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Transcrição:

Vitor Oguri

Conceitos pré-relativísticos Transformações de Galileu Princípio da Relatividade de Galileu Problema com a dinâmica newtoniana O espaço-tempo de Einstein Medições de tempo Medições de distância Princípio da Relatividade de Einstein Transformações de Lorentz Fórmula de Einstein para velocidade

Equações de movimento da partícula Energia e momentum: relações de Einstein Limites clássico e semi-relativístico Equações de movimento de Einstein Transformações de energia e momentum Quadrivetores de Minkowski Dinâmica relativística da partícula Efeito Doppler

os conceitos de espaço e tempo são fundamentais em qualquer teoria física concepção dos filósofos gregos e cientistas modernos (Galileu, Descartes e Newton): - a duração dos eventos (fenômenos) é caracterizada pela variação uniforme e contínua do tempo - o espaço é uma espécie de palco (estático) no qual os fenômenos ocorrem, e as possíveis variações de posição de um corpo constituem também um contínuo o espaço-tempo é contínuo, homogêneo e isotrópico

Além dessas hipóteses, a Física Clássica pressupõe também que: a duração de um evento é a mesma para observadores em referenciais distintos invariância dos intervalos temporais o comprimento de um objeto, ou o deslocamento de uma partícula, é o mesmo para observadores em referenciais distintos invariância dos intervalos espaciais (distâncias) Essas hipóteses estão, tacitamente, incorporadas na Mecânica Clássica e no Eletromagnetismo, as duas teorias fundamentais da Física Clássica.

Uma vez aceito a homogeneidade, a isotropia e a continuidade do espaço e do tempo, e as invariâncias da duração dos eventos e do comprimento de um objeto, as leis da Mecânica de Newton ainda pressupõem que elas sejam válidas apenas em referenciais inerciais. Essa hipótese é denominada princípio da Relatividade de Galileu. Todas essas hipóteses da Mecânica implicam que as relações entre as coordenadas de posição e tempo, correspondentes a dois referenciais inerciais distintos, são lineares e dadas pelas chamadas transformações de Galileu. S e S têm eixos paralelos e coincidentes em t=t =0 translação uniforme de S na direção de x (boost na direção x) A isotropia espacial implica que apenas a coordenada espacial na direção do movimento é afetada.

É claro que as transformações de Galileu subentendem as hipóteses de invariância dos intervalos espacial e temporal. evento 1 : t 1 =t 1 evento 2 : t 2 =t 2 t 2 - t 1 = t 2 t 1 (T = T) independe dos locais de ocorrência (invariância da duração de eventos locais e não-locais) - L = L (invariância do comprimento)

As equações de movimento de Newton são covariantes com relação às transformações de Galileu

Uma conclusão das leis de Newton, que se sabe hoje não se verificar, é a não existência de um limite para a velocidade de uma partícula. A dinâmica relativística, desenvolvida por Einstein, impõe um limite (c a velocidade da luz no vácuo) para a velocidade de uma partícula. As equações de Maxwell não são covariantes com relação às transformações de Galileu.

A revisão dos conceitos de espaço e tempo é aprofundada por Einstein (1905). Segundo Einstein, a medida do comprimento de um objeto é uma operação complexa que exige do observador a avaliação da simultaneidade de ocorrência de vários eventos. Até as análises de Einstein, acreditava-se que a avaliação da simultaneidade era absoluta, ou seja, não dependia do estado de movimento do observador em relação ao local de ocorrência dos eventos. A teoria da Relatividade Restrita, desenvolvida por Einstein, estabelece que tanto a duração dos eventos, como os comprimentos dependem do estado de movimento do observador, ou seja, do referencial segundo o qual as medidas são realizadas.

A essência da Teoria da Relatividade de Einstein não é tanto a relativização dos conceitos de espaço e tempo, mas, sim, a reafirmação de que as leis da natureza devem ser independentes de referenciais. Procurando as relações entre os campos eletromagnéticos em dois referenciais inerciais, um pouco antes das análises de Einstein, Lorentz (1904) deduz as equações que relacionam as coordenadas espaço-temporais correspondentes, hoje denominadas transformações de Lorentz. Einstein, por sua vez, deduz as transformações de Lorentz e estabelece um nova dinâmica, reformulando dentre outros, os conceitos de espaço e tempo, a partir de duas hipóteses: - princípio da relatividade restrita: as leis da Física devem ser as mesmas para todos os referenciais; inerciais - princípio da invariância da velocidade da luz: a velocidade de propagação da luz no vácuo tem um valor constante dado por c= 299 792 458 m/s independente do estado de movimento do emissor, para qualquer observador.

A determinação da medida de um intervalo de tempo depende da existência de fenômenos cuja ocorrência se repete ordenadamente ao longo de intervalos de tempo iguais, denominados períodos. Inicialmente, Galileu utilizou o período de seu próprio batimento cardíaco (relógio biológico). No entanto, logo descobriu o isocronismo das pequenas oscilações de um pêndulo. Os cronômetros e relógios atuais utilizam padrões bem menores que a reação humana (0.1 s), e permitem que um único observador, praticamente, avalie o instante de ocorrência de qualquer evento local em seu referencial. Medidas da duração de eventos locais são denominadas medidas próprias de intervalos de tempo ou, brevemente, como tempo próprio. Avaliação do instante de ocorrência de eventos não locais exige a medição de tempo em diferentes regiões do espaço, ou seja, a existência de observadores com relógios sincronizados. Antes das análises de Einstein, acreditava-se que relógios sincronizados em um dado referencial estariam sincronizados para qualquer outro referencial, ou seja, o sincronismo não dependeria do estado de movimento dos relógios. A relatividade do sincronismo implica a relatividade da simultaneidade.

Simultaneidade relativa e o não sincronismo de relógios em movimento A e B são relógios inicialmente sincronizados, em repouso segundo um observador S Uma fonte de luz localizada no ponto médio emite ondas esféricas Evento 1: A recebe um sinal de uma dada frente de onda Evento 2: B recebe um sinal da mesma frente de onda recebida por A Segundo S, os relógios permanecem sincronizados e recebem os sinais de uma mesma frente de onda (esférica) simultaneamente Os eventos 1 e 2 são simultâneos para S

Simultaneidade relativa e o não sincronismo de relógios em movimento Para um observador S, segundo o qual os relógios e a fonte se deslocam com velocidade v, A e B não recebem os sinais de uma mesma frente de onda no mesmo instante. Os relógios não permanecem sincronizados Os eventos 1 e 2 não são simultâneos para S

evento 1: coincidência do ponto extremo A da barra com um ponto P 1 de uma régua evento 2: coincidência do outro ponto extremo B da barra com um ponto P 2 da régua

Para um observador O solidário à barra

Contração espacial

Do mesmo modo que Newton, Einstein admite também que o espaço-tempo é contínuo, homogêneo e isotrópico. Transformações de coordenadas entre referenciais inerciais são lineares. A relatividade do sincronismo e a isotropia espacial implicam que apenas as coordenadas temporal e espacial na direção do movimento são afetadas pelo movimento. Medida de comprimento de uma barra para observadores que se deslocam perpendicularmente à barra é invariante. Medidas de comprimento de uma barra para observadores que não se deslocam perpendicularmente à barra dependem do movimento. Medida de comprimento de uma barra para observadores que se deslocam paralelamente à barra dependem do movimento. Medidas de comprimento no referencial segundo o qual o objeto mensurado está em repouso são denominadas medidas próprias de comprimento ou, brevemente, comprimento próprio.

v (km/s) velocidade de afastamento das galáxias d (anos-luz) V = Ho d Ho = 70 km/(s.mpc -1 ) 1Mpc = 3 x 10 19 km

Boost de Lorentz na direção +x

Para um boost de Lorentz na direção +x (Einstein 1905)

Para campos uniformes a equação de movimento pode ser imediatamente integrada, obtendo-se Para uma força constante ou crescente com o tempo, implica que o momentum cresce indefinidamente.

Apesar do momentum poder crescer indefinidamente, a equação de movimento relativística estabelece um limite igual a velocidade da luz no vácuo (c) para a velocidade de uma partícula massiva. Limite para velocidade de uma partícula massiva

Multiplicando (escalarmente) a equação de movimento pela velocidade, e notando-se que obtém-se Essa expressão corresponde a equação da Mecânica Clássica para a variação da energia cinética de uma partícula. Uma vez que a energia cinética é a energia de uma partícula livre, identifica-se como a expressão relativística para a energia de uma partícula livre.

As definições relativísticas do momentum e da energia, resulta que a relação entre essas grandezas pode ser expressa como Alternativamente, utilizando as expressões para o quadrado do momentum e da energia, obtém-se ou seja,

Energia de repouso A energia de uma partícula livre não é apenas cinética, possui uma componente devida ao movimento (pc) e outra componente denominada energia de repouso Somente partículas sem massa podem se deslocar com a velocidade da luz

Limite clássico Limite semi-relativístico

De acordo com as equações de movimento relativísticas,

Algumas consequências das equações de Einstein a) Movimento em um campo elétrico uniforme

b) Movimento em um campo magnético uniforme

De acordo com as transformações de Lorentz, os fatores de Lorentz associados às velocidades v, v e V estão relacionados por onde Assim, as relações entre os momenta e as energias de uma partícula de massa m, para um boost de Lorentz na direção +x, são dadas por ou seja, obedecem às transformações de Lorentz.

As transformações de Lorentz implicam que as expressões são invariantes segundo referenciais inerciais. Essas expressões são definidas como módulo dos chamados quadrivetores de Minkowski