25 a 28 de novembro de 2014 Câmpus de Palmas

Transcrição

1 Características fermentativas, degradabilidade ruminal in vitro e digestibilidade in vitro de silagens de capim Mombaça (Panicum maximum Jacq. cv. Mombaça) contendo farelo do mesocarpo do babaçu ou inoculante bacteriano enzimático Wanderson Campos Jardim¹; Deborah Alves Ferreira². ¹Aluno do Curso de Zootecnia; Campus de Araguaína; w.camposjardim@gmail.com PIBIC/UFT ²Orientadora do Curso de Zootecnia; Campus de Araguaína; deborah.alvesferreira@uft.edu.br RESUMO: Objetivou-se avaliar os teores de matéria seca (MS) e de nitrogênio amoniacal como parte do nitrogênio total (N-NH 3 /NT), o ph e a digestibilidade in vitro da matéria seca (DIVMS) de silagens de capim Mombaça (Panicum maximum Jacq. cv. Mombaça) contendo farelo do mesocarpo do babaçu (FMB) (0%, 5%, 10% e 15%, na matéria natural) ou inoculante bacteriano enzimático. A forragem foi ensilada em silos experimentais feitos em tubos de PVC. Após a abertura dos silos, parte do material foi utilizado para extração do suco, no qual foram determinados os valores de ph e N- NH3/NT. O restante do material foi utilizado para determinação da matéria seca e DIVMS. O delineamento experimental foi o de blocos ao acaso com cinco repetições e duas réplicas por tratamento. Utilizou-se o teste SNK (P<0,05) para a comparação entre as médias. A MS na silagem com adição de 15% de FMB, foi a mais alta encontrada dentre os tratamentos, com 30,93% de matéria seca total. Foram encontradas diferenças no ph, sendo que as silagens com inoculante comercial e adição de 15% apresentaram os valores mais baixos. Na medida em que acrescentou-se FMB na silagens, diminuiuse a concentração de N-NH 3 /NT. Os valores de DIVMS das silagens ficaram entre 49,81% e 57,56%, sendo encontrado diferença estatística somente entre as silagens contendo 15% de FMB (57,56%) e a tratada com inoculante (49,81%). Palavras-chave: aditivos; forragem conservada; ruminantes INTRODUÇÃO Para que não haja declínio na produção de ruminantes, faz-se necessário a adoção de estratégias de fornecimento de volumoso de qualidade nas épocas de estiagem, período onde o desenvolvimento dos vegetais torna-se comprometido, principalmente devido à

2 ausência de água que é necessária para os seus processos vitais. O processo de ensilagem cada vez mais vem sendo adotado pelos produtores, sendo os capins tropicais uma boa alternativa para sua confecção, devido a alta produção de matéria verde e baixo custo de produção. Entretanto, a produção de silagem destas forrageiras tem sido um desafio, em virtude de apresentarem baixas concentrações de carboidratos solúveis, baixo conteúdo de matéria seca e elevado poder tampão (QUARESMA et al., 2010). Estudos com diversos tipos e formas de aditivos tanto para elevar os teores de matéria seca da silagem de capim, quanto para melhorar de sua fermentação através dos inoculantes comerciais vem sendo conduzidos. O babaçu (Orbynia sp.) é uma palmeira da qual obtém-se o farelo do mesocarpo de babaçu (FMB), por meio da industrialização de seu fruto (MIOTTO et al., 2012), fruto este que é encontrado em abundância na vegetação natural do norte do estado do Tocantins. Além das características intrínsecas ao alimento é importante também conhecermos a relação deste com o animal. Segundo Xenofonte et al. (2008) outra característica importante na avaliação de um alimento é a sua digestibilidade, que, associada ao consumo, contribuirá para o desempenho do animal. MATERIAS E MÉTODOS O experimento foi conduzido na Escola de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal do Tocantins, localizada no município de Araguaína, Tocantins. Utilizou para ensilagem o capim Mombaça, plantado sobre a cultura do milho para silagem, quando atingiu altura média de 90 centímetros e com emissão de inflorescência, foi colhido e rebaixado na altura de 20 centímetros, através de picadeira acoplada ao trator na Fazenda de propriedade do Sr. Walter Carlos Degger, localizada também no município de Araguaína. O valor nutritivo do capim Mombaça e do farelo do mesocarpo do babaçu encontra-se descrito na tabela 1. O delineamento experimental foi o de blocos ao acaso com cinco repetições e duas réplicas por tratamento. Os tratamentos consistiam, em porcentagens na matéria verde: Silagem sem aditivo; silagem adicionada de 5% de farelo do mesocarpo do babaçu; silagem adicionada de 10% de farelo do mesocarpo do babaçu; silagem

3 adicionada de 15% de farelo do mesocarpo do babaçu e silagem adicionada de inoculante bacteriano-enzimático comercial (Lactosilo ), de acordo com o fabricante. Tabela 1. Composição química (% da matéria seca) do capim Mombaça e do Farelo do mesocarpo do babaçu MS FDN FDA HEM LIG PB PIDN 1 PIDA 2 EE MM Capim Mombaça 26,34 70,54 49,11 21,42 8,58 13,07 34,86 0,9 1,78 6,69 Farelo do Mesocarpo 84,59 44,43 28,14 16,29 13,3 3,27 34,97 18,44 1,94 3,12 do Babaçu MS= Matéria seca; PB= Protéina bruta; FDN= Fibra detergente neutro; FDA= Fibra detergente ácido, EE= Extrato etéreo; LIG= Lignina; 1 (%PB) PIDN = Proteina insolúvel detergente neutro, 2 (%PB) PIDA= Proteína insolúvel detergente ácido; MM= Matéria mineral e HM= Hemicelulose A forragem foi ensilada em silos experimentais feitos em tubos de PVC, com 10 centímetros de diâmetro e 40 centímetros de comprimento. A compactação foi realizada com um êmbolo de madeira e os silos fechados com tampa de PVC, dotadas de válvula tipo Bunsen. Os silos foram abertos após 290 dias de ensilagem. No momento da ensilagem e após abertura dos silos foram coletadas amostras do material, que foram secadas em estufa a 55ºC durante 72 horas e processadas em moinho tipo Willey. Em outra parte do material extraiu-se o suco da silagem para determinação do ph, com auxílio do potenciômetro digital, e do nitrogênio amoniacal, pela técnica de destilação com cloreto de cálcio e óxido de magnésio. Para a digestibilidade in vitro, as amostras foram submetidas a um ensaio onde foram incubados 0,2 gramas de cada amostra em seringas de 100 ml com 10 ml de inóculo e 20 ml de meio de cultura e, após a fase fermentativa, o resíduo foi submetido à um tratamento com solução de detergente neutro (TILLEY E TERRY, 1963; adaptado por HOLDEN, 1999). Utilizou-se o teste SNK (P<0,05) para a comparação entre as médias. RESULTADOS E DISCUSSÕES Na tabela 2 encontra-se os valores de matéria seca, ph, N-amoniacal e digestibilidade in vitro da matéria seca (DIVMS) de silagens de capim Mombaça tratadas com diferentes níveis de farelo do mesocarpo do babaçu (FMB) ou com inoculante bacteriano enzimático. Observou-se que de acordo com o aumento na inclusão de FMB, houve elevação nos teores de matéria seca. Este resultado ocorreu

4 devido ao elevado teor de MS do aditivo utilizado contribuindo para o aumento da MS total ensilada. Tabela 2. Valores de matéria seca, ph, N amoniacal como parte do N total (NNH 3 /NT) e digestibilidade in vitro da matéria seca (DIVMS) de silagens de capim Mombaça contendo farelo do mesocarpo do babaçu (FMB) e inoculante bacteriano enzimático (INOC). Tratamentos Item 0%FMB 5%FMB 10%FMB 15%FMB INOC Matéria seca % 21,18c 25,72b 27,52b 30,93a 21,66c ph 5,73c 5,88c 5,26b 4,53a 4,39a N-NH3/NT % 1,82 1,14 0,52 0,41 1,95 DIVMS % 53,08ab 51,78ab 55,00ab 57,56a 49,81b Letras iguais na mesma linha não diferem estatisticamente entre si (p<0,05) As silagens tratadas com 0% e 5% de FMB não apresentaram redução satisfatória do ph (5,76 e 5,88, respectivamente), porém nos tratamentos com adição de 15% de FMB e com inoculante comercial enzimático, verificou-se um ph mais baixo (4,53 e 4,39, respectivamente). Segundo ÁVILA et al. (2003), a utilização de aditivos que contribuem para aumentar o teor de MS das silagens pode reduzir a atividade de bactérias do gênero Clostridium que são sensíveis à pressão osmótica, possibilitando uma fermentação lática adequada. De acordo com McDONALD (1981) para silagens de boa, média e baixa qualidade são encontrados valores de ph entre 3,8 e 4,2, 4,2 e 4,6 e >4,6, respectivamente. O inoculante teve efeito positivo nas silagens de capim Mombaça com alta umidade. Conforme LAVEZZO (1993) o princípio básico de atuação destes produtos consiste no aumento da disponibilidade de açúcares simples, via complexo enzimático, para que as bactérias tenham acesso a esses açúcares, incrementando, dessa forma, a produção de ácido lático e promovendo a queda brusca do ph. Com a adição de 10 e 15% de FMB verifica-se menores teores de NNH 3 /NT, entretanto todas as silagens apresentaram valores satisfatórios. De acordo com McDONALD (1981), silagens com teores abaixo de 10% de NNH 3 /NT indicam menor intensidade de proteólise durante o processo fermentativo. A adição de FMB não alterou a DIVMS das silagens de capim Mombaça. Verificou-se menor DIVMS na silagem tratada com inoculante bacteriano-enzimático em relação àquela tratada com 15% de FMB.

5 LITERATURA CITADA ÁVILA, C.L.S.; PINTO, J.C.; EVANGELISTA, A. R. et al. Perfil de Fermentação das silagens de capim Tanzânia com aditivos- Teores de nitrogênio amoniacal e ph. Ciência. agrotécnica., Lavras. V.27, n.5, p , HOLDEN, L.A. comparison of methods of in vitro dry matter digestibility for ten feeds. Journal Dairy Science, v. 82, n. 8, p , LAVEZZO, W. Ensilagem de capim-elefante. In: SIMPÓSIO SOBRE MANEJO DA PASTAGEM, 10., 1992, Piracicaba. Anais... Piracicaba: Fundação de Estudos Agrários Luis de Queiroz, p.169. McDONALD, P. The biochemistry of silage. New York: John Wiley, p. MIOTTO, F.C.R.; RESTLE, J.; NEIVA, J.N.M. et al. Farelo do mesocarpo de babaçu na terminação de tourinhos: Caraterísticas de carcaça e cortes secundários do traseiro especial. Ciência Animal Brasileira, [S.l.], v. 13, n. 4, p , QUARESMA, J.P.S.; ABREU, J. G.; ALMEIDA. R. G. et al. Recuperação de matéria seca e composição química de silagens de gramíneas do gênero Cynodon submetidas a períodos de pré-emurchamento. Ciência agrotécnica, Lavras, v. 34, n. 5, p , TILLEY, J.M.A.; TERRY, R.A. A two-stage technique for the in vitro digestion of forage crops. Journal British Grassland Society, v. 18, n. 2, p , XENOFONTE, A.R.B.; CARVALHO, F.F.R.; BATISTA, A.M.V. et al. Desempenho e digestibilidade de nutrientes em ovinos alimentados com rações contendo farelo de babaçu. Revista Brasileira de Zootecnia, v.37, n.11, p , AGRADECIMENTOS "O presente trabalho foi realizado com o apoio da UFT