Impurezas magnéticas em ferromagnetos de Ising com campo transverso
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- Marcelo Santarém Álvaro
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1 Universidade Federal do Ceará Centro de Ciências Exatas e da Natureza Departamento de Física Curso de Pós-Graduação em Física Impurezas magnéticas em ferromagnetos de Ising com campo transverso Raimundo Valmir Leite Filho Tese de Doutorado Fortaleza 20 de Abril de 2005
2 Universidade Federal do Ceará Centro de Ciências Exatas e da Natureza Departamento de Física Curso de Pós-Graduação em Física Raimundo Valmir Leite Filho Impurezas magnéticas em ferromagnetos de Ising com campo transverso Tese apresentada ao Curso de Pós- Graduação em Física da Universidade Federal do Ceará como parte dos requisitos para a obtenção do título de Doutor em Física. Orientador: Prof. Dr. Raimundo Nogueira da Costa Filho Fortaleza 20 de Abril de 2005
3 Raimundo Valmir Leite Filho Impurezas magnéticas em ferromagnetos de Ising com campo transverso Tese apresentada ao Curso de Pós- Graduação em Física da Universidade Federal do Ceará como parte dos requisitos para a obtenção do título de Doutor em Física. Prof. Dr. Raimundo Nogueira da Costa Filho Prof. Orientador Universidade Federal do Ceará Prof. Dr. João Milton Pereira Junior Universidade Federal do Ceará Prof. Dr. Nilson Sena de Almeida Universidade Federal do Ceará Prof. Dr. Uriel Medeiros de Souza Costa Fundação Universidade Estadual de Alagoas Prof. Dr. Eudenilson Lins de Albuquerque Universidade Federal do Rio Grande do Norte Aprovada em 20 de Abril de 2005.
4 Ao Lucas
5 Agradecimentos Ao Prof. Dr. Raimundo Nogueira da Costa Filho, pela orientação. Ao Prof. Dr. João Milton Pereira Júnior, pela grande colaboração. Aos Profs. Dr. Josué Mendes Filho e Dr. José Soares Andrade Júnior, pelo empenho em prol deste departamento. Ao Prof. Raimundo Parente de Albuquerque, pelos primeiros princípios em matemática. A Aurineide, minha mãe, e meus irmãos Gean, Rosa, Jorge e João Paulo. Aos amigos Tayroni, Daniela, Luis Araripe e Neudson pela ajuda de valia inestimável. Aos estudantes George, Ana e Roberto. Aos amigos Márcio André, Alexandre Magno, Luiz Ozório e Ascânio Dias. Aos funcionários do nosso Departamento, por seus préstimos. Às agências financiadoras CNPq, CAPES e FUNCAP.
6 Resumo O formalismo de funções de Green é usado para calcular o espectro de excitações associados a impurezas magnéticas implantadas em um filme ferromagnético descrito pelo modelo de Ising com campo transverso. Através do método da equação de movimento expressões explícitas para as funções de Green são determinadas para um ferromagneto sem impurezas. A função de Green para um filme ferromagnético contendo impurezas é obtida através da equação de Dyson. O espectro de ondas de spin relativo às impurezas é obtido para freqüências abaixo do limite inferior da banda de volume para um material puro. Com o objetivo de avaliar a influência da posição das impurezas no filme no espectro de excitações, consideramos três diferentes disposições geométricas para as impurezas: linha de impurezas perpendicular à superfície do filme, quatro impurezas em um plano paralelo às superfícies e quatro impurezas em um plano perpendicular às superfícies do filme. Obtemos resultados para a freqüência dos modos localizados como função do parâmetro de troca entre duas impurezas vizinhas, do parâmetro de troca entre as impurezas e seus vizinhos e do parâmetro de campo efetivo nas impurezas.
7 Abstract A Green function formalism is used to calculate the spectrum of excitations associated with magnetic impurities implanted in a ferromagnetic thin film described by the transverse Ising model. Using the equations of motion method, explicit expressions for the Green function are determined for a ferromagnetic without impurities. The Green s functions for a ferromagnetic film containing impurities are obtained through Dyson equation. We consider only the defect modes that appear below the bulk band of the pure material. In order to assess the influence of the position of the impurities in the film on the excitations spectra, we consider three different geometrical arrangement for the impurities: impurities line perpendicular to the surface film, four impurities in a plane paralel to the surface, and four impurities in a plane perpendicular to the surfaces of the film. We obtain results for the frequencies localized modes as a function of the exchange parameter between two impurities neighborings, of the exchange parameter between the impurities and their neighborings, and the effective field parameter at the impurities.
8 Procuram-se homens para jornada arriscada. Baixa renumeração, frio cortante, longos meses de completa escuridão, perigo constante, retorno em segurança duvidoso. Honra e reconhecimento em caso de sucesso. Anúncio de jornal de Ernest Shackleton, convocando exploradores para a Antártica,1900.
9 Sumário Lista de Figuras 1 Introdução p Funções de Green em matéria condensada p Introdução p A Representação de Schrödinger p A Representação de Heisenberg p O Ensemble Gran Canônico e a Média Térmica p As Funções de Green p Dependência temporal p Equação de movimento p Funções de correlação temporal p Representação espectral e intensidade espectral p Representação espectral para as funções de Green p Impureza localizada num ferromagneto semi-infinito p O modelo de Ising p Modelo e formalismo de F.G. para um ferromagneto puro p Introdução ao modelo p As funções de Green p Representação matricial p Modos de volume e de superfície p Modelo e formalismo de F.G. para um ferromagneto contendo uma impureza p Introdução ao modelo p Representação matricial p Resultados númericos para modos de impureza p Impurezas acopladas num ferromagneto semi-infinito p Introdução p.46
10 4.2 Modelo e formalismo de F.G p Resultados numéricos p.50 5 Impurezas acopladas em um filme ferromagnético p Introdução p Modelo e formalismo de F.G. para um ferromagneto puro p Introdução ao modelo p Representação matricial p Modelo e formalismo de F.G. para um ferromagneto contendo impurezas p Resultados numéricos p Caso 1: linha de impurezas acopladas na direção do eixo z... p Caso 2: quatro impurezas no plano xz p Caso 3: quatro impurezas no plano xy p.84 6 Conclusões p. 89 Apêndice A -- Equação de Dyson p.91 Apêndice B -- Método iterativo para inversão de matrizes p.93 Apêndice C -- Matriz inversa - meio semi-infinito p.97 Apêndice D -- Matriz inversa - meio finito p.100 Apêndice E -- Função de Green - meio semi-finito p.102 Apêndice F -- Green s function for a magnetic impurity layer in a ferromagnetic Ising film with transverse field p.105 Apêndice G -- Localized magnetic excitations of coupled impurities in a transverse Ising ferromagnet p.106 Referências p. 107
11 Lista de Figuras 2.1 Contornos para os pólos da função de Green p Esquema mostrando um ferromagneto semi-infinito puro p Esquema mostrando um ferromagneto semi-infinito com uma impureza localizada p Impureza o e seus primeiros vizinhos em uma rede cúbica simples.... p Freqüência dos modos localizados versus energia de troca J /J para diferentes valores do campo h /h; linha pontilhada h = 0.55h, linha tracejada h = 0.65h e linha sólida h = 1.5h. Impureza na terceira camada (n = 3) p Freqüência dos modos localizados versus campo aplicado h /h para diferentes valores da energia de troca J /J; linha pontilhada J = 1.0J, linha tracejada J = 2.0J e linha sólida J = 3.0J. Impureza na terceira camada (n = 3) p Representação do esquema de interação para duas impurezas vizinhas em um ferromagneto de Ising com campo transverso. As impurezas (círculos pretos) estão acopladas entre si e com seus primeiros vizinhos do material puro p Representação do esquema de interação para duas impurezas vizinhas em um ferromagneto de Ising com campo transverso. As impurezas (círculos pretos) estão acopladas entre si e com seus primeiros vizinhos do material puro. Podem ser alinhadas ao longo do eixo x (a) ou do eixo z (b)... p Freqüências das ondas de spin relativas às impurezas localizadas como uma função do parâmetro de troca J o, para o caso X, com h o = h o = 0.65h e T = 2.5J/k B. Os parâmetros são J o = 1.5J e J I = 0.25J quando as duas impurezas estão na superfície (linha sólida), e J o = 2.5J, J I = 0.25J quando ambas estão na segunda camada (linha tracejada) e na terceira camada (linha pontilhada) p.52
12 4.4 Freqüências localizadas das ondas de spin em função do parâmetro de troca J o da impureza o (localizada no sítio acima da impureza o ), caso Z, com h o = h o = 0.65h e T = 2.5J/k B. Os parâmetros são J o = 2.5J e J I = 0.25J quando a impureza o está localizada na superfície (linhas sólidas), na segunda (linhas tracejadas) e terceira camada (linhas pontilhadas) p Freqüências localizadas das ondas de spin em função do parâmetro de troca J o da impureza o (localizada no sítio abaixo da impureza o), caso Z, com h o = h o = 0.65h e T = 2.5J/k B. Os parâmetros são J o = 1.5J e J I = 0.25J quando a impureza o está localizada na segunda camada (linhas sólidas), e J o = 2.5J, J I = 0.25J quando a mesma está na terceira camada (linhas tracejadas) e quarta camada (linhas pontilhadas).... p Freqüências localizadas das ondas de spin em função campo local h o em uma das impurezas, caso X. Os parâmetros são os mesmos dos gráficos anteriores. Os resultados são obtidos para ambas as impurezas na superfície (linhas sólidas), segunda (linha tracejada) e terceira camada (linhas pontilhadas) p Freqüências localizadas das ondas de spin em função campo local h o na impureza o (localizada no sítio acima da impureza o ), caso Z. Os parâmetros são os mesmos dos gráficos anteriores. Os resultados são obtidos para ambas as impurezas na superfície (linhas sólidas), segunda (linha tracejada) e terceira camada(linhas pontilhadas) p Freqüências localizadas das ondas de spin em função do parâmetro de troca J I entre as impurezas acopladas. O gráfico mostra resultados para ambos os casos, X (linha sólida) com as duas impurezas o e o na superfície e Z (linha tracejada) com a impureza o na superfície e o no sítio abaixo p Esquema de interações para um filme ferromagnético puro. o campo transverso é aplicado na direção x p Representação do esquema de interação para uma linha de impurezas vizinhas em um filme ferromagnético. As impurezas (círculos pretos) estão acopladas entre si e com seus primeiros vizinhos do material puro. p.65
13 5.3 Representação do esquema de interação para uma linha de impurezas vizinhas em um ferromagneto de Ising com campo transverso. As impurezas (círculos pretos) estão acopladas entre si e com seus vizinhos do material puro, se primeiros vizinhos p Freqüências de ondas de spin localizadas em função do parâmetro de troca J 1 entre a impureza 1 e seus vizinhos puros em um filme ferromagnético com 5 camadas. Os parâmetros de troca entre as impurezas e seus vizinhos bem como entre as impurezas foram mantidos constantes. Parâmetros no texto p Freqüências de ondas de spin localizadas em função do parâmetro de troca J 1 entre a impureza 1 e seus vizinhos puros em um filme ferromagnético com 10 camadas. Os parâmetros de troca entre as impurezas e seus vizinhos bem como entre as impurezas foram mantidos constantes. Parâmetros no texto p Freqüências de ondas de spin localizadas em função do parâmetro de troca J 2 entre a impureza 2 e seus vizinhos puros em um filme ferromagnético com 5 camadas. Os parâmetros de troca entre as impurezas e seus vizinhos bem como entre as impurezas foram mantidos constantes. Parâmetros no texto p Freqüências de ondas de spin localizadas em função do parâmetro de troca J 3 entre a impureza 3 e seus vizinhos puros em um filme ferromagnético com 5 camadas. Os parâmetros de troca entre as impurezas e seus vizinhos bem como entre as impurezas foram mantidos constantes. Parâmetros no texto p Freqüências de ondas de spin localizadas em função do campo efetivo h 1 aplicado sobre a impureza 1 para o caso de em um filme ferromagnético com 5 camadas, mantendo constante o campo sobre as demais impurezas h = 0.65h. Os parâmetros de troca entre as impurezas e seus vizinhos bem como entre as impurezas foram mantidos constantes. Parâmetros no texto p.73
14 5.9 Freqüências de ondas de spin localizadas em função do campo efetivo h 1 aplicado sobre a impureza 1 para o caso de em um filme ferromagnético com 10 camadas, mantendo constante o campo sobre as demais impurezas h = 0.65h. Os parâmetros de troca entre as impurezas e seus vizinhos bem como entre as impurezas foram mantidos constantes. Parâmetros no texto p Freqüências de ondas de spin localizadas em função do campo efetivo h 2 aplicado sobre a impureza 2 para o caso de em um filme ferromagnético com 5 camadas, mantendo constante o campo sobre as demais impurezas h o = 0.65h. Os parâmetros de troca entre as impurezas e seus vizinhos bem como entre as impurezas foram mantidos constantes. Parâmetros no texto p Freqüências de ondas de spin localizadas em função do campo efetivo h 3 aplicado sobre a impureza 3 para o caso de em um filme ferromagnético com 5 camadas, mantendo constante o campo sobre as demais impurezas h = 0.65h. Os parâmetros de troca entre as impurezas e seus vizinhos bem como entre as impurezas foram mantidos constantes. Parâmetros no texto p Freqüências de ondas de spin localizadas em função do parâmetro de troca J I entre impurezas vizinhas em um filme ferromagnético com cinco camadas (p = 5). Mantemos constantes os parâmetros de campo sobre as impurezas h = 0.65h e os parâmetros de troca entre as impurezas e seus vizinhos J = 2.5J. Parâmetros no texto p Representação do esquema de interação para quatro impurezas vizinhas no plano xz de um filme ferromagnético descrito pelo modelo de Ising com campo transverso. As impurezas (círculos pretos) estão acopladas entre si e com seus primeiros vizinhos do material puro p Freqüências de ondas de spin localizadas em função do parâmetro de troca J 1 entre a impureza 1 e seus vizinhos puros para o caso no qual tem-se quatro impurezas no plano xz de um filme ferromagnético com 6 camadas. Os parâmetros de troca entre as impurezas e seus vizinhos bem como entre as impurezas foram mantidos constantes. Parâmetros no texto p.79
15 5.15 Freqüências de ondas de spin localizadas em função do parâmetro de campo local h 1 aplicado sobre a impureza para o caso no qual tem-se quatro impurezas no plano xz de um filme ferromagnético com 6 camadas. Os parâmetros de troca que envolvem as impurezas e seus vizinhos foram mantidos constantes. Parâmetros no texto p Freqüências de ondas de spin localizadas em função do parâmetro de troca J I entre as impurezas, para o caso no as impurezas 1 e 2 estão na superfície de um filme de seis camadas. Mantemos constantes os parâmetros de campo sobre as impurezas e os parâmetros de troca entre as impurezas e seus vizinhos. Parâmetros no texto p Freqüências de ondas de spin localizadas em função do parâmetro de troca J I entre as impurezas, (a) impurezas 1 e 2 na superfície do filme (b) impurezas 1 e 2 na segunda camada do filme (N 1 = 5). Mantemos constantes os parâmetros de campo sobre as impurezas e os parâmetros de troca entre as impurezas e seus vizinhos. Parâmetros no texto.... p Representação do esquema de interação para quatro impurezas vizinhas no plano xy de um filme ferromagnético descrito pelo modelo de Ising com campo transverso. As impurezas (círculos pretos) estão acopladas somente com seus primeiros vizinhos do material puro J I = p Freqüências de ondas de spin localizadas em função do parâmetro de troca J 1 entre a impureza 1 e seus vizinhos puros para o caso no qual tem-se quatro impurezas no plano xy de um filme ferromagnético com 5 camadas. Parâmetros no texto p Freqüências de ondas de spin localizadas em função do parâmetro de campo local h 1 aplicado sobre a impureza para o caso no qual tem-se quatro impurezas no plano xy de um filme ferromagnético com 5 camadas. Parâmetros no texto p Freqüências de ondas de spin localizadas em função do parâmetro de troca J I entre as impurezas (a) quatro impurezas na superfície do filme (b) quatro impurezas na segunda camada do filme (N 1 = 5). Mantemos constantes os parâmetros de campo sobre as impurezas e os parâmetros de troca entre as impurezas e seus vizinhos. Parâmetros no texto.... p.88
16 15 1 Introdução A física do estado sólido é uma vasta área da física que trata da compreensão das propriedades mecânicas, térmicas, ópticas e magnéticas da matéria sólida. Uma descrição teórica dessas propriedades deve levar em consideração o grande número de átomos constituintes, da ordem de partículas por centímetro cúbico, o que exige a aplicação de técnicas apropriadas para descrever sistemas de muitos corpos. Porém, desenvolver um modelo teórico capaz de explicar todos os fenômenos que podem ocorrer em um sólido não constitui tarefa simples. Podemos apenas desenvolver modelos simplificados para cada área de interesse. Portanto, qualquer teoria básica do estado sólido deve desenvolver conceitos unificados onde se possa considerar todas as possíveis características individuais de um dado sólido. Uma característica predominante nos sólidos é o arranjo regular de seus átomos, onde predomina a interação de um átomo com seus vizinhos. Particularmente, um sólido cristalino possui seus átomos arranjados numa configuração periódica denominada rede cristalina. As interações na rede cristalina podem ter um caráter de curto alcance e restrito a um volume limitado em torno do átomo. Interações de curto alcance podem enfrequecer com o aumento da distância, como no caso da interação de troca em materiais magnéticos. No entanto, na maioria dos sólidos também podem ocorrer interações de longo alcance, como as de dipolo-dipolo. Na construção de modelos simplificados para sistemas de muitas partículas, deve-se considerar o conceito de excitações elementares, decorrentes das excitações de partículas individuais, as quasi-partículas, ou das correlações do movimento de partículas interagentes, denominados modos coletivos [1, 2, 3, 4]. Como exemplos temos: as vibrações coletivas dos íons na rede cristalina, cujos quanta associados são chamados de fônons; as oscilações coletivas dos elétrons de valência em metais, os plasmons. A interação entre as oscilações coletivas, conhecida como acoplamento, também pode gerar novas excitações elementares, como por exemplo: o acoplamento entre fótons e fônons, denominado polariton de fônon. O estado fundamental de um cristal magneticamente ordenado, tal como um ferromagneto ou um antiferromagneto, pode ser excitado de tal maneira que a densidade local
17 1 Introdução 16 de spin eletrônico efetua um movimento de precessão em torno da direção de equilíbrio da magnetização. Os modos normais dessa oscilação são chamados de ondas de spin, cujos quanta associados são chamados magnons. As ondas de spin foram descobertas por Bloch em 1930 [5]. O estudo da propagação de ondas de spin em sistemas ferromagnéticos a baixas temperaturas é importante sob vários aspectos, por exemplo, elas são responsáveis pelo termo T 3/2 na curva da magnetização em função da temperatura M(T) [6, 7], elas contribuem na determinação do calor específico, da temperatura de Curie e de outras propriedades termodinâmicas dos sólidos. Como vimos, sólidos são conhecidos como meios que permitem uma variedade de excitações elementares. Para modelar o comportamento dessas excitações, considera-se o meio no qual elas se propagam como um cristal perfeito que se estende infinitamente. Esta consideração em alguns casos, entretanto, não permite uma boa descrição do sistema. Um exemplo é dado quando se trata de um meio de baixa dimensão, tal como um filme fino, no qual a presença de superfícies tem influência no espectro de excitações. A introdução de camadas de impurezas, impurezas localizadas, ou mesmo uma baixa concentração delas, também modifica o espectro de excitações desse meio. Este diferente comportamento ocorre porque a presença de superfícies ou a introdução de impurezas pode modificar as interações microscópicas no material. Também a baixa dimensionalidade do meio, juntamente com a presença de impurezas, provoca uma quebra de simetria translacional no sistema, causando significativas modificações na propagação das excitações e permitindo o surgimento de excitações localizadas. Por impurezas ou defeitos em sólidos cristalinos entende-se uma região onde o arranjo microscópico de íons difere drasticamente do cristal puro [8, 9]. Os defeitos em sólidos podem ser encontrados na forma de superfícies, linhas ou pontos. Os tipos de defeitos mais importantes encontrados em sólidos são: Deslocamentos: linhas de defeitos que embora provavelmente ausentes num cristal ideal em equilíbrio térmico, são invariávelmente encontradas em um cristal real. Vacâncias e interstícios: pontos de defeitos que apresentam ausência de íons ou presença extra de íons. Em cristais iônicos, tais defeitos são inteiramente responsáveis pela condutividade elétrica e podem alterar profundamente suas propriedades ópticas e, em particular, sua cor. Neste texto usaremos o termo substitucional em vez de interstício. Os recentes avanços alcançados em técnicas litográficas, os quais permitem a construção de diferentes disposições de átomos nos mais diversos padrões em escala nanométrica, possibilitaram a fabricação de novos sistemas magnéticos que podem ter arranjos de buracos, defeitos ou impurezas. Guedes e colaboradores estudaram a formação de
18 1 Introdução 17 domínios durante a reversão da magnetização devido a um conjunto de furos quadrados em um filme de Fe [10]. Eles estudaram também as modificações nas propriedades magnéticas devido a um conjunto de furos elípticos em um filme de Fe [11]. Em ambos os casos as medidas foram feitas usando efeito kerr magneto-óptico difratado. Uma área de pesquisas que vem se desenvolvendo rapidamente é a de semicondutores ferromagnéticos diluídos, onde um semicondutor puro é magneticamente dopado por um metal de transição para produzir um semicondutor ferromagnético [12, 13, 14, 15, 16]. Recentemente, foram obtidos avanços significativos na fabricação de dispositivos eletrônicos usados para armazenar dados ou para processar informações, ambos a base de semicondutores ferromagnéticos. Essa tecnologia, conhecida como spintrônica, utiliza simultaneamente os dois graus de liberdade, a carga e o spin dos portadores, para manipulação de dados [17, 18, 19]. Desde o início da década 1960, o efeito da introdução de impurezas em sólidos tem sido tratado em uma grande quantidade de trabalhos. Do ponto de vista teórico, a introdução de impurezas em cristais produz modos com freqüências localizadas fora dos limites da banda de freqüências de excitação para um cristal puro. Estes modos são chamados de modos localizados de impurezas. Izyumov demonstrou que a teoria para estes efeitos para diferentes tipos de excitações elementares é semelhante [20]. Em sistemas magnéticos os modos de impurezas podem ser detectados experimentalmente através de técnicas ópticas ou por espalhamento de nêutrons. As técnicas ópticas mais usadas no estudo de modos de defeitos são a espectroscopia de infravermelho, na qual a absorção de radiação por um cristal é medida em função desta freqüência, e espalhamento Raman, na qual o espalhamento inelástico da radiação por uma amostra é observado. Uma revisão das propriedades de defeitos em sólidos magnéticos foi feita por Cowley e Buyers [21]. Recentemente, muitos trabalhos relativos ao estudo de impurezas em sistemas magnéticos foram publicados. Chen e Cottam usaram a técnica de Funções de Green (F.G.) para determinar os modos de defeitos para sistemas ferromagnéticos e antiferromagnáticos [22, 23] no modelo de Heisenberg para um sistema semi-infinito. Os modos de defeitos associados a uma impureza nas proximidades da superfície de um sistema ferromagnético descritos pelo modelo de Ising com campo transverso foram estudados por Costa Filho, Costa e Cottam [24], usando a técnica de F.G.. O caso para duas impurezas foi estudado por Leite, Milton Pereira e Costa Filho [25]. Um estudo das propriedades de sistemas magnéticos semi-infinitos contendo camadas totalmente impuras nos modelos de Heisenberg e Ising podem ser encontrado nas Refs. [26, 27, 28]. Neste trabalho estudamos o espectro de ondas de spin relativas a impurezas localizadas para os casos contendo impurezas acopladas em um sistema ferromagnético semi-infinito
19 1 Introdução 18 (Capítulo 4), e em um filme ferromagnético (Capítulo 5), descritos pelo modelo de Ising com campo transverso. Em ambos os Capítulos usamos a técnica de F.G. para estudar a propagação de ondas de spin em regime de troca. No Capítulo 2, fazemos uma apresentação da linguagem matemática apropriada para o desenvolvimento destes trabalhos. Introduzimos a teoria de F.G. em física da matéria condensada, um método matemático estabelecido por Zubarev [29], cuja aplicação é direcionada para a solução de problemas em sistemas ferromagnéticos. No capítulo 3, fazemos uma rápida introdução ao modelo de Ising com campo transverso, cujo Hamiltoniano é adotado no presente estudo. Fazemos uma revisão dos trabalhos desenvolvidos por Shiwai e Cottam e por Costa Filho, Costa e Cottam onde eles empregaram o método da equação de movimento para a F.G. para calcular as propriedades dinâmicas de um sistema ferromagnético semi-infinito, puro [30] e com impurezas [31], respectivamente. No Capítulo 4, aplicamos a técnica de F.G., fundamentada no Capítulo 3, para calcular o espectro de excitações para duas impurezas vizinhas implantadas num ferromgneto semiinfinito. Determinamos a equação de movimento para as F.G. onde o sistema é descrito através do modelo de Ising com campo transverso. Como consideramos apenas interações entre primeiros vizinhos, tomamos duas orientações fisicamente diferentes: duas impurezas alinhadas no eixo x, Caso X, e duas impurezas alinhadas no eixo z, Caso Z. Obtemos resultados para as freqüências dos modos defeituosos como função do parâmetro de troca entre as impurezas e seus vizinhos, do campo aplicado e do acoplamento de troca entre elas. No Capítulo 5, estendemos a técnica aplicada no Capítulo 4 para calcular o espectro de ondas de spin relativas a impurezas localizadas para o caso contendo impurezas acopladas em um filme ferromagnético com n camadas paralelas ao plano xy. Obtemos resultados para três casos com diferentes disposições para as impurezas implantadas no material puro. Caso 1: linha contendo n impurezas acopladas na direção do eixo z, Caso 2: quatro impurezas no plano xz e Caso 3: quatro impurezas no plano xy. Este trabalho se encerra no Capítulo 6, onde fazemos uma discussão geral dos resultados obtidos nos Capítulos 4 e 5 e apresentamos as conclusões e perspectivas para futuros trabalhos. Nos Apêndices A, B, C, D e E mostramos algumas demonstrações matemáticas usadas em cálculos feitos nos capítulos deste trabalho. Nos Apêndices F e G, apresentamos a cópia de dois artigos publicados pelo autor relativos ao estudo de impurezas inseridas em ferromagnetos de Ising com campo transverso.
20 19 2 Funções de Green em matéria condensada 2.1 Introdução Em Física do Estado Sólido, as Funções de Green são definições apropriadas do conceito de funções de correlação, funções dependentes do tempo e da temperatura, que são introduzidas convenientemente para a determinação de médias termodinâmicas de sistemas de muitos corpos e que conduzem a resultados corretos em diferentes limites. Na verdade, existem diversas classes de F.G., a diferença está na forma de se obter os valores médios. Assim, se a média é feita no estado fundamental, tem-se as F.G. da Teoria Quântica de Campos, se as F.G. são obtidas ao se tirar a média sobre um ensemble estatístico, teremos as F.G. da Mecânica Estatística ou Termodinâmica. Particularmente, ao estudarmos as propriedades termodinâmicas de um sistema magnético, precisamos calcular a média sobre o ensemble grã-canônico dos operadores de interesse. Portanto, antes de discorrermos sobre a técnica das F.G., estabeleceremos os conceitos deste ensemble e de média térmica, conceitos fundamentais em sistemas que envolvem muitos corpos. 2.2 A Representação de Schrödinger Discutiremos nesta seção algumas representações adequadas aos nossos propósitos, pois queremos descrever convenientemente nossas equacões de evolução para um determinado sistema físico de interesse. Iniciaremos com a representação de Schrödinger. Nesta representação a função de onda possui uma dependência temporal, denotada por Ψ S (t), e os operadores são considerados independentes do tempo, de modo que a equação de movimento, considerando (ħ = 1), é escrita como i t Ψ S(t) = H Ψ S (t), (2.1) onde H é o Hamiltoniano. A solução formal da Eq.(2.1), sendo o Hamiltoniano explicitamente independente do
21 2.3 A Representação de Heisenberg 20 tempo é a função denotada por que representa a evolução temporal da função de onda. Ψ S (t) = e iht Ψ S (0), (2.2) 2.3 A Representação de Heisenberg Nessa representação, os operadores possuem dependência temporal explícita e as funções de onda são denotadas por Ψ H (t). Essa função de onda é agora representada como Tal definição leva-nos a concluir que Ψ H (t) = e iht Ψ S (0). (2.3) Ψ H (t) = Ψ S (0). (2.4) Um resultado fundamental é que o valor esperado de qualquer operador nas duas representações tem o mesmo valor, de modo que as representações são equivalentes e a escolha de uma ou outra, é mera conveniência. Sendo as funções de onda independentes do tempo, pode-se mostrar que a relação entre quaisquer operadores ÂH e  é dada por  H = e iĥt Âe iĥt. (2.5) Da relação acima, deriva que a equação de movimento tem a forma = i[ĥ, Â]. (2.6) tâh Em Mecânica Estatística Clássica a evolução dinâmica de um sistema físico é descrita por suas variáveis cinemáticas no espaço de fase, de modo que a sua configuração instantânea para algum instante t é dada pela sua função distribuição f = f(q, p, t) no espaço de fase Γ e isto corresponde a uma cópia completa do sistema. A este conjunto de pontos ou configurações do sistema denominamos ensemble. A equação de evolução dinâmica de um sistema físico é dada pela equação de Liouville df dt = f t onde {, } são os parêntesses de Poisson. + {f, H} = 0, (2.7) Em Mecânica Quântica a equação de Liouville expressa a evolução do operador es-
22 2.3 A Representação de Heisenberg 21 tatístico ou matriz densidade ρ, ρ t = i[h, ρ]. (2.8) O valor médio ou macroscópico de uma grandeza A pode ser encontrado através da função f de forma clássica por A = fadγ fdγ, (2.9) onde dγ = dp 1 dp n dq 1 dq n. (2.10) Para um observável qualquer A podemos encontrar o seu valor médio, através da mecânica estatística quântica, usando a função de onda definida no espaço de Hilbert Ψ(x) = x ψ para o estado ψ. Esse valor médio é dado por A = (Ψ, AΨ) (Ψ, Ψ) = (c n, c m )(Φ n, AΦ m ) n,m (c n, c m ) n. (2.11) Quando o sistema isolado evolui no tempo, sua função de onda se modifica através da expressão Ψ(x, t) = n c n (t)φ n (x), (2.12) sendo os números c n as densidades de probabilidade e c n 2 a probabilidade de se encontrar o sistema isolado na posição x. Φ n (x) são as autofunções ortonormalizadas de um operador A. Podemos reescrever a média para um operador A fazendo-se as seguintes considerações de acordo com os postulados da Mecânica Estatística Quântica: (i) Igualdade da probabilidade a priori 1, para n = m, E E n E + E (c n, c m ) = 0, para n m. (2.13) (ii) Fases randômicas (c n, c m ) = 0. (2.14) Os coeficientes (c n, c m ) referem-se a um sistema macroscópico em equilíbrio termodinâmico que interage tão fracamente com o meio exterior que, sua energia E n pode ser considerada aproximadamente constante, isto é, ela se encontra em um intervalo infinitesimal, entre E e E + E, sendo ( E E).
23 2.4 O Ensemble Gran Canônico e a Média Térmica 22 Assim as expressões para a função de onda e o valor médio, tornam-se Ψ(x, t) = n b n (t)φ n (x), (2.15) b n 2 (Φ n, AΦ n ) n A =. (2.16) b n 2 Podemos ainda escrever a média termodinâmica em termos do operador matriz densidade ρ, definido por ρ = Φ i b i 2 Φ i ; (2.17) i n lembrando que i Φ i Φ i = 1 e cujos elementos de matriz são dados por ρ i,j = Φ i ρ Φ j. (2.18) Portanto a média tomará a forma seguinte (Φ i, AρΦ i ) i A = (Φ i, ρφ i ) = Tr(Aρ) Tr(ρ). (2.19) i 2.4 O Ensemble Gran Canônico e a Média Térmica Neste ensemble o operador número atua sobre um espaço de Hilbert com número indefinido de partículas [32]. Contudo, sua utilização transcende, pois mesmo quando estamos interessados em um sistema com número fixo de partículas, como elétrons num metal ou sistemas em que é impossível fixar o número de partículas, como no caso de gases formados por quasi-partículas que são contínuamente criadas ou absorvida pela matéria, esse ensemble é fundamental. Queremos escrever a média térmica para este ensemble, para tal escrevemos a densidade de estados como Ω i = e β(e i µn i ) e, (2.20) β(e i µn i ) onde o denominador é a função partição Z, ou seja, i Z(µ, V, T) = i e β(e i µn i ), (2.21) sendo µ o potencial químico e β = 1 k B T, onde k B é a constante de Boltzmann e T é a temperatura.
24 2.5 As Funções de Green 23 Portanto podemos escrever a seguinte expressão para a matriz densidade ρ ρ = i i Ω i i, (2.22) de forma que usando-se a definição de Ω, temos ρ = e β(h µn i) Z(µ, V, T). (2.23) A média termodinâmica de qualquer operador A, em equilíbrio termodinâmico é dada pela expressão A = Tr(Aρ) Tr (ρ). (2.24) Assim, para o ensemble gran canônico, encontramos que a média térmica é dada por A = Tr [ Ae β(h µn)] Tr [e β(h µn) ] = Z 1 Tr [ Ae β(h µn)]. (2.25) 2.5 As Funções de Green Para sistemas interagentes é fundamental encontrar o espectro de excitação de uma partícula, o qual tem uma conexão com o limite não interagente. Tais excitações são descritas por meio das F.G.. Além, é correto dizer que as F.G. representam a capacidade de resposta de um sistema físico a uma excitação externa, sendo possível obter a função distribuição para esse sistema, ou ainda, as grandezas macroscópicas termodinâmicas de interesse. Nesta seção introduziremos tais funções seguindo o formalismo proposto por Zubarev [29]. A F.G. clássica aparece naturalmente em equações diferenciais, como por exemplo a equação de Poisson 2 φ(r) = ρ(r)/ε 0, (2.26) onde a F.G. representa uma solução, sendo o potencial para uma carga unitária G(R) = (4πε 0 R) 1. (2.27) A resposta linear de um sistema quântico pode, de forma análoga, ser obtida através da F.G.. Essa resposta pode ser encontrada da resolução da equação de Schrödinger, ou equivalentemente para um sistema macroscópico, pela resolução da equação de evolução da matriz densidade ıħ ρ t = [H + H 0, ρ]. (2.28) Podemos agora definir as seguintes F.G. de tempo duplo, considerando dois operadores
25 2.5 As Funções de Green 24 A(t) e B(t ) na representação de Heisenberg: (i) Função de Green Retardada G r (t, t ) = A(t); B(t ) r iθ(t t ) [A(t), B(t )] η. (2.29) (ii) Função de Green Avançada G a (t, t ) = A(t); B(t ) a iθ(t t ) [A(t); B(t )]. (2.30) (iii) Função de Green Causal G c (t, t ) = A(t); B(t ) c i TA(t)B(t ). (2.31) onde θ(t t ) é a função degrau ou de Heaviside θ(t t ) = { 1, se t t > 0 0, se t t < 0, e o comutador com índice η carrega a estatística adequada, ou seja, a sua natureza comutativa ou anticomutativa, respectivamente para bósons e férmions. [A, B] η = AB ηba. (2.32) Como estamos trabalhando com bósons, adotaremos η = +1. O valor médio que aparece na definição deve ser interpretado como uma média de ensemble. Como estaremos interessados em trabalhar com operadores que mudam o número de partículas, o ensemble apropriado é gran-canônico. Neste caso, a média é definida como X = Z 1 Tr(e βh X), (2.33) onde Z 1 = Tr(e βh ) e H = H µn, como visto na Seção Dependência temporal A primeira propriedade importante das F.G., é sua dependência da diferença de tempos. Tomando a média que aparece na definição da F.G., definida com dois tempos, tal como A(t)B(t ) = Z 1 Tr(e βh AB) = Z 1 Tre βh e ih t Ae ih t e ih t Be ih t, (2.34) e, pela propriedade cíclica do traço e a comutação de quaisquer funções de H, Tr(ABC) = Tr(CAB) = Tr(BCA), (2.35)
26 2.5 As Funções de Green 25 obtemos que a média acima só depende da diferença de tempo t t A(t)B(t ) = Z 1 Tr(e βh e ih(t t ) Ae ih (t t ) B) = A(t t )B(0). (2.36) Assim vemos que todas as F.G. de tempo duplo dependem somente da diferença de tempo. Outras propriedades estão relacionadas a transformada de Fourier da função de Green as quais examinaremos adiante Equação de movimento Na representação de Heisenberg, os operadores A(t) e B(t ) satisfazem a seguinte equação de movimento: i d dt U(t) = UH H U. (2.37) É fácil vermos isto quando derivamos a Eq.(2.5). Portanto, na Eq.(2.29), diferenciando em relação ao tempo A(t); B(t ) r, e usando a Eq.(2.37), obtemos o seguinte resultado: d dt A(t); B(t ) r = iδ(t t ) [A(t), B(t )] + i [H, A(t)]; B(t ). (2.38) Porém, embora tenhamos encontrado a equação de evolução de A(t); B(t ) r, para um par de operadores, esta, por sua vez, gerou um outra F.G. de três operadores, ou seja, de ordem superior à função original. Novamente para se conhecer essa nova função é necessário utilizar sua equação de movimento e, assim de forma sucessiva, gerar-se uma cadeia infinita de F.G. acopladas através de suas equações de movimento. Para contornar essa dificuldade matemática e resolver o sistema é preciso reduzi-lo a um número finito de equações. O desacoplamento deve ser imposto a uma F.G. de ordem mais alta em termos de uma de ordem mais baixa para quebrar a série. Em alguns casos triviais, como para um sistema não interagente, o comutador que aparece na primeira equação não é muito complexo e a série é quebrada na primeira equação, permitindo a solução. Aqui revela-se naturalmente a base conceitual da F.G., pois dependendo do sistema físico, para a solução da equação diferencial que a envolve, é imprescindível a existência de condições de contorno às quais o sistema está sujeito. Em alguns casos, por exemplo, como os que envolvem interações entre partículas (bósons ou férmions fracamente interagentes), após uma conveniente mudança de espaço, a condição de contorno empregada para o desacoplamento das equações que surgem, é a aproximação HFA (Hartree-Fock Approximation) [33]; ou os que envolvem materiais ferromagnéticos, a condição de contorno utilizada é a aproximação RPA (Random Phase Approximation) [34, 35, 36, 37]. De uma maneira geral, em Física da Matéria Condensada, o desacoplamento da Eq.(2.38) é determinado
27 2.5 As Funções de Green 26 pelas representações espectrais das F.G. e das funções de correlação por intermédio das transformadas de Fourier e daí, dependendo do sistema, usa-se a aproximação mais conveniente. Portanto, definimos inicialmente a Função de Correlação temporal Funções de correlação temporal Quando desejamos calcular médias em sistemas com muitas partículas devemos introduzir funções mais gerais que levem em conta a informação sobre correlações no sistema, ou seja, funções que informem o quanto uma grandeza influencia em outra, decorrido um certo tempo t. Em Física Estatística, define-se Função de Correlação como a média de produto de operadores [38, 39, 40]. Então, da definição de média estatística no ensemble grã-canônico para dois operadores A(t) e B(t ), temos A(t)B(t ) = Z 1 Tr(e βh A(t)B(t )), (2.39) que como já demonstramos é A(t)B(t ) = Z 1 Tre βh A(t t )B(0). (2.40) Desse modo, definimos as funções de correlação para esses operadores da seguinte maneira C AB (t t ) = A(t)B(t ) A(t t )B(0), (2.41) C BA (t t ) = B(t )A(t) B(0)A(t t ), (2.42) funções, que no caso de equilíbrio termodinâmico, dependem apenas da diferença entre os instantes t e t. Uma importante consequência desse fato é que quando assumimos t = t, as médias temporais reduzem-se as médias estatísticas usuais, isto é: C AB (0) = A(t)B(t ) = A(0)B(0), (2.43) C BA (0) = B(t )A(t) = B(0)A(0). (2.44) Representação espectral e intensidade espectral Neste ponto, iremos introduzir expansões em auto-estados que representem um conjunto completo de soluções para as funções de correlação. Adicionalmente, com uma transformada de Fourier passar para o espaços das frequências para obter uma representação espectral [38]. Então, considerando ν, um auto-estado do Hamiltoniano do sistema que satisfaz a
28 2.5 As Funções de Green 27 equação de auto-valor H ν = E ν ν. (2.45) Após algumas manipulações algébricas, a Função de Correlação dada na Eq.(2.42) é agora representada pelo conjunto completo desses auto-estados, na forma C BA (t t ) = Z 1 ν B µ µ A ν e i(eµ Eν)(t t ) e βeµ, (2.46) µ,ν onde inserimos a relação de completeza, µ µ = 1. Nesse ponto, é oportuno definirmos µ a seguinte transformada de Fourier da Função de Correlação dos operadores A e B que é C BA (t t ) = B(t )A(t) = + J(ω)e iω(t t ) dω. (2.47) Desse modo, expressamos a Função de Correlação em termos de uma representação espectral, onde J(ω) é chamada de intensidade espectral (ou função espectral), definida como J(ω) = 1 2π + C BA (t t )e iω(t t ) dt. (2.48) Agora, substituindo a Eq.(2.46) na Eq.(2.48) e, considerando a representação delta obtemos, por fim δ(e µ E ν ω) = 1 2π J(ω) = Z 1 µ,ν + e i(eµ Eν ω) dt, (2.49) ν B µ µ A ν e βeµ δ(e µ E ν ω). (2.50) Deste resultado se infere naturalmente que a intensidade espectral J(ω) está definida nos pontos onde (E µ E ν ) = ω, ou seja, das excitações do sistema. Por analogia, definimos C AB (t t ) = A(t)B(t ) = J (ω)e iω(t t ) dω, (2.51) onde J (ω) é a função espectral de C AB (t t ), que goza da seguinte propriedade: J (ω) = J(ω)e βω. (2.52) Para não perdermos a referência, recordemos o impasse estabelecido pela equação de movimento das F.G. na Seção 2.5.2, isto é, da necessidade dessas definições para o desacoplamento de funções ordem mais alta. Logo, da mesma maneira que definimos uma representação espectral para funções de correlação temporal, o faremos agora para as F.G., G r (t t ), via transformada de Fourier.
29 2.5 As Funções de Green Representação espectral para as funções de Green Como as F.G., que no caso de equilíbrio termodinâmico, também dependem da diferença entre os tempos t e t, podemos relacioná-las com a intensidade espectral, J(ω), através das seguintes operações; primeiro, escrevemos transformada G r (t t ) = e a transformada inversa de Fourier, G r (E) = 1 2π + + G r (E)e ie(t t ) de (2.53) G r (t t )e ie(t t ) dt. (2.54) Depois, substituimos na Eq.(2.54) na definição da F.G., dada pela Eq.(2.29), ficando com a seguinte expressão: G r (E) = 1 2πi + e ie(t t ) θ(t t )[F AB (t t ) F BA (t t )]dt. (2.55) y y iε x iε x t < 0 t > 0 ( a ) ( b ) Figura 2.1: Contornos para os pólos da função de Green. Por último, substituindo C BA (t t ) e C AB (t t ) pelas Eqs.(2.47) e (2.49), respecti-
30 2.5 As Funções de Green 29 vamente, obtemos G r (E) = + dωj(ω)(e βω 1) 1 2πi + dte i(e ω)(t t ) θ(t t ). (2.56) Devemos obter valores de E que satisfaçam a equação de G r (E). A solução é simplificada quando escrevemos a função descontínua θ(t t ), conhecida como função degrau, na forma θ(t) = 1 + e ix(t) dx, (2.57) 2π x + iε que pode ser resolvida usando o método de resíduos. Então, considerando ε como uma quantidade infinitesimal positiva (ε 0 + ), a expressão acima pode ser facilmente verificada usando uma integração cujo contorno é mostrado na Figura (2.1). Em (a), o integrando possui um pólo no semi-plano inferior para x = iε. Quando t > 0 o contorno é fechado nessa região e a integral na Eq.(2.57) é igual a unidade. Em (b), para t < 0, o contorno é fechado no semi-plano superior. Neste caso a integral é nula, pois o pólo está fora do contorno. Usando este resultado, temos que + dte i(e ω)(t t ) θ(t) = Portanto, a Eq.(2.56) reduz-se simplesmente à forma G r (E) = 1 + 2π i E Ω + iε. (2.58) J(ω)(e βω 1) dω, (2.59) E ω + iε isto é, uma expressão que relaciona a Função de Green Retardada com a intensidade espectral. Por outro lado, fazendo uso da identidade [41] ( ) 1 1 x + iε = P iπδ(x) (2.60) x G r (E), pode ser descrita por intermédio de suas partes real e imaginária, ou seja, ReG r (E) = 1 + 2π P J(ω)(e βω 1) dω (2.61) E ω ImG r (E) = 1 2 (eβe 1)J(E). (2.62) Disso decorre um resultado muito importante para a análise física dos sistemas termodinâmicos de que trata a Mecânica Estatística, em particular a Física da Matéria Condensada, o Teorema da Flutuação-Dissipação [42] J(E) = 2 (e βe 1) ImG r(e), (2.63)
31 2.5 As Funções de Green 30 pois, conhecida a parte imaginária da F.G., a menos de um fator térmico multiplicativo, encontramos a intensidade espectral e consequentemente a Função de Correlação temporal que, também, uma vez conhecida, podemos determinar as grandezas termodinâmicas mensuráveis de interesse. Em conjunto, como já mencionamos, podemos igualmente encontrar a F.G. Avançada, G a (E), tal como foi feito para G r (E), e escrever uma expressão geral para ambas, da seguinte maneira G r,a (E) = 1 + 2π J(ω)(e βω 1) dω. (2.64) E ω ± iε Assim, utilizando o método das variáveis complexas que, afortunadamente, embora E seja uma quantidade real, as F.G. Retardada e Avançada podem ser estendidas analiticamente num plano complexo E [43]; onde a primeira, só está definida para os valores positivos da parte imaginária da energia, e a segunda, para valores negativos da parte imaginária da energia. Então, como essas funções têm domínios complementares, é possível definir uma única F.G. válida para todo o plano complexo E, com exceção do eixo real. Assim, considerando a energia complexa, E = E ± iε, podemos representá-la do seguinte modo G(E) = 1 + 2π J(ω)(e βω 1) dω. (2.65) E ω Dessa forma, G(E) passa a ser então uma função de variável complexa, definida no plano complexo E com singularidade no eixo real. Logo, a descontinuidade da função G(E) sobre este eixo pode ser relacionada à função espectral quando usamos a seguinte representação para a função delta tal que 2πiδ (x) = ( 1 x iε 1 ), (2.66) x + iε ou, + G(E iε) G(E + iε) = 1 dω(e βω 1)J(ω) 2π ( ) (2.67) 1 E ω + iε 1 E ω iε G(E iε) G(E + iε) = i(e βω 1)J(ω). (2.68) Esta é a técnica, entre os vários métodos que têm sido empregados no estudo teórico de sistemas magnéticos de baixa dimensionalidade, que utilizaremos para obter os resultados quando ondas de spin interagem com impurezas do material em estudo. Portanto, com a ferramenta matemática apresentada, o próximo passo consiste em conhecer a forma
32 2.5 As Funções de Green 31 explícita do Hamiltoniano modelo para o nosso sistema. Assim, podemos encontrar a Função de Green a ele aplicada e, conseqüentemente, obter as propriedades físicas de nosso interesse.
33 32 3 Impureza localizada num ferromagneto semi-infinito 3.1 O modelo de Ising Na tentativa de explicar o ferromagnetismo com bases não fenomenológicas, Lenz [44] propôs uma teoria segundo a qual átomos dipolares num cristal seriam livres para girar sobre si próprios numa posição fixa da rede cristalina. Entretanto, critérios energéticos restringiram na prática tais átomos a assumir somente duas orientações espaciais em relação a seus vizinhos. Forças não-magnéticas seriam então responsáveis por diferenças na energia potencial dos átomos nas duas posições relativas, induzindo portanto o alinhamento dos dipolos magnéticos e dando origem a uma magnetização espontânea. Sob a orientação de Lenz, em 1925, Ernst Ising [45] resolveu exatamente em uma dimensão, o modelo que receberia seu nome. O modelo de Ising pode ser representado na forma geral pelo Hamiltoniano de spin H = i,j J ij σ i σ j h i σ i (3.1) onde J é a constante de troca, h é o campo aplicado em todos os sítios e σ i é uma variável que pode assumir, no caso mais simples (S = 1/2), os valores +1 ou -1, nos sítios i = 1, 2, 3,..., N de uma rede cristalina em d dimensões. O primeiro termo, onde a soma deve considerar apenas os vizinhos mais próximos, representa as energias de interação que devem ser capazes de produzir um estado ordenado ferromagneticamente (quando J ij > 0), ou, antiferromagneticamente (se J ij < 0). O segundo termo é a energia resultante da interação do campo magnético externo h com o spin localizado no sítio i. Embora as variáveis de spin possam assumir diversas interpretações, as primeiras tentativas de solução para o modelo supunham interações uniformes e somente entre primeiros vizinhos, bem como campo e momentos magnéticos também uniformes em redes regulares. O problema unidimensional, resolvido por Ising, não apresentou transição de fase a temperaturas finitas. Contrariamente, as versões bi e tridimensional apresentaram magne-
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