POTENCIALIDADES DA CARNE DE RÃ

Documentos relacionados
ARTIGOS CIENTÍFICOS USE THE BULLFROG CARCASS MEAT TO DEVELOP HAMBURGUER. Recebido em: 8 de março de 2008

Coprodutos e subprodutos agroindustriais na alimentação de bovinos

CARACTERÍSTICAS E CONSUMO DE PESCADO NO SUL DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

CARACTERIZAÇÃO DA CARNE DE RÃ TOURO, COMPOSIÇÃO CENTESIMAL E COR

Biomassa de Banana Verde Polpa - BBVP

XI Jornada Científica XI Semana de Ciência e Tecnologia IFMG Campus Bambuí

INFLUÊNCIA DE MÉTODOS DE COCÇÃO DA CARNE DE RÃ TOURO Lithobates catesbeianus NA SUA COMPOSIÇÃO CENTESIMAL

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA PROGRAMA DE DISCIPLINA

ELABORAÇÃO E ACEITABILIDADE DA CARNE DE RÃ-TOURO (Rana catesbeiana) NA FORMULAÇÃO DE HAMBÚRGUER RECHEADO COM QUEIJO COALHO. Apresentação: Pôster

Uso do grão de arroz na alimentação de suínos e aves

VITAMINAS. Valores retirados de Tabela da composição de Alimentos. Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge

ALBUMINA. Proteína do ovo como suplemento

Princípios de formulação de alimentos para cães e gatos. Aulus Carciofi

Queijo de leite de cabra: um empreendimento promissor e saudável

Ficha Técnica de Produtos BLEND WHEY

Exigências nutricionais e manejo de alimentação dos animais Genetiporc

UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS PROGRAMA DE ENSINO

Catálogo de produtos

Projeto Nutricional Infantil

Processamento do Frango Colonial

ANEXO I NOMENCLATURA DE CARNES E DERIVADOS DE AVES E COELHOS

42º Congresso Bras. de Medicina Veterinária e 1º Congresso Sul-Brasileiro da ANCLIVEPA - 31/10 a 02/11 de Curitiba - PR

Tecnologia de Leite e derivados

Panorama da Industrialização do Pescado. Arno Soares Seerig Gerente de Produção

SEMENTE DE CHIA. Ficha técnica. REGISTRO: Isento de Registro no M.S. conforme Resolução RDC n 27/10. CÓDIGO DE BARRAS N :

Nutritime. Uso do concentrado protéico de arroz na dieta de suínos, aves e peixes (salmão e truta).

ARROZ INTEGRAL SEM GLÚTEN. SEM LACTOSE. SEM OVOS. SEM TRANSGÊNICOS.

ALIMENTAÇÃO E SAÚDE 1 - A RELAÇÃO ENTRE A ALIMENTAÇÃO E SAÚDE

ALIMENTOS ULTRAPROCESSADOS: QUALIDADE DA DIETA E SAÚDE. Renata Bertazzi Levy

Fonte de vitamina K: Diabético pode comer mamão? Seg, 19 de Junho de :56 - Última atualização Seg, 19 de Junho de :00

Ficha Técnica. Título: Bacalhau à lupa. Concepção: Mariana Barbosa. Corpo redactorial: Mariana Barbosa; Bruna Domingues

Dieta para vegetarianos

A MATÉRIA-PRIMA - A CASTANHA

PRODUÇÃO DE LEITE. Parte 2. Prof. Dr. André M. Jorge UNESP-FMVZ-Botucatu. Prof. Dr. André Mendes Jorge FMVZ-Unesp-Botucatu

PROVA ESPECÍFICA DE AUXILIAR DE NUTRIÇÃO. Em relação ao Padrão de Identidade e Qualidade (PIQ) dos alimentos, é INCORRETO afirmar que o PIQ:

As Propriedades Funcionais da Banana Verde

RESÍDUOS ORGÂNICOS GERADOS NA PISCICULTURA. Rose Meire Vidotti Zootecnista, Dr., PqC do Polo Regional Centro Norte/APTA

TERMO DE HOMOLOGAÇÃO. Item 0001

ADIÇÃO DE FIBRA DE CÔCO MACAÚBA (Acrocomia aculeata (Jacq.) Lodd) NA PRODUÇÃO DE RICOTA

Todos os Direitos Reservados. Página 1

Dermfix - Colágeno Hidrolisado em Pó 200g Funciona?

ENFERMAGEM ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NO PROCESSO NUTRICIONAL. ALIMENTAÇÃO PARENTERAL Aula 1. Profª. Tatiane da Silva Campos

Especificação Unid. Fornecedor Marca Ofer. Descto. (%) Preço Unitário NUTRIR NUTRIÇÃO ENTERAL E SUPLEMENTAÇÃO LTDA ME (4722)


Coprodutos e subprodutos agroindustriais na alimentação de bovinos

Como tirar o sabor amargo da berinjela - Em nosso bloco dica de saúdess, aprenda a tirar o amargo da berinjela e ão deixá-la escura. Confira!

Ovos Além de poucas calorias, os ovos contêm mais de 12 vitaminas e minerais e ainda uma quantidade nada desprezível de proteínas, substância

VITAMINAS. Valores retirados de Tabela da composição de Alimentos. Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge

Quais os melhores alimentos para ganhar massa muscular

LANCHAR OU JANTAR? ESCOLHAS SAUDÁVEIS. Nutricionista: Patrícia Souza

lacunifera Ducke). Renata Carvalho Neiva,Regilda Saraiva dos Reis Moreira-Araújo

COMPOSIÇÃO CENTESIMAL DE EMPANADOS ELABORADOS A PARTIR DE CARNE DE CARPA HÚNGARA (CYPRINUS CARPIO L.) 1

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

FICHA TÉCNICA WHEY ISO FAST 100% ISOLADA HIGH PROTEIN FAT FREE LOW SODIUM ZERO CARBOIDRATOS

Nutrientes. Leonardo Pozza dos Santos

O OVO NA ALIMENTAÇÃO Prof. Eduardo Purgatto Faculdade de Saúde Pública USP 2016

Memorial Descritivo Pregão eletrônico Nº 34/2016

Erly Catarina de Moura NUPENS - USP

ESTUDO DA VIABILIDADE ECONÔMICA DE UM PROJETO DE ABATEDOURO DE RÃS DE RÃS 1. INTRODUÇÃO

PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA SOBRE QUEIJO DE COALHO

DESENVOLVIMENTO DE FORMULAÇÃO DE REQUEIJÃO CREMOSO COM BAIXO TEOR DE SÓDIO E DE GORDURAS

ÍNDICE. Trophic Basic. 06 Trophic 1.5. Trophic EP Trophic Fiber Trophic Bio + SABOR! Trophic Infant. Diamax Peptimax HDmax. Bemmax.

ÍNDICE PADRÃO ESPECIALIZADA ORAL MÓDULOS

Dieta do ovo cardápio completo para emagrecer 10kg em 14 dias. Em que consiste a dieta do ovo cozido?

Bovino. Talho. Origem

INTRODUÇÃO METABOLISMO DA ENERGIA BALANÇO ENERGÉTICO A ENERGIA ENERGIA DOS ALIMENTOS 19/06/2013 NUTRIENTES FORNECEDORES DE ENERGIA

ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL AISI ANNE SANTANA PERMÍNIO V. OLIVEIRA JR.

ULTRA COLLAGHEM Óleo de cártamo + Colágeno hidrolisado

SEM ADIÇÃO DE AÇÚCARES, SEM GLÚTEN E SEM LACTOSE

Colágeno GELITA. Um ingrediente inovador para produtos de valor agregado.

ADEQUAÇÃO MICROBIOLÓGICA DO QUEIJO MINAS ARTESANAL PRODUZIDO NA REGIÃO DE UBERLÂNDIA-MG

18. DESENVOLVIMENTO DE PANQUECA COM QUINOA

TRISOJA INGREDIENTES. MINERAIS: Verifica-se no TRISOJA a presença de Ferro, Magnésio, Cobre, Potássio, Fósforo e ácidos orgânicos.

Uma das maneiras de reduzir os efeitos da

63% FICHA TÉCNICA DE PRODUTO ANÁLISE GARANTIDA INGREDIENTES DE ORIGEM ANIMAL COMPOSIÇÃO DOSE DIÁRIA RECOMENDADA PELE, CARDIO E ARTICULAÇÕES

Escola: Nome: Turma: N.º: Data: / / FICHA DE TRABALHO 1. fibras vegetais glícidos reguladora. plástica lípidos energética

SOPA PROTEICA DE ERVILHA

(Texto relevante para efeitos do EEE)

COMPOSIÇÃO PROXIMAL DO RESÍDUO DO CUPUAÇU (THEOBROMA GRANDIFLORUM) PARA OBTENÇÃO DA RAÇÃO ANIMAL

Emprego de matérias primas para pet food que não competem com a alimentação humana. Márcio Antonio Brunetto FMVZ/USP

Aceitabilidade da Carne de Rã Desfiada em Conserva

CONFINAMENTO. Tecnologias, Núcleos e Fator P.

VARIAÇÃO DO VALOR NUTRICIONAL E PERFIL LIPIDICO DE CAPRINOS SERRANOS ECÓTIPO JARMELISTA EM FUNÇÃO DA MATURIDADE

ALIMENTOS E NUTRIENTES. 8º ano Profª Daniela

FICHA TÉCNICA MASS GFF 27000

AVALIAÇÃO DE CONCENTRADO PROTEICO DE SOJA SELECTA EM PEIXES

TECNOLOGIA DE DERIVADOS CÁRNEOS. Ângela Maria Fiorentini

MSc Vanessa K. Silva Disciplina: Zootecnia II

DIGESTÃO É UMPROCESSO DE TRANSFORMAÇÃO

Ciências Naturais, 6º Ano. Ciências Naturais, 6º Ano FICHA DE TRABALHO 1. Escola: Nome: Turma: N.º: Conteúdo: Nutrientes Alimentares: Funções Gerais

MEDICINA VETERINÁRIA INSTRUÇÕES GERAIS

ELABORAÇÃO DE IOGURTE COM ADIÇÃO DE CASTANHA DE CAJU E AVALIAÇÃO DA SUA ACEITAÇÃO SENSORIAL 1

Avaliação da concentração de Fe e Cu em carne de caprinos

Especificações Nutricionais para Frangos de Corte. Junho 2007

Avaliação dos padrões de qualidade de salsichas de frango e comparação com as informações do rótulo, legislação e literatura

APTAMIL PROEXPERT PEPTI

Leite: benefícios, nutrientes e importância de consumir

NIDINA EXPERT CONFORT

Transcrição:

POTENCIALIDADES DA CARNE DE RÃ PATRÍCIA LOPES ANDRADE 1, ANA CAROLINA PORTELLA SILVEIRA 1, DANIEL FERREIRA DE ASSIS 1, RODRIGO OTAVIO DECARIA DE SALLES ROSSI 1, MARLON MENDONÇA DE OLIVEIRA 2, PATRÍCIA PAULA MARTINS 2 1. Docente no Instituto Federal do Triângulo Mineiro - Uberlândia 2. Discente no Instituto Federal do Triângulo Mineiro - Uberlândia Resumo: A ranicultura iniciou-se no Brasil na década de 80 e os aspectos de produção tem evoluído desde então. Porém, a comercialização da carne de rã no Brasil ainda apresenta entraves como sua apresentação de venda no mercado, rã inteira ou coxas de rã in natura congelada ou resfriada. A realização de estudos a respeito dos aspectos produtivos e o desenvolvimento de derivados da carne de rã são estratégias que podem estimular a sua produção e consumo no Brasil e o alcance de mercados internacionais. A carne de rã oferece alto nível de nutrientes, com elevada digestibilidade e baixos teores de gordura e colesterol com potencial de utilização para pessoas em dificuldades digestivas, carência nutricional ou dietas com restrição calórica. Palavras-chaves: ranicultura, aminoácidos essenciais, digestibilidade. FROG MEAT POTENTIAL Abstract: The frog culture began in Brazil in the 80s and aspects of production has developed since then. However, the marketing of frog meat in Brazil still presents obstacles as their sales presentation in the market, whole frog or frogs' legs in natura frozen or chilled. Studies on the productive aspects and the development of derivatives from frog 0430

meat are strategies that can stimulate production and consumption in Brazil and the reach of international markets. Frog meat provides high levels of nutrients, high digestibility and low fat and cholesterol with potential use for people in digestive difficulties, nutritional deficiency or diets with caloric restriction. Key-words: frog culture, essential amino acids, digestibility. Introdução: A carne de rã é uma iguaria da gastronomia e possui benefícios nutricionais. Suas principais características são possuir aminoácidos essenciais, baixo teor de gordura e níveis de colesterol, e alta digestibilidade. O presente trabalho visou a elaboração de revisão de literatura abordando aspectos relacionados a sua composição, benefícios do consumo, produção e potencial de mercado. Material e métodos: Entre maio e agosto de 2015 realizou-se uma revisão da literatura por meio de consultas a livros, periódicos e artigos científicos presentes em banco de dados especializados. Resultados e discussão: A ranicultura constitui uma nova oportunidade do agronegócio. A criação e comercialização da carne de rã pode ser uma forma de ampliar o nicho agrário do país e ultrapassar barreiras nacionais. (Carraro, 2008). No Brasil, a ranicultura firmou-se como uma atividade econômica na década de 80. Desde então, ela vem passando por aperfeiçoamentos e melhora significativa de produtividade, e o Brasil apresenta-se como um grande produtor (Assis et al, 2009). A maior parte da produção brasileira cerca de 400 ton./ano é absorvida pelo mercado interno, porém, o país tem condições de conquistar o mercado externo. No mercado interno, os produtos da ranicultura são a carne de rã fresca e/ou congelada, em 0431

carcaça inteira ou em partes. Os demais produtos, como o dorso inteiro ou desossado e o dorso em pedaços são pouco explorados. Estudos estão sendo realizados utilizando a carne do dorso da rã na formulação de patês, conservas, frogburger, emulsionados (Mello e Pessanha, 2006) e carne defumada. (Assis et al, 2009). Estudo realizado por Noll e Lindau (1987) determinou a composição de nutrientes da carne de rã Touro-Gigante (Rana catesbiana) encontrando os seguintes valores: 16,25% de proteína, 0,31% de lipídeos, 0,89% de cinzas, e 83,68% de umidade. A digestibilidade da fração proteica foi de 91,95% para a carne crua a 83,41% para a carne cozida. A porção lipídica é rica em ácidos graxos insaturados com maior concentração do ácido araquidônico. Dentre os minerais, destaca-se a concentração de sódio, potássio, cálcio, ferro, magnésio e fosforo, e baixo teor de sódio. A carne de rã apresenta ainda elevados teores de cálcio e sua biodisponibilidade semelhante ao cálcio do leite e derivados (20% a 30%). Quanto à biodisponibilidade de ferro, a carne sem osso apresenta semelhança ao sulfato ferroso (24ppm), enquanto que na carne com osso ou mecanicamente separada (CMS), a elevada quantidade de cálcio interfere na biodisponibilidade do ferro (Paixão; Bressan, 2009). Diversos fatores inibem o mercado consumidor para a carne de rã, dentre esses fatores está a comercialização, diante da necessidade de agregar valor aos produtos da ranicultura restritos apenas à carne fresca ou congelada, onde a exportação também depende de produtos elaborados. (Lima., et al 1999). Acredita-se que os consumidores de rãs, no Brasil, se encontrem nas camadas de maior renda e melhor nível sociocultural, as quais consomem o produto, classificado como exótico, em restaurantes. (Carraro, 2008). Atualmente, há uma fatia de mercado ainda pouco explorada, que é a utilização dos subprodutos do abate de rãs: fígado (usado na fabricação de patê), intestino (utilizado 0432

como linha cirúrgica interna); pele curtida (usada na confecção de roupas e artesanato); pele in natura (atende à medicina humana na recuperação de queimaduras); gordura visceral (fabricação de cremes para a indústria cosmética). (Carraro, 2008). Um fator positivo que tem sido apontado é a indicação da carne de rã no tratamento de doenças gastrointestinais e alérgicas de origens diversas, assim como na alimentação de pacientes no pós-operatórios (Azevedo e Oliveira, 1988). Conclusão: Os estudos disponíveis na literatura são antigos e faz-se necessário novas pesquisas que visem o estímulo da produção e desenvolvimento de produtos derivados da carne de rã. A produção evoluiu desde os anos 80 e pode ser uma alternativa lucrativa ao agronegócio brasileiro, diante dos inúmeros benefícios já comprovados do consumo da carne de rã. Referências ASSIS, M.F.; FRANCO, M.L.R.S.; STÉFANI, M.V. et al. Efeito do alecrim na defumação da carne de rã (Rana catesbeiana): características sensoriais, composição e rendimento. Ciência e Tecnologia de Alimentos. Campinas, v. 29, n. 3, p. 553-556, jul.-set. 2009. AZEVEDO, S.; OLIVEIRA, C.C. 1988 Composição química e análise microbiológica de carne de rã (Rana catesbeiana). In:ENAR 6 Encontro Nacional de Ranicultura, Anais...Rio de Janeiro, 07-12 ago./1988, p.262-270. CARRARO, K.C. Ranicultura: um bom negócio que contribui para a saúde Revista FAE, Curitiba, v.11, n.1, p.111-118, jan./jun. 2008 LIMA, S, L.,MOURA, O. M.; CRUZ, T. A. RANICULTURA: análise da cadeia produtiva, Editora Folha de Viçosa, 1999, 172p. 1999. MELLO, S. C. R. P.; PESSANHA, L. S. Avaliação bacteriológica e físicoquímica da polpa de dorso de rã obtida por separação mecânica. 0433

Brazilian Journal of Food Technology, v. 9, n. 1, p. 39-48, jan./mar. 2006. NOLL, I. B.; LINDAU, C. P.Aspectos da composição em nutrientes da carne de rã Touro-Gigante (Rana catesbiana). Caderno de farmácias. v. 3, n. ½, p. 29-36, 1987. PAIXÃO, M.P.C.P.; BRESSAN, J. Aplicação Terapêutica da Carne de Rã. Nutrição em Pauta, São Paulo, v. 94, p 21-25,2009. 0434