PATERNALISMO E PAIXÃO: a intertextualidade do discurso de despedida do presidente Lula e da carta-testamento de Getúlio Vargas

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Transcrição:

PATERNALISMO E PAIXÃO: a intertextualidade do discurso de despedida do presidente Lula e da carta-testamento de Getúlio Vargas Marcos R. CÂNDIDO 1 RESUMO O objetivo deste trabalho é apresentar a estratégia argumentativa da intertextualidade presente nos discursos de Vargas e Lula. O objeto de estudo será o discurso Despedida à Nação do presidente Lula e a carta-testamento de Getúlio Vargas. As técnicas argumentativas empregadas por Vargas e Lula visam ao relacionamento entre orador e auditório, destacando a parceria com o povo. A intertextualidade presente nos discursos visa o convencimento através de um discurso político quase didático e de forte apelo emocional, provocando a incitação das paixões no auditório. INTRODUÇÃO A intertextualidade está presente nas manifestações da linguagem e se mostra presente em textos científicos, políticos, religiosos, etc. De acordo com Koch e Elias (2008), a intertextualidade ocorre quando um texto está inserido em outro texto (intertexto) que já fora produzido anteriormente, e faz parte da memória social de uma coletividade (KOCH; ELIAS, 2008, p. 86). Para a execução deste trabalho analisamos a intertextualidade como um recurso argumentativo que busca incorporar vozes de outros enunciadores para arregimentar estratégias para a persuasão. Koch e Elias (2008) apresentam a intertextualidade como um fator de coerência de um texto e, para seu processamento cognitivo, busca-se o conhecimento de outros textos. As pesquisadoras da linguagem propõem, ainda, 1 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Gerais Câmpus Muzambinho / GRUPO PARE (Pesquisa em Argumentação e Retórica). Muzambinho-MG - E-mail: marcos.candido@ifsuldeminas.edu.br

que todo texto é um intertexto, pois quando há outros textos presentes nele, mesmo sendo em suas mais variadas formas, estes textos podem ser reconhecidos de forma mais ou menos acentuada. Os discursos em análise utilizam, com veemência e abundância, meios técnicos persuasivos diante de seu auditório. As estratégias argumentativas são meios técnicos que procuram convencer e persuadir, ou seja, dependem da vontade do orador e do auditório. As estratégias argumentativas têm no acordo prévio com o auditório o seu ponto fundamental. O estímulo para o orador, na arte de comunicar, é enquadrar o discurso na capacidade de absorção do auditório. Os discursos de Lula e Vargas orientam-se pela argumentação sensibilizadora de seu auditório, com objetivo de cativar o público para a importância de suas realizações. Para Koch (2004, p. 59), todos os textos são objetos heterogêneos, possuindo forte ligação com seu interior e exterior. Como recurso linguístico argumentativo, a intertextualidade permite a utilização de algo já dito (texto), e produz um argumento significativo para sustentar uma proposta ou tese que estiver em defesa, conforme conclui Santos (2013): Como recurso linguístico, a intertextualidade é usada numa perspectiva funcional, a partir da qual se busca realizar determinados propósitos comunicativos do autor. O texto geralmente é intertextualmente misto, pois, como vimos, é possível que um texto ou enunciado seja atravessado por diferentes tipos de intertextualidade. Isso vai depender da intencionalidade do autor e de suas respectivas escolhas. Relacionada à escolha do intertexto podem estar associados aspectos ideológicos inerentes à esfera comunicativa na qual o texto está inserido (SANTOS, 2013, p. 313). O orador, para utilizar a intertextualidade em um discurso, leva em conta sua forma de expressão, sua escolha, além do próprio estilo do gênero. Analisando nosso trabalho, entendemos que a intertextualidade implícita foi utilizada como recurso argumentativo para constituir o texto do discurso Despedida à Nação. A intertextualidade implícita ocorre sem citação da fonte, cabendo ao interlocutor recuperá-la na memória para construir o sentido do texto, conforme dizem Koch e Elias (2008, p. 92): Nesse caso, exige-se do interlocutor uma busca na memória para a identificação do intertexto e dos objetivos do produtor do texto ao inseri-lo no seu discurso.

O presente trabalho tem por objetivo a interpretação dos discursos e as teorias que envolvem suas construções. No contexto deste ambiente teórico, apresentamos a intertextualidade como recurso argumentativo. O objetivo central é expor o discurso do presidente Lula em intertexto com discursos de antecessores políticos, como Getúlio Vargas. O presente objetivo justifica-se pelo fato que ambos ocuparam o mesmo cargo político e são identificados como parte integrante do Populismo no Brasil. Neste sentido, verificar-se-á também como a estratégia argumentativa da intertextualidade corrobora a incitação das emoções no auditório, fazendo de Lula e Vargas oradores carismáticos. MATERIAL E MÉTODOS Para o desenvolvimento deste trabalho nos debruçamos sobre os discursos produzidos por Getúlio Vargas e Luís Inácio Lula da Silva durante os seus respectivos mandatos presidenciais. Os referidos discursos estão disponíveis no endereço eletrônico da Biblioteca Virtual da Presidência da República e do Memorial Getúlio Vargas. Após análise dos documentos encontrados, selecionamos para nosso corpus: o discurso de Despedida à Nação proferido pelo presidente Lula em 23 de dezembro de 2010 veiculado pela TV, em rede nacional e a carta-testamento de Getúlio Vargas divulgada pelo rádio em todo o país logo após o suicídio em 24 de agosto de 1954. A intertextualidade implícita presente no corpus desta pesquisa encontra-se nos parágrafos finais do discurso de despedida de Lula e da carta-testamento de Getúlio Vargas. Getúlio Vargas, no seu governo de 1951 a 1954, frente a pressões políticas, suicidou-se e despediu-se do povo em uma carta-testamento. Essa carta, expõe a preocupação do Pai dos Pobres (como Vargas era denominado pelo seu Departamento de Propaganda) com a continuidade da vida das massas e justifica o seu suicídio como a forma de libertar o povo brasileiro da escravidão. Já no discurso de Despedida à Nação, Lula não apresenta a fonte e, de forma implícita, remete ao texto da carta-testamento de Vargas a fim de produzir determinados efeitos de sentido através de substituições e acréscimos no enunciado-fonte (no caso, aqui, a carta-testamento). Definido os objetos de estudo optamos em apresentar a intertextualidade como estratégia argumentativa utilizada pelos oradores políticos Lula e Vargas.

Uma leitura bibliográfica dos autores que tratam da intertextualidade possibilitou a efetivação do resultado proposto no presente trabalho. RESULTADOS E DISCUSSÃO Comparando os discursos de despedida desses dois presidentes, identificamos as estratégias argumentativas de dois oradores políticos de grande capacidade retórica. O trecho apresentado a seguir faz parte da carta-testamento de Vargas. Vargas CT - 1: Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante, incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo, renunciando a mim mesmo, para defender o povo que agora se queda desamparado. Na carta-testamento, encontramos as expressões tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora. Para Getúlio Vargas, apesar das dificuldades da sua administração, jamais fugiu à luta e tudo foi feito para defender seu povo. A posição política de Vargas nos anos que antecedem o suicídio é decadente. A criação da Petrobrás e um aumento do salário-mínimo em 100% foram mais do que suficientes para alardear o coro dos que pediam sua saída da presidência da República. Somado a isto um atentado contra o jornalista e ferrenho opositor, Carlos Lacerda, incendiou a oposição que queria a renúncia. Mas Vargas relutava em concordar. Para um político que se colocava nos braços do povo, a renúncia seria humilhante. Quando as pressões eram incontroláveis, prometeu e cumpriu: do Palácio do Catete só sairia morto. Um tiro no peito e uma carta-testamento dão a tônica emocional da despedida. Lula remete à fala de Vargas e se coloca como homem do povo, aquele que não desiste e promete ao final do mandato, conforme identificamos no trecho do discurso de despedida: Homem do povo que sempre fui, serei mais povo do que nunca, sem renegar o meu destino e jamais fugir à luta. Isso significa estar junto de seu povo, agora mais do que nunca, pois este povo não pode se sentir desamparado. Diferente da posição política de Vargas, ao final do mandato, de acordo com as pesquisas da época, Lula possuía uma alta popularidade. De acordo com Lula, isso foi construído com a força do povo e essa força é que o alimenta para lutar sempre.

A repercussão das despedidas em questão, embora distintas na forma, apresentam o apelo às emoções do auditório. A luta proposta por estes líderes faz o povo acreditar que seus mandatários jamais esqueceriam aqueles que os conduziram ao cargo mais alto da nação. CONCLUSÕES Os trechos apresentados evidenciam que Lula, em seu discurso de Despedida à Nação, aparentemente de forma intencional, remeteu implicitamente à carta testamento para evocar o mito do Pai dos Pobres. O auditório mais expressivo de Lula talvez nem compreenda tal referência, mas as partes da carta testamento evocadas por Lula suscitam as paixões que contribuem para aumentar a credibilidade do orador. Considerando o exposto, entendemos, conforme destacam Koch e Elias (2008, p. 95), que o efeito de sentido provocado pelo deslocamento ou transformação dos velhos textos e o propósito comunicacional dos novos textos constituídos revela a presença da intertextualidade entre a carta testamento de Vargas e o discurso de despedida de Lula. REFERÊNCIAS CHARAUDEAU, P. O discurso político. Tradução de Dilson Ferreira da Cruz e Fabiana Komesu. São Paulo: Contexto, 2008. DITTRICH, I. J. Afetividade e efetividade em discursos de Lula: uma retórica passional. Línguas e Letras. 2010. Disponível em: <file:///c:/users/a/downloads/4341-17390-2-pb.pdf>. Acesso em: 27 nov. 2014. DOMENACH, J. A propaganda política. 2001. Disponível em: <http://www.egov.ufsc.br/ portal/sites/default/files/anexos/24913-24915-1-pb.pdf>. Acesso em: 09 nov. 2014. FERREIRA, L. A. Leitura e persuasão: princípios de análise retórica. São Paulo: Contexto, 2010. (Coleção Linguagem e Ensino). KOCH, I. V.; ELIAS, V. M. Ler e compreender: os sentidos do texto. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2008. KOCH, I. V. A interação pela linguagem. 3. ed. São Paulo: Contexto, 1997.. Introdução à Linguística Textual. São Paulo: Martins Fontes, 2004.. O texto e a construção dos sentidos. São Paulo: Contexto, 2002.