Curso: AVC a vida continua Organização: Dra. Manuela Pereira Leite Dia 6-2 das 17h00 às 19h00 Prelectores: Filipa Vieira Psicóloga, Serviço de MFR, Hospital da Prelada Gisela Cunha Fisioterapeuta, Serviço de MFR, Hospital da Prelada Manuela Pereira Leite Serviço de MFR, Hospital da Prelada Paula Costa Terapeuta Ocupacional, Serviço de MFR, Hospital da Prelada Paula Mateus - Enf.ª de reabilitação do Serviço de MFR, Hospital da Prelada Sílvia Pinhão Nutricionista,Serviço de MFR, Hospital da Prelada Zita Vieira Terapeuta da Fala 1
Apresentações: 2 Fisioterapia - Gisela Maria Pacheco da Cunha No processo de recuperação de um paciente com AVC o objectivo da fisioterapia é propor um programa de tratamento em que os estímulos fornecidos devem optimizar a capacidade de reorganização cerebral, conjugando-se a recuperação espontânea com estímulos terapêuticos, visando atingir uma melhor funcionalidade e qualidade de vida do paciente. A intervenção do fisioterapeuta deve ser a mais precoce, intensiva e eficaz possível, fazendo uma avaliação funcional, quer qualitativa, quer quantitativa, através de instrumentos validados e visando a elaboração de estratégias de intervenção. É da responsabilidade do fisioterapeuta seleccionar os métodos mais eficientes para a necessidade de cada paciente, utilizando combinações de procedimentos terapêuticos para ajudar o indivíduo a aprender ou reaprender o padrão de resposta normal. Promoção Autonomia Paula Mateus As limitações impostas pelo AVC não afectam somente o indivíduo, embora seja este o mais afectado, afectam também a família que precisa de se adaptar às necessidades do utente. Existe, portanto, uma quebra do equilíbrio dinâmico familiar perante o novo acontecimento. O grau de incapacidade que o AVC gera vai determinar no prestador de cuidados uma elevada sobrecarga física e emocional. A ele são atribuídas tarefas relacionadas com a prestação de cuidados muitas vezes sem a este ter sido efectuado qualquer tipo de ensino ou sem nos certificarmos de que o prestador se encontre apto a desenvolver este novo papel. Procurando o equilíbrio através
de novas adaptações cabe aos Enfermeiros de Reabilitação fornecer as informações e treino de que o prestador necessita, para que adquira competências que lhe permitam prestar os cuidados de que o utente tem precisão de forma a evitar complicações. Mostraremos exemplos de como ensinamos a ultrapassar incapacidades a nível de alguns auto-cuidados (uso sanitário,vestir/despir, transferência,andar) assim como da preparação do prestador de cuidados. Filipa Vieira Um AVC é capaz de provocar uma disrupção no percurso normal de vida de um indivíduo, alterando muitas vezes aquilo que são as chamadas tarefas normativas do desenvolvimento, bem como o significado e os projectos pessoais definidos até então. Como consequência das alterações físicas e cognitivas provocadas por um AVC há mudanças radicais no estilo de vida dos doentes e da sua expressão emocional. Estas mudanças repercutem-se fortemente na qualidade de vida do sujeito, pelo que constituem um desafio que requer um ajustamento físico, psicológico e social. A reabilitação do doente com AVC deve estar direccionada para as áreas afectadas, começando o mais cedo possível. A intervenção do psicólogo percorre diversas fases do processo de reabilitação. Numa fase inicial a avaliação neuropsicológica é de extrema importância pois permite identificar as consequências cognitivas, emocionais e comportamentais das lesões cerebrais causadas pelo AVC. O objectivo é o de avaliar objectivamente a existência ou não de défices, procurando compreender a natureza da lesão e as dificuldades cognitivas associadas, fornecendo orientações precisas para o planeamento de um programa de reabilitação. A recuperação psicossocial e da qualidade de vida é o objectivo principal da intervenção psicológica com estes doentes. A reorganização dos papéis e a aceitação dos níveis de funcionalidade são fundamentais para um processo de reabilitação e de ajustamento a uma nova vida. 3
A família é geralmente a principal fonte do suporte emocional de que doente necessita. Neste sentido intervir ao nível dos cuidadores constitui-se igualmente como uma prioridade da intervenção psicológica. Prover suporte emocional aos principais cuidadores informais, dotá-los de informação acerca da doença, tratamento e recursos existentes, promover a redução da ansiedade, e o envolvimento destes na recuperação funcional do familiar doente, é uma forma de intervir indirectamente junto dos próprios doentes. Assente nestes pressupostos, pretende-se neste workshop apresentar algumas actividades desenvolvidas no Serviço de Medicina Física e Reabilitação do Hospital da Prelada, no âmbito da intervenção psicológica com doentes após AVC. Terapia Ocupacional - Paula Alexandra Costa A intervenção da Terapia Ocupacional em indivíduos que sofreram um Acidente Vascular Cerebral segue um trinómio de actuação semelhante ao usado em todas as outras patologias: avaliar, reeducar e readaptar. Apesar da presença dos terapeutas ocupacionais se justificar em todas as fases da reabilitação (fase aguda, fase de reabilitação e transição para a comunidade) é sobretudo nas duas últimas que a sua actuação é imprescindível. Independentemente da fase de reabilitação em que o individuo se encontre, a avaliação (padronizada e validada) é sem dúvida de importância extrema. Existem instrumentos de avaliação que permitem quantificar deficits específicos em áreas e componentes de desempenho como sejam as Actividades da Vida Diária, Função do Membro Superior, Função Visual, Cognição, Planeamento Motor, etc. Estes instrumentos servem para preparar o plano de tratamento e para determinar de forma objectiva os progressos do indivíduo. No tratamento a Actividade Terapêutica, é a forma de intervenção da Terapia Ocupacional. É através do uso de tarefas concretas que promovem comportamentos que se afastam da disfunção, fomentando uma maior autonomia e independência, incrementando-lhes a qualidade de vida. 4
Por último, numa fase de planeamento da alta e posterior integração na comunidade, é necessário aprimorar o estudo de ajudas técnicas individuais e adaptações do meio envolvente, que já vinha a ser feito nas outras fases da reabilitação, de forma que o regresso à vida quotidiana seja o mais próximo possível da vivência normal, pois mesmo após um AVC a vida continua.. 5 Alimentação e AVC - Sílvia Pinhão Cada vez é maior o número de doentes que sofrem de acidentes vasculares cerebrais (AVC) e que podem ficar com lesões reversíveis ou irreversíveis no seu organismo. É de todo fundamental que o doente que sofre de um AVC tenha um acompanhamento nutricional, incluído no seu plano de tratamento de forma a melhorar a sua qualidade de vida e a prevenir possíveis recorrências. Se não co-existir nenhuma doença do foro metabólico, como hipercolesterolemia, diabetes ou hiperuricemia, poder-se-á comer de tudo, de forma regrada e tendo o cuidado especial em não abusar das gorduras. Mas na maioria das vezes, neste grupo de doentes, encontram-se obesos, diabéticos e doentes com dislipidemias. Quando existe obesidade, é aconselhável uma dieta hipoenergética, para diminuir o peso. Se tiver hipercolesterolemia, deve fazer-se uma dieta individualizada no que diz respeito a ingestão de ácidos gordos e colesterol. Muitas vezes a diabetes aparece também associada e mais uma vez deve ser feito um plano alimentar individualizado desta vez no sentido de controlar as glicemias diárias. Para além das co-morbilidades associadas ao AVC em si, aparecem muitas vezes consequências que têm de ser incluídas quando se pensa no tratamento do doente com enfarte. Quando existem dificuldades em deglutir, ou maior sedentarismo por inactividade física, é importante repensar o dia alimentar no sentido prevenir carências nutricionais e evitar o aumento abusivo de peso. Quer a qualidade de alimentos, quer a quantidade devem ser criteriosamente escolhidos e decididos, bem como o tipo de
consistência adaptado a cada situação específica. Pode por vezes, em situações especiais, ser mesmo necessário recorrer a suporte nutricional, como a alimentação entérica (principalmente com a inclusão de suplementos orais) ou mesmo a nutrição parentérica. De uma forma geral, os métodos de confecção mais aconselhados serão os grelhados ou cozidos, podendo no entanto fazer ingestão de alimentos assados ou estufados desde que confeccionados segundo as regras de alimentação saudável. O azeite cru não é nocivo, mas deve ser controlada a ingestão da quantidade ingerida. Deverão evitar-se carnes gordas como a de borrego, leitão, todas as gorduras visíveis da carne, enchidos e fumados e alimentos com elevado teor em sal (batatas fritas, pickles, pré-confeccionados, entre outros) e deverão evitar-se também as bebidas alcoólicas. Deve dar-se preferência ao peixe. É aconselhável não ingerir grandes quantidades de alimentos pobres em resíduos e de difícil digestão. É aconselhável o consumo de fruta e hortícolas, pois são ricos em fibra e além de contribuírem para regular os níveis de gorduras do sangue, combatem a obstipação, situação nada aconselhável num doente com doença coronária. Cada doente é um caso diferente e deverá ser tratado como tal. O objectivo será sempre o de contribuir para melhorar o seu estado de saúde e recorrendo a alimentos facilmente aceites pelo doente, fazer com que ele sinta prazer em comer sem nunca comprometer o seu estado nutricional. Terapia da Fala - Zita Vieira O Homem é um ser comunicativo e a linguagem é a capacidade específica que o distingue como ser humano. As lesões encefálicas causadas por um Acidente Vascular Cerebral são responsáveis por alterações da linguagem que podem dar origem a afasia. A afasia é uma perturbação adquirida da linguagem que envolve as modalidades de produção e compreensão oral e escrita, sendo possível estabelecer um diagnóstico diferencial dado existir vários tipos de afasias. 6
O diagnóstico diferencial é estabelecido através de avaliações formais e de outros procedimentos informais de avaliação. Sendo o objectivo da Terapia da Fala na reeducação do paciente afásico, a maior recuperação possível da comunicação no que refere a compreender e expressar a linguagem oral e/ou escrita, o tratamento deve iniciar-se assim que o paciente se encontre clinicamente estável. Como tal, a intervenção terapêutica aporta, entre outras, três abordagens de reeducação nomeadamente, a abordagem de estimulação, a abordagem de interesses e a abordagem compensatória «Pace». E porque tal como diz Eisenson Há tantos casos de afasia quantos afásicos existirem, o tratamento de cada um é individual e personalizado tendo como objectivo major melhorar a autonomia. Pacientes diagnosticados com o mesmo tipo de afasia podem não ter distúrbios afásicos completamente iguais. Resta não esquecer que a qualidade de vida do ser humano passa em grande parte pela capacidade de comunicar por isso, deve ser sempre encorajada porque a vida continua. Intervenção Final Manuela Pereira Leite O AVC é o distúrbio neurológico grave mais comum e como consequência a maior causa de morte e/ou incapacidade nos países desenvolvidos. Os factores a curto prazo do prognóstico funcional são: A gravidade do enfarte cerebral, o tipo de síndrome neurovascular, as alterações metabólicos, o quadro sócio-familiar a que o doente pertence, a data do inicio da reabilitação e o tipo de reabilitação. Como factores de prognóstico a longo prazo, devemos considerar a idade dos doentes os antecedentes e a gravidade da lesão. O valor da reabilitação tem sido largamente debatido, vindo a comprovar-se a sua eficácia e efectividade nos tratamentos dos hemiplégicos pós AVC. Verificou-se uma diminuição do número de AVC s desde a década de 70, quer por um maior controle da hipertensão, quer pela 7
precocidade do tratamento em fase aguda e em meio hospitalar, com a criação das chamadas unidades de AVC. Sabemos que o défice motor abrange cerca de 50 % dos indivíduos, sendo que a incapacidade cognitiva ou sensitiva, abrange cerca dos outros 50 %. Ficam-nos as seguintes dúvidas: - Quando iniciar a reabilitação? - Onde devemos efectuar a Reabilitação? - Qual a periodicidade? - Qual a duração? - Poderá a família e o meio social intervir? A intervenção da Medicina Física e Reabilitação deve ser atempada e eficaz e o mais precocemente possível. A reabilitação pode ser iniciada desde que o doente esteja clinicamente estável, normalmente cerca do 3º dia pós AVC, caso não seja possível deverá ser iniciado pelo menos durante o 1º mês. Na fase aguda a reabilitação deve ser realizada num centro de reabilitação ou num hospital especializado, por equipe pluridisciplinar, em alguns casos em regime de internamento, com tratamento intensivo de várias horas/dia. A recuperação efectiva dos défices ocorre essencialmente durante os três primeiros meses, podendo estender-se até aos seis meses e podendo ainda haver uma recuperação residual até ao ano, sobretudo a nível motor e da linguagem. É pertinente não limitar a nossa intervenção só à terapia directa com o doente, tendo a família necessidade de compreender e aceitar a situação de incapacidade e de lidar com esta. Na fase crónica a reabilitação deverá ser efectuada por períodos de tratamento intensivo, em regime de ambulatório ou de hospital de dia Desde que sujeitos a um programa de reabilitação precoce e adequado, cerca de 80 % dos indivíduos obtêm uma melhoria funcional, no entanto, não podemos deixar de referir que mesmo com o melhor programa de reabilitação e o mais adequado, são raros os doentes que não apresentam algumas sequelas. 8
Qual o papel do Hospital da Prelada na Reabilitação destes doentes. 9