TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

Transcrição

1 Registro: ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos do Agravo de Instrumento nº , da Comarca de Valinhos, em que é agravante BANCO PAN S/A, é agravado RAFAEL PEREIRA DANTAS. ACORDAM, em 29ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores PEREIRA CALÇAS (Presidente) e FRANCISCO THOMAZ., 29 de julho de 2015 Themístocles NETO BARBOSA FERREIRA RELATOR Assinatura Eletrônica

2 COMARCA: Valinhos 1ª Vara Cível AGTE.: Banco Pan S/A AGDO.: Rafael Pereira Dantas JUÍZA: Bianca Vasconcelos Coatti 29ª Câmara de Direito Privado VOTO Nº 1467 EMENTA: Agravo Alienação fiduciária - Busca e apreensão lastreada em cédula de crédito bancário Bem não encontrado - Conversão da ação em execução - Possibilidade, por força da Lei /14, que alterou o Dec. Lei 911/69. Todavia, a efetivação da conversão de busca e apreensão em execução, em se tratando de demanda lastreada em cédula de crédito bancário, dada à sua natureza cambiariforme e o fato de poder ser transferível por endosso, depende da apresentação de sua via original. A cópia, mesmo que autenticada ou certificada digitalmente, não serve para instruir a execução Precedentes Jurisprudenciais - Recurso Improvido. Vistos, etc. Trata-se de agravo de instrumento interposto contra r. decisão (fls. 19), proferida nos autos da ação de busca e apreensão de bem gravado com cláusula de alienação fiduciária proposta por Banco Pan S/A (agravante) contra Rafael Pereira Dantas (agravado) que determinou a exibição do título executivo original para permitir a conversão da ação em execução. Sustenta, em apertada síntese, que já foi juntada aos autos a cópia autenticada do contrato firmado entre as partes que, portanto, possui fé pública (fl. 05). Argumenta, assim, que é desnecessária a exibição do documento original se um autenticado já foi apresentado (fl. 05), sendo que, somente seria cabível exigir a via originária se houvesse alguma suspeita de fraude, que não é o caso (fl. 06/07). Destarte, requer a concessão de efeito suspensivo e, ao final, o total provimento do recurso. Recurso tempestivo e acompanhado de preparado. Dispensadas as informações do d. magistrado a quo, bem como a intimação Agravo de Instrumento nº Valinhos - VOTO Nº 1467 (FLS.2/6)

3 da parte contrária para apresentar contraminuta, porque ainda não foi citada, permitindo, assim, o imediato julgamento do recurso. É a síntese do necessário. Trata-se de ação de busca e apreensão ajuizada pelo agravante em face do agravado, em que o bem não foi localizado e o réu não foi citado (fls. 18). Depreende-se, então, considerando o teor da decisão de fls. 19, que o banco agravante requereu a conversão da ação de busca e apreensão em execução, o que foi o que foi deferido pelo d. magistrado a quo, mediante, porém, a exibição do título executivo em sua via original. Contra tal decisão, insurge-se o agravante. Inicialmente, convém ressaltar que o recorrente não alegou nos autos qualquer argumento fático que pudesse justificar adequadamente o motivo pelo qual não pode apresentar a via original do título executivo extrajudicial. Vale dizer, o recorrente apenas impugnou juridicamente a determinação para exibir o documento, o que, como se verá, não prospera. O Decreto-lei nº 911/69, alterado pela Lei nº /14, realmente permite a conversão da ação de busca e apreensão em ação de execução: Art. 4 o Se o bem alienado fiduciariamente não for encontrado ou não se achar na posse do devedor, fica facultado ao credor requerer, nos mesmos autos, a conversão do pedido de busca e apreensão em ação executiva, na forma prevista no Capítulo II do Livro II da Lei n o 5.869, de 11 de janeiro de Código de Processo Civil. A instituição financeira agravante deixou claro, a fls. 05, que a ação de busca e apreensão está lastreada em cédula de crédito bancário. De fato, do contrário não teria feito menção a respeito. Destarte, uma vez convertida a ação de busca e apreensão em ação executiva, a cédula de crédito bancário passa a ser executada diretamente. Destarte, para tanto, é necessária sua via original. Com efeito, a Lei nº /04, em seu art. 29, 1º, dispõe que: Art. 29. A Cédula de Crédito Bancário deve conter os seguintes requisitos essenciais: Agravo de Instrumento nº Valinhos - VOTO Nº 1467 (FLS.3/6)

4 (...) 1º A Cédula de Crédito Bancário será transferível mediante endosso em preto, ao qual se aplicarão, no que couberem, as normas do direito cambiário, caso em que o endossatário, mesmo não sendo instituição financeira ou entidade a ela equiparada, poderá exercer todos os direitos por ela conferidos, inclusive cobrar os juros e demais encargos na forma pactuada na Cédula. Ora, sendo possível a circulação do título, este deve ser apresentado em sua via original, para que, por cautela, seja evitada a cobrança em duplicidade, não bastando o fornecimento da cópia, ainda que certificada sua autenticidade. É bem de ver que o art. 614 do CPC dispõe expressamente que cumpre ao credor, ao requerer a execução, pedir a citação do devedor e instruir a petição inicial: I com o título executivo extrajudicial. A esse respeito, anota Theotonio Negrão: Art. 614: 3. Em razão da possibilidade de circulação do título de crédito, a jurisprudência exige que a petição inicial da execução seja instruída com o seu original. Neste sentido: STF-RT 636/230; STJ-RT 701/191, RT 472/144, 502/123, 593/221, 634/118, 747/279, 781/318, Lex-JTA 164/104, JTA 39/199, 61/123, 119/242- cheque. Todavia, há decisões admitindo a juntada em xerocópia ou fotocópia autenticadas, obedecido o art. 385, se o exequente justificar a impossibilidade de exibição do original, por estar junto a outro processo' (STJ-3ª T., REsp PB, rel. Min. Nilson Naves, j , deram provimento, v. u., DJU , p ; RT 595/221, 781/249; JTA 41/72, 59/165; JTAERGS 94/253; Bol. AASP 1.026/153). (...) Art. 614: 3a. (...) Se a execução se fundamenta apenas em contrato, admite-se a simples apresentação de cópia deste: 'Fundando-se a execução em contrato, admissível a apresentação de cópia que, não impugnada, há de ter-se como conforme ao original, aliás, posteriormente apresentado. Hipótese que não se confunde com a execução de título cambial que, suscetível de circular, deve ser exibido no original (RSTJ 31/414)' - (cf. Código de Processo Civil e Legislação Processual Civil em vigor, 44ª ed., 2012, Saraiva). Confira-se, a propósito, a jurisprudência deste E. Tribunal de Justiça: ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA BUSCA E APREENSÃO CONVERSÃO EM EXECUÇÃO EXIBIÇÃO DO CONTRATO ORIGINAL NECESSIDADE RECURSO NÃO PROVIDO. A Lei /14, que alterou o Dec. Lei 911/69, permite a conversão da ação de busca e apreensão em ação de execução. No entanto, a cédula de crédito bancário tem que ser apresentada em sua via original, vez que é título transferível por endosso. A cópia, mesmo que autenticada ou certificada digitalmente, não serve para instruir a execução. Decisão mantida (AI nº , Rel. Des. Paulo Ayrosa, 31ª Câmara de Direito Agravo de Instrumento nº Valinhos - VOTO Nº 1467 (FLS.4/6)

5 Privado, J. 12/05/2015). (g.n.) EXECUÇÃO Cédula de crédito bancário Exibição de cópia digitalizada Inadmissibilidade - Título que possui natureza cambiariforme e pode ser transferido mediante endosso em preto Necessidade de exibição da cédula original - Inteligência do art. 28 da Lei / Recurso desprovido (AI nº , Rel. Des. Álvaro Torres Júnior, 20ª Câmara de Direito Privado, J. 29/06/2015). ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO CONVERSÃO EM EXECUÇÃO DETERMINAÇÃO JUDICIAL PARA A JUNTADA DO TÍTULO ORIGINAL PROVIDÊNCIA INDISPENSÁVEL EM FACE DO PRINCÍPIO DA CARTULARIDADE (ART. 29, 1º, LEI /04) RECURSO DESPROVIDO (AI nº , Rel. Des. Renato Sartorelli, 26ª Câmara de Direito Privado, J ). Deste entendimento não discrepa esta 29ª Câmara de Direito Privado: Alienação fiduciária. Busca e apreensão. Cédula de crédito bancário. Determinação pelo MM. Juízo a quo de juntada da via original do título. Admissibilidade. Título de crédito sujeito à legislação cambial e passível de endosso, nos termos dos arts. 26, caput, 29, 1º e 3º, e 44, todos da Lei nº /2004. Circunstância por si justificadora da exigência, em tese somente aplicável quando presente a possibilidade de circulação do título. Irrelevância de voltar-se a demanda ao exercício da garantia, não à cobrança do crédito propriamente dito, pois pactuada a alienação fiduciária na própria Cédula (arts. 2º, caput, e 32, da Lei nº /2004) e a rigor passível de transmissão juntamente com ela, como acessório da obrigação. Decisão agravada que se confirma. Agravo de instrumento da autora não provido (AI nº , Rel. Des. Fabio Tabosa, J. 05/11/2014). Segue excerto da supracitada decisão: (...) Segundo a moderna teoria em torno da natureza dos títulos executivos, não correspondem eles ao documento, fisicamente considerado, em que consubstanciada a obrigação, residindo sua eficácia executiva, na esteira da doutrina de Liebman, sobretudo no conteúdo respectivo daí assomar como relevante o ato jurídico revestido dessa eficácia, ainda que documentado, não o documento considerado em sua individualidade. E, nesse sentido, é pacífica a jurisprudência quanto à possibilidade de aparelhamento da tutela executiva com base em cópia do título executivo (normalmente um contrato). A exceção todavia mencionada por essa mesma jurisprudência diz respeito aos títulos cambiais, em relação aos quais vige a ideia de cartularidade. Por conta dessa, e da possibilidade de circulação, que faz com que o titular do crédito ali Agravo de Instrumento nº Valinhos - VOTO Nº 1467 (FLS.5/6)

6 representado seja o portador atual da cambial, não se coaduna com a disciplina correspondente possa uma execução ser movida por possuidor de simples cópia, circunstância que não permite a verificação da titularidade efetiva da cambial no momento presente. Nesses casos, portanto, necessário o original. E, por idêntica razão, cabível a exigência também em busca e apreensão como a presente. É irrelevante, bom que se diga, a circunstância de, aqui, não se buscar fazer valer o crédito objeto da obrigação cambial, mas apenas e tão somente fazer valer a garantia. Isso porque, podendo a alienação fiduciária vir pactuada (e de fato vindo no caso concreto) no corpo da própria Cédula (arts. 27, caput, e 32 da Lei nº /2004), e sendo a garantia cedular transmissível juntamente com o título, retornasse aqui ao mesmo problema da demonstração da titularidade de ambos para justificar o exercício da pretensão de retomada do bem. Ante todo o exposto, de rigor a manutenção da decisão recorrida. Com tais considerações, pelo meu voto, nego provimento ao recurso. Themístocles NETO BARBOSA FERREIRA Relator Agravo de Instrumento nº Valinhos - VOTO Nº 1467 (FLS.6/6)