UMA EXPERIÊNCIA EM EDUCAÇÃO MUSICAL NO CONTEXTO DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE CURITIBA
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1 UMA EXPERIÊNCIA EM EDUCAÇÃO MUSICAL NO CONTEXTO DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE CURITIBA XAVIER, Cristine Roberta Piassetta - PUCPR crisroxavier@yahoo.com.br CARTAXO,Simone Regina Manosso PUCPR simonemcartaxo@hotmail.com ROMANOWSKI,Joana Paulin PUCPR joana.romanowski@pucpr.br Resumo Este artigo tem como finalidade contextualizar a educação musical na Rede Municipal de Ensino de Curitiba ressaltando o ensino da arte desde a sua oficialização e evidenciando um trabalho de educação musical presente numa das escolas municipais, onde ocorre uma prática por meio de um projeto de oficina Brincando com Sons. A oficina privilegia crianças de uma região periférica do município com ações positivas conquistadas entre alunos, professor da área, comunidade, equipe administrativa e pedagógica desta escola. Para a análise da pesquisa considera-se como pressuposto que a teoria é a expressão das ações práticas e os indícios da prática permitem inferência de tendências. Entre as atividades desenvolvidas foi selecionada a busca de sons do cotidiano para demonstrar a interação, a participação e o envolvimento da comunidade escolar com a natureza musical. Nas práticas propostas na oficina ocorreram à apreciação, a execução e a composição musical e os alunos manisfestaram-se por meio de diálogos, aprendendo a serem solidários, respeitando e ouvindo os colegas, desenvolvendo autonomia, auto-estima, assiduidade e responsabilidade Foi percebido também que alguns alunos apresentaram facilidade em participar e realizar as atividades, demonstrando sensibilidade para produzir ou reproduzir o que foi trabalhado, manifestando habilidades musicais especiais superando dificuldades. A partir da comprovação da interação entre a comunidade escolar com o projeto Brincando com Sons, a direção da escola, professora responsável pelo projeto e a coordenação de música do município, conseguiram apoio da Secretaria Municipal de Educação e o projeto foi instituído oficialmente nesta escola, garantindo a obrigatoriedade de um profissional especialista para desenvolvê-lo. Palavras-chave: Educação Musical; Práticas Musicais; Interações Sociais. Da modelação à liberdade de expressão musical Historicamente o acesso às artes no Brasil é privilégio da classe mais abastada, principalmente para aprender a tocar instrumentos musicais e a música erudita. O ensino da música no Brasil é marcado, inicialmente, pela catequese dos padres jesuítas com a aculturação da música nativa indígena. O padre José Mauricio Nunes Garcia ( ) foi
2 12409 muito importante na história da música no Brasil e para educação musical da época. No período do Império há a exaltação à música erudita, mas a música popular brasileira começa a fazer parte do cenário com maior evidência. A educação musical desta época ocorre nos primeiros conservatórios musicais e na informalidade, onde acontecia a música oriunda da miscigenação das raças existentes no Brasil. O Canto Orfeônico teve seu momento marcante na história da Educação Musical no Brasil no final do século XIX aos meados do século XX, mas que, segundo Souza (1991) seguiu as seguintes linhas temáticas: nacionalismo, militarização, elogio à raça e valores morais. De acordo com Oliveira (1999, p. 21) o [...] atraso em se impulsionar o progresso educativo no país teve as mais diferentes causas e, dentre elas, pode-se citar o excessivo nacionalismo de caráter cívico e regionalista da revolução de No período da Ditadura Militar, de 1964 a 1985, a censura imperou e como afirma Oliveira (1999), estes regimes contribuíram para a desestruturação de muitas experiências educacionais interessantes derivadas da Nova Pedagogia e do movimento Escola Nova Popular. A educação, nestes 21 anos, não foi muito positiva. Todos os ginásios pluricurriculares das décadas de 60/70 foram readaptados para a Pedagogia Tecnicista. Com este contexto histórico no país, a música, que está inserida no ensino de educação artística, segue a Lei deste momento. Conforme Oliveira: Nesses anos [...] implanta-se a Lei 5692/71, que institui a polivalência nas artes, através do ensino da educação artística que, apesar de ter uma aparência de abertura e criatividade, possibilitou a formação de profissionais sem um embasamento adequado nas áreas específicas. (1999, p. 22).Observa-se, com esta Lei, que a música foi incluída, mas foi silenciada e pulverizada com a abrangência da formação. O reflexo dessa organização social imprimiu marcas na escola caracterizando o trabalho com a arte em geral como elemento secundário para a maior parte da população. Uma arte eletizada que marcou por muito tempo as políticas educacionais do país. Na rede municipal de Curitiba, desde a sua constituição na década de 1960, a organização do trabalho com as artes cumpria a organização das políticas federais. Foi na década de 1980 com a elaboração do Currículo Básico da Secretaria Municipal da Educação que começou a ser dado destaque à disciplina de Artes nas escolas pela concepção do trabalho que rompia com as marcas de uma concepção positivista. Antes disso os professores ainda trabalhavam com o que se chamava de CAC (Centro de Atividades Criadoras) cuja visão baseava-se em uma
3 12410 concepção acentuadamente da escola nova. Os professores responsáveis por ministrar essas aulas não obrigatoriamente eram especialistas. No entanto, a secretaria possibilitava a eles formação continuada para subsidiá-los em seu trabalho. Atualmente, com a promulgação da Lei 9394/96, o ensino da arte constitui componente curricular obrigatório, nos diversos níveis da educação básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos. Apesar da obrigatoriedade da Lei, ela não especifica o profissional que irá atuar no ensino da música na educação básica, deixando a interpretação do documento para as instituições responsáveis. Com relação ao município de Curitiba dá-se preferência de atuação a quem tem a formação nesta área, mas não está determinado que, para atuar nesta área do conhecimento, precisa da formação específica. O trabalho criador em evidência Dentre vários trabalhos desenvolvidos na Rede de Educação de Curitiba, destaca-se a Escola Municipal CEI Eva da Silva, onde são desenvolvidas atividades de educação musical desde de 1996 por meio do canto-coral. Estas atividades visam uma iniciação com elementos formadores da música. Na ampliação das atividades foi criada a oficina de música Brincando com Sons com a intenção de trabalhar a sensibilização ao som. E aprofundar os conteúdos trabalhados tanto no canto-coral, bem como nas aulas do Ensino da Arte. Entre as atividades que são desenvolvidas foi selecionada a busca de sons do cotidiano para demonstrar a interação, a participação e o envolvimento dos alunos. Na proposição das atividades buscou-se utilizar a diversidade de sons, xilofones e a música (seus elementos formadores e suas propriedades) para atrair e motivar os alunos desenvolvendo atividades metodológicas buscando, com isso, a descoberta de suas habilidades e competências, superando conflitos tão comuns na escola e na comunidade. Dentre as atividades realizadas foi possibilitado aos participantes reconhecer as sonoridades que podem ser produzidas a partir do próprio corpo, a familiarização com o ambiente sonoro, estimulando a ouvir conscientemente. Houve a exploração de possibilidades para extrair sons de materiais diversos, sons do cotidiano para composições musicais coletivas e individuais, resultando em vários contos sonoros. A integração das crianças à linguagem musical, mostrou o desenvolvimento da iniciativa própria, auto-estima, assiduidade e responsabilidade. Esta prática educativa foi embasada no conceito de interação defendido por
4 12411 Vygotsky, devido às práticas sociais que ocorrem na experiência musical coletiva e a ênfase nos processos educativos. Por meio das atividades desta Oficina de Música ocorreram a apreciação, a execução e a composição musical (SWANWICK, 2003). As crianças deste projeto ocuparam melhor o seu tempo escolar, evitando a indisciplina que, de acordo com Longarezi (2001), foi apontada pelos professores como um dos principais obstáculos ao trabalho pedagógico. Os atores ativos do projeto seguiram uma conduta de trabalho por meio de diálogos, aprendendo a serem solidários, respeitando e ouvindo os colegas, seguindo regras determinadas pelo grande grupo para que atingissem resultados mais expressivos, desenvolvendo assim, ética e moral dentro do âmbito escolar. A construção de regras e limites não é um processo fácil, pois este processo inicia no relacionamento entre a criança e seus pais, como diz De La Taille (1998), e muitos acabam não demonstrando ou não trazendo de casa, conseqüentemente, as reações dentro da escola são instáveis. Obviamente há momentos de quebra de acordo, mas a proporção está bem menor do que no início da Oficina em que acontecia em demasia. Os trabalhos concretizados foram mostrados para toda a escola e para a comunidade, pois a performance faz parte da significação da aprendizagem, como também da realização pessoal dos envolvidos. Além dos pais prestigiarem as produções de seus filhos, se aproximam da escola pelas atividades positivas que nela acontece tornando, assim, menor à distância entre escola, pais e alunos, promovendo um desenvolvimento harmônico entre os mesmos. Sendo assim, a música, neste projeto, contribui com o processo de formação de cidadania dentro da escola. O apoio da equipe administrativa e pedagógica para esta área do conhecimento contribui com a conquista de materiais, divulgação das atividades realizadas pelos alunos na própria escola e na comunidade e apoio da Secretaria de Educação para ampliação do trabalho. Conclusões e implicações para a educação musical na Rede Municipal de Ensino de Curitiba Para a análise da pesquisa aqui relatada considera-se como pressuposto que a teoria é a expressão das ações práticas e os indícios da prática permitem inferência de tendências.
5 12412 Durante a execução do projeto, foi percebido que algumas crianças apresentaram facilidade em participar e realizar as atividades, demonstrando sensibilidade para produzir ou reproduzir o que foi trabalhado, manifestando habilidades musicais especiais, que em outras atividades escolares possuem dificuldades. Essas crianças interagiram com os demais alunos, promovendo a expansão positiva de suas conquistas, elevando a auto-estima dos participantes. Observa-se então, que a música pode estar sendo articulada com outras disciplinas, pois além de contribuir com o conhecimento musical, podem ser aproveitadas as habilidades dos alunos relacionando aos diferentes conteúdos, como também, ser utilizada como um instrumento na interpretação e construção do conhecimento. Os grupos que já participaram da Oficina de Música nos anos anteriores, tiveram como resultados a redução da indisciplina, a melhoria na concentração, mais atenção para outras atividades, desenvolvimento para a criação e confecção de instrumentos musicais, assimilação de noções rítmicas e composição coletiva de música. Tudo realizado em equipe e em comum acordo! Ainda, este trabalho, além de contribuir para o desenvolvimento em múltiplas determinações: sociais, culturais, emocionais, morais e estéticas, desenvolve um sentimento de pertença, onde foi criada uma identidade neste grupo que amplia-se a cada dia. Com a interação ocorrida entre os participantes ativos das atividades, alunos, professores, equipe administrativa e pedagógica, por valorizar o trabalho realizado, a direção da escola, professora responsável pelo projeto, coordenação de música do município, diante da comprovação dos resultados obtidos até o presente momento, conseguiram apoio da Secretaria de Educação e o Projeto de Música Brincando com Sons foi instituído oficialmente nesta escola, sendo obrigatório um profissional especialista para desenvolver o projeto nesta unidade escolar. É necessário ressaltar que uma equipe administrativa e pedagógica coesa consegue contribuir muito para uma prática pedagógica mais elaborada e desenvolvimento do potencial dos alunos. Embora se tenha conquistado o professor especialista para atender a essa escola continua a luta histórica que acompanha todo o processo de ensino no Brasil para que outras escolas também o tenham. Hoje acontece um trabalho efetivo de formação continuada do professor que trabalha com artes na rede municipal de ensino buscando atender essa lacuna como também um incentivo pedagógico para os especialistas da área.
6 12413 Agradecimento À equipe administrativa e pedagógica da Escola Municipal CEI Eva da Silva, pelo trabalho dedicado e motivador que exercem! Em especial à Gisele Barone Faria, diretora desta escola, pela confiança, incentivo e conquistas! Referências Bellochio, C. R. Educação musical e professores dos anos iniciais de escolarização: Formação inicial e práticas educativas. In L. Hentschke, & L. D. Ben (Eds.). Ensino de música: Propostas para pensar e agir em sala de aula. 1. ed. ). São Paulo, SP: Moderna, 2003, p BRASIL. Lei nº 9394/96, 20 de dezembro de Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial da União, Brasília: v. 248, p ,23 dez Seção I. DE LA TAILLE, Y. Limites: três dimensões educacionais. São Paulo: Ática, Memória Institucional. Memória da Rede Municipal de Ensino de Curitiba. Boletim Casa Romário Martins. Curitiba, Pr: Fundação Cultural de Curitiba, 2007 LONGAREZI, A. M. Os sentidos da indisciplina na escola: concepção de professores, equipe técnica e alunos das séries finais do ensino fundamental. Faculdade de Ciências e Letras, p.260. Tese de Doutorado. Araraquara, SP, Brasil: Universidade Estadual Paulista, 2001 OLIVEIRA, A. Currículos de música no Brasil após a nova LDB e os documentos elaborados pelo MEC para o ensino básico e superior. Anais do VIII Encontro Anual da Associação Brasileira de Educação Musical. Curitiba, 1999, p OLIVEIRA, Marta Kohl; LA TAILLE, Yves et alii. Piaget, Vygotsky, Wallon: Teorias psicogenéticas em discussão. Vygotsky e os processos de formação de conceitos. p São Paulo, Summus, SOUZA, J. (1991). Política na prática da Educação Musical nos anos 30. Revista Em Pauta, n.4, p SWANWICK, Keith. Ensinando Música Musicalmente. Tradução de Alda Oliveira e Cristina Tourinho. São Paulo: Moderna, 2003.
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