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1 Universidade Estadual de Londrina MIRIELE SICOTE DE LIMA GOUVÊA O ARGUMENTO DA INFERÊNCIA DA MELHOR EXPLICAÇÃO: CRÍTICAS E DEFESAS Londrina 2010

2 MIRIELE SICOTE DE LIMA GOUVÊA O ARGUMENTO DA INFERÊNCIA DA MELHOR EXPLICAÇÃO: CRÍTICAS E DEFESAS Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Filosofia da Universidade Estadual de Londrina como requisito parcial para a obtenção do título de Graduação em Filosofia. Orientador: Prof.: Dr. Marcos Rodrigues da Silva. Londrina 2010

3 MIRIELE SICOTE DE LIMA GOUVÊA O ARGUMENTO DA INFERÊNCIA DA MELHOR EXPLICAÇÃO: CRÍTICAS E DEFESAS Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Filosofia da Universidade Estadual de Londrina como requisito parcial para a obtenção do título de Graduação em Filosofia. COMISSÃO EXAMINADORA Prof. Dr. Marcos Rodrigues da Silva Universidade Estadual de Londrina Prof. Dr. Claudiney José de Souza Universidade Estadual de Londrina Prof. Dr. Gelson Liston Universidade Estadual de Londrina Londrina, de de.

4 AGRADECIMENTOS Primeiramente, gostaria de agradecer ao professor Marcos Rodrigues da Silva por seu esforço e dedicação em orientar esta pesquisa. Agradeço também aos professores Gelson Liston e Claudiney José de Souza pelos comentários que foram de fundamental importância na reta final deste trabalho. Por fim, agradeço aos meus pais, João e Marilene, que não mediram esforços, distâncias e paciência para apoiar os meus objetivos. Em especial, expresso minha enorme gratidão e meu carinho ao meu esposo Wellington Luiz por sempre incentivar o meu trabalho e se mostrar disposto a me ajudar nas horas mais penosas.

5 SUMÁRIO Introdução A Inferência da Melhor Explicação A Crítica de van Fraassen à Inferência da Melhor Explicação Os Argumentos de Stathis Psillos contra a Crítica de van Fraassen Conclusão Referências...32

6 GOUVEA, Miriele Sicote de Lima. O Argumento da Inferência da Melhor Explicação: Críticas e Defesas Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Filosofia) Universidade Estadual de Londrina, Londrina, RESUMO Um dos problemas mais tratados no âmbito do debate entre realismo e anti-realismo é o que se refere a aceitação de teorias científicas. Entre os vários argumentos utilizados pelos realistas para justificar essa aceitação está o argumento da inferência da melhor explicação. A partir da análise deste argumento, será apresentada a crítica anti-realista. Para isso, será necessário examinar os trabalhos de autores como Harman, Psillos e van Fraassen. Os pontos mais importantes envolvidos nessa discussão são: i) a condição na qual aceitamos uma teoria científica; ii) o tipo de crença que está envolvido nessa aceitação. Desta forma, o objetivo aqui é o de esclarecer a estrutura do argumento da inferência para a melhor explicação, bem como apresentar as críticas anti-realistas ao argumento. explicação. Palavras-chave: Realismo, Anti-realismo, Inferência da melhor

7 GOUVEA, Miriele Sicote de Lima. O Argumento da Inferência da Melhor Explicação: Críticas e Defesas Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Filosofia) Universidade Estadual de Londrina, Londrina, ABSTRACT One of the problems addressed within the debate between realism and anti-realism is what concerns the acceptance of scientific theories. Among the many arguments used by realists to justify this acceptance is the argument from inference to the best explanation. From the analysis of this argument will be presented with the critical anti-realist. This will need to examine the works of authors such as Harman, Psillos and van Fraassen. The most important points involved in this discussion are: i) the condition in which we accept a scientific theory, ii) the type of belief which is involved in this acceptance. Thus, the goal here is to clarify the structure of the argument of the inference to the best explanation and to present criticism anti-realist to argument. Keywords: Realism, Anti-realism, Inference to the best explanation.

8 INTRODUÇÃO O presente trabalho tem por objetivo apresentar um dos problemas centrais no âmbito da filosofia da ciência, a saber, o debate entre realismo 1 e anti-realismo 2 acerca da aceitação de teorias científicas. De modo mais específico, o objetivo deste trabalho é desenvolver a crítica feita por van Fraassen ao argumento realista da inferência da melhor explicação. Em geral, os realistas argumentam que a aceitação de uma teoria científica implica a crença em sua verdade 3, sendo esta crença fundamental para que possamos preservar a concepção filosófica de que a ciência expressa conhecimento. Ao contrário destes, para os anti-realistas, o sucesso de uma teoria científica implica como crença apenas a adequação empírica. Para van Fraassen, crer na adequação empírica significa dizer que a crença que está envolvida na aceitação de uma teoria científica é a de que ela salva os fenômenos, ou seja, a teoria descreve corretamente o que é observável. O que pode ser também comprendido a partir do adjetivo construtivo adotado por van Fraassen. Nas palavras de van Fraassen: Utilizo o adjetivo construtivo para indicar minha concepção de que a atividade científica é uma atividade de construção, em vez de descoberta: construção de modelos que devem ser adequados aos fenômenos, e não descoberta da verdade sobre o que é inobservável (VAN FRAASSEN, 2007, p. 22) 1 Embora este seja um termo muito amplo, podemos admitir aqui a definição de Plastino: o realismo confere sentido à ciência por tratar-se de uma disciplina que versa sobre a natureza das coisas do mundo e que visa a conhecer a verdade (1995, p. 12). 2 Em geral, há várias formas de anti-realismo, o que será adotado aqui é o empirismo construtivo proposto por van Fraassen cujo enunciado é o seguinte: A ciência busca fornecernos teorias que são empiricamente adequadas; e a aceitação de uma teoria envolve como crença apenas que ela é empiricamente adequada (VAN FRAASSEN, 1980, p. 12). 3 No que se refere ao conceito de verdade, é importante ressaltar que para van Fraassen o conceito de verdade realista implica descrever processos inobserváveis, enquanto o empirismo construtivo de van Fraassen se volta apenas para a descrição do que é observável. Em suas palavras: A ciência procura encontrar uma descrição verdadeira dos processos inobserváveis que explicam aqueles que são observáveis e também do que são os estados de coisas possíveis, e não apenas do que é real. O empirismo sempre foi um dos condutores principais no estudo da natureza. Mas ele requer que as teorias apenas apresentem um relato verdadeiro do que é observável (VAN FRAASSEN, 1980, p. 19).

9 Deste modo, pode-se notar que o debate se desenvolve a partir de duas posições epistemológicas 4 rivais. Conforme foi dito anteriormente, a inferência da melhor explicação é um dos argumentos utilizados pelos realistas para justificar a aceitação das teorias científicas. Muitos autores atribuem a origem deste tipo de inferência a Peirce (cf. VAN FRAASSEN, 1980, p. 46; cf. CHIBENI, 1997, p. 26). Porém, ele recebeu maior atenção ao ser apresentado por Gilbert Harman em Para Harman, o argumento da inferência da melhor explicação pode, resumidamente, ser descrito do seguinte modo: ao se construir a inferência, o cientista se depara com diversas hipóteses que explicam a mesma evidência, a conclusão de Harman é de que a hipótese que fornecer a melhor explicação para esta evidência deve ser considerada verdadeira (cf. HARMAN, 1965, p. 89). Apesar do argumento da inferência da melhor explicação de Harman ser aceito por vários autores, van Fraassen tece algumas críticas a ele, especialmente em suas obras A Imagem Científica e Laws and Symmetry, Entre as principais críticas feitas por van Fraassem podem ser destacados três argumentos, a saber, o argumento do Privilégio, o argumento da Força Maior, e o argumento da Redução. De modo resumido, os argumentos são o seguinte: i) argumento do Privilégio consiste na crença de que nós estamos, por natureza, predispostos a acertar a coleção correta de hipóteses; ii) argumento da Força Maior consiste em fornecer argumentos para a consequência de que nós devemos escolher entre as hipóteses significantes e historicamente dadas, sendo que guiar esta escolha é a tarefa de alguma regra da reta razão; iii) argumento da Redução van Fraassen argumenta que a melhor explicação que nós possuímos não deve ser considerada como verdadeira. Todos estes argumentos serão vistos com uma atenção maior no segundo capítulo deste trabalho. A última análise desenvolvida neste trabalho que se encontra no terceiro capítulo se dará a partir do artigo On Van Fraassen s Critique of Abductive Reasoning de Stathis Psillos. Este artigo de Psillos é de fundamental importância para este debate pois ele coloca em questão alguns 4 De acordo com Dutra, discutir o papel que a crença desempenha na aceitação de uma teoria científica é um típico problema epistemológico da ciência (DUTRA, 1998, p. 29).

10 pontos da crítica realizada por van Fraassen no momento anterior e aponta também algumas saídas que os realistas devem considerar para se fazer uma defesa adequada da inferência da melhor explicação. É importante ressaltar que o debate sobre a aceitação de teorias científicas não é resolvido e muito menos esgotado nestas páginas, ao contrário disso, o que pode ser encontrado aqui é apenas alguns esclarecimentos da estrutura deste complexo problema da filosofia da ciência, bem como algumas críticas anti-realistas apresentadas por van Fraassen e as defesas realistas de Peter Lipton e Stathis Psillos.

11 Capítulo 1 A INFERÊNCIA DA MELHOR EXPLICAÇÃO Para os cientistas, aceitar ou não uma teoria científica é um evento complexo visto que ele envolve diversos fatores. É preciso, então, ter conhecimento dos fatores que levaram a comunidade científica à aceitação. Entre estes fatores podem ser citados: o poder explicativo de determinada teoria, a plausibilidade que esta possui em relação a comunidade científica e a tradição na qual ela encontra-se inserida, a sua simplicidade, o grau de abragência do seu domínio de fenômenos, a avaliação dos experimentos que lhe corroboram até o momento, entre outros (cf. DUTRA, 1998, p. 27). Desta forma, o problema da aceitação de teorias científicas se caracteriza como um dos problemas mais tratados no âmbito da filosofia da ciência, e, mais especificamente, se trata de um ponto fundamental do debate entre as teorias realistas e anti-realistas da ciência. De modo geral, existem vários argumentos utilizados para justificar a aceitação de uma teoria científica. Neste capítulo será apresentado o argumento utilizado pelos realistas, a saber, o argumento da inferência da melhor explicação. No ano de 1965 Gilbert Harman escreveu um artigo intitulado The Inference to the Best Explanation cujo objetivo era o de apresentar um argumento a favor da inferência da melhor explicação, e, consequentemente, apresentar esta como uma forma de inferência segura se comparada a outras formas de inferência como a indução enumerativa, por exemplo. Muitos autores atribuem a origem deste tipo de inferência a Peirce (cf. VAN FRAASSEN, 1980, p. 46; cf. CHIBENI, 1997, p. 26). Harman até concorda que a inferência da melhor explicação corresponde aproximadamente ao que outros chamaram de abdução, o método das hipóteses, inferência hipotética, o método da eliminação, indução eliminativa e inferência teórica. Contudo, ele afirma que apesar dessa proximidade, a sua terminologia evita a maior parte das sugestões enganadoras das terminologias alternativas (cf. HARMAN, 1965, p. 89).

12 Qual seria então a definição de Harman da inferência da melhor explicação? E, qual a diferença desta em relação as outras inferências citadas por ele? A inferência da melhor explicação, nas palavras de Harman, é descrita do seguinte modo: Ao inferir a melhor explicação se infere, do fato de que uma certa hipótese explicaria a evidência, a verdade desta hipótese. Em geral várias hipóteses podem explicar a evidência, por isso devemos ser capazes de rejeitar todas tais hipóteses alternativas antes de estarmos seguros ao fazer a inferência. Portanto se infere, da premissa de que uma dada hipótese forneceria uma melhor explicação para a evidência do que quaisquer outras hipóteses, a conclusão de que esta determinada hipótese é verdadeira (HARMAN, 1965, p. 89). No final desta citação se encontra o ponto fundamental do argumento da inferência da melhor explicação que é utilizado pelos realistas. Este ponto fundamental consiste em obter a conclusão de que uma determinada hipótese é verdadeira a partir da premissa de que esta hipótese explica melhor certa evidência. Deste modo, aparece no final desta citação o que se caracteriza como um dos pontos principais do escopo realista, a saber, de que a aceitação fornece razões para crer na verdade. Com isso, é apresentada também por Harman uma relação necessária entre a melhor explicação e a verdade. Dito isso, Harman se depara com o seguinte problema: como se pode julgar que uma hipótese é suficientemente melhor que as outras hipóteses? (cf. HARMAN, 1965, p. 89). O autor reconhece a legitimidade deste problema e afirma que, provavelmente, o cientista baseia o seu julgamento em considerações tais como qual hipótese é mais simples, qual é mais plausível, qual explica mais, qual é menos ad hoc, etc. Mas, essas considerações feitas por ele também não ajudam muito porque não possuem uma natureza clara e compreensível. Apesar disso, Harman decide que não irá dizer mais nada sobre estas considerações. Para elucidar a sua defesa da inferência da melhor explicação, Harman apresenta o seguinte exemplo: quando nós inferimos algum fato da experiência mental de uma pessoa a partir de seu comportamento, nós estamos inferindo que este fato é uma explicação melhor do que outra (HARMAN, 1965, p. 89). Harman apresenta este exemplo de modo bem

13 sintético. A sua pretensão aqui é mostrar a diferença entre uma inferência que é descrita como uma instância da indução enumerativa e uma inferência que é descrita como uma instância da inferência da melhor explicação. A indução enumerativa é, segundo Harman, uma classe de inferência que exemplifica a seguinte forma: a partir da proposição todos As observados são Bs, nós concluimos que todos As são Bs, ou, que pelo menos o próximo A provavelmente será um B (HARMAN, 1965, p. 90). Para Harman, o exemplo citado no parágrafo acima é facilmente descrito como uma instância da inferência da melhor explicação. Porém, o autor não vê como ele pode ser descrito como uma instância da indução enumerativa. Mas, o que leva Harman a afirmar que ele não pode pertencer a classe da indução enumerativa? De acordo com o autor, descrever nossa inferência como indução enumerativa encobre o fato de que nossa inferência faz uso de certos pressupostos, ao passo que, como eu mostro abaixo, descrever a inferência como uma inferência da melhor explicação expõe esses pressupostos. Esses pressupostos intermediários ocupam um papel na análise do conhecimento baseado na inferência. Portanto, se nós queremos compreender esse conhecimento, nós devemos descrever nossa inferência como inferência da melhor explicação (HARMAN, p. 91, 1965). A partir desta passagem percebe-se que Harman está tentando explicar que as pessoas não fazem inferência de modo enumerativo, mas através da inferência da melhor explicação. O principal aspecto desta distinção consiste no fato de que existe uma parte da inferência que é teórica, ou seja, o indivíduo constrói uma hipótese de que o sol nascerá amanhã. Sendo assim, a conclusão de Harman é de que o indivíduo segue uma determinada regra e não apenas enumera as observações ao fazer a inferência. Um exemplo usado por Harman na tentativa de esclarecer um pouco mais esta distinção é o seguinte: sabe-se que uma pessoa machucou a mão pelo modo como ela afasta a mão para longe de um fogão. A inferência aqui é que tal pessoa agiu assim por causa da dor, em outras palavras, existe uma norma que diz que a dor é responsável pelo repentino afastamento da mão. Considerando tal exemplo como uma instância da inferência da melhor

14 explicação, pode-se perceber que os pressupostos correspondem a uma parte essencial da inferência. Não fosse deste modo, se tal exemplo fosse pensado como uma indução enumerativa, teria-se a evidência somente para a questão de encontrar correlações entre comportamento e dor, perdendo a parte essencial apontada pelo pressuposto que diz que a experiência mental inferida deve figurar na explicação para o comportamento observado (cf. HARMAN, 1965, p. 94). Harman afirma que na prática, sempre se sabe mais sobre a situação do que o fato de que todos As observados são Bs. Por isso, a inferência da melhor explicação tem a habilidade de explicar de modo interessante o uso da palavra conhecer e esta é uma das razões para preferí-la no lugar da indução enumerativa (cf. HARMAN, 1965, p. 88). Algumas vezes, alguém infere uma explicação de algo que já é aceito (como quando alguém infere que uma pessoa diz o que ela diz porque ela acredita nisso); mas algumas vezes alguém infere que uma coisa já aceita explica alguma outra coisa (como quando alguém infere que as intenções atuais de uma pessoa irão explicar seu comportamento futuro). Seria [assim] um erro dizer que a indução sempre infere uma explicação da evidência. [...] Explicações competidoras no sentido relevante não precisam ser explicações competidoras da mesma coisa. Elas podem ser asserções competidoras sobre aquilo que uma coisa particular explica (por exemplo, quando alguém deve inferir o que uma outra pessoa irá fazer com base em seu caráter, desejos, situação, etc. irão resultar, isto é, explicar) (HARMAN, 1968, p. 530). A inferência da melhor explicação difere, segundo Harman, da indução enumerativa e da abdução de Peirce, pois ela tem a capacidade de descrever predições e generalizações. Harman conclui seu artigo dizendo que a inferências podem ser consideradas seguras, de modo que o conhecimento baseado nelas seja verdadeiro, mas, para isso, elas devem ser tidas como instâncias da inferência da melhor explicação e não instâncias da indução enumerativa. O argumento da inferência da melhor explicação de Harman é usado por muitos autores, dentre eles, Stathis Psillos que em seu artigo The Fine Structure of Inference to the Best Explanation o expressou da seguinte maneira: uma evidência (E) precisa ser explicada; a teoria (T) explica (E) e

15 nenhuma outra teoria rival explica tão bem quanto (T); sendo assim, temos boas razões para acreditar que (T) é verdadeira (cf. PSILLOS, 2007, p. 442). Deste modo, o realista ganharia a disputa no nível epistemológico, pois a sua teoria se mostrou superior no duelo com as teorias rivais e com isso podemos dizer que por ser a melhor dentre elas, ela é digna de crença em sua verdade (cf. SILVA, 2005, p.111). Entretanto, para que o argumento realista fique completo tem de ser feita uma ampliação a partir da conclusão acima: se (T) é verdadeira e utiliza mecanismos inobserváveis; podemos assim inferir a existência destes mecanismos utilizados por (T). É necessário que se entenda aqui como a estratégia realista foi colocada. Para isso, é importante destacar dois pontos: o epistemológico e o ontológico. No âmbito epistemológico, Peter Lipton afirma em seu artigo Is the Best Good Enough? que um anti-realista até admitiria a inferência da melhor explicação, desde que fosse feita uma alteração: em vez de concluir que a melhor das hipóteses é verdadeira, o anti-realista diria que ela é apenas empiricamente adequada 5 (cf. LIPTON, 1993, p. 3). Com isso, o realista ganharia um ponto a mais a seu favor porque ele pode acreditar na verdade de sua teoria, enquanto o anti-realista não pode dar este passo. Já no âmbito ontológico, o realista argumenta que se a sua teoria teve sucesso e foi considerada a melhor entre as rivais, ele possui então um bom motivo para concluir a existência dos mecanismos inobserváveis que foram utilizados por ela (cf. SILVA, 2007, p. 56). Desta forma, o realista teria mais uma vantagem, pois a sua explicação da ciência é muito mais ampla (visto que ela inclui inobserváveis) e diz muito mais sobre a ciência que a explicação de seu adversário anti-realista. Consequentemente, por ter o realista uma explicação científica melhor que o seu adversário, o processo de aceitação de teorias estaria justificado por meio do argumento da inferência da melhor explicação. Ora, se for levado em conta apenas o caráter epistemológico do debate, e se a preocupação do cientista se resume em questões ontológicas sobre o 5 Mas o que significa ser empiricamente adequada? Pois bem, isto significa que não devemos perguntar pela verdade (aproximada) das teorias científicas, mas apenas por sua adequação empírica, isto é, por sua capacidade de prever corretamente os fenômenos (DUTRA, 1998, p. 42). Ou ainda, uma teoria é empiricamente adequada exatamente se é verdadeiro o que ela diz sobre as coisas observáveis e eventos no mundo exatamente, se ela salva os fenômenos (VAN FRAASSEN, 1980, p. 34).

16 que existe e o que não existe, então, todos devem aceitar que o realismo científico é a melhor explicação para a ciência e fica encerrada esta discussão. Mas, será que é somente isso que está em jogo? O que se deve compreender aqui, é que o realista estrutura o debate sobre ciência por meio do argumento da inferência da melhor explicação, e este, não é necessariamente o modo como ele deve ser levado. Van Fraassen, por exemplo, elaborou outra forma de se entender a ciência que foi simplesmente exclusa pelo argumento realista, além disso, a ciência possibilita a sua compreensão em diversos níveis: epistemológico, ontológico, pragmático, axiológico, etc. Com isso, se é decidido estruturar as questões em apenas um ou dois desses níveis, corre-se o risco de ter como resultado uma fragmentação de nossa compreensão da ciência. O empirismo construtivo de van Fraassen traz uma outra perspectiva sobre o debate. Van Fraassen não reduz a compreensão da ciência à considerações de natureza epistemológica, segundo ele, estas considerações se demonstram insuficientes para a compreensão da aceitação de uma teoria científica. Para van Fraassen, uma explicação não é apenas uma relação entre uma teoria e um fato, que é explicado com base na teoria, mas uma relação entre três termos: teoria, fato e contexto (cf. DUTRA, 1998, p. 126; cf. VAN FRAASSEN, 2007, p. 161). Com isso, ele propõe que se adote uma abordagem diferente, a compreensão da aceitação de teorias não deve levar em conta apenas os aspectos epistemológicos, pois há outros parâmetros a serem considerados nesta aceitação como, por exemplo, o pragmático. Relativamente às discussões sobre a relação entre uma teoria e o mundo, há a questão sobre o que é aceitar uma teoria científica. Essa questão possui uma dimensão epistêmica (em que medida a crença está envolvida na aceitação de uma teoria?), e também uma dimensão pragmática (além da crença, o que mais está envolvido nisso?). Segundo a concepção que vou desenvolver, a crença que está envolvida na aceitação de uma teoria científica é apenas que ela salva os fenômenos, isto é, descreve corretamente o que é observável. Mas a aceitação não é apenas crença. Nunca temos a possibilidade de aceitar uma teoria que dá conta de tudo, completa em todos os detalhes. Assim, aceitar uma teoria em vez de outra envolve também o compromisso com um programa de pesquisa, para continuar o diálogo com a natureza na estrutura de um esquema conceitual e não outro. Mesmo que duas teorias sejam empiricamente equivalentes, e mesmo que a aceitação de uma teoria envolva, como

17 crença, apenas que ela é empiricamente adequada, ainda pode fazer grande diferença qual delas é aceita. A diferença é pragmática, e vou argumentar que as virtudes pragmáticas não nos dão qualquer razão, acima e além da evidência dos dados empíricos, para pensar que uma teoria é verdadeira. (VAN FRAASSEN, 2007, p. 20) O parâmetro pragmático, portanto, daria uma base teórica para que se leve em conta a importância de fatores contextuais na aceitação, fatores estes que podem ser interpretados como as circunstâncias que estiveram presentes na aceitação, ou seja, dependendo do contexto, uma lei ou uma teoria, ou ainda um conjunto de fatores, pode ter alto poder explicativo ou não (cf. DUTRA, 1998, p. 126). Isso tudo vai depender dos resultados, da aceitação social, da comunidade científica, etc. Por exemplo, se importa mais para nós ter um tipo de questão respondida que outra, isso não é razão para pensar que seja mais provável que uma teoria que responda melhor ao primeiro tipo de questões seja verdadeira (VAN FRAASSEN, 2007, p.159). Desta forma, pode-se perceber a partir destas passagens que para que se possa compreender todos os fatores envolvidos na aceitação de teorias científicas, deve-se levar em conta, de acordo com van Fraassen, duas dimensões: uma que é epistêmica e outra que é pragmática. No próximo capítulo serão desenvolvidas as críticas fundamentais feitas por van Fraassen à inferência da melhor explicação.

18 Capítulo 2 A CRÍTICA DE VAN FRAASSEN À INFERÊNCIA DA MELHOR EXPLICAÇÃO Com a estruturação do argumento da inferência da melhor explicação feita por Harman na década de 60, iniciou-se um importante debate entre realistas e anti-realistas no âmbito da filosofia da ciência. Um dos autores centrais de tal debate é o filósofo holandês Bas van Fraassen. De acordo com ele, a formulação de Harman apresenta inúmeros problemas. Van Fraassen vai então caracterizar estes problemas praticamente em duas obras, a saber, A Imagem Científica e Laws and Symmetry. Na obra A Imagem Científica, van Fraassen dedica o segundo capítulo para tratar da teoria realista da ciência, e, neste mesmo capítulo, ele traça a sua crítica à inferência da melhor explicação. Van Fraassen começa então apontando que autores como Wilfrid Sellars, J. J. Smat e Harman defendem a concepção de que se o cientista faz uso da inferência racional, ele deverá aceitar, consequentemente, o realismo científico, isto porque, se o cientista têm boas razões para sustentar essa teoria, isso significa que ele têm, igualmente, boas razões para acreditar que esta teoria é verdadeira e que as entidades postuladas por ela existem (cf. VAN FRAASSEN, 2007, p. 45). E qual seria a regra de inferência evocada neste tipo de argumento? Van Fraassen afirma que a principal regra de inferência evocada em argumentos deste tipo é a regra de inferência da melhor explicação (VAN FRAASSEN, 2007, p. 45). Em seguida, van Fraassen apresenta uma versão simplificada da inferência de Harman, que é a seguinte: Suponhamos que temos a evidência E, e que estejamos considerando diversas hipóteses, digamos H e H'. A regra diz então que devemos inferir H em vez de H' exatamente se H é uma melhor explicação de E que H' (VAN FRAASSEN, 2007, p. 46). A defesa desta regra se dá, de acordo com van Fraassen, conforme o seguinte argumento: se essa regra é seguida em todos os casos ordinários e se for também seguida em todos os casos, ela conduzirá ao realismo científico,

19 como quer Sellars. Van Fraassen elucida o argumento acima com o seguinte exemplo: ouço um arranhar na parede, o sapateado de pequenos pés à meia noite, meu queijo desaparece e infiro que um camundongo veio viver comigo. Nãos acho apenas que esses sinais aparentes da presença de uma camundongo vão continuar, nem apenas que todos os fenômenos observáveis vão ser como se houvesse um camundongo, mas que há um camundongo (VAN FRAASSEN, 2007, p. 46). A partir disso van Fraassen levanta duas questões: se em vez de um camundongo, houvesse ali uma entidade inobservável, a inferência conduziria, do mesmo modo, à crença nesta entidade inobservável? Se este for o caso, o realista seria simplesmente aquele que segue as regras de inferência que as pessoas utilizam nos contextos ordinários? Van Frassen afirma que a idéia dos realistas é realmente essa e aponta duas objeções à ela. A primeira delas é a seguinte: o que se quer dizer com a afirmação de que todos nós seguimos certa regra de inferência? (VAN FRAASSEN, 2007, p. 47). E isto, para van Fraassen, seria muito difícil de se argumentar. Uma forma de tentar entender este enunciado seria a de que todos as pessoas aplicam esta regra do mesmo modo que resolvem um exercício de lógica. Mas este sentido, afirma van Fraassen, é muito literal e restritivo (cf. VAN FRAASSEN, 2007, p. 47). Mesmo que a maior parte das pessoas façam uso desta regra, pouquíssimas teriam a capacidade de formulá-la. Outra forma de se tentar entender este enunciado seria a de que as pessoas agem de acordo com essas regras, mas sem escolhê-las conscientemente. Esta segunda opção não seria mais fácil de se compreender de acordo com van Fraassen, visto que toda regra lógica é uma regra de permissão, desta forma as pessoas teriam que aceitar um enunciado vago de que qualquer conclusão pode ser inferida de qualquer premissa (VAN FRAASSEN, 2007, p. 47). Van Fraassen vai então chegar à conclusão de que a idéia de que todos seguimos certa regra em certos casos é uma hipótese psicológica sobre o que estamos ou não dispostos a fazer (VAN FRAASSEN, 2007, p. 47). Para van Fraassen, esta é um hipótese empírica e deve ser confrontada com dados e com hipóteses

20 alternativas. Uma dessas hipóteses alternativas é proposta por van Fraassen que enfatiza que a aceitação de uma teoria científica implica apenas a crença de que ela é empiricamente adequada. Ou ainda, a premissa de que todos seguimos a regra de inferência da melhor explicação quando se trata de camundongos e outras questões ordinárias isso precisa ser demonstrado. Isso não é certo com base nas evidências, porque tais evidências não falam a favor daquela premissa e contra a hipótese alternativa que propus, que é uma hipótese relevante nesse contexto (VAN FRAASSEN, 2007, p. 48). A segunda objeção que van Fraassen apresenta é a seguinte: se a inferência da melhor explicação for aceita, ela necessitará, ainda assim, de premissas adicionais para que seu argumento fique completo. Segundo van Fraassen, o realista vai precisar de suas premissas especiais complementares, de que toda regularidade universal na natureza carece de explicação, antes que a regra possa fazer de todos nós realistas (VAN FRAASSEN, 2007, p. 49). Essa premissa será mais detalhadamente examinada por van Fraassen nas seções 4 e 5. Na seção 4, intitulada por van Fraassen como Limites da exigência de explicação, van Frassen vai tratar de um dos critérios que o realismo utiliza para a escolha de teorias, e este critério é o poder explicativo. Contudo, ele alerta que os argumentos realistas serão bem sucedidos apenas se a exigência de explicação for suprema (VAN FRAASSEN, 2007, p. 51). Mas o que seria uma exigência suprema? Van Fraassen afirma que a tarefa da ciência, na visão realista, não termina enquanto qualquer regularidade mais geral não receber uma explicação. Em outras palavras, ao dizer que A evidência E deve ser explicada, o realista estaria partindo de uma premissa adicional que afirma que todas as evidências devem ser explicadas. Aqui, van Frassen descreve que está dialogando especialmente com Smart, Reichenbach, Salmon e Sellars. A sua objeção baseia-se no seguinte argumento: tal exigência ilimitada de explicação conduz à exigência de entidades ocultas (VAN FRAASSEN, 2007, p. 52) e, mais a frente, o autor defende que essa exigência se deve ao fato de que os anseios realistas

21 nasceram dentre os ideais equivocados da metafísica tradicional (VAN FRAASSEN, 2007, p. 52). Van Fraassen descreve o argumento de Smart do seguinte modo: o sucesso de T' é explicado pelo fato de que a teoria original T é verdadeira a respeito das coisas sobre as quais pretensamente ela diz respeito (VAN FRAASSEN, 2007, p. 54), ou seja, se a teoria postula entidades como elétrons, significa que realmente há elétrons. Se não se aceitar isso, o sucesso de T' não teria explicação, como aponta Smart (cf. VAN FRAASSEN, 2007, p. 54). Em outras passagens, de modo semelhante, Smart fala de coincidências cósmicas. As regularidades nos fenômenos observáveis devem ser explicadas em termos de uma estrutura mais profunda, pois, de outro modo, só nos resta a crença em acidentes felizes e em coincidências em escala cósmica (VAN FRAASSEN, 2007, p. 55). Para van Fraassen este argumento é absurdo, porque o fato de postular certas regularidades sem explicá-las faz com que a teoria T' se torne muito pobre e a teoria original T não se encontra em uma situação melhor. Van Fraassen também afirma que é ilegítimo equiparar os acidentes felizes ou uma coincidência com o fato de não haver nenhuma explicação (VAN FRAASSEN, 2007, p. 55). Em outras palavras, van Fraassen acredita que não deve existir uma tal exigência, a saber, a exigência de que a ciência, a partir de suas teorias, acabe com todas as coincidências ou acidentes, isso para van Fraassen, não faz sentido algum. Para van Fraassen a exigência da ciência não é de uma explicação enquanto tal, mas de imagens criativas, que dêem a esperança de propor novos enunciados das regularidades observáveis e de corrigir os antigos (VAN FRAASSEN, 2007, p. 71). Ou seja, van Fraassen defende na obra A Imagem Científica que a ciência não tem por objetivo a busca ilimitada por explicações que descrevam a verdade sobre o mundo, mas, o objetivo da ciência é apenas encontrar a adequação empírica de suas teorias. Os apontamentos que van Fraassen faz em relação à inferência da melhor explicação não se encontram apenas em sua obra A Imagem Científica.

22 Além desta obra, van Fraassen apresenta uma crítica à esta inferência na obra Laws and Symmetry. São três os principais argumentos que compõem esta crítica, a saber, o argumento do Privilégio, o argumento da Força Maior, e o argumento da Redução. De acordo com van Fraassen, o argumento do Privilégio consiste numa reivindicação de privilégio para as nossas capacidades. E, este privilégio exige a crença de que nós estamos, por natureza, predispostos a acertar a série correta de hipóteses (VAN FRAASSEN, 1989, p. 143). Sendo assim, o cientista sempre acertará ao escolher uma das hipóteses dessa coleção, porque a sua predisposição natural encontrou a coleção correta. Porém, para van Fraassen o argumento do Privilégio deve ser justificado. E, ele acredita que a justificação poderia ocorrer de duas formas: primeiro, poderia ser uma justificação aliada ao naturalismo; segundo, poderia ser uma justificação aliada ao racionalismo. O apoio naturalista basearia a sua conclusão na realidade da nossa adaptação da natureza, ou seja, o nosso sucesso evolutivo se deve a certas capacidades. Van Fraassen contrapõe este apoio naturalista com o seguinte argumento: como as nossas teorias são mais possivelmente verdadeiras se nós fomos os únicos a pensá-las? E ainda: como ela poderia ser verdadeira se as características que selecionamos se referem ao passado, e o sucesso que procuramos justificar é o sucesso no futuro? A seguir, van Fraassen apresenta como seria o apoio racionalista ao argumento do Privilégio. Este apoio, segundo ele, deve ser moldado conforme o argumento de Descartes acerca da correspondência das idéias com a realidade. Ou seja, aqui a correspondência é garantida por Deus. Van Fraassen cita o autor Alvin Platinga, este último pega um conceito de Deus geralmente assentado para defender a sua crença em proposições e entidades abstratas. Platings coloca, por exemplo, que se Deus nos fez a sua imagem é razoável acreditar que nós estamos especialmente adaptados a acertar sobre a verdade. Contra esta posição, van Fraassen apresenta a seguinte crítica: Se ele nos criou naturalmente capazes de compreender a verdade sobre o que é importante para nós em seus olhos (talvez para discernir amor de desejo, ou caridade de hipocrisia, em nós mesmos),

23 isto não pode se estender para especulações sobre demônios, quarks ou universais (VAN FRAASSEN, 1989, p. 144). A conclusão a que van Fraassen chega é a de que o argumento do Privilégio pode até ser coerente, mas, ele é incapaz de qualquer apoio naturalista ou racionalista. Para fechar esta crítica van Fraassen afirma que a nossa inclinação pode ser em direção à explicações mais satisfatórias, o que ela não pode, é ser a si mesma informação relevante sobre o seu teor de verdade (VAN FRAASSEN, 1989, p. 144). O segundo argumento que van Fraassen irá colocar é o argumento da Força Maior. Este argumento traz a idéia de que existe alguma regra da reta razão que guia a escolha do cientista. Isto é, não é por causa de crenças especiais que o cientista escolhe de acordo com uma certa série de hipóteses. A sua escolha é feita com base em algumas regras, por isso, ele deve escolher conforme esta série de hipóteses. Para van Fraassen, este segundo argumento também fracassa porque circunstâncias podem nos forçar a agir de acordo com a melhor alternativa descoberta por nós, porém, elas não podem nos forçar a acreditar que isto é, consequentemente, uma boa alternativa (VAN FRAASSEN, 1989, p. 144). Assim, o ponto enfatizado por van Fraassen pode ser resumido nesta questão: a escolha de uma teoria revela algum tipo de crença? Para responder essa questão, van Fraassen propõe que se analise com cuidado a prática científica para ver se ela, realmente, traz alguma crença. Segundo van Fraassen Cientistas criam um programa de pesquisa, apostam sua carreira e satisfações da vida sobre certas direções teóricas e inovações experimentais. Aqui, eles são forçados a escolher entre as bases teóricas historicamente dadas. Eles são forçados pela sua própria decisão em ser cientistas a escolher pela melhor teoria disponível, pela sua própria luz. (VAN FRAASSEN, 1989, p. 145). A vida deste cientista terá sido desperdiçada caso a teoria que ele trabalha seja falsa? De acordo com van Fraassen, caso se admita isso, então, deve se reconhecer que vidas como a de Descartes e a de Newton foram desperdiçadas. Agora, caso não se admita isso, o cientista deve reconhecer

24 que a sua vida terá sido valorizada por contribuir com o progresso da ciência, mesmo que a sua contribuição seja a de demonstrar os limites e as imperfeições das teorias, ou ainda, a descoberta de novos fenômenos que a ciência futura deve salvar. Em último caso, coloca van Fraassen, a escolha do cientista por certas teorias como base para pesquisa, não revela nenhuma inclinação para acreditar em sua verdade (VAN FRAASSEN, 1989, p. 145). Em outras palavras, o ponto que van Fraassen está trabalhando se resume na seguinte questão: A escolha do cientista por uma teoria implica acreditar que esta teoria é verdadeira? E a resposta dele, como foi exposta acima, é negativa, ou seja, a escolha não revela razões para a crença em sua verdade. O terceiro argumento de van Fraassen é o argumento da Redução. Para ele, deve-se reduzir a exigência feita pela inferência da melhor explicação, porque esta é uma regra muito mais modesta do que a que foi colocada por Harman a inferência de Harman é uma inferência para a verdade das hipóteses favorecidas. Porém, como questiona van Fraassen, a melhor explicação que nós temos provavelmente será verdadeira? (VAN FRAASSEN, 1989, p. 146). A resposta do autor é de que: Há muitas teorias, talvez não formuladas até o momento, que explicam pelo menos tão bem quanto a melhor teoria que temos até agora (VAN FRAASSEN, 1989, p. 146). Van Fraassen defende que muitas destas teorias extrapolam o domínio das evidências, e com isso, ele afirma que é mais provável que a maioria delas sejam falsas. Como a melhor explicação estaria inclusa na categoria destas hipóteses. Van Fraassen conclui que é improvável que a melhor explicação seja verdadeira. Uma objeção que pode ser feita à este argumento de van Fraassen é de que o cientista possui mais conhecimento de sua explicação, no que se refere ao seu valor de verdade, além do quão bem a sua teoria explica. Contudo, van Fraassen acredita que essa objeção pode conduzir ao argumento do Privilégio, visto que implica uma pretensão da capacidade natural ou histórica do homem. Van Fraassen ainda argumenta que existe apenas uma teoria que pode ser considerada verdadeira, e neste ponto, a sua conclusão de que a maioria das teorias são falsas está de pé.

25 Capítulo 3 OS ARGUMENTOS DE STATHIS PSILLOS CONTRA A CRÍTICA DE VAN FRAASSEN Embora van Fraassen apresente algumas desvatagens em relação à aceitação de teorias por meio da inferência da melhor explicação. Deve-se considerar que os argumentos apresentados por ele também recebem diversas críticas, em especial, por parte de Stathis Psillos. Neste capítulo serão desenvolvidos alguns dos problemas apontados por Psillos em seu artigo On Van Fraassen s Critique of Abductive Reasoning no que se refere as críticas feitas por van Fraassen. O objetivo de Psillos neste artigo é o de mostrar que van Fraassen falhou em seu ataque ao raciocínio abdutivo 6. Segundo Psillos, os realistas defendem que a inferência da melhor explicação é o modo de raciocínio que os cientistas utilizam para constituir as suas crenças teóricas. Em outras palavras, este tipo de inferência pode, de forma confiável, produzir e sustentar crenças (aproximadamente) verdadeiras sobre o mundo (PSILLOS, 1996, p. 31). Na perspectica de Psillos, van Fraassen aceita que a inferência da melhor explicação possa operar como um modo de inferência na ciência, mas, deve ser feita uma alteração na conclusão do argumento, em vez de concluir que a hipótese é verdadeira, van Fraassen defende que a hipótese admitida como a melhor explicação deve ser considerada apenas como empiricamente adequada. A partir disso, pode-se afirmar que na perspectiva de van Fraassen, a adequabilidade empírica substitui a verdade como o objetivo da ciência (PSILLOS, 1996, p. 33). Psillos argumenta que no que se refere ao mundo observável a verdade e a adequabilidade empírica coincidem para van Fraassen. Ou seja, van Fraassen não coloca em dúvidas que a inferência da melhor explicação opera de forma confiável em casos ordinários como o caso do rato no lambril, 6 Psillos usará o termo abdução para se referir ao raciocínio no qual se infere a verdade (aproximada) da melhor explicação da evidência, isto é, para tratar a inferência da melhor explicação (cf. PSILLOS, 1996, p. 32).

26 isto porque casos ordinários se referem a coisas observáveis como ratos, por exemplo. Como mostra Psillos, o problema para van Fraassen aparece quando a explicação envolve entidades inobserváveis. Quando é este o caso, a adequabilidade empírica e a verdade não mais coincidem (PSILLOS, 1996, p. 33). Sendo assim, van Fraassen coloca a inferência da melhor explicação sob suspeita se ela excede o domínio dos inobserváveis. Para se compreender o que está em jogo Psillos apresenta uma distinção no raciocínio abdutivo. Ele classifica a inferência da melhor explicação em dois tipos: inferência da melhor explicação horizontal que é a espécie de raciocínio abdutivo que envolve apenas hipóteses acerca de entidades observáveis, e, inferência da melhor explicação vertical que é a espécie de raciocínio abdutivo que envolve hipóteses acerca de inobserváveis (PSILLOS, 1996, p. 34). Levando em consideração esta distinção feita por Psillos, van Fraassen aceita a inferência da melhor explicação horizontal, mas, questiona a inferência da melhor explicação vertical. A partir disso, Psillos levanta a seguinte questão: qual é de fato a objeção de van Fraassen contra a inferência da melhor explicação vertical e a formação de crenças garantidas acerca do mundo inobservável? (PSILLOS, 1996, p. 34). Uma possível resposta para esta questão, afirma Psillos, pode ser encontrada na dicotomia entre observáveis e inobserváveis imposta por van Fraassen. Para Psillos, van Fraassen defende essa dicotomia com o objetivo de desempenhar um papel epistêmico, isto é, a distinção entre observáveis e inobserváveis é capaz de traçar as fronteiras entre o que é epistemicamente acessível e o que não é (PSILLOS, 1996, p. 34). No que se refere ao papel epistêmico atribuído por van Fraassen, Psillos apresenta duas objeções: i) é um erro supor que o status epistêmico de nossas crenças acerca de observáveis é, de alguma forma, superior ao de nossas crenças acerca de inobserváveis, e, ii) é um erro supor que crenças observacionais são de algum modo justificadas imediatamente (ou, o que é pior, não necessitam de justificação), de um modo que crenças teóricas não podem ser (PSILLOS, 1996, p. 34). Seguindo a posição de Menuge, Psillos conclui que não existe nenhuma diferença qualitativa entre a evidência de sentidos sem auxílio e a evidência de

27 instrumentos. Para ele, as duas podem garantir a crença e, por vezes, crenças baseadas em sentidos sem auxílio são menos garantidas do que crenças baseadas em instrumento (PSILLOS, 1996, p. 35). Psillos afirma que van Fraassen está correto em exigir uma cautela em relação as pretensões de conhecimento do mundo inobservável, mas van Fraassen erra, segundo Psillos, na medida em que a sua cautela se torna um dogmatismo e o conduz a condenar qualquer tipo de conhecimento do mundo inobservável (cf. PSILLOS, 1996, p. 36). Após essas objeções mais gerais, Psillos passa a criticar o que ele denomina como o argumento do conjunto defeituoso. De acordo com Psillos, o argumento do conjunto defeituoso seria o seguinte: a menos que se apele a um privilégio não garantido, é bastante provável que a verdade esteja no espaço das hipóteses ainda não criadas (PSILLOS, 1996, p. 37). Desta forma, segue-se a exigência de que Qualquer modelo razoável de abdução não deve excluir a possibilidade de que a verdade possa estar além do conjunto de teorias que os cientistas têm em mãos. Pois, certamente, não existe uma garantia a priori de que os cientistas encontrarão a verdade (PSILLOS, 1996, p. 37). Para Psillos, se van Fraassen trabalha mesmo com uma noção tão forte de garantia, ele deve admitir que mesmo as crenças sobre a adequabilidade empírica se tornam não-garantidas. Pois é logicamente possível que uma teoria de fato empiricamente adequada esteja fora do espectro de teorias que os cientistas têm em mãos (PSILLOS, 1996, p. 37). Psillos argumenta que se a noção de garantia envolvesse a eliminação da possibilidade de que a crença pudesse ser falsa, os cientistas seriam levados a um árido ceticismo visto que poucas crenças se é que alguma poderiam ser garantidas. A partir disso, Psillos conclui que não acredita que van Fraassen ofereça uma tal noção robusta de garantia sem ser de todo um cético (PSILLOS, 1996, p. 37). A partir disso, pode-se dizer que a conclusão de Psillos é a de que os defensores da inferência da melhor explicação não devem ceder às críticas de van Fraassen? Ao contrário disso os defensores deste tipo de inferência devem ceder no seguinte ponto, como argumenta Psillos, a história da ciência sugere que a

28 verdade total (seja lá o que isto signifique) regularmente está além da série de teorias que os cientistas consideram num determinado período (PSILLOS, 1996, p. 37). Com isso, Psillos coloca que mesmo as melhores teorias podem apenas ser aceitas como aproximadamente verdadeiras, pois em qualquer período da investigação científica o que os cientistas possuem é apenas uma parte da verdade. A defesa da inferência da melhor explicação feita pelos realistas científicos deve, portanto, mostrar que podemos crer, garantidamente, na melhor hipótese explicativa como sendo aproximadamente verdadeira (PSILLOS, 1996, p. 37). Em relação a defesa da inferência da melhor explicação vertical, Psillos enfatiza que a melhor defesa desta espécia de inferência é partir para a ofensiva. Para ele, uma resposta que o realista deve apresentar para van Fraassen é a de que existe um sentido no qual somos privilegiados, isto de forma garantida. Isto é o que denominarei de privilégio do conhecimento de fundo (PSILLOS, 1996, p. 37). Para Psillos, seria absurdo pensar que a escolha de teorias opera na ausência de um conhecimento. Ela opera, na verdade, dentro de uma rede de conhecimento de fundo e é por esta conduzida (PSILLOS, 1996, p. 38). Assim, o privilégio do conhecimento de fundo torna plausível que os cientistas podem possuir fortes evidências para a crença que a melhor explicação é o relato correto dos fenômenos (PSILLOS, 1996, p. 39), diferentemente do que argumenta van Fraassen. A partir disso Psillos leva o debate para uma outra perspectiva, de acordo com ele, o problema para van Fraassen não é se os cientistas possuem um ambiente de crenças de fundo corretas e operam dentro das mesmas, o problema para van Fraassen é a extensão dessas crenças de fundo corretas (cf. PSILLOS, 1996, p. 40). A questão que se apresenta neste momento é a seguinte: o privilégio do conhecimento de fundo é excesso de bagagem que apenas o realista parece precisar? Ou as afirmações de van Fraassen sobre a adequabilidade empírica também não requerem um tipo similar de privilégio? (PSILLOS, 1996, p. 41). Para Psillos, os cientistas são mais privilegiados do que pensa van Fraassen, a diferença é que o realista assume um risco extra ao desejar saber mais sobre as teorias do que os empiristas construtivos. Contudo, os empiristas

29 construtivos não estão justificados em sugerir que este risco, por questões de segurança, não deve ser assumido (PSILLOS, 1996, p. 42). São dois os motivos que fazem os empiristas construtivos não estarem justificados a tomar tal atitude: primeiro, eles também assumem um risco indutivo porque excedem a evidência atual; segundo, se o risco é um preço que se deve pagar para superar as fronteiras da ignorância, então, é um preço que vale a pena ser pago (cf. PSILLOS, 1996, p. 42). No fim de seu artigo, Psillos ainda faz uma crítica ao argumento da indiferença de van Fraassen. Em suas palavras, o argumento seria o seguinte: Admitamos que escolhemos a teoria T que explica melhor a evidência e. Um grande número de hipóteses ainda não criadas, inconsistentes com T, explicam e no mínimo tão bem quanto T. Somente uma teoria é verdadeira, T ou uma das hipóteses ainda não criadas. Todas as outras são falsas. Assim, devemos tratar T como um membro qualquer desta classe, pois não conhecemos nada em relação ao seu valor-de-verdade, exceto que pertence à (provavelmente infinita) classe de teorias que explicam e. Mas então podemos inferir que T é bastante improvável (PSILLOS, 1996, p. 43). Psillos concorda com Armstrong e afirma que van Fraassen está fazendo uma troça, pois a sua suposição é bastante controversa. Por exemplo, como sabemos antecipadamente que as hipóteses ainda não formuladas explicam igualmente bem a evidência? Em outras palavras, mesmo se concedêssemos que sempre existem explicações possíveis ainda não criadas de e, o que nos mostra que elas são tão boas explicações da evidência quanto a oferecida por T? (PSILLOS, 1996, p. 43). Se estas hipóteses não são tão boas quanto T, elas não são tão prováveis quanto T. A conclusão de Psillos é de que van Fraassen não forneceu boas razões para abalar a confiança na inferência da melhor explicação vertical, pois tanto o argumento do conjunto defeituoso quanto o argumento da indiferença fracassam nessa tentativa. O primeiro fracassa ao mostrar que os defensores da IBE devem apelar a um privilégio não garantido a fim de defender o raciocínio abdutivo, enquanto o segundo fracassa ao mostrar que é mais provável, sobre fundamentos a priori, que uma teoria alcançada por

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