MÍDIA ETNIA Educação e Comunicação Oficina: Jogos e Brincadeiras: influência africana Profa. Ana Nascimento anlunas@hotmail.com Axé A África é o segundo maior continente do planeta. Os diversos povos que o habitavam, muito antes da invasão européia, eram bambambãs em várias áreas: - dominavam técnicas da agricultura, mineração, ourivesaria e metalurgia; - usavam sistemas matemáticos complexos; - tinham conhecimentos de astronomia que serviram de base para a ciência moderna. 1
Mas a idéia que se tem da África hoje não está relacionada à produção intelectual e tecnológica... Na Mídia só aparece gente doente, guerras, safáris, mulheres com cangas coloridas e escravidão. No Brasil, os africanos sofreram, mas preservaram uma cultura muito especial, importante e rica em conhecimentos e valores. 2
O tráfico deportou homens e mulheres portadores de idéias, de valores, de saberes, de religiões e de tradições. Foi esta cultura em movimento que manteve a força da sobrevivência, da resistência, da adaptação e, enfim, do renascimento de indivíduos arrancados à terra dos seus ancestrais. Por sua exclusiva vontade de viver e criar, a violência absoluta que sofreram acabou por produzir reencontros, fecundações e mestiçagens, que, na misteriosa alquimia da constituição de identidades, deram à luz novas e plurais formas de culturas e de identidades. Africanidades brasileiras "refere-se às raízes da cultura brasileira que têm origem africana. Dizendo de outra forma, queremos nos reportar ao modo de ser, de viver, de organizar suas lutas, próprio dos negros brasileiros e, de outro lado, às marcas da cultura africana que, independente da origem étnica de cada brasileiro, fazem parte do dia-a-dia SILVA, Petronilha B.G. Africanidades Brasileiras: esclarecendo significados e definindo procedimentos pedagógicos in Revista do Professor. Porto Alegre, 19 (73):26-30, jan./mar. 2003. 3
Jogos tradicionais ou jogos populares Praticados por adultos ou crianças Ocorrem com frequência em calçadas, ruas, quintais, terrenos baldios e pátios escolares Se tornam parte da vida cotidiana Praticados em momentos de tempo livre Favorece o encontro grupal. brincadeiras de faz-de-conta grupo infantil (rural e urbano) Atividades baseadas em representações de situações adultas observadas no seu cotidiano. São praticadas desde cedo, quando as crianças entram na etapa das atividades simbólicas. Exemplos: brincadeiras de casinha, escolinha, ônibus, vendinha, etc. 4
brincadeiras-de de-roda Acompanhadas por cantigas Possuem certa movimentação do grupo, geralmente disposto em círculo. Exemplos: a canoa virou, atirei o pau no gato, carneirinho-carneirão, ciranda-cirandinha, entrei na roda, fui no Itororó, pirulito que bate-bate, o cravo brigou com a rosa, sambalelê, Terezinha de Jesus e outras. Origem dos jogos e brincadeiras Manifestações de criação regional ou nacional Com raízes de identificação entre países de cultura similar ou mesmo distantes O surgimento de vários desses jogos e brincadeiras infantis está ligado à apropriação e reprodução, pelas crianças, de práticas culturais observadas entre adultos. 5
Origem dos jogos e brincadeiras no Brasil Fortes elementos de origem africana. É sabido que o Brasil é um dos países de maior contingente populacional negro do mundo. Entretanto, provavelmente pela própria opressão imposta à população negra, não se observam muitos registros quanto às influências na prática dos jogos tradicionais tanto de adultos como infantis ao longo do tempo. Fontes orais e Literatura Em obras como no romance de José Lins do Rego, Menino de engenho, podemos encontrar alguns relatos referentes a relação das crianças brancas com as negras do período 6
Através da oralidade, muitos jogos, brincadeiras e brinquedos receberam influências africanas e se incorporaram à cultura brasileira. Estudos (Sociologia e Antropologia) registram brincadeiras entre meninos de engenho e meninos escravizados. A dominação branca era também reproduzida na atividade infantil. capitão-de-campo-amarranegro. No Maranhão, estado de significativa população negra, este jogo retrata a captura de escravos foragidos. Possui um determinado espaço físico onde não podem ser pegos a mancha, que provavelmente representa a área de resistência em que se constituíam os quilombos. Entre os jogos de adultos, a capoeira é a herança mais evidente desta fuga lúdica e emancipatória. 7
Brincando As crianças africanas do século XVI trazidas para o Brasil, juntamente com as mães escravizadas As crianças afrodescendentes, nascidas no Brasil Repetiam as brincadeiras do continente de origem Aceitaram e adotaram as brincadeiras locais e as de origem europeia Segundo Cascudo (1972), a criança africana aceitava depressa a lúdica que o ambiente lhe permitia. Servia-se do material mais próximo e brincava, talvez conservando a técnica africana ou adotando a local. Um hábito bastante comum nas casas-grandes era o de colocar à disposição do sinhozinho, um ou mais moleques (filhos de negros escravos, do mesmo sexo e idade aproximada) como companheiros de brincadeiras. Segundo Gilberto Freyre, as crianças negras, nas brincadeiras dos meninos brancos, desempenhavam a função de leva-pancada pancada; uma reprodução, em escala menor, das relações de dominação no sistema de escravidão. O menino branco usava o moleque como escravo em suas brincadeiras. 8
montar a cavalo em carneiros Segundo Freire, era a brincadeira preferidas dos meninos de engenho Mas na falta destes, os moleques serviam... eram bois de carro cavalos de montaria bestas de almanjarras burros de liteiras... 9
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Gangorra: Prancha de madeira apoiada sobre uma base. Duas crianças se sentam sobre as extremidades e, com o seu peso, movimentam o brinquedo para cima e para baixo. Bacondê: escondeesconde. Macaco: jogo da amarelinha. Pião Papagaio Belisco Típicos da violência do período do engenho de açúcar; pois mesmo no jogo de pião e no empinar papagaio se exprimia o sadismo dos meninos das casas-grandes e dos sobrados. Ainda hoje ainda ocorre de lascar-se o pião ou de comer-se o papagaio do outro. Papagaio alheio é destruído por lâminas de vidro ou cacos de garrafa ocultos nas tiras de pano de rabo. 11
Curre-Curre Jogo infantil com castanhas de caju. Um jogador guarda na mão uma quantidade de castanhas e pergunta: -Curre-curre? -Eu cerco! -Por quanto? Dizem um número qualquer. Coincidindo com a quantidade de castanhas da mão do primeiro jogador, este perde. (Agreste e litoral sul do RN). 12
Yoté Jogo de origem africana para dois jogadores. Inicialmente, como no "Moinho", as peças estão fora do tabuleiro e vão sendo gradativamente colocadas neste. A tomada das peças é feita como no "Jogo de Damas". Aparentado à mancala, o tabuleiro de "Yoté" tem 30 buracos, divididos em 5 filas de 6 buracos cada. Cada jogador deve ter 12 peças de cores ou formatos diferentes, de modo a serem facilmente diferenciadas. Quem ficar sem peças, ou com peças bloqueadas, perde o jogo. O empate é possível quando os jogadores tiverem peças suficientes para forçar a vitória. 13
Bonecas de barro, de pano... Muito tempo atrás, lá no Egito, já faziam bonecas de barro. Antigamente, se faziam bonecas de pano, de madeira e até de sabugo de milho. A Emília e o Visconde de Sabugosa, das histórias de Monteiro Lobato, são bonecos feitos em casa, de pano e de sabugo de milho. Nos últimos anos começaram a aparecer bonecos para os meninos brincarem. Eles são geralmente super-heróis. Para as meninas, surgiram as bonecas mocinhas, com vestidos para trocar, com casinhas e automóveis para brincar de gente grande. Para fazer uma boneca de jornal 1. Pegue uma folha de jornal. Divida-a em duas. Pegue um pedaço e divida em dois. 2. Enrole os pedaços pequenos para fazer dois canudinhos. 3. Faça uma trouxinha para a cabeça. 4. Trance os canudos. 5. Junte a cabeça ao corpo e amarre bem. 6. Invente a roupa (saia, vestido, sapato...) e cabelos de cordão ou de tirinhas de papel. 7. Pinte dois olhinhos e amarre uma linha nas mãos ou no pescoço da boneca. 8. Brinque com a boneca dependurada no cordão ou no colo. Você pode fazer bonecos, bonecas, bichos e brincar de teatro. E pode, também, usar pano no lugar de jornal. A boneca fica mais maciazinha. 14
CAMA-DE-GATO Cama-de-gato é também conhecido como Jogos de Cordel e Jogo do fio. Com 1 ou dois jogadores. Pegar um cordel (barbante ou fio), não muito grosso, com 1m a 1,50 m de comprimento e atar as duas extremidades. O jogo consiste em evocar, com o cordel, diferentes objetos por meio de uma série de manobras e de entrelaçamentos. Chicotinho queimado Um dos participantes será o Chicotinho queimado. Ele irá esconder um objeto para que os outros o encontrem. Quando alguém se aproximar do objeto o Chicotinho queimado vai dando pistas: Diz Quente se a pessoa estiver perto do objeto, frio se estiver longe, morno se estiver se aproximando. Ganha quem achar o objeto, e será a sua vez de escondê-lo. 15
BATATA QUENTE Nessa brincadeira quanto mais gente melhor. As crianças devem sentar-se no chão formando uma grande roda. Uma bola ou qualquer outro objeto adequado (leve, que não machuque) vai passando rapidamente de mão em mão. Enquanto a batata-quente (ou seja, o objeto) muda de mãos, as crianças cantam em voz alta: -Passa, passa batatinha, batata quente A musiquinha pára na palavra queimou. Nesse instante, quem estiver segurando a batata se queimou e tem que sair da roda. Repete-se a brincadeira até sobrar apenas o vencedor. OS ESCRAVOS DE JÓ Os escravos de Jó jogavam caxangá Tira, bota, deixa o Zé Pereira ficar Guerreiros com guerreiros fazem zigue zigue zá Guerreiros com guerreiros fazem zigue zigue zá A brincadeira: sentados em roda, as crianças dispõem cada uma de um objeto à mão (caixa de fósforo, copo, pedra, etc.) A medida que se canta, vão se passando os objetos em roda, até chegar na última estrofe (guerreiros com guerreiros...) onde, no zigue zá, os participantes fazem juntos um movimento de ida e volta com o objeto, sem passar para o próximo. A brincadeira vai se acelerando. 16
Referências ALMEIDA, Renato. Vivência e Projeção do Folclore. Rio de Janeiro: Agir, 1971. CASCUDO, Luis da Câmera. Dicionário do Folclore Brasileiro. 3. ed. Rio de Janeiro, 1972. FREYRE, Gilberto. Casa-Grande e Senzala. Rio de Janeiro: José Olympio, 1966. KISHIMOTO, Tizuko M. Jogos infantis: o jogo, a criança e a educação. 6a ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1999.. Jogos Infantis. Petrópolis, RJ: Vozes, 1993. REGO, José Lins do. Menino de Engenho. 30. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1981. Revista Escola. São Paulo: Abril, 2005. RODRIGUES, José Honório. Brasil e África: outro horizonte. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1961. SILVA. Petronilha Beatriz Gonçalves e. Africanidades Brasileiras: esclarecendo significados e definindo procedimentos pedagógicos. Revista do Professor. Porto Alegre, 19 (73):26-30, jan./mar. 2003. ZURAWSKI, Paula. Ritmo de Aprendizado. Revista Escola. São Paulo: Abril, 2009 17