PN 670.95 Acordam no Tribunal da Relação de Évora 1., casado, electricista, e mulher,, doméstica, residentes na presente acção declarativa com processo sumário, contra a, intentaram a, com sede a, pedindo a condenação da R. a pagar-lhes o montante indemnizatório de 1 190 620$00, acrescid o de juros de mora ven cidos e vincendos, à taxa da lei, contados da citação, já que, por força do contrato de seguro titulado pela apólice nº 5.1 97.960, se comprometeu a ressarcir os prejuízos emergentes dos danos inau gur ados na circulação rodoviária do veículo de matrícula, o q ual embateu pela traseira o automóvel dos AA., conduzido então pelo A. marido, e que circulava no dia 91.10.31, pelas 18h 30m, na Av. Luísa Todi, em Setúbal, junto ao prédio com o nº de polícia 279, seguindo todas as prescrições legais. Por outro lado, do embate houve como consequên cias: (1) a imobilização por avaria deste último veículo, que continuava na data da propositura (94.10.27), e a importar até então, em despesas com alu gueres de veículos de substituição, no mês de Novembro de 91-29 000$00; no mês de Dezembro - 31 000$00; no mês de Janeiro de 1992-31 000$00; no mês de Fevereiro - 30 800$00; no mês de Março - 34 100$00; no mês de Abril - 33 000$00; no mês de Maio - 34 100$00; no mês de Junho - 33 000$00; no mês de Julho - 34 100$00; no mês de Agosto - 34 100$00; e até 12 de Setembro - 2 600$00; no restante - 33 000$00; devendo somar-se a estas (2) o preço orçado da reparação - 270 000$00 (quantia de que os AA. não dispõem); e (3) a compensação, estimada em 300 000$00, por "ter em deixado de poder passear com a família nos fins de semana, como costumavam fazer antes do acidente".
2. Juntou facturas de sociedades que exploram carros de aluguer donde se retira o bem fundado da alegação das despesas, e um orçamento para reparação do automóvel, condizente também. 3. A R. contestou por excepção, alegando prescrição do direito invocado pelos AA., dado que o acidente tinha ocorrido em 91.10.31 e só fora citada em 94.12.15. Por impugnação, defendeu que o A. marido tinha levado a cabo uma manobra de ultrapassagem do veículo segurado, desfazendo-a, com perigo, sem cuidado e destreza, muito próximo da dianteira do, que o condutor não conseguiu fazer parar antes da colisão, precisamente por não lhe ter sido deixado espaço apropriado. 4. Juntou cópia da acta adicional nº 8 da apólice 60/5.197.960, da qual se vê que o dono do veículo transferiu para a R. a responsabilidade fundada no r isco automóvel, relativamente ao período de 91.08.06 a 92.06.17, mediante o p agamento d o "prémio puro anual" de 198 996$00. 5. Na resposta, os AA. defenderam qu e a prescrição se interrompeu antes na data da propositura, acrescendo que, segundo o artº 325 CC, deve ser entendido ter havido reconhecimento do direito em que se funda a pretensão indemnizatória, logo que a R., em 92.02.06, se propôs custear metade das despesas alegadas na p. i. Por fim, que deve ter-se em conta o prazo prescricional de 5 anos, já que os factos integram crime de dano, visto o disposto no artº 117/3, conjugado com o artº 308 CP e com o artº 493/3 CC. 6. Juntou cópia de correspondência do mandatário constituído com a R., nomeadamente carta desta, datada d e 91.10.31, na qual se lê: "As versões do acidente são diferentes, a PSP não viu... a fim de podermos regularizar mais um caso de sinistro, solicitamos... a participação do acidente, e proced eremos de acordo com o artº 508 do C. Civil. Aguardamos... notícias"; carta datada de 92.02.12, na qual se escreveu: "Segundo o auto da PSP, [o] agente não presenciou o acidente. As declarações dos intervenientes divergem. Assim sendo, [propomos]... uma reconstituição do acidente no local. Para
isso... tem que p articipar o acidente, ou... aplicamos o artº 508 do C. Civil, dividindo assim a responsabilidade"; e carta da R., datada de 91.10.31, em que se escreveu "... mantemos a proposta anteriormente apresentada de 50%, com base no nº 2 do artº 506 do C. Civil. Em caso de recusa, aguardaremos os acontecimentos". 7. A veio impugnar a junção dos documentos precedentes, por violação do disposto no artº 81 do DL 84/84 d e 16 de Março, pois as "cartas contêm factos relativos à pendência e produzidas durante negociaçõ es para acordo amigável". 8. No saneador, o tribun al julgou procedente a excepção, e em consequência absolveu a R. do pedido, ao abrigo do artº 493/3 CPC. Começou por admitir os documentos oferecidos pelos AA. na resposta à contestação, por terem sido produzidos durante uma fase de negociações anterior à propositura, incidindo a proibição de prova do artº 81/1 d. do Estatuto da Ordem dos Advogados ap enas sobre correspondência trocada entre advogados ou mandatário e parte contrária já depois de intentadas as acções. De todo o modo, "O facto de neles [a R.] se haver predisposto a prosseguir par a uma solução d e equidade", não aceite, "n ão [a] vinculou... a qualquer reconhecimento expresso ou tácito". Assim, mantidos os documentos nos autos, concluiu-se que deles não decorria ter havido reconhecimento do direito para o efeito da interrupção da prescrição. Seguiu-se a discussão sobre se o prazo de prescrição seria de 5 ou 3 anos, tendo sido concluído que não havendo integração criminal por dano, da matéria alegad a, crime apenas imputável a título doloso, era o segundo que deveria considerar-se para solução do pleito, visto o disposto no artº 498 CC. E contado desde o momento em que o lesado marido interveio no acidente, certo era ter expirado até à data em que devia ter-se perfeito a citação, isto é, no 5º dia subsequente à propositura (94.10.27 + 5 dias = 94.11.01). Na verdade, 3 anos depois de 91.10.31 terminam em 94.10.31, e "a citação, ou a notificação judicial de qualquer acto que exprima directa ou indirectamente, a intenção de exercício do direito, são os meios processuais idóneos para interrupção da prescrição".
9. Os autores interpuseram a presente apelação, recurso recebido na espécie e com o efeito da lei, nada obstando ao conhecimento do objecto do mesmo, corridos que são os vistos. 10. Concluiram: a) não decorreu, no caso vertente, e ao contrário do sustentado pelo tribunal a quo, o prazo prescricional; b) uma vez que tal prazo foi interrompido no dia 94.10.31: "dando competente requerimento da situação entrada no tribunal no dia 94.10.27, o 1º dia será o dia 94.10.27, o 2º o dia 94.10.28, o 3º o dia 94.10.29, o 4º o dia 94.10.30 e o 5º dia no dia 94.10.31, estando a prescrição interrompida precisamente no último dia em que completavam os 3 anos sobre a data do acidente"; c) acrescendo ainda o facto de a apelada ter reconhecido a dívida em 92.01.21, 92.02.12 e 92.05.21; d) pelo que, nos termos do artº 325 CC, o prazo p rescricional se interrompeu na primeira daquelas datas, o mesmo sucedendo na segund a e terceira (vd. Ac. RL 91.07.04); e) deve ao presente recurso ser dado provimento, revogando-se a decisão da 1ª instância. 11. Nas contra-alegações, disse a apelada: a) o eventual direito dos AA. prescrevia a 94.10.31, e muito embora a acção tivesse sido instaurada em 94.10.27, a R. só veio a ser citada em 94.12.15; b) ora, ao instaurarem a presente acção os AA. sabiam que era impossível a R. vir a ser citada antes de 94.10.31, e no entanto não utilizaram qualquer outro meio judicial competente para interromper a prescrição; c) e ao contrário de que os AA. pr etendem fazer crer, não é aplicável o disposto no artº 343/2 CC; de qualquer modo não se levando em conta, na contagem dos prazos, o próprio dia - artºs. 296 e 297 b. CC;
d) por outro lado, não decorre de qualquer das cartas emanadas da e o reconhecimento do pretendido direito dos AA.; e) pelo contrário, afirmou-se sempre que as versões relativas ao acidente eram contraditórias, e ao aludir-se ao artº 508 CC, uma vez mais, não se reconheceu a responsabilidade do segurado na produção do sinistro - o referido preceito legal prevê um caso de responsabilidade objectiva, isto é, independente de culpa; f) assim, o despacho recorrido fez boa aplicação do direito, devendo negar-se provimento ao recurso, para que seja aquele con firmado na íntegra. 12. Preambularmente se dirá, e sem necessidad e de muito mais, que nem os AA. nem a R. têm razão, os segund os quando defendem não haver de ter-se em conta o disposto no artº 323/2 CC, como critério orientador d a solução a dar ao caso, no que diz respeito à fixação da data de interrupção da prescrição, os primeiros quando defendem, no quadro de aplicação do citado preceito legal, que tal data foi a de 31/10. Na verdade, não se pod e dizer que os AA. tenham dado causa à d elonga da situação, visto do processo apenas constar, com data de 92. 10.31, cota donde presuntivamente se terá de tirar a conclusão de um atraso da Secretaria: não se diz aí que as guias para pagamento do preparo inicial só nessa data tivessem sido passadas por então terem sido reclamadas pelos AA. E, segundo a técnica de contagem do prazo utilizada pelos agravantes, então a citação deveria ter-se por ocorrida não em 92.10.31, mas no dia seguinte. 13. A questão desloca-se pois para o campo de saber se houve ou não anterior reconhecimento da dívida por parte da. Se sim, a interrupção teve lugar antes da proprositura, começando a contar novo prazo. Se não, ocorr eu a prescrição na verdade um dia antes da citação ficta. Na tese da senten ça, não tendo sido firmado acordo, a proposta da R. torna-se irrelevante, porque condicionada ao resultado consensual. Na tese da recorrida, não reconheceu a dívida, porque apenas se dispôs a regular o sinistro com base nas regras da responsabilidade objectiva. Na tese dos AA. recorrentes, houve reconhecimento de uma maneira ou doutra do dever de indemnizar.
Ocorre-nos o bem fundado da tese dos r ecorrentes. É que a condição da proposta é apenas quanto à modalidade regulativa, isto é, pressupõe o reconhecimento anterior, por parte da proponente, duma indemnização de ressarcimento que cumpria acertar. Ora, invocando-se a culpa, não se segue que n ão dev a condenar-se pelo risco, em caso de colisão de veículos (artºs. 503, 505 e 516 CC). Donde, houve interrupção da prescrição, nos termos do artº 325 CC, tanto mais que nas cartas a R. nunca invocou culpa do lesado (artº 570 CC), limitando-se a afirmar versões contraditórias do evento. 14. Atento o exposto, porque procedem as conclusões dos recorrentes no sentido da solução defendida, decidem revogar a decisão recorrida, julgando-se improcedente a excepção peremptória de prescrição oposta pela R. na defesa. Custas pela recorrida.