DEGRADABILIDADE IN VITRU DE CONCENTRADOS CONTENDO INCLUSÃO DO FARELO DO MESOCARPO DO BABAÇU EM DIETAS A BASE DE GRÃO DE MILHETO MOÍDO PARA BOVINOS Luís Felipe Felix Monteiro da Silva¹, Fabrícia Rocha Chaves Miotto² ¹Aluno do curso de Zootecnia; Campus de Araguaína-TO; e-mail: luis.felipex8@hotmail.com PIBIC/CNPq ²Orientadora do curso de Zootecnia; Campus de Araguaína TO; e-mail fabriciachaves@uft.edu.br Resumo: Objetivou-se com este trabalho avaliar a cinética de fermentação ruminal e degradabilidade efetiva, através da técnica Hohenheim Gas Test, em dietas a base de grão de milheto com diferentes níveis de inclusão de farelo do mesocarpo do babaçu (FMB). Foram formuladas dietas contendo 0%, 12%, 24%, 36% e 48% de inclusão de FMB. Os dados foram analisados por meio de regressão utilizando o modelo proposto por France e comparadas por meio do teste de paralelismo e identidade de curvas. As dietas apresentaram valores baixos para degradabilidade efetiva da MS (DEMS), e potencial máximo de produção de gás (A) à medida que ocorreu a inclusão de FMB foi reduzido. A inclusão de FMB às dietas proporcionou aumento na taxa de degradação fracional (μ), indicando a mais rápida degradação da fração potencialmente degradável. A inclusão de FMB a dieta a base de milheto não modifica a cinética de degradação, porém proporcionou redução no volume de gás produzido, reduzindo a degradação efetiva da matéria seca MS. Palavras-chave: subprodutos, produção de gás, degradabilidade INTRODUÇÃO Cada vez mais na bovinocultura de corte busca-se estudar técnicas que reduzam o custo de produção, sem causar diminuição no desempenho dos animais. Atualmente se aposta muito na utilização de subprodutos, devido ao acessível preço e à disponibilidade regional. Porém, é necessário que se busque informações sobre as adequadas formas de uso desses alimentos, além esclarecer o comportamento de tais alimentos quanto ao processo digestivo. A técnica de produção de gás in vitro é um modelo dinâmico da digestão que fornece estimativas dos valores nutritivos dos alimentos, com mudanças na
dieta, na população microbiana e do estado fisiológico do animal, além de informações sobre os fatores que deprimem os processos digestíveis (Mertens, 1993). Objetivou-se com esse trabalho avaliar o efeito da inclusão do farelo do mesocarpo do babaçu (FMB) em dietas a base de grão de milheto sobre o padrão de degradação e potencial uso da matéria seca dos concentrados. MATERIAL E MÉTODOS O ensaio foi realizado no Laboratório de Nutrição Animal da Escola de Medicina Veterinária e Zootecnia (EMVZ) e Laboratório de Gases, da Universidade Federal do Tocantins (UFT), Campus Araguaína. Foram formuladas, segundo o NRC (1996) dietas a base de milheto moído contendo 0%, 12%, 24%, 36% e 48% de FMB (Tabela 1),. Tabela 1. Proporção dos ingredientes dos concentrados experimentais Ingredientes, % Níveis de inclusão de FMB, % 0 12 24 36 48 Silagem de capim-elefante 20,0 20,0 20,0 20,0 20,0 Milho grão moído -- -- -- -- -- Milheto grão moído 77,79 65,01 52,37 36,45 20,62 FMB -- 12,39 24,68 36,83 48,86 Farelo de Soja -- -- -- 3,76 7,57 Calcário 0,58 0,97 1,33 1,33 1,33 Uréia pecuária 0,79 0,80 0,78 0,79 0,79 Núcleo Mineral 1 0,54 0,53 0,53 0,53 0,53 Cloreto de Sódio 0,27 0,26 0,26 0,26 0,26 Rumensin 0,026 0,026 0,026 0,026 0,026 Sulfato de amônia 0,006 0,013 0,013 0,013 0,013 FMB = farelo do mesocarpo do babaçu; 1 Núcleo Mineral: Ca =188 g/kg, P = 30 g/kg. Os ingredientes da dieta (farelo de soja, milheto, silagem e FMB) e concentrados foram analisados quanto à sua composição bromatológica (Tabela 2) e submetidos ao ensaio de produção de gases e degradabilidade com uso da técnica adaptada Hohenheim Gas Test, utilizando seringas graduadas para mensuração da produção de gases, onde foi colocado 0,2 g de cada amostra em saquinhos Ankon nº 57 incubando em seringas de 100 ml com 10 ml de inóculo e 20 ml de meio de cultura. Medindo a produção do volume dos gases nos seguintes horários: 0, 3, 6, 9, 12, 24, 48, 72 e 96 horas após inoculação.
Tabela 2. Composição bromatológica das dietas experimentais Itens Níveis de inclusão do farelo de mesocarpo do babaçu, % 0 12 24 36 48 Matéria seca, % da matéria natural 72,91 73,01 73,08 73,43 73,29 Proteína bruta, % MS 13,19 12,50 12,97 13,38 13,27 Extrato etéreo, %MS 3,62 3,02 2,37 2,25 1,29 Fibra em detergente neutro, % MS 23,41 26,79 31,13 34,08 41,45 Carboidratos não fibrosos, % MS 54,35 51,73 47,25 43,66 36,22 Carboidratos totais, % MS 77,76 78,52 78,38 77,73 77,67 Matéria mineral, % MM 5,43 5,96 6,2 6,63 7,76 MS = matéria seca. Posteriormente foram procedidos a regressão dos dados com a utilização do modelo proposto por France et al., (1993): Y= A {1 exp [ - b ( t L ) c x ( t - L)] }, tendo os seguintes parâmetros referentes à cinética de produção de gases; produção de gases acumulada (ml) Y, tempo de incubação t (horas), total de gases produzidos (ml) A, tempo de colonização T (horas) e taxa de degradação fracional (h-1) μ. As geradas foram comparadas por meio de teste de paralelismo e identidade de curvas, de acordo com Freese (1970), p<0,05. A degradabilidade efetiva da matéria seca foi obtida segundo a equação de France et al. (1993),em que: DEMS = S0 e -kt (1 - ki)/ (S0 + U0), sendo DEMS = degradabilidade efetiva da matéria seca ;k = taxa de passagem calculada para k = 0,02; 0,03; 0,04 e 0,05. S0 e U0 = frações inicialmente fermentáveis e frações não fermentáveis, respectivamente, em que: I = exp -[(b + k) (t - T) + c( t - T)]dt. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os valores de degradabilidade efetiva da MS (DEMS), potencial máximo de produção de gás (A), tempo de colonização (T) e taxa de degradação fracional (μ), dos níveis de inclusão de FMB (0; 12; 24; 36; 48 %), estão demonstrados na Tabela 3. A maior produção acumulada de gases é observada para a dieta sem a inclusão de FMB, havendo redução desta, na medida em que o FMB é acrescentado, este resultado pode ser explicado pela maior produção de gás observada para o milheto. Diante disso, pode-se
verificar também que as degradabilidades efetivas calculadas para as diferentes taxas de passagem foram inferiores na medida em que se incluiu o FMB às dietas. Tabela 3. Parâmetros da cinética de fermentação ruminal in vitro de níveis de inclusão do farelo do mesocarpo do babaçu utilizando o modelo de France e degradabilidade efetiva %FMB Parâmetros de France DEMS% A(mL) T(horas:min.) μ* 2% 3% 4% 5% 0% 289,417 01:06 0,032521 57,7980 56,6057 55,4325 54,2783 12% 256,009 01:06 0,035511 57,3257 56,1456 54,9844 53,8420 24% 227,691 01:18 0,035058 45,7230 44,6909 43,6779 42,6837 36% 208,262 01:08 0,03998 50,0275 48,9857 47,9610 46,9532 48% 189,256 01:04 0,040188 41,1216 40,2917 39,4748 38,606 SILAGEM 229,840 00:01 0,013789 34,5511 33,3889 32,2624 31,1707 MILHETO 297,246 01:10 0,047087 59,9950 58,7274 57,4813 56,2562 FMB 161,135 01:25 0,045559 38,1590 37,2576 36,3741 35,5081 * Parâmetros estimados pelo modelo de France et al. (1993). **Degradabilidade Efetiva da Matéria Seca. A provável explicação para estes resultados pode estar no elevado teor de FDN do FMB, e seu baixo potencial de utilização pelos microorganismos ruminais. Observou-se que a inclusão de FMB às dietas proporcionou aumento na taxa de degradação fracional, indicando a mais rápida degradação da fração potencialmente degradável nessas dietas. Na tabela 4, estão apresentados os dados acumulados de produção de gases e os modelos gerados pela análise de regressão de France et al. (1993). O teste de paralelismo de curvas indica que as dietas apresentaram a mesma cinética de degradação. No entanto, as deitas diferiram quanto à identidade, verificando-se que a inclusão de FMB proporcionou menores produções de gases.. A presença de teores altos de lignina associada à FDN, pode ser um dos fatores que contribuem para a menor fermentação das dietas com FMB.
Tabela 4. Equações da produção acumulativa de gases, de níveis de inclusão de FMB %FMB Equações (Modelo de France) 0% Y = 289,4175 x {1 exp [ ( 0,0410) x (t-1,1010) (-0,0721) x ( t 1,1010)] } a B 95,7 12% Y = 256,0097x {1 exp [ ( 0,0459) x (t-1,1016) (-0,0904) x ( t 1,1016 )] } a C 98,5 24% Y = 227,6918x {1 exp [ ( 0,0450) x (t-1,3037) (-0,0862) x ( t 1,3037 )] } a D 97,5 36% Y = 208,2621 x {1 exp [ ( 0,0547) x (t-1,1348) (-0,1326) x ( t 1,1348)] } a E 99,0 48% Y = 189,2568x {1 exp [ ( 0,0535) x (t-1,0680) (-0,1171) x ( t 1,0680)] } a F 96,3 SILAGEM Y = 229,8402x {1 exp [ ( 0,0188) x (t-2,4158) (-0,0224) x ( t 2,4158 )] } b H 93,6 MILHETO Y = 297,2463 x {1 exp [ ( 0,0635) x (t-1,1744) (-0,1409) x ( t 1,1744 )] } a A 98,9 FMB Y = 161,1357 x {1 exp [ (0,0562) x (t-1,4222) (-0.0858) x ( t 1,4222 )] } a G 95,8 Equações acompanhadas por letras minúsculas iguais na mesma coluna são paralelas pelo teste de paralelismo de curvas a 5% de probabilidade. Equações acompanhadas por letras maiúsculas iguais na mesma coluna são idênticas pelo teste de identidade de curvas a 5% de probabilidade (Freese, 1970). R² CONCLUSÃO A inclusão FMB em dietas para bovinos terminados e confinamento a base de milheto não modifica a cinética de degradação da matéria seca, porém proporciona redução no volume de gás produzido, com redução da degradação efetiva da MS. LITERATURA CITADA FRANCE, J.; DHANOA, M.S.; THEODOROU, M.K. et al. A model to interpret gas accumulation profiles with in vitro degradation of ruminal feeds. J. Theor. Biol., v.163, p.99-111, 1993. FREESE, F. Métodos estatísticos elementares para tecnicos forestales. Buenos Aires - Argentina: Centro Regional de Ayuda tecnica; Agencia para el desarrollo internacional (AID), 1970. 105 p. (Manual da Agricultura, 317). MERTENS, D.R. Rate and extent of digestion. In: FORBES, J. M.; FRANCE, J. (Ed.). Quantitative aspects of ruminant digestion and metabolism. Cambridge: CAB International, Cambridge University Press, 1983. p.13-51. NATIONAL RESEARCH COUNCIL NRC. Nutrient requirements of beef cattle. 7. ed. Washington, D.C.: National Academic of Sciences, 1996. AGRADECIMENTO O presente trabalho foi realizado com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CNPq Brasil.