, λ ) a solução maximal do { ẋ = f(t, x, λ) (PVI λ ) x(a) = x, x(t, a, x, λ) está definida em [a, b] e a aplicação (x, λ) x(, a, x, λ) C([a, b], R n ) é contínua em ( x, λ ), onde em C([a, b], R n ) consideramos a norma do supremo. Teorema Suponhamos que f(t, x, λ) é contínua para (t, x) D e λ V onde V é uma vizinhança de λ em R k. Se o PVI { ẋ = f(t, x, λ ) (PVI λ ) x(t ) = x, tem uma única solução continuável x(t, t, x, λ) definida em (w, w + ) (intervalo maximal de existência) e t [a, b] (w, w + ) então para todo (s, η, λ) suficientemente próximo de (t, x, λ ) o PVI { ẋ = f(t, x, λ) (PVI λ,s,η ) x(s) = η, tem uma solução x(t, s, η, λ) definida em [a, b] que é contínua em (t, t, x, λ ). Demonstração. Obtém-se a solução x(t, s, η, λ) do (PVI λ,s,η ) definida em [a, b] seguindo a mesma idéia do Lema A continuidade de x(t, s, η, λ) em (t, x, λ ) uniformemente em t [a, b] segue do Lema Assim dado ɛ > δ 1 > tal que x(t, s, η, λ) x(t, t, x, λ ) < ɛ 2 (t, x, λ ) < δ 1, t [a, b]. se (s, η, λ) Como t x(t, t, x, λ ) é contínua existe δ 2 > tal que se t τ < δ 2 então x(t, s, η, λ) x(τ, t, x, λ ) < ɛ 2.
28 24 Propriedades gerais Se δ = min{δ 1, δ 2 } então para (t, s, η, λ) satisfazendo (t, s, η, λ) (τ, t, x, λ ) < δ tem-se x(τ, t, x, λ ) x(t, s, η, λ) x(τ, t, x, λ ) x(t, t, x, λ ) + x(t, t, x, λ ) x(t, s, η, λ) ɛ 2 + ɛ 2 = ɛ. Observação: Se f : R n+1 R n é contínua, localmente Lipschitziana e se para todo x R n a solução do PVI { ẋ = f(t, x) (1.9) x(a) = x, está definida em [a, b], então a aplicação x R n x(b, a, x ) R n é um homeomorfismo. Basta observar que sua inversa y R n x(a, b, y ) R n também é contínua. Exercício Seja f : [a, b] R n R n contínua e Lipschitziana. Mostre que o PVI ẋ = f(t, x), x(t ) = x, (t, x ) [a, b] R n tem uma única solução definida em [a, b], usando o método das aproximações sucessivas. 1.7 Diferenciabilidade de ponto fixo com relação a parâmetros Sejam X, Y espaços de Banach e Ω X um conjunto aberto. Definição (Derivada de Frechet). Seja f : Ω X Y uma função e x Ω. Dizemos que f é Frechet diferenciável em x se existe L L(X, Y ) tal que Notação: L = f (x ) = Df(x ). f(x + h) f(x ) L(h) lim h h =, h X. Definição Se f : Ω X Y é diferenciável em todo x Ω, a aplicação Df : Ω L(X, Y ) x Df(x) é chamada a derivada de Frechet de f. Além disso, se Df é uma aplicação contínua (L(X, Y ) tem a topologia da norma), dizemos que f é de classe C 1 (ou continuamente diferenciável). Procedendo indutivamente definimos D r f := D(D r 1 f) : Ω L r (X, Y ) se esta existe, onde temos identificado L(X, L r 1 (X, Y )) com L r (X, Y ). Se D r f existe e é conínua, dizemos que f é de classe C r.
29 1.7 Diferenciabilidade de ponto fixo com relação a parâmetros 25 Exemplo Seja GL(X, Y ) = {T L(X, Y ) : T 1 existe} o grupo das transformações lineares inversíveis. Então a aplicação f : GL(X, Y ) GL(X, Y ) definida por f(t ) = T 1 é diferenciável e f (T )H = T 1 HT 1 para toda H L(X, Y ). Solução. Observe que Como temos que f(t + H) f(t ) = (T + H) 1 T 1 = (T (I + T 1 H)) 1 T 1 = (I + T 1 H) 1 T 1 T 1 = ( T 1 H) n T 1 T 1 = T 1 HT 1 + ( T 1 H) n n=2 n= ( T 1 H) n T 1. n=2 T 1 H n T 1 2 H 2 1 T 1 H, n=2 f(t + H) f(t ) ( T 1 HT 1 ) lim H H Definição (Derivada de Gâteaux). Seja f : Ω X Y uma função, x Ω e v X. Dizemos que f é Gâteux diferenciável em x na direção de v se existe o limite f(x + tv) f(x ) lim t t := f v (x ). f v (x ) também é chamada de derivada direcional ou parcial de f em x na direção de v. Exercício Sejam X,Y espaços de Banach, A X aberto e f : A Y. Supomos que para cada x em A exista a derivada de Gâteaux: f(x + th) f(x ) lim t t =. := w(x )h, x A, h X e que para cada x A, w(x ) seja linear e limitada de X em Y e que a aplicação w : A L(X, Y ) é contínua. Prove que f é Frechet diferenciável com derivada w(x ). Exercício Em um espaço de Hilbert H, consideremos a função x x. Mostre que essa função é Frechet diferenciável e calcule sua derivada. Exemplo Sejam Ω R n um conjunto Lebesgue mensurável e X = L 2 (Ω) = {ϕ : Ω R : ϕ é Lebesgue mensurável e ϕ 2 (x)dx < }. A aplicação E : X R Ω definida por E(ϕ) = F (ϕ(x)) dx onde F : R R com F = f tem derivada de Gâteaux Ω E ψ (ϕ) = f(ϕ), ψ, onde, é o produto interno em L2 (Ω).
30 26 Propriedades gerais Solução. De fato, E(ϕ + tψ) E(ϕ) t = 1 t = 1 t = Ω 1 Ω F (ϕ + tψ)dx 1 Ω F (ϕ)dx d F (ϕ + stψ) ds dx ds f(ϕ + stψ)ψ ds dx. Ω Fazendo t temos a derivada de Gâteaux de E, E ψ (ϕ) = Ω f(ϕ(x))ψ(x) dx = f(ϕ), ψ.
31 1.7 Diferenciabilidade de ponto fixo com relação a parâmetros 27 Observação: Se f (x ) L(X, Y ) existe então para cada h X temos que f h (x ) = f (x )h. Exercício Se A L(X), X espaço de Banach e A < 1, então I A é um operador inversível e (I A) A e (I A) 1 = n= An. Teorema Sejam F A X, Λ Y, F fechado, A e Λ abertos. Supomos que T : A Y X, (x, y) T (x, y) é uma contração uniforme com constante ρ [, 1), relativamente a y Λ, que para cada x F a aplicação y Λ T (x, y) é contínua, que T (F Λ) F e que a aplicação (x, y) A Λ T x (x, y) exista e seja contínua. Essas hipóteses implicam que para cada y Λ, existe um único ponto fixo g(y) de T (, y), com g contínua. Se para cada y Λ a aplicação y Λ T (g(y ), y) é diferenciável e sua derivada é contínua em y então g C 1 em Λ e g (y) = (I T x (g(y), y)) 1 T y (g(y), y). Demonstração. Afirmamos que T x (x, y) ρ, (x, y) F Λ. De fato, como T (x + th, y) T (x, y) T x (x, y)h = lim. Vamos estimar T (x + th, y) T (x, y). Observe t t que T (x + th, y) T (x, y) ρ t h. Desta última desigualdade segue que T x (x, y)h ρ h. Logo, T x (x, y) ρ. Vamos agora encontrar um candidato à derivada de g. Suponhamos por um momento que g seja C 1. Então como T (g(y), y) = g(y), temos: T x (g(y), y) g (y) + T y (g(y), y) = g (y). Como T x (g(y), y) ρ < 1 temos que existe (I T x (g(y), y)) 1 (série de Neumann) e daí, g (y) = [I T x (g(y), y)] 1 T y (g(y), y). Temos assim o candidato a derivada. Seja R(h) def = g(y + h) g(y) vh, onde v = [I T x (g(y), y)] 1 T y (g(y), y). Assim, v = T x (g(y), y)v+t y (g(y), y). Temos que mostrar que R(h) = o( h ), isto é, que R(h) h
32 28 Propriedades gerais quando h. R(h) = T (g(y + h), y + h) T (g(y), y) T x (g(y), y)vh T y (g(y), y)h = T (g(y + h), y + h) T (g(y), y + h) T x (g(y), y)vh + T (g(y), y + h) T (g(y), y) T y (g(y), y)h = o( h ) + = o( h ) + = o( h ) + 1 = o( h ) = o( h ) d dθ T (θg(y + h) + (1 θ)g(y), y + h)dθ T x(g(y), y)vh T x (θg(y + h) + (1 θ)g(y), y + h) [g(y + h) g(y)]dθ T x (g(y), y)vh T x (θg(y + h) + (1 θ)g(y), y + h) [g(y + h) g(y) vh]dθ T x (g(y), y)vhdθ 1 T x (θg(y + h) + (1 θ)g(y), y + h) R(h) dθ [T x (θg(y + h) + (1 θ)g(y), y + h) T x (g(y), y)] vh 1 Daí decorre que, R(h) o( h ) + T x (θg(y + h) + (1 θ)g(y), y + h) R(h) dθ. 1 o( h ) + ρ R(h). Concluímos assim que R(h) = o( h ) quando h. T x (θg(y + h) + (1 θ)g(y), y + h) dθ R(h) Teorema Se f(t, x, λ) tem derivadas contínuas até ordem 1 em x, para (t, x) D R n+1 e λ G R n, G aberto, então a solução de (PVI λ ) é continuamente diferenciável com relação a (t, t, x, λ) no seu domínio. A matriz x(t, t λ, x, λ) satisfaz { ẏ = f(t, x(t, t x, x, λ), λ)y + f(t, x(t, t λ, x, λ), λ) y(t ) =.
33 1.7 Diferenciabilidade de ponto fixo com relação a parâmetros 29 A matriz x x(t, t, x, λ) satisfaz a equação variacional ẏ = x f(t, x(t, t, x, λ), λ)y. Além disso, x(t, t, x, λ) = x(t, t, x, λ)f(t, x, λ). t x Demonstração. Vamos aplicar o Teorema de diferenciabilidade do ponto fixo com relação a parâmetros para φ(t) = (T φ)(t) = T (φ, (t, x, λ))(t) := t +t f(s, φ(s t ) + x, λ)ds. t Como já foi visto anteriormente T é uma contração uniforme. Agora ( T x ) = ( T λ ) = ( T φ ψ) = t +( ) t t +( ) t t +( ) t ( T t ) = f x (s, φ(s t ) + x, λ)ds f λ (s, φ(s t ) + x, λ)ds f x (s, ψ(s t ) + x, λ) φ(s)ds t +( ) t f x (s, φ(s t ) + x, λ) φ(s t )ds + f(t + ( ), φ( ) + x, λ) f(t, φ() + x, λ) Observamos que na última derivada aparece o termo φ(s t ), que faz sentido, pois φ é de classe C 1, pois é ponto fixo do operador acima. Seja (t, x, λ ) fixado e φ = φ (t,x,λ ) o ponto fixo. Para verificar as condições do Teorema 1.7.3, basta observar que as aplicações abaixo são contínuas no ponto (t, x, λ ).
34 3 Propriedades gerais (t 1, x 1, λ 1 ) (t 1, x 1, λ 1 ) (t 1, x 1, λ 1 ) (t 1, x 1, λ 1 ) t 1 +( ) t 1 f x (s, φ(s t 1 ) + x 1, λ 1 )dτ L(R n, C([ α, α], R n )) t 1 +( ) t 1 f λ (s, φ(s t 1 ) + x 1, λ 1 )dτ L(R k, C([ α, α], R n )) t 1 +( ) t 1 f x (s, φ(s t 1 ) + x 1, λ 1 ) ( )dτ L(C([ α, α], R n ), C([ α, α], R n )) t 1 +( ) t 1 f x (s, φ(s t 1 ) + x 1, λ 1 ) φ(s t 1 )ds + f(t 1 + ( ), φ( ) + x 1, λ) f(t 1, φ() + x 1, λ) C([ α, α], R n )). Podemos utilizar o Teorema da diferenciabilidade do ponto fixo com relação a parâmetros e concluir a diferenciabilidade de (t, x, λ) φ (t,x,λ) C([ α, α], R n ). Como φ é ponto fixo do operador acima, concluímos que (t, t, x, λ) φ (t,x,λ)(t) é diferenciável. Concluímos assim que x(t, t, x, λ) = φ(t t, t, x, λ) + x é diferenciável. Como x(t, t, x, λ) = x(t, t + α, x(t + α, t, x, λ), λ) podemos, por um argumento recursivo, concluir a diferenciabilidade para todo t em que x(t, t, x, λ) esteja definida. As outras fórmulas seguem por simples derivação. Por exemplo x x (t, t, x, λ) segue derivando x(t, t, x, λ) = x + f(s, x(s, t, x ), λ)ds. t Exercício Na equação de Lorenz, dada por: ẋ = σx + σy ẏ = r + rx xz ż = bz + xy verifique se vale a continuidade com relação as condições iniciais e parâmetros. Observe que o caso σ = 1, r = 28 e b = 8/3 é considerado caótico. 1.8 Dependência contínua e estabilidade Seja f : R n+1 R n um função contínua. Suponhamos que para todo (t, x ) R n+1 o PVI { ẋ = f(t, x), x(t ) = x
35 1.9 Estabilidade no sentido de Liapunov 31 tem uma única solução não continuável. Suponhamos também que f(t, ) =. Deste último fato segue que x(t) é solução da equação. Dados a, b R do Teorema de continuidade com relação as condições iniciais segue que, dado ɛ > existe δ >, δ = δ(ɛ, a, b) tal que se x < δ então x(t, a, x ) está definida em [a, b] e x(t, a, x ) < ɛ, t [a, b]. Figura 1.18: Dependência Contínua Consideremos o seguinte problema de valor inicial { ẋ = x 2 x() = c. (1.1) A solução do PVI (1.1) é dada por x(t,, c) = c 1 ct para t [, 1). c Dado b >, para c suficientemente pequeno x(t,, c) está definida em [a, b]. Além disso dado ɛ >, δ = δ(ɛ, b) > tal que se c < δ então x(t,, c) < ɛ, t [, b]. Mas neste exemplo as soluções que começam perto de zero, não ficam próximo de zero o tempo todo. Figura 1.19: Gráfico de x(t,, c) Assim sendo o Teorema de continuidade com relação às condições inicias só dá informação em intervalos finitos. O proximo conceito é introduzido para podermos falar em continuidade com relação a x em intervalos infinitos. 1.9 Estabilidade no sentido de Liapunov Seja f : [, ) R n R n uma função contínua tal que o seguinte problema de valor inicial tem uma única solução { ẋ = f(t, x), x(t ) = x, para todo (t, x ) [, ) R n. Seja ϕ(t) solução definida para t. Definição Dizemos que ϕ é estável se dados ɛ >, t, existe δ = δ(ɛ, t ) > tal que se x ϕ(t ) < δ então x(t, t, x ) está definida para t t e x(t, t, x ) ϕ(t) < ɛ, t t.
36 32 Propriedades gerais Figura 1.2: Estabilidade de ϕ. Mostraremos a seguir que não haverá perda de generalidade, se estudarmos a estabilidade da solução nula. De fato, se ẋ = f(t, x), fazendo a mudança de variável x = ϕ(t) + z temos f(t, ϕ(t) + z) = ẋ = ϕ + ż = f(t, ϕ(t)) + ż. Logo ż = f(t, ϕ(t) + z) f(t, ϕ(t)) def = F (t, z) com F (t, ) =. Assim a estabilidade da solução ϕ(t) de ẋ = f(t, x) é equivalente à estabilidade da solução nula de ż = F (t, z). Definição x é estável (S) se dados ɛ >, t existir δ = δ(ɛ, t ) > tal que se x < δ então x(t, t, x ) está definida em [t, ) e x(t, t, x ) < ɛ, para todo t t. Definição x é uniformemente estável (US) se for estável com δ = δ(ɛ) (independente de t ). Definição x é assintoticamente estável (AS) se for estável e se dado t existir ρ = ρ(t ) > tal que se x < ρ então x(t, t, x ) quando t. Definição x é uniformemente assintoticamente estável (UAS) se for uniformemente estável e se for assintoticamente estável com ρ independente de t e se para cada η > existir T = T (η) > tal que se x < ρ então x(t, t, x ) < η para todo t t + T. Figura 1.21: x uniforme assintoticamente estável. Definição Dizemos que uma solução é instável se não for estável.
37 1.9 Estabilidade no sentido de Liapunov 33 Exemplo Construído por Vinograd (1957), o sistema: ẋ = é instável em x. x 2 (y x) + y 5 (x 2 + y 2 )(1 + (x 2 + y 2 ) 2 ), ẏ = y 2 (y 2x) (x 2 + y 2 )(1 + (x 2 + y 2 ) 2 ) ; Figura 1.22: Sistema de Vinograd Lema Se f : R R n R n for periódica em t ou independente de t (caso autônomo) então x é S (A.S) se, e somente se, é US (UAS). Demonstração. (S US). Durante esta demonstração, utilizaremos que x(t + w, t + w, x ) = x(t, w, x ). Isto decorre do fato que ambas são soluções do P.V.I. e da unicidade. Suponhamos que f(t + w, x) = f(t, x), (t, x) R n+1, w >. Da estabilidade segue que ɛ >, δ 1 = δ 1 (ɛ) >, δ 1 < ɛ tal que se x < δ 1 então x(t, w, x ) < ɛ, t w. Do Teorema da continuidade com relação as condições iniciais segue que existe δ = δ(δ 1 ) > tal que para x < δ, t [, w] implica que x(t, t, x ) < δ 1, t [, w]. Daí x(t, t, x ) < ɛ, para todo t t. Figura 1.23: t [, ω] Se t > w então existe t [, w) tal que t = t + mw. Observe que t t pode ser escrito da seguinte forma t = s + mw, onde s = t mw. Se t t, isto é, se s + mw t + mw temos que s t. Assim, se x < δ então para t t temos x(t, t, x ) = x(s + mw, t + mw, x ) = x(s, t, x ) < ɛ. Logo temos US. Figura 1.24: AS implica UAS (AS UAS). Provemos inicialmente que na definição de Estabilidade Assintótica é possível encontrar ρ > independente de t. Tomando t =, existe ν > tal que se x < ν x(t,, x ) quando t (1.11) Do Teorema da Continuidade com relação às condições iniciais segue que existe ρ >, ρ < ν, tal que se x < ρ, t [, ω] x(, t, x ) < ν (1.12) e de (1.11), x(t, t, x ) quando t.
38 34 Propriedades gerais Figura 1.25: t = t + mω Tomemos agora t > ω, x < ρ. Então existe inteiro m N tal que t [mw, (m + 1)w] e daí decorre que existe t [, ω], tal que t = t + mω. Dado t t, existe s t tal que t = s + mw. Como x(t, t, x ) = x(s + mw, t + mw, x ) = x(s, t, x ) e x( t, t, x ) = x < ρ então x(t, t, x ), quando t, o que implica que x(t, t, x ), quando t. Conseguimos assim encontrar ρ independente de t. Passemos para a segunda hipótese de UAS. Dividimos em etapas. Afirmação (A) : Existe µ >, µ < ρ, tal que, dados ɛ >, t arbitrários, existe T = T (ɛ) > tal que se x < µ então x(t, t, x ) < ɛ para todo t t + T (ɛ). Entretanto, primeiro provaremos que: (B) tal que x(t,, x ) < ɛ, para todo t T (ɛ). De fato: US implica que existe δ = δ(ɛ) < ɛ tal que: Se x < ρ, dado ɛ > existe T = T (ɛ) 2 x < δ, t x(t, t, x ) < ɛ, t t (1.13) Sabemos que se x < ρ então x(t,, x ), t +. Daí segue que existe T (ɛ, x ) tal que se Em particular de (1.13) temos, x < ρ, t T (ɛ, x ) x(t,, x ) < δ 2 (1.14) x < ρ x(t (ɛ, x ),, x ) < δ 2 x(t,, x ) < ɛ, t T (ɛ, x ) (1.15) Do Teorema da continuidade com relação às condições iniciais segue que para cada x B = B ρ/2 () existe β(x, ɛ) > tal que se x 1 x < β(x, ɛ) x(t (ɛ, x ),, x 1 ) x(t (ɛ, x ),, x ) < δ 2 e daí, x(t (ɛ, x ),, x 1 ) x(t (ɛ, x ),, x 1 ) x(t (ɛ, x ),, x ) + x(t (ɛ, x ),, x ) < δ e então de (1.13) decorre que x(t,, x 1 ) < ɛ, para t T (ɛ, x ). A coleção de abertos {B β(x,ɛ)(x ) : x B} é um recobrimento de B. Logo existe subrecobrimento {B β(xi,ɛ)(x i ) : i = 1,, n}. Seja T (ɛ) = max i=1,,n T (x i, ɛ). Seja x tal que x < ρ/2. Então existe x i tal que x B β(xi,ɛ)(x i ) e daí x(t,, x ) < ɛ, t T (ɛ). Concluímos que x < ρ/2, t T (ɛ) x(t,, x ) < ɛ, (1.16)
39 1.9 Estabilidade no sentido de Liapunov 35 e assim a afirmação (B) está justificada. Como a aplicação (t, x ) [, w] B x(, t, x ) é uniformemente contínua, temos que existe µ >, µ < ρ 2 tal que se t [, ω] e x < µ então x(, t, x ) < ρ/2 e daí x(t, t, x ) < ɛ, t T (ɛ). Concluímos assim que t [, ω], x < µ, t T (ɛ) x(t, t, x ) < ɛ (1.17) Mostraremos a seguir que se t > ω, x < µ, t t + T (ɛ) x(t, t, x ) < ɛ. (1.18) De fato, se t > ω, existe t [, ω] tal que t = t + mω, m N. Observe que t = s + mω, onde s = t mω. Assim se t = s + mω t + T (ɛ) = t + mω + T (ɛ) tem-se que s t + T (ɛ) T (ɛ). Assim se x < µ de (1.17) obtém-se: x(t, t, x ) = x(s + mω, t + mω, x ) = x(s, t, x ) < ɛ para t t + T (ɛ). Concluímos assim que: t, x < µ, t t + T (ɛ) x(t, t, x ) < ɛ (1.19) Daí decorre que a afirmação (A) está satisfeita.
40
41 Capítulo 2 Sistemas autônomos: generalidades 2.1 Preliminares Consideremos o sistema ẋ = f(t, x) (2.1) onde f : D R n+1 R n é uma função contínua. Se x(t) é solução em (a, b), definimos sua trajetória γ(x) como sendo o conjunto γ(x) def = a<t<b {(t, x(t))} = {(t, x(t)) : t (a, b)}. A órbita de uma trajetória é a projeção da trajetória sobre o R n ; isto é, é o conjunto {x(t) : t (a, b)}. O espaço das variáveis dependentes em (2.1) é chamado de espaço de estados ou espaço de fase. O sistema (2.1) é chamado autônomo se f é independente de t, isto é, f(t, x) = f(x). Neste capítulo vamos considerar sistemas autônomos; isto é, sistemas da forma ẋ = f(x), (2.2) onde f : Ω R n R n é uma função contínua e Ω é um conjunto aberto. Afirmação. Se x(t) é solução de (2.2) em (a, b) com x(t ) = x e τ R então x(t τ) é solução de (2.2) em (a + τ, b + τ) com x(t + τ) = x. De fato, seja y(t) = x(t τ). Facilmente vemos que e y(t + τ) = x(t + τ τ) = x. ẏ(t) = ẋ(t τ) = f(x(t τ)) = f(y(t)) Suponhamos agora que por cada ponto p Ω exista uma única solução (não continuável) do PVI { ẋ = f(x) (2.3) x() = p. 37
42 38 Sistemas autônomos: generalidades Denotemos por φ(t, p) esta solução. A função φ está definida em um aberto Σ R n+1 e satisfaz as seguintes propriedades: (1) φ(, p) = p (1) φ(t, p) é contínua em Σ (1) φ(t + τ, p) = φ(t, φ(τ, p)) em Σ. De fato, a propriedade (2) segue da continuidade com relação à condições iniciais e (3) segue da unicidade, pois ambas são soluções que valem φ(τ, p) para t = Se p Ω R n e φ(t, p) está definida em (a, b) (intervalo maximal de existência) então indicaremos a órbita de φ(t, p) por γ(p) = {φ(t, p) : t (a, b)}. Assim φ(t, p) e φ(t τ, p) são parametrizações da mesma órbita. Propriedades: 1. q γ(p) γ(p) = γ(q). De fato, q γ(p) existe τ tal que φ(τ, p) = q então φ(t, q) = φ(t, φ(τ, p)) = φ(t + τ, p) γ(p) = γ(q). 2. γ(p) γ(q) γ(p) = γ(q). De fato, seja r γ(p) γ(q) (1) = γ(p) = γ(r) = γ(q). Definição O ponto p é chamado de ponto crítico ou ponto de equilíbrio de ẋ = f(x) se f(p) =. (x(t) = p é solução de (2.2)). Definição p é chamado ponto regular se f(p). 2.2 Retrato de fase Definição O conjunto Ω, munido da decomposição em órbitas de (2.2) chama-se retrato de fase da equação (2.2). R n é chamado o espaço de fase da equação (2.2). Teorema Se ϕ é solução não continuável de (2.2) então uma das condições a seguir verifica-se: (a) ϕ é 1 1 (b) (a, b) = R e ϕ é constante (c) (a, b) = R e ϕ é periódica (não constante), isto é existe τ > tal que ϕ(t+τ) = ϕ(t), t R (órbita fechada difeomorfa a um círculo) e ϕ(t 1 ) ϕ(t 2 ) se t 1 t 2 < τ.
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CAPÍTULO 1 Espaços Normados Em princípio, os espaços que consideraremos neste texto são espaços de funções. Isso significa que quase todos os nossos exemplos serão espaços vetoriais de dimensão infinita.
184 Instituto de Matemática UFF
184 Instituto de Matemática UFF Capítulo 4 Aplicações diferenciáveis 1 Diferenciabilidade de uma aplicação Definição 1.1. Uma aplicação f : U R n, definida no aberto U R m, é diferenciável no ponto a U
= f(0) D2 f 0 (x, x) + o( x 2 )
6 a aula, 26-04-2007 Formas Quadráticas Suponhamos que 0 é um ponto crítico duma função suave f : U R definida sobre um aberto U R n. O desenvolvimento de Taylor de segunda ordem da função f em 0 permite-nos
Notas de Aula: Análise no R n
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d(t x, Ty) = d(x, y), x, y X.
Capítulo 6 Espaços duais 6.1 Preliminares A análise funcional foi nos seus primórdios o estudo de funcionais. Assim, nos dias de hoje um princípio fundamental da análise funcional é a investigação de espaços
x B A x X B B A τ x B 3 B 1 B 2
1. Definição e exemplos. Bases. Dar uma topologia num conjunto X é especificar quais dos subconjuntos de X são abertos: Definição 1.1. Um espaço topológico é um par (X, τ) em que τ é uma colecção de subconjuntos
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{ 1 se x é racional, 0 se x é irracional. cos(k!πx) = cos(mπ) = ±1. { 1 se x Ak
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de modo que γ (t) 2 = 3e t. Pelo Proposição 6.3, γ é retificável no intervalo [0, T], para cada T > 0 e lim γ (t) 2 dt = 3, )) se t 0 0 se t = 0
Solução dos Exercícios Capítulo 6 Exercício 6.1: Seja γ: [, + [ R 3 definida por γ(t) = (e t cos t, e t sen t, e t ). Mostre que γ é retificável e calcule seu comprimento. Solução: γ é curva de classe
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