TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO CUJUS. MANIFESTA DISPARIDADE COM A REALIDADE.

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1 Certificado digitalmente por: FERNANDO PAULINO DA SILVA WOLFF FILHO PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA ESTADO DO PARANÁ Apelação Cível n.º , da 4ª Vara Cível do Foro Central da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba. Apelante : Lindalice Nunes da Silva Dalnegro. Apelada : Construclass Incorporadora de Imóveis Ltda. Relator : Des. Fernando Paulino da Silva Wolff Filho. AÇÃO ANULATÓRIA. CONTRATOS DE COMPRA E VENDA DE IMÓVEIS, POR ESCRITURA PÚBLICA. CELEBRAÇÃO EM AUSÊNCIA DE OUTORGA UXÓRIA. DESQUITE DO CASAL EM EFICÁCIA. DISSOLUÇÃO DA COMUNHÃO PATRIMONIAL ENTRE OS CÔNJUGES. LEGISLAÇÃO EM VIGOR À ÉPOCA. ART. 322 DO CCB/16. O DESQUITE PUNHA FIM AO REGIME DE BENS, AINDA QUE NÃO PUSESSE FIM AO MATRIMÔNIO EM SI. OUTORGA MARITAL INCLUÍDA NO REGIME PATRIMONIAL DO MATRIMÔNIO. LIMITAÇÃO À ALIENAÇÃO DE BENS IMÓVEIS DE PROPRIEDADE EXCLUSIVA POR PESSOAS CASADAS. ART. 235, I, DO CCB/16, EQUIVALENTE AOS ARTS E DO CCB/02. NEGÓCIOS JURÍDICOS CELEBRADOS QUASE CINQUENTA ANOS APÓS O DESQUITE. AUSÊNCIA DE NULIDADE OU ANULABILIDADE. AUTENTICIDADE DA SENTENÇA E AVERBAÇÃO DE DESQUITE. CERTIDÃO DE CASAMENTO COM AVERBAÇÃO DE DESQUITE. INFORMAÇÃO PRESTADA PELO REGISTRO CIVIL DE PESSOAS FÍSICAS. FÉ PÚBLICA. CÓPIA INTEGRAL DA CARTA PRECATÓRIA QUE REQUISITOU A AVERBAÇÃO DO DESQUITE, FORNECIDA PELO CARTÓRIO EXTRAJUDICIAL. CERTIDÃO DE INTEIRO TEOR DA SENTENÇA DE DESQUITE. INSUBSISTÊNCIA DOS INDÍCIOS DE FALSIDADE. CERTIDÕES NEGATIVAS DE AÇÕES EM NOME DO DE CUJUS. MANIFESTA DISPARIDADE COM A REALIDADE. Página 1 de 12

2 AÇÃO DE DESQUITE Nº 597/71. DEMANDA TRANSITADA EM JULGADO MAIS DE 20 ANOS ANTES DA EXPEDIÇÃO DAS CERTIDÕES. CERTIDÃO DA CORREGEDORIA-GERAL DO TJPR, DANDO CONTA DE QUE A VARA NA QUAL PROFERIDA A SENTENÇA DE DESQUITE SÓ FOI CRIADA ANOS DEPOIS (EM 1975). AFIRMAÇÃO MANIFESTAMENTE INCORRETA. ARTS. 69 E 71 DA LEI ESTADUAL Nº 5.809/68. CRIAÇÃO DA 12ª VARA CÍVEL DE CURITIBA EM ÓRGÃO JURISDICIONAL COM COMPETÊNCIA ESPECÍFICA PARA JULGAMENTO DE AÇÕES DE DESQUITE. RESOLUÇÃO NORMATIVA Nº 01/70 DO TJPR. HISTÓRICO FUNCIONAL DO MAGISTRADO PROLATOR DA SENTENÇA DE DESQUITE. LOTAÇÃO NA 12ª VARA CÍVEL DE CURITIBA ENTRE 1968 E RECONHECIMENTO DA INAUTENTICIDADE DA AVERBAÇÃO DO DESQUITE EM OUTRA AÇÃO. FATO LÁ ENFRENTADO ENQUANTO QUESTÃO PREJUDICIAL. AUSÊNCIA DE IMUTABILIDADE, POIS NÃO ACOBERTADO PELA COISA JULGADA (ART. 469 DO CPC/73). POSSIBILIDADE DE REEXAME E VALORAÇÃO EM SENTIDO CONTRÁRIO NA PRESENTE DEMANDA. APELAÇÃO DESPROVIDA. Vistos, etc. Trata-se de apelação interposta contra a sentença constante no evento , que, em sede de ação de nulidade de ato jurídico, julgou improcedente o pedido, condenando a autora ao pagamento das custas 1 Proferida pelo Juiz de Direito José Eduardo de Mello Leitão Salmon. Página 2 de 12 2

3 PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA ESTADO DO PARANÁ processuais e dos honorários advocatícios, fixados em R$ 1.500,00 (mil e quinhentos reais). Interpostos embargos de declaração pela autora (evento 250.1), foram eles rejeitados (evento 260.1). Inconformada, recorre a autora, alegando, em síntese, que: a) existe sentença transitada em julgado, proferida pela 25ª Vara Cível de Curitiba, reconhecendo que a autora e o de cujus (Antônio Garcia Dalnegro) foram legalmente casados entre e (data de seu falecimento); b) a 12ª Vara Cível de Curitiba, de onde seria proveniente a sentença proferida em de desquite entre a autora e o de cujus, somente foi criada em 1975 e instalada em 1978, sendo impossível que tal decisão tenha sido proferida por esse órgão jurisdicional; c) tanto é assim que, conforme certidão do 2º Ofício Distribuidor de Curitiba, emitida em , não consta que nenhuma ação tramitou em relação a Antônio Garcia Dalnegro (de cujus); d) a mesma inexistência de ações foi certificada pela 12ª Vara Cível, no evento 1.6; e) não houve o desquite do casal, razão pela qual o casamento permaneceu hígido até o falecimento do cônjuge varão; f) o desquite (separação judicial) significava apenas a separação de corpos e de bens, sem colocar fim ao vínculo conjugal, para o que era eficaz apenas o divórcio; g) mesmo que tivesse havido o referido desquite, a outorga uxória não estaria dispensada, pois mesmo após a autora e o de cujus continuaram casados, já que o vínculo conjugal somente seria desfeito com o divórcio; h) o negócio em discussão foi celebrado diretamente entre o de cujus e a ré, não envolvendo terceiros de boa-fé. Recebidos os recursos no duplo efeito (evento 272.1), a ré, ora apelada, apresentou suas contrarrazões (eventos 280.1). Por fim, intimadas as partes para que se manifestassem a respeito de determinadas questões não ventiladas anteriormente, em obediência ao art. 10 do CPC/15 (fl. 10-TJ), apenas a ré/apelada ofereceu Página 3 de 12

4 manifestação (fls. 17/20-TJ), quedando-se inerte a apelante (fl. 20v-TJ). É o relatório. Voto I Conforme se verifica da leitura dos autos, o litígio diz respeito à necessidade de outorga uxória para a celebração válida dos contratos de compra e venda de imóveis entre seu falecido esposo (Antônio Garcia Dalnegro) e a ré (evento 109.2) e, por consequência, a anulabilidade dos negócios jurídicos, nos termos dos arts e do CCB. II Ocorre, no entanto, que a autora e o de cujus vendedor já estavam desquitados há mais de 45 (quarenta e cinco) anos em 2009, ano em que foram celebradas as escrituras públicas de compra e venda entre o de cujus e a ré, conforme comprova a certidão de casamento dos dois (evento 1.4). Ora, na certidão de casamento de Antônio Garcia Dalnegro e Lindalice Nunes da Silva (celebrado em , evento 1.4) consta a averbação do desquite do casal por força da sentença proferida nos autos nº 597/71, no âmbito da 12ª Vara Cível de Curitiba, pelo Juiz de Direito Frederico Mattos Guedes, realizada em em cumprimento à carta precatória nº 201/72 cujo teor integral consta no evento Por oportuno, cumpre lembrar que no regime do Código Civil de 1916 vigente à época em que foi proferida a sentença de desquite (nos anos de 1971 e 1972), antes da Lei do Divórcio (Lei nº 6.515/77), o desquite, em que pese não tivesse o condão de dissolver o casamento em si, punha fim ao regime matrimonial de bens entre os cônjuges, libertando-os das limitações patrimoniais decorrentes do casamento. Tal conclusão era retirada imediatamente do art. 322 do Página 4 de 12 4

5 PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA ESTADO DO PARANÁ CCB/1916: Art A sentença do desquite autoriza a separação dos conjugues, e põe termo ao regime matrimonial dos bens, como se o casamento fosse anulado (art. 267, n. III). Sendo assim, uma vez desquitados os cônjuges, entre eles não existiria mais a comunhão de bens (parcial ou universal) outrora decorrente do vínculo matrimonial, ainda que, formalmente, os cônjuges desquitados permanecessem casados e, como tal, permanecessem, em razão de seu estado civil, impossibilitados de casar com outras pessoas. Consequentemente, a outorga conjugal uxória no caso de assentimento da esposa e marital no caso de concordância do esposo (prevista no art. 235, I, do CCB/16, equivalente ao art , I, do CCB/02), por estar compreendida no regime patrimonial do matrimônio, já que diz respeito à legitimação dos cônjuges para alienar seus bens de propriedade exclusiva, somente era exigível durante a constância da comunhão de bens entre os cônjuges, não mais o sendo a partir do momento em que dissolvida a comunhão patrimonial entre os cônjuges pelo desquite. Nesse sentido, era a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal à época, a contrario sensu: AINDA QUE SEPARADA, DE FATO, HÁ CERCA DE TRINTA ANOS, E DESFEITO O LAR CONJUGAL, CONSERVA A MULHER O DIREITO DE IMPUGNAR A VENDA DE IMÓVEL FEITA PELO MARIDO, SEM A OUTORGA UXORIA, DESDE QUE NÃO HAJA SIDO DECRETADO O DESQUITE DO CASAL. (RE 28527, Relator(a): Min. MÁRIO GUIMARÃES - CONVOCADO, Primeira Turma, julgado em 11/07/1955, Página 5 de 12

6 DJ ) Em suma, após o desquite (por sentença) do casal, não há mais que se falar em exigência de outorga conjugal/uxória para a alienação dos bens imóveis de propriedade exclusiva de um deles e, muito menos, em nulidade ou anulabilidade dos negócios jurídicos celebrados sem ela. Quanto mais se, como no caso concreto, os bens particulares do cônjuge varão não só foram alienados muito tempo após o desquite quase cinquenta anos depois, como também foram adquiridos pelo de cujus anos após a sentença do desquite (em 1977 e 1978). III Sobre a autenticidade da sentença de desquite averbada na certidão de casamento da autora e do de cujus (autos nº 597/71), a seu turno, para além da presunção de veracidade decorrente da certidão de casamento, é certo que restou comprovado nestes autos a veracidade de tal documento, afastando-se os indícios em sentido contrário trazidos pela autora. Com efeito, além da averbação do desquite possuir em si presunção de veracidade justamente por constar em documento público emitido com base nos dados do cartório de registro civil das pessoas naturais de Paranaguá/PR, consta nos autos informação da escrevente da referida serventia extrajudicial, dando conta de que a averbação do desquite da autora e de seu falecido marido na certidão de casamento ocorreu em , em cumprimento à ordem judicial oriunda da 12ª Vara Cível da Comarca de Curitiba, no autos nº 597/71, cujas declarações gozam de fé pública (evento 185.1). Além disso, foi juntado aos autos, em resposta ao ofício direcionado ao oficial do registro civil de pessoas físicas de Paranaguá, a cópia integral da carta precatória nº 201/72 (evento 185.1), por meio da qual o juízo da 12ª Vara Cível de Curitiba requisitou o auxílio do juízo da Comarca de Paranaguá para que determinasse a expedição de mandado de averbação de desquite ao cartório extrajudicial de Alexandra, acompanhada de certidão de inteiro teor da Página 6 de 12 6

7 PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA ESTADO DO PARANÁ sentença de desquite nº 597/71, proferida pelo Dr. Frederico Mattos Guedes no âmbito da 12ª Vara Cível de Curitiba. De outro lado, devem ser afastadas as alegações de falsidade da sentença de desquite, visto que esses indícios de invalidade, mesmo que consubstanciados em documentos públicos, não subsistem a uma análise mais profunda. No que toca à certidão negativa expedida pela 12ª Vara Cível atestando a inexistência de ações em nome do de cujus (Antônio Garcia Dalnegro), datada de (evento 1.6), é manifesta a incorreção da informação certificada, ante o inteiro teor da carta precatória nº 201/72, aludido acima. Ademais, não há como se ignorar que, ainda que não conste expressamente nada a respeito do período pretérito examinado pelo servidor para sua expedição, certidões da espécie possuem uma limitação temporal, não alcançando, como regra, demandas encerradas mais de 20 anos antes de sua elaboração razão pela qual a certidão em questão jamais faria menção à ação de desquite nº 597/71, transitada em julgado em 1972 (o que, inclusive, pode explicar a disparidade de informações). O mesmo raciocínio deve ser aplicado à certidão negativa expedida pelo 2º Ofício Distribuidor de Curitiba (evento 1.7), emitida em , com o acréscimo de que, nesta certidão, há expressa menção ao fato de que a inexistência de ações nas quais conste o nome do de cujus é restrita ao período compreendido entre e Por fim, devem ser afastadas as informações constantes na certidão expedida pela Corregedoria-Geral da Justiça deste TJPR (evento 26.2) a qual atesta que a 12ª Vara Cível da Comarca de Curitiba somente fora criada em , pela Resolução Normativa do TJPR nº 01/75 e pela Lei Estadual nº 6.767/75 e instalada em , já que essas informações também não refletem a realidade, conforme outros elementos, narrados a seguir, demonstram. Página 7 de 12

8 Ao contrário do certificado, a 12ª Vara Cível de Curitiba já existia em 1971, visto que a Lei Estadual nº 5.809/68, que dispunha sobre a organização e divisão judiciárias do Estado do Paraná, expressamente a previu dentre as varas da Comarca de Curitiba. Os órgãos jurisdicionais, assim como todos os órgãos públicos, são criados por lei do respectivo ente federativo, de modo que, uma vez promulgada a Lei Estadual nº 5.809/68, criada estava a 12ª Vara Cível de Curitiba, sendo evidente a incorreção das informações constantes na referida certidão, razão pela qual não há como se tomar essa certidão da Corregedoria-Geral da Justiça como apta a demonstrar a falsidade da sentença de desquite supramencionada. Aliado a isso, deve-se ver que, dentre as demandas de competência da 12ª Vara Cível de Curitiba, a citada lei estadual estabeleceu o julgamento das ações de desquite, circunstância que reforça a autenticidade da sentença de desquite proferida nos autos nº 597/11 por este órgão jurisdicional e depõe contra a certidão acima referida. aqui interessa: Confira-se o teor da Lei Estadual nº 5.809/68, no que Art. 69. Na Comarca de Curitiba, a distribuição entre os juízes de direito será a seguinte: I - 1ª - 2ª - 3ª - 4ª - 5ª - 6ª - 7ª e 8ª Varas Criminais; II - 1ª - 2ª - 3ª - 4ª - 5ª - 6ª - 7ª - 8ª - 9ª - 10ª - 11ª - 12ª - 13ª - 14ª - 15ª - 16ª e 17ª Varas Cíveis; III - Vara de Menores; IV - 1º - 2º - 3º - 4º - 5º e 6º Juízes Substitutos de primeira instância. Página 8 de 12 8

9 PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA ESTADO DO PARANÁ Art. 71. Às Varas Cíveis, de 1ª a 9ª, compete, por distribuição, o conhecimento, processo e julgamento de toda a matéria cível e comercial, ressalvada a competência das varas especializadas. (...) 3º. Às 12ª e 13ª Varas Cíveis compete, por distribuição: a) processar e julgar as ações de nulidade e anulação de casamento e de desquite, as relativas ao estado civil das pessoas, as fundadas diretamente em direitos e deveres entre os cônjuges e entre pais e filhos, as relativas à filiação e ao reconhecimento de filhos, cumuladas, ou não, com petição de herança e as concernentes ao regime de bens no casamento; A mesma disciplina, inclusive, foi repetida na Resolução Normativa nº 01/1970 (publicada no DIOE nº 4, de ) do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, expedida com base no art. 144, 5º, da CF/1967, com a redação dada pela EC nº 01/1969, na qual há menção expressa à 12ª Vara Cível de Curitiba, com a manutenção da competência exposta anteriormente: Art. 67. Na Comarca de Curitiba, a distribuição entre os juízes de direito será a seguinte: I - 1ª - 2ª - 3ª - 4ª - 5ª - 6ª - 7ª e 8ª Varas Criminais; II - 1ª - 2ª - 3ª - 4ª - 5ª - 6ª - 7ª - 8ª - 9ª - 10ª - 11ª - 12ª - 13ª - 14ª - 15ª - 16ª e 17ª Varas Cíveis; III - Vara de Menores; IV - 1º - 2º - 3º - 4º - 5º e 6º Juízes Substitutos de 1ª Instância. Art. 72. Às Varas Cíveis, de 1ª à 11ª, compete, por distribuição, o conhecimento, processo e julgamento de toda a matéria cível e comercial, ressalvada a Página 9 de 12

10 competência das Varas especializadas. 1º. Às 12ª e 13ª Varas Cíveis compete, por distribuição: a) processar e julgar as ações de nulidade e anulação de casamento e desquite, as relativas ao estado civil das pessoas; as fundadas diretamente em direitos e deveres entre os cônjuges, pais e filhos; as relativas à filiação e ao reconhecimento de filhos, cumuladas ou não com petição de herança e as concernentes ao regime de bens do casamento; Ademais, e para que não restem quaisquer dúvidas, deve-se ver que, conforme o histórico funcional do agora Desembargador aposentado Frederico Mattos Guedes (à época Juiz de Direito e que prolatou a sentença de desquite nos autos nº 597/71) extraído do sistema Nemesis (fl. 12-TJ) por meio de consulta realizada pelo Departamento da Magistratura deste Tribunal de Justiça, a pedido deste relator e sobre a qual foi concedida oportunidade para que as partes se manifestassem (fl. 10-TJ), no período que aqui interessa, comprova, sem sombra de dúvidas, que ele, o juiz prolator da sentença, encontrava-se lotado na 12ª Vara Cível de Curitiba no momento da sua prolação (1971 ou 1972). Ora, se o magistrado em questão assumiu o cargo de Juiz de Direito junto à 12ª Vara Cível de Curitiba em e foi removido a pedido para outra vara cível da capital apenas em , é incontroverso que a 12ª Vara Cível existia e estava em funcionamento desde 1968 e, logo, que no momento da prolação da sentença de desquite nos autos nº 597/71 (compreendido entre os anos de 1971 e 1972) esta unidade jurisdicional já estava instalada e tinha como seu titular o Juiz de Direito Frederico Mattos Guedes. Por todas essas circunstâncias, é certo que a sentença proferida na ação de desquite nº 597/71 e averbada em sua certidão de casamento é autêntica, de modo que desde 1972 a autora e o de cujus estão Página 10 de 12 10

11 PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA ESTADO DO PARANÁ desquitados e, portanto, desnecessária a outorga uxória para as alienações de imóveis celebradas por ele no ano de 2009, pelo que inexistente qualquer invalidade nas escrituras públicas de compra e venda celebradas entre ele e a ré. IV Por fim, resta afastar as alegações de que existe sentença transitada em julgado, proferida pela 25ª Vara Cível de Curitiba, reconhecendo que a autora e o de cujus (Antônio Garcia Dalnegro) foram legalmente casados entre e (data de seu falecimento). Conforme se verifica da leitura da sentença proferida naqueles autos (evento 79.1 dos autos nº ), o reconhecimento da inautenticidade da sentença/averbação de desquite entre a autora e o de cujus e a consequente manutenção da comunhão patrimonial entre eles até o falecimento deste, se deu na qualidade de questão prejudicial, de enfrentamento necessário para que se pudesse resolver o pedido (de anulação de outro contrato de compra e venda celebrado por Antônio Garcia Dalnegro e terceiros). Desse modo, por força da disciplina relativa à coisa julgada do CPC/73, especialmente o art. 469 vigente à época da prolação daquela sentença, o reconhecimento da invalidade da averbação do desquite e da consequente continuidade da comunhão patrimonial entre os cônjuges enquanto questão prejudicial naquele outro feito não é acobertado pela imutabilidade da coisa julgada, de modo que possível sua reapreciação neste feito (também na qualidade de questão prejudicial), mesmo que se decida em sentido contrário ao lá decidido. Além disso, há de se ver que os argumentos utilizados pela sentença produzida nos autos nº (que se baseou, exclusivamente, na mesma certidão negativa expedida pela 12ª Vara Cível de Curitiba, constante no evento 1.6) já foram amplamente enfrentados e afastados nos tópicos anteriores, razão pela qual deve ser mantida a Página 11 de 12

12 improcedência dos pedidos já decidida pela sentença ora recorrida. apelação. Posto isso, voto no sentido de NEGAR PROVIMENTO à Dispositivo Acordam os integrantes da Décima Sétima Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em negar provimento à apelação, nos termos do voto do Relator. Participaram do julgamento o Des. Lauri Caetano da Silva (Presidente) e a Desª. Rosana Amara Girardi Fachin. Oportunamente, encaminhe-se cópia deste acórdão à Corregedoria-Geral de Justiça, para que o Desembargador Corregedor, se entender cabível, tome as providências adequadas, especialmente no que toca à certidão constante no evento Curitiba, 15 de fevereiro de Des. Fernando Paulino da Silva Wolff Filho Relator. Página 12 de 12 12