Saúde dos leitões após o desmame

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RESUMO DAS CARACTERÍSTICAS DO MEDICAMENTO

Transcrição:

Saúde dos leitões após o desmame Jean Paul Cano e Carlos Pijoan Médico Veterinário cano0009@umn.edu A suinocultura mundial tem evoluído de forma acelerada nos últimos anos, estimulada pela concorrência com outros segmentos agropecuários, para oferecer aos consumidores um produto de alta qualidade ao menor custo possível. Os notáveis avanços em genética, nutrição, instalações e manejo têm propiciado a existência de granjas cada vez maiores e dinâmicas, produção em múltiplos sítios com períodos de lactação mais curtos e seleção de animais com altas taxas de crescimento. Todos estes fatores, sem dúvida, vêm modificando a epidemiologia de agentes infecciosos como Actinobacillus pleuropneumoniae, Streptococcus suis, Haemophilus parasuis, Mycoplasma hyopneumoniae e Escherichia coli, entre outros. Além disso, têm aparecido novos agentes, como o circovírus suíno ou o vírus da síndrome respiratória e reprodutiva suína (PRRS, devido às suas siglas em Inglês), que complicam a situação. Diante desse cenário complexo, veterinários, proprietários e funcionários de granja vêem com frustração a simples aplicação de medidas tradicionais, como vacinação ou medicação, que não geram resultados aceitáveis e consistentes. Por outro lado, granjas de melhor status sanitário, mas com suínos mais suscetíveis, estão constantemente em uma situação de alto risco com relação a casos agudos de doenças, uma vez que compartilham estradas, matadouros, fábricas de ração e espaços geográficos com as populações infectadas endemicamente. Por estas razões é muito comum a percepção das doenças como um grande problema, às vezes impossível de se resolver. Entretanto, o controle e a prevenção de doenças se constituem, hoje em dia, numa oportunidade muito interessante na suinocultura, devido à estreita relação Leitões mais pesados e viáveis, no desmame respondem melhor diante da maioria das doenças. que existe entre a saúde e elementos como produtividade, qualidade total da carne, valor agregado à genética, bem estar animal e custos de produção. A saúde é o componente da produção suína que na atualidade oferece a maior oportunidade de benefícios em relação ao investimento realizado. Diante de cada situação deve-se analisar o custo, em conseqüência das doenças presentes na população e avaliar os recursos econômicos, de pessoal e instalações, com os quais a empresa conta para aplicar, assim, a estratégia de controle ou eliminação que gere o máximo benefício em relação ao custo. O objetivo deste artigo é discutir algumas estratégias aplicáveis na granja para reduzir a presença ou impacto das doenças e, desta maneira, melhorar a produtividade da empresa. Avaliar constantemente o nível de conforto dos suínos Que porcentagem de mortalidade, redução no ganho de peso ou suínos doentes é conseqüência de fatores não infecciosos como manejo, água, ração, ambiente? É importante que o veterinário, encarregado da granja ou responsáveis por ela se façam essa pergunta freqüentemente. Geralmente as pessoas envolvidas Tabela 1. Requerimentos de espaço, água, comedouros e temperatura, por suíno Fase Área (m 2 / suíno) Água Espaço Temperatura ( C) Piso sólido Piso ripado (L / min.) comedouro (mm) Mínima Máxima Desmame 0,37 0,28 1,0 66 24 35 Crescimento 0,56 0,53 1,4 65 22 33 Engorda 0,75 0,67 1,7 76 21 33 Editado a partir de adaptação de vários autores, realizada por Dewey e Straw, 2006 1 14 Suínos & Cia Ano IV - nº 21/2007

SANIDADE na produção conhecem bem quais são as condições mínimas necessárias, para que um suíno expresse seu máximo potencial genético nas diferentes fases da criação; entretanto, em muitas ocasiões sua atenção se concentra em agentes infecciosos, deixando de lado algumas necessidades básicas do suíno. A tabela 1 mostra exemplos de algumas destas necessidades. Está amplamente claro que leitões mais pesados e viáveis, ao serem desmamados, respondem melhor diante da maioria das doenças e conseguem melhores taxas de crescimento, fazendo valer todos os recursos e esforços investidos durante a lactação, os quais serão recompensados nas fases de crescimento e engorda. Da mesma maneira, suínos criados em melhores condições ambientais (temperatura, densidade, água, ração) atingem melhores índices de mortalidade, ganho de peso e conversão. Essas duas premissas, embora pareçam demasiadamente óbvias, são subestimadas em algumas ocasiões e os recursos para resolver os problemas são dirigidos a outros fatores. Por outro lado, em muitas situações, estas premissas são cumpridas mas a produtividade dos suínos após o desmame acaba sendo afetada devido a causas infecciosas. Biossegurança Um programa de biossegurança corresponde à organização da infraestrutura e da rotina de trabalho, para evitar a entrada e reduzir a disseminação de agentes nocivos (vírus, bactérias ou fatores tóxicos) em uma população. O status sanitário do rebanho não deve determinar a O plantel de matrizes são as principais fontes de infecção e imunidade para os leitões. intensidade das medidas de biossegurança a serem postas em prática, porque sempre pode haver um novo agente que ingresse no sistema piorarando ainda mais a situação. Quando se tem a oportunidade de desenvolver um projeto desde o início, a localização da granja, distante de outras propriedades que criem suinos, é uma consideração prioritária. Entretanto, na maioria das ocasiões se requer a melhoria da biossegurança em granjas já estabelecidas e, muitas vezes, localizadas em zonas de alta densidade suína. A descontaminação de veículos, é um dos aspectos mais importantes para evitar a introdução de agentes infecciosos. Ano IV - nº 21/2007 É nesses casos que a identificação e quantificação dos fatores de risco que ameaçam essa população específica são vitais para dar início a um programa de biossegurança que reduza o risco da introdução de doenças a um custo razoável. A principal fonte de entrada de novos agentes infecciosos em uma população são os suínos ou o sêmen. Em seguida, quanto à importancia, vêm os veículos2, materiais, pessoal3 e, sob condições muito especiais (umidade, temperatura e vento), a transmissão por aerosol4 e os insetos5,6. Portanto, a aquisição de sêmen ou material de reposição de uma fonte sadia e confiável, um rigoroso protocolo de quarentena e amostragem para os suínos a serem introduzidos, a estrita descontaminação dos veículos que ingressam na granja, a utilização de um transporte interno e uma unidade de transferência para carga, assim como o controle da entrada de pessoal e materiais, são aspectos muito mais importantes para evitar a introdução de agentes infecciosos, do que filtrar o ar ou instalar telas mosquiteiras. O outro componente do programa de biossegurança está enfocado na redução da transmissão de agentes infecciosos dentro da população entre áreas, galpões, currais ou animais. O objetivo é cortar o ciclo das doenças ou mantêlas localizadas onde tenham um impacto menor sobre a produtividade. Entre as estratégias mais efetivas para realizar esta tarefa, incluem-se a setorização do pessoal ou troca de roupa entre áreas, o manejo tudo-dentro/tudo-fora dos grupos de parto, semanas de desmame e lotes de engorda, limpeza adequada, desinfecção e secagem das instalações antes de reutiliza-las, o controle de roedores e uma ro- Suínos & Cia 15

SANIDADE O estresse gerado pelas mudanças bruscas de ambiente, alimento e ordem social, fazem o período de desmame um verdadeiro desafio para os leitões. tina lógica de recolhimento de cadáveres. Para a implementação destes programas é necessário adotar um regulamento de biosegurança lógico, simples, conciso e fácil de ser posto em prática e que seja incluído de forma rotineira no plano de treinamento do pessoal. O nível de infecção e imunidade para cada agente infeccioso muda constantemente em uma população de porcas, imprimindo, portanto, uma grande variabilidade na prevalência de doenças de cada grupo de leitões desmamados. Para a maioria das infecções, o nível de exposição ao microrganismo determina o nível de imunidade ativa gerado na população. Por isso não é desejável misturar suínos com diferentes status de exposição e imunidade. A estratégia de se esvaziar toda a sala ao término do período, limpar, desinfetar, secar e repovoar a sala com suínos, do modo mais homogêneo possível, reduz a possibilidade dos animais mais jovens herdarem as infecções de grupos anteriores, o que contribuiria para perpetuar as doenças na instalação. O passo seguinte no programa de biosegurança interna consiste na diminuição, ao máximo possível, do contato entre grupos de diferentes status de exposição (idades). infecção numa população é determinada por três componentes: 1. A proporção de animais suscetíveis (capazes de infectar-se e sofrer a doença) 2. A proporção de animais infecciosos (excretando o microrganismo ativamente) 3. A proporção de animais imunes (protegidos contra o agente específico) Quando um microrganismo ingressa em uma população negativa, 100% dos indivíduos são suscetíveis; então o primeiro indivíduo infectado começa a excretar o agente e a transmitir a doença aos outros. Entretanto, à medida que os indivíduos infectados morrem ou desenvolvem proteção contra o agente, reduzse a proporção de indivíduos suscetíveis, cujo número, em uma população fechada, sufocará a infecção cedo ou tarde. Por sua vez, os altos níveis de produtividade exigidos de um suíno moderno e a conseqüente adoção de algumas práticas de manejo, alteram a dinâmica natural das infecções e geram a perpetuação das mesmas na população. Por exemplo, ao se introduzir animais de reposição saudáveis na gestação, sem os aclimatar, aumenta a proporção de suscetíveis, os quais podem chegar a níveis suficientes para reativar a infecção. Ao se manter leitões doentes numa sala de desmame e misturá-los com leitões mais jovens, aumenta-se artificialmente a proporção de suínos infecciosos nesse grupo. É possível controlar ou eliminar as doenças infecciosas, quando se pode manipular de maneira adequada estes componentes da dinâmica de infecção. Entende-se por estabilidade da imunidade do plantel reprodutor, o estado de mínima transmissão de um agente infeccioso entre os suínos adultos e a sua descendência, em uma população de animais previamente infectada, devido à dinâmica natural da doença nesse grupo de indivíduos, ou ao resultado de ações específicas aplicadas pelos técnicos. Algumas das alternativas desenvolvidas para incrementar a estabilidade do rebanho de porcas, serão explicadas a seguir: A aclimatação de fêmeas de reposição fundamenta-se na exposição Estabilidade da imunidade do plantel reprodutor É impossível discutir o manejo da saúde dos leitões desmamados sem comentar a principal fonte de infecção e imunidade para os referidos leitões: o plantel de matrizes. A dinâmica de uma 16 Suínos & Cia A limpeza, desinfecção e secagem adequada das instalações, permitem diminuir a quantidade de microrganismos impedindo que seja repassados ao lotes posteriores. Ano IV - nº 21/2007

das novas fêmeas diante dos agentes infecciosos presentes na granja para evitar que adoeçam ao entrar em gestação. Esta exposição deve ser realizada, de modo ideal, mediante vacinações. No entanto, a ausência de vacinas adequadas para algumas doenças nos obriga a utilizar alternativas como a exposição intencional a soro, tecidos, animais da granja ou fezes. O procedimento em questão constitui-se de uma fase de exposição e uma de recuperação ou resfriamento, para garantir que as porcas que ingressam na população estejam imunizadas, mas que tenham também deixado de excretar vírus ou bactérias 7. Essa é uma maneira de manter a introdução das reposições sem aumentar o número de suscetíveis na população. O fechamento da granja consiste em restringir a entrada de reposições na mesma, assumindo que a população existente já tenha sido exposta previamente às doenças a serem controladas 8. O tempo de fechamento permitirá que os suínos infecciosos, ainda excretando vírus ou bactérias, deixem de fazê-lo e, a ausência de indivíduos suscetíveis, terminará por sufocar a infecção ativa. A vantagem deste programa é que não é necessário eliminar fêmeas para erradicar doenças como PRRS ou Pneumonia Enzoótica, o que é bastante apropriado para granjas com animais de alto valor genético. É necessário combinar esta estratégia com a separação estrita de leitões e porcas ao desmame, de modo a não manter indivíduos suscetíveis em contato com a população de porcas e suas doenças. Intervenções em massa sobre o núcleo de porcas incluem estratégias como a vacinação ou inoculação simultânea de todos os indivíduos da população com o objetivo de expor os animais ao microrganismo, para reduzir a proporção de indivíduos suscetíveis e incrementar a imunidade do plantel. Também é possível reduzir a proporção de indivíduos infecciosos mediante a medicação ou vacinação em massa e, assim, reduzir a prevalência das doenças nos leitões desmamados. Experiências positivas têm sido divulgadas, com a vacinação em massa contra a PRRS, a doença de Aujeszky e a febre aftosa. Exemplos do uso bem sucedido da inoculação em massa de microrganismos incluem a gastrenterite transmissível (TGE) e a PRRS. Assim como também programas de controle e eliminação de M. hyopneumoniae, Actinobacillus pleuropneumoniae e rinite atrófica, os quais se baseiam no tratamento simultâneo do plantel de porcas com antibióticos. Dinâmica das infecções pós-desmame A principal fonte de transmissão de agentes infecciosos para os leitões é Os leitões expostos a determinadas bactérias na presença da imunidade materna, reduz a prevalência da doença clínica no desmame. a sua mãe, embora ela também seja uma fonte vital de imunidade. As porcas desenvolvem imunidade ativa ao serem expostas aos agentes infecciosos e logo transferem aos leitões a imunidade passiva, colostral ou maternal, constituída principalmente por anticorpos, os quais têm uma vida média determinada para cada doença. Por exemplo, os anticorpos colostrais contra parvovírus suíno persistem por meses, enquanto os anticorpos contra Escherichia coli diminuem em questão de dias. A ação dos anticorpos contra os microrganismos ou suas toxinas protege os leitões das infecções antes de desenvolver imunidade ativa contra esse agente em particular. Uma vez que desapareça a imunidade colostral, o leitão necessitará gerar sua própria imunidade ativa para defender-se da infecção. O desenvolvimento de uma reposta ativa eficaz requer tempo (geralmente entre sete e 14 dias), uma vez que os anticorpos maternais estão disponíveis imediatamente. Para a maioria das doenças que afetam os suínos de maneira importante, os anticorpos colostrais declinam depois do desmame (três a seis semanas de vida). Esta baixa de imunidade materna, complicada pelo estresse gerado pelas mudanças bruscas de ambiente, alimento e ordem social, fazem do período de desmame (3 a 8-10 semanas de vida) um verdadeiro desafio para os leitões. Uma vez na fase do desmame, alguns leitões que se infectaram através de suas mães começarão a excretar microrganismos; alguns outros estarão imunes por contar ainda com imunidade colostral, a qual lhes permitirá defenderem-se da infecção; mas outro grupo de indivíduos estará susceptível, quer seja porque não recebeu imunidade maternal de sua mãe ou porque os anticorpos já diminuíram. É neste momento que uma determinada infecção pode gerar uma epidemia ou simplesmente passar despercebida, dependendo da proporção de indivíduos infecciosos, susceptíveis e imunes no grupo. Uma prática muito difundida na suinocultura moderna é a transferência ou emparelhamento (movimento de animais para formar lotes uniformes) de suínos na maternidade, creche e engorda. O uso excessivo desta estratégia gera um incremento no estresse dos indivíduos uma vez que, depois de cada transferência, o grupo de suínos deve restabelecer a ordem hierárquica, o que gera lutas que não têm só como conseqüência o gasto de energia e aumento de estresse, mas também a redução no consumo de alimento ou leite por 24 a 48 horas após a transferência. É muito provável também que estes emparelhamentos afetem de maneira negativa a dinâmica dos agentes infecciosos e a imunidade, nesse grupo de indivíduos. Estudos preliminares do nosso grupo de pesquisa sugerem que as células de defesa contra M. hyopneumonaie, transferidas do colostro da mãe ao leitão, são funcionais unicamente nos filhos da porca que as produziu. Portanto, emparelhamentos deveriam ser realizados depois do consumo do colostro, reduzindo estes movimentos na medida do possível. A pior combinação seria ter leitões sem anticorpos colostrais contra um determinado agente e, ao mesmo, tempo tendo contato com uma porca que esteja excretando esse microrganismo. Ano IV - nº 21/2007 Suínos & Cia 17

Exemplo de alternativas para controlar as infecções dos leitões depois do desmame Despovoamento parcial ou formação de bolhas Tem como finalidade cortar o ciclo das doenças ao deter a entrada de indivíduos suscetíveis à população infectada, até que a porcentagem de indivíduos infecciosos presentes seja incapaz de gerar um reinício da infecção 9. A utilização do manejo em bandas, que pode ser adotado em granjas pequenas para produzir grupos maiores e mais homogêneos de leitões a cada três ou quatro semanas; o desvio do fluxo de suínos desmamados por algumas semanas, são exemplos de como se pode afetar a dinâmica normal de uma infecção e assim, chegar a controlá-la ou eliminá-la. Um aspecto chave nesta estratégia é contar com um protocolo de limpeza, desinfecção e secagem apropriado, que permita eliminar a maior quantidade de microrganismos na instalação, antes de repovoá-la. Estas bolhas devem ser implantadas no tempo preciso, quando se reduz significativamente ou se elimina a transmissão vertical do agente a ser controlado, de modo a obter o máximo benefício. Por exemplo, não tem sentido despovoar o desmame até que as porcas deixem de transmitir o vírus da PRRS aos seus leitões. No controle de doenças bacterianas, a bolha deve ser precedida pela vacinação ou medicação massal das porcas, para reduzir a transmissão vertical e aumentar a proporção de indivíduos imunes. Modulação da prevalência ao desmame (Mycoplasma) Estudos realizados pelo nosso grupo de pesquisa concluíram que uma maior prevalência de colonização nasal do Mycoplasma hyopneumoniae no desmame (três semanas de vida), está significativamente associada a uma maior prevalência de lesões e doença clínica durante o crescimento e engorda dos suínos. Grupos de desmame com prevalência de colonização menor que 10% geralmente não expressam a doença clínica em sua vida produtiva. Por isso o objetivo das intervenções para controlar essa doença deve ser a máxima redução da prevalência de leitões colonizados com Mycoplasma no desmame, para evitar a expressão da doença clínica durante o crescimento e engorda, o que se pode conseguir mediante vacinação ou medicação das porcas antes do parto 10. Atualmente, em nosso grupo, realiza-se estudos para propor alternativas concretas de vacinação e medicação de porcas e leitões lactantes, para reduzir a prevalência de leitões colonizados no desmame. Exposição precoce (poliserosite e meningite) Haemophilus parasuis e Streptococcus suis são bactérias presentes nas populações de suínos, caracterizandose por colonizar os leitões de forma muito precoce. A imunidade colostral que os leitões recebem os protege da expressão clínica da doença, mas não de serem infectados. Ainda que a maioria dos suínos seja colonizada na maternidade, somente alguns desenvolvem a doença clínica no desmame. Estudos realizados por nosso grupo de pesquisa têm demonstrado que a exposição precoce a estas bactérias, na presença de imunidade materna, reduz a prevalência da doença clínica no desmame. Um plano de controle para estas bactérias deve embasar-se na garantia da exposição das porcas antes do parto, na transferência adequada de imunidade aos seus leitões através do colostro e na exposição precoce dos leitões ao microrganismo, para que a imunidade ativa se desenvolva quando o leitão esteja ainda protegido pela imunidade materna 11. A medicação das porcas antes do parto ou durante a lactação, ou a aplicação rotineira de antibióticos nos leitões lactantes, pode alterar a dinâmica destas doenças em alguns casos, por reduzir a exposição dos leitões ao Haemophilus parasuis ou ao Streptococcus suis, o que poderia gerar problemas no desmame. Portanto, cada estratégia de controle deve ser avaliada detalhadamente, considerando a epidemiologia destas doenças. Exclusão competitiva (Escherichia coli) A colibacilose entérica e a doença do edema, que afetam leitões entre quatro e 12 semanas de vida, são causadas pelas toxinas produzidas por algumas cepas de Escherichia coli, que colonizam a mucosa intestinal. A identificação de uma cepa não patogênica (não produtora de enterotoxinas), mas do mesmo tipo fimbrial (F18, K88) da que esteja causando o problema na granja, pode ser a solução. Depois da administração oral dessa cepa de E. coli não enterotoxigênica, os receptores que se supostamente ocupariam a E. coli enterotoxigênica que produz a doença estarão já ocupados, evitando a colonização da cepa patogênica 12. Esta é uma maneira de afetar a dinâmica de uma doença, através da redução dos indivíduos suscetíveis. Referências bibliográficas 1. Dewey, C.E.; Straw, B.E. Herd examination. In: Straw, B.E.; Zimmerman J.; D Allaire, S.; Taylor, D. Diseases of Swine. 9. Ed. Iowa. Blackwell Publishing, 2006. p. 3-14. 2. Dee, S.A.; Deen, J.; Otake, S.; Pijoan, C. An experimental model to evaluate the role of transport vehicles as a source of transmission of PRRS virus to susceptible pigs. Can J Vet Res. v. 68, n.2, 2004, p.128-33. 3. Otake, S.; Dee, S.; Rossow, K.; Deen, J.; Joo, H.S.; Molitor, T.; Pijoan, C. Transmission of porcine reproductive and respiratory syndrome virus by fomites (boots and coveralls). J Swine and Health Production, v.10, n. 2, 2002, p. 59-65. 4. Pitkin, A.; Moon, R.; Dee, S. Aerosol transmission of porcine reproductive and respiratory syndrome virus, an application to thefi eld: preliminary data in Allen Leman Swine Conference, St. Paul, USA, 2006. Posters section. p. 3. 5. Otake, S.; Dee, S.A.; Rossow, K.D.; Moon, R.D.; Pijoan, C. Mechanical transmission of porcine reproductive and respiratory syndrome virus by mosquitoes, Aedes vexans (Meigen). Can J Vet Res. v.66. n. 3. 2002. p. 191-195. Erratum in: Can J Vet Res. v.66. n. 4. 2002. p.294. 6. Otake, S.; Dee, S.A.; Rossow, K.D.; Moon, R.D.; Trincado, C.; Pijoan, C. Transmission of porcine reproductive and respiratory syndrome virus by housefl ies (Musca domestica).vet Rec. v.152. n.3. 2003. p.73-76. 7. Batista, L.; Pijoan, C.; Torremorel, M. Experimental injection of gilts with porcine reproductive and respiratory syndrome virus (PRRSV) during acclimatization. J of Swine Health and Prod. v.10. n.4. 2002. p. 147-150. 8. Torremorell, M.; Henry, S.; Christianson, W.T. Eradication using herd closure. In: Zimmerman, J.; Yoon, K.J. eds. The PRRS Compendium. 2 ed. Iowa, 2003. p.157-161. 9. Dee, S.A. Approaches to prevention, control, and eradication. In: Zimmerman, J.; Yoon, K.J. eds. The PRRS Compendium. 2 ed. Iowa, 2003. p.119-130. 10. Thacker, E.L.; Thacker, B.J.; Wolff, T. Effi cacy of Aureomycin (CTC) granular premix against Mycoplasma hyopneumoniae challenge. Am Assoc of Swine Vets. Proc Nashville. 2001. p. 83-85. 11. Oliveira, S.; Batista, L.; Torremorell, M.; Pijoan, C. 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