PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DA PARAÍBA GABINETE DO DESEMBARGADOR JOSÉ RICARDO PORTO ACÓRDÃO AGRAVO INTERNO N 024.2007.000.771-1/001 - P Vara de Monteiro. Relator : Des. José Ricardo Porto Agravante : Tokio Marine Seguradora S/A. Advogado : Samuel Marques. Agravado : João Batista Meira. Advogado : Sheila Taruza dos S. Vasconcelos. AGRAVO INTERNO. INSURGÊNCIA EM FACE DE DECISÃO MONOCRÁTICA QUE NEGOU SEGUIMENTO À APELAÇÃO CÍVEL. SEGURO OBRIGATÓRIO DPVAT. DEBILIDADE PARCIAL PERMANENTE. PERDA DA AUDIÇÃO NOS PERCENTUAIS DE 90% E 50%. PROCEDÊNCIA EM PARTE DO PEDIDO. APLICAÇÃO DO ART. 3, 'A', DA LEI 6.194/74, VIGENTE À ÉPOCA DO SINISTRO. POSSIBILIDADE DE FIXAÇÃO DO QUANTUM INDENIZATÓRIO COM BASE NO VALOR DO SALÁRIO MÍNIMO. MANUTENÇÃO DA SENTENÇA. IRRESIGNAÇÃO. ALEGAÇÃO DE LEGALIDADE DA APLICAÇÃO DA TABELA DO CONSELHO NACIONAL DOS SEGUROS PRIVADOS CNSP. JURISPRUDÊNCIA DOMINANTE DO STJ. MANUTENÇÃO DO DECISUM. DESPROVIMENTO. - Inexiste razão para se modificar a decisão que nega seguimento ao recurso apelatório, nos termos do art. 557 do Código de Processo Civil, quando o decisum impugnado encontra-se em perfeita consonância com jurisprudência desta Egrégia Corte, bem como com aquela emanada pelo Superior Tribunal de Justiça. VISTOS, relatados e discutidos os autos acima referenciados. ACORDA a Primeira Câmara Cível do Egrégio Tribunal de Justiça da Paraíba, à unanimidade, conhecer e negar provimento ao vertente recurso de agravo interno. RELATÓRIO Trata-se de Agravo Interno (fls.156/165) interposto pela Tokio Marine Seguradora S/A em desfavor da decisão monocrática desta relatoria, proferida às fls. 149/154, que negou seguimento à Apelação Cível, por encontrar-se em confronto com a jurisprudência dominante abraçada no âmbito desta egrégia Corte, bem como com aquela proclamada pelo Superior Tribunal de Justiça, na forma permissiva do art. 557 do CPC.
Em suas razões recursais, a instituição bancária agravante aduz, em síntese, que o decisum combatido incorreu em equívoco, asseverando que se encontra em confronto com a atual jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, que passou a reconhecer a legalidade da aplicação da tabela do Conselho Nacional dos Seguros Privados CNSP. Pugna, então, peld acolhimento e provimento do presente recurso para que, em juízo de retratação, esta relatoria reconsidere a decisão monocrática terminativa da qual se recorre e conheça da Apelação Cível ou, ainda, caso não acolhido este pleito, que o presente recurso seja posto em mesa e lhe seja concedido total provimento. É o breve relatório. VOTO - Des. José Ricardo Porto (Relator) Embora o Agravo Interno possua o chamado efeito regressivo, que permite ao julgador reconsiderar a decisão monocrática agravada antes de apresentar os autos em sessão de julgamento, mantenho em todos os termos o decisum, ora vergastado, pelas razões nele expostas, cujo teor segue, ipsis litteris, na parte que interessa: O feito sob análise diz respeito ao Recurso interposto pela Toldo Marine Seguradora S/A, promovida na Ação de Cobrança, em que a magistrada singular a condenou ao pagamento complementar da indenização do seguro obrigatório DPVAT, em razão de acidente automobilístico, ocorrido em 01/04/2006, que resultou na redução de 90% da audição do ouvido direito e aproximadamente 50% do ouvido esquerdo da vítima. No mérito, naquilo que diz respeito à aplicação da Lei 11.482/2007, vê-se que o sinistro ocorreu em 01/04/2006, ou seja, data de período anterior à vigência da referida legislação, que só passou a vigorar com a edição da Medida Provisória n 340/2006, publicada em 29/12/2006, posteriormente convertida na Lei em comento, pelo que foi correto o emprego das regras do art. 3 0, "a", da Lei 6.194/74. A 1' Câmara Cível desta Casa de Justiça já se manifestou acerca do tema. Vejamos: "PROCESSUAL CIVIL. SEGURO DPVAT. PRELIMINARES. I ILEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM CONSÓRCIO ENTRE SEGURADORAS. AÇÃO QUE PODE SER MOVIDA CONTRA QUALQUER UMA DELAS. REJEIÇÃO. II - FALTA DE INTERESSE DE AGIR. DESNECESSIDADE DE PEDIDO ADMINISTRATIVO PRÉVIO. REJEIÇÃO. MÉRITO. III VALOR INDENIZA TÓRIO. APLICAÇÃO DA LEGISLAÇÃO VIGENTE À ÉPOCA DO SINISTRO. FIXAÇÃO COM BASE EM SALÁRIOS MÍNIMOS. POSSIBILIDADE. PRECEDENTES DO STJ. IV INVALIDEZ PERMANENTE. LAUDO MÉDICO. DANOS GRAVES E IRREVERSÍVEIS COMPROVADOS. INDENIZAÇÃO QUE SE IMPÕE. V CORREÇÃO MONETÁRIA. TERMO A QUO. DATA DO EVENTO DANOSO. PRECEDENTES DO STJ. VI HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. BENEFÍCIO 2
DA LEI N 1.060/50. ART. 12 DA NORMA QUE SÓ CONTEMPLA OS BENEFICIÁRIOS DA GRATUIDADE JUDICIAL. RECURSO DESPROVIDO. (..) III - Os valores, relativos às indenizações, fixados pela Medida Provisória 340, convertida na Lei n. 11.482/2007, que alterou o art. 32, da lei n. 6.194/74, são aplicáveis aos casos de acidentes ocorridos após sua vigência, em 29 de dezembro de 2006, situação não encontrada nos presentes autos. (TJPB - Acórdão do processo n 00120080166687001, 1 Câmara Cível), Relator Dr. MARCOS WILLIAM DE OLIVEIRA -j. em 02/12/2010) Também não prospera a alegação de que a debilidade em questão não se confunde com invalidez permanente, visto que, o laudo pericial, emitido pelo Instituto Médico Legal IML, às fls. 47, atestou, em exame audiométrico, a perda auditiva neuro-sensorial bilateral, em aproximadamente 50% (cinquenta por cento) no ouvido esquerdo e 90% (noventa por cento) no ouvido direito. Dessa forma, o exame de corpo de delito, requerido pela autoridade judicial, corroborou com o atestado médico de otorrinolaringologista, levado ao mencionado instituto pelo suplicado, em que certifica que o lesionado é portador de hipoacusia profunda de caráter irreversível. Em relação à aplicação dos valores trazidos pela tabela do Conselho Nacional dos Seguros Privados CNSP, tem-se que afixação do montante indenizatório em teto inferior ao da própria lei não é cabível, uma vez que a resolução editada pelo órgão supracitado não possui o condão de revogar a ordem legal vigente no país. Nesse azo, respalda-se a mais escorreita jurisprudência. Vejamos: DIREITO SECURITÁRIO. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. ACIDENTE AUTOMOBILÍSTICO. DP VAT. INVALIDEZ PERMANENTE. DEMONSTRAÇÃO SUFICIENTE. SUPREMACIA DA LEI ORDINÁRIA SOBRE AS RESOLUÇÕES DO CNSR DETERMINAÇÃO COM BASE NO SALÁRIO MÍNIMO. VALOR VIGENTE NA DATA DA OCORRÊNCIA DO SINISTRO. PROVIMENTO PARCIAL DO APELO. - As resoluções do CNSP não têm o poder de revogar determinação expressa em norma legal, casu, a Lei n 6.194/74, que se encontra em pleno vigor, na redação vigente à época do fato, não se referia ao salário mínimo como índice de correção monetária e sim como a própria base do valor do seguro DPVAT. - Constatada a invalidez permanente, o valor da indenização DPVAT deve ser de até 40 quarenta salários-mínimos vigentes na data do sinistro a partir de quando deve incidir a correção monetária e não na data da propositura da ação ou da prolação da sentença, ponderando-se o valor da indenização com base na gravidade e na irreversibilidade do dano causado à vítima. (TJPB - Acórdão do processo n 00120080170853001, 1 Câmara Cível, Relator: Des. M_ANOEL SOARES MONTEIRO, j. em 06/05/2010) Dessa forma, para os sinistros ocorridos antes da MP n 340/06 e posterior
conversão na Lei n 11.482/07, devem ser aplicados os dispositivos elencados pela Lei 6.194/74, de acordo com o que se verifica na decisão de primeiro grau. Ante o exposto, nego seguimento ao apelo, nos termos do art. 557, do Código de Processo Civil. Verifica-se, pois, que as argumentações do Agravo, ora analisado, diz respeito tão somente à alegação de que a decisão monocrática acima transcrita, na parte em que interessa, encontra-se em confronto com a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça. Todavia, não merece respaldo tais argumentos, uma vez que o posicionamento desta Corte alinha-se perfeitamente ao entendimento do STJ, vejamos: CIVIL. RECURSO ESPECIAL. SEGURO DE DANOS PESSOAIS CAUSADOS POR VEÍCULOS DE VIA TERRESTRE (DPVA7). LIMPEZA DO TRATOR. AMPUTAÇÃO DE MEMBRO. ACIDENTE DE TRABALHO. HIPÓTESE DE INCIDÊNCIA DA NORMA LEI N 6.194/76. I. Ausentes os vícios do art. 535 do CPC, rejeitam-se os embargos de declaração. 2. A caracterização do infortúnio como acidente de trabalho para fins de indenização previdenciária não impede, necessariamente, que esse também seja considerado como um acidente causado por veículo automotor e, portanto, coberto pelo DPVAT. 3. O seguro obrigatório (DPVA7), como cediço, é um contrato legal, de cunho social, regulamentado pela Lei n. 6.194/74, em que o segurado é indeterminado. Ele tem por objetivo a reparação por eventual dano pessoal, independente de juízo de valor acerca da existência de culpa. Ou seja, para que o sinistro seja considerado protegido pelo seguro DPVAT é necessário que ele tenha sido ocasionado pelo uso de veículo automotor 4. Considerando que o uso comum que se dá ao veículo é a circulação em área pública, em regra, os sinistros que porventura ocorram somente serão cobertos pelo seguro obrigatório quando o acidente ocorrer com pelo menos um veículo em movimento. Entretanto, é possível imaginar hipóteses excepcionais em que o veículo parado cause danos indenizáveis. Para isso, seria necessário que o próprio veículo ou a sua carga causasse dano a seu condutor ou a um terceiro. 5. Na hipótese, o veículo automotor (trator pavimentador) foi a causa determinante do dano sofrido pelo recorrente, sendo, portanto, cabível a indenização securitária. 6. O Superior Tribunal de Justiça já firmou entendimento no sentido de que ela deve ser apurada com base no valor do salário mínimo vigente na data do evento danoso, monetariamente atualizado até o efetivo pagamento, sendo que, nos casos de invalidez parcial permanente, ela deve ser paga proporcionalmente ao grau da lesão, até o limite de 40 salários mínimos 7. Recurso especial provido. (Grifei) (REsp 1245817/MG, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 06/03/2012, DJe 14/03/2012) Destarte, adoto todas as razões de decidir expostas na decisão agravada, razão 4
por que mantenho incólume o decisum guerreado. Assim, não tendo havido qualquer alteração de fato ou de direito, após a análise feita da questão, por ocasião do julgamento monocrático, nego provimento ao presente agravo interno. É como voto. Presidiu a sessão o Excelentíssimo Desembargador José Ricardo Porto. Participaram do julgamento, além deste relator, a Exma. Dra. Maria das Graças Morais Guedes (Juíza convocada para compor o quorum, face a ausência justificada do Excelentíssimo Dr. Ricardo Vital de Almeida, Juiz convocado para substituir o Exmo. Des. Manoel Soares Monteiro) e o Exmo. Des. José Di Lorenzo Serpa. Alcoforado. Presente à sessão a Procuradora de Justiça Dra. Sônia Maria Guedes Sala de sessões da Primeira Câmara Cível "Desembargador Mário Moacyr Porto" do Egrégio Tribunal de Justiça d stado da Paraíba, em João Pessoa, 05 de julho de 2012. Des.'L&è Itear o Porto L TO 5
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