V Jornada das Licenciaturas da USP/IX Semana da Licenciatura em Ciências Exatas - SeLic: A Universidade Pública na Formação de Professores: ensino,
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- André Prada de Santarém
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1 O CONCEITO DE NÚMERO E A DEFICIÊNCIA INTELECTUAL Raiza Cristina Sorrini Medeiros, Ana Paula Irineu, Andréia Rodrigues da Rocha, Daniela Gratner Schuck, Maycon Roberto Caiado, 1 Bárbara Corominas Valério (Orientadora) 2 Universidade de São Paulo Instituto de Matemática e Estatística Eixo 2: Ciências Exatas e da Terra RESUMO Com as recentes políticas de inclusão escolar dos alunos com deficiência na rede pública de ensino, a necessidade de professores mais bem preparados para lidar com este público tornou-se imprescindível. Entretanto, a formação docente nas universidades ainda não consegue proporcionar o conhecimento desejável para atender de forma mais eficaz estes alunos. Neste contexto, surgiu o projeto na E.M.E.F. Desembargador Amorim Lima, com o objetivo de assistir os alunos com deficiência intelectual da escola e intervir sistematicamente para obtenção de avanços palpáveis no desenvolvimento matemático dos mesmos. A partir das observações iniciais do cotidiano dos alunos e da aplicação de atividades diagnósticas, verificou-se que o projeto de ensino deveria iniciar-se pelos elementos anteriores ao conceito de número, pois os alunos em questão não haviam internalizado o seu significado. Assim, foram elaboradas atividades envolvendo as habilidades de correspondência, comparação, classificação, sequenciação, seriação, inclusão, conservação e quantificação, as quais são essenciais para o entendimento pleno do signo numérico e estão em fase de aplicação. INTRODUÇÃO A E.M.E.F. Desembargador Amorim Lima, localizada na zona oeste da cidade de São Paulo, atende crianças e adolescentes da Vila Indiana e de seus arredores. São cerca de 800 alunos e aproximadamente 1,5% deles apresentam deficiência intelectual. A dificuldade na oralidade, na expressão gráfica e corporal, no brincar de faz-deconta, na imitação e na expressão do pensamento, são características que aparecem em crianças com prejuízos físicos e/ou intelectuais. Tais dificuldades provém de defasagens na construção de relações anteriores e tornam as relações lógicas mais complexas custosas de serem compreendidas. O desenvolvimento cognitivo se inicia nas primeiras ações do indivíduo e toda a base 1 Licenciandos do Instituto de Matemática e Estatística IME USP, bolsistas CAPES ( PIBID - USP). 2 Professora Doutora do Departamento de Matemática IME USP, bolsistas CAPES (PIBID USP).
2 da construção dos conceitos de tempo, espaço, relações causais, abstração, percepção, formas de expressão dos sentimentos e desejos, etc., está entre o nascimento e aproximadamente os dois anos de idade (período em que se inicia a verbalização das ideias e sistematização do pensamento). O número é uma construção vinda de um conjunto de relações interiorizadas e de fato compreendidas pelo indivíduo; é algo feito pela mente e não presente nos objetos. Para o entendimento do número e de suas propriedades é imprescindível que o conhecimento que se adquire anteriormente, no dia a dia, como antes/depois, menor/maior, grande/pequeno existam e estejam interiorizadas pelo sujeito. Somente após a construção do número o sujeito será capaz de lidar com eles e realizar operações. Portanto, como as deficiências físicas e intelectuais influenciam no processo de desenvolvimento cognitivo, irão influenciar, consequentemente, na construção do número. Em vista disso, este projeto tem o objetivo de possibilitar o maior desenvolvimento dos alunos com deficiência intelectual da escola, os quais possuem defasagens escolares, limitações, ritmos e potenciais de aprendizagem diversificados, além de auxiliar os docentes no atendimento destes, por meio da aplicação de atividades específicas e elaboração de materiais pedagógicos que colaborarão para o ensino destes e dos demais alunos da escola. MATERIAIS E MÉTODOS Na primeira parte do projeto, iniciada no primeiro semestre de 2014, os licenciandos acompanharam o dia a dia dos alunos, sem interferir na dinâmica de sala de aula ou em suas outras atividades, apenas observando a interação destes alunos com os colegas de turma e a natureza de sua participação no cotidiano da escola. Tudo foi registrado em relatórios semanais, os quais eram compartilhados entre todos os licenciandos envolvidos, a supervisora na escola e a coordenadora do projeto na universidade. Realizou-se a leitura dos prontuários escolares dos alunos, o diálogo com seus professores tutores específicos ( no Amorim Lima cada aluno possui um professor que acompanha a realização das atividades pedidas e seu desenvolvimento como um todo), além do estudo do Autismo e das síndromes de Down, de Williams e Doose, e também de alguns textos referentes à Educação Especial, deficiência intelectual e inclusão escolar. A partir destes estudos e das primeiras impressões obtidas, foram preparadas atividades para um diagnóstico inicial e mais preciso do nível de conhecimento matemático dos alunos. Com isso, pode-se verificar que a maioria deles necessitaria de um trabalho
3 voltado para elementos anteriores à aquisição do signo numérico e em seguida, estudou-se como se efetivava a construção deste conceito. Assim, foram desenvolvidas atividades com o foco nas habilidades de efetuar Correspondência (permite perceber em conjuntos de elementos diferentes, a mesma quantidade de componentes); Comparação (importante para compreender a ordenação dos números, e também permite a compreensão para classificar, seriar, incluir e para a conservação); Classificação (envolve a separação de conjuntos maiores em conjuntos menores levando em consideração algum critério); Sequenciação (importante para entender, em específico, o sistema de numeração e a sequência numérica); Seriação (importante para a compreensão da linha numérica); Inclusão (para se desenvolver a capacidade de quantificar objetos é necessário que a criança os coloque em uma relação de inclusão, ou seja, que consiga incluir mentalmente, por exemplo, um em dois, dois em três ); Conservação (entender que o número de um conjunto de objetos só pode ser mudada se lhe é acrescentado ou tirado algum elemento) e Quantificação de objetos (atribuir valores numéricos a coleções de objetos, relacionando corretamente o símbolo do número com a quantidade de elementos que constituem determinada coleção). Além disso, elaborou-se atividades complementares sobre sentimentos, trabalho com o tangran e manipulação de dinheiro, as quais serão aplicadas de acordo com o desenvolvimento do aluno. O processo que leva ao domínio do conceito de número não é o mesmo para todos os indivíduos. Sendo portadora de alguma deficiência ou não, cada pessoa tem suas peculiaridades, suas preferências e um tempo de assimilação diferenciado. Na elaboração das atividades levou-se isto em consideração; pensou-se em cada aluno, em seus interesses e necessidades individuais. Utilizou-se a manipulação de objetos concretos em jogos, atividades escritas e corporais, estas, voltadas para a integração, coordenação motora e trabalho dos conceitos em outro ambiente. A segunda parte, em andamento e iniciada no segundo semestre de 2014, consiste na aplicação das atividades desenvolvidas de forma que sejam trabalhadas concomitantemente diversas habilidades, redação de relatórios, possíveis adaptações e reestruturações das atividades aplicadas, de acordo com as especificidades de cada aluno. São atendidos quatro alunos do Ensino Fundamental I, com idades entre 8 e 13 anos, e quatro alunos do ensino Fundamental II com idades entre 13 e 21 anos. Cada aluno é acompanhado semanalmente por um licenciando. Todos os alunos farão as cinco atividades específicas desenvolvidas sobre cada conceito e outras atividades aplicar-se-ão de acordo com o desenvolvimento pessoal. A princípio, seguir-se-á o seguinte cronograma:
4 em agosto, correspondência e comparação; em setembro, classificação e sequenciação, em outubro, seriação e inclusão ; em novembro, conservação e quantificação. A seguir damos um exemplo de atividade desenvolvida. Atividade de Classificação: Fazer agrupamentos de objetos que o aluno utiliza na escola, em casa e em outros ambientes. Primeiramente deve-se conversar com o aluno sobre, dentre os objetos da atividade, o que ele utiliza na escola, em casa e orientá-lo a fazer a classificação das figuras contidas em cartões (exemplo de cartões abaixo). RESULTADOS E DISCUSSÕES O projeto revelou-se num grande desafio para os licenciandos, assim como para a supervisora do projeto na escola. Além da experiência de conhecer estes alunos, o seu ambiente escolar, suas necessidades, suas capacidades e limitações, estudaram-se síndromes relacionadas a deficiência intelectual, as etapas para a construção do conceito de número e a inclusão escolar. Os principais desafios estão presentes nestes dois últimos tópicos, visto que, raramente os cursos de licenciatura em Matemática englobam disciplinas que tratam de tais temas, sendo estes mais explorados em disciplinas da grade de Pedagogia. Em relação aos alunos assistidos, verificou-se uma pequena melhora em seu
5 raciocínio lógico-matemático, evidenciado pelo bom desempenho nas atividades iniciais de correspondência e comparação, após algumas aplicações das mesmas. Isto mostra que se forem instigados e acompanhados adequadamente, estes alunos, podem romper barreiras de aprendizagem, interagir com os colegas e com o ambiente, mesmo que num passo mais lento do que os demais. IMPLICAÇÕES O acompanhamento dos alunos com deficiência intelectual desfez possíveis estereótipos, mostrando que estes alunos, apesar de suas limitações, são capazes de aprender e se desenvolver educacional e socialmente. A familiarização com conceitos elementares da aquisição do signo numérico, aumentou o repertório teórico didático dos licenciandos. Desse modo, este trabalho apresentou um caminho para intervenções mais eficazes no desenvolvimento dos alunos com uma defasagem escolar muito grande em relação ao restante da turma, visto que os conceitos que envolvem o projeto eram desconhecidos para os graduandos, apesar de serem primordiais ao conhecimento do significado de número. Em vista disso, apesar do projeto estar em fase de aplicação e ter ainda poucos resultados no que tange à elevação do nível de conhecimento matemático dos alunos assistidos, tem um grande potencial, pois ao mesmo tempo que pretende promover um avanço no desenvolvimento escolar destes alunos, estimula a pesquisa e a troca de conhecimento entre os integrantes do projeto e apresenta a matemática sob um prisma diferente, alertando também para a necessidade de mudança na formação docente e na política de inclusão dos alunos especiais na rede pública de ensino. REFERÊNCIAS KAMI, Constance. A criança e o número: implicações educacionais da teoria de Piaget para a atuação junto a escolares de 4 a 6 anos. 18 a. Edição. Campinas, SP: Papirus, MANTOAN, Maria Teresa Eglér. Ser ou estar, eis a questão: uma tentativa de explicar o que significa o déficit intelectual. Revista Pro-posições: editoria da Faculdade de Educação da Unicamp. Volume 5, número 2 (14). Disponível em: NOGUEIRA, Clélia Maria Ignatius. Pesquisas atuais sobre a construção do conceito de número: para além de Piaget?. Disponível em: WERNER, Hilda Maria Leite. O processo da construção do número, o lúdico e TIC's como recursos metodológicos para criança com deficiência intelectual. Paraná, Disponível em:
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