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Transcrição:

PN: 72.99 Ap.te, advogado, residente na Quinta da Vila, Cadaval Ap.da,, funcionária municipal, residente na Travessa da Oliveira, Cartaxo Recurso interposto no Tribunal do Judicial da Comarca do Cartaxo Acordam no Tribunal da Relação de Évora 1. O Ap.te pediu o despejo da Ap.da, com o fundamento de que deixou de residir no locado e não satisfez o montante das rendas relativas aos meses de Janeiro de 1985 a Dezembro de 1987, Janeiro a Fevereiro de 1988 e Janeiro a Dezembro de 1989. 2. A Ap.da opôs não haver qualquer renda em atraso e que vive em economia comum no locado com um irmão, passando algum tempo numa outra casa. Excepcionou também a caducidade do direito de resolução (por falta de pagamento das rendas) e a prescrição do débito destas do ano de 1985 e de Janeiro de 1986. 3. Na réplica, o Ap.te defendeu não ter decorrido mais de um ano sobre o conhecimento, porque, não obstante no contrato de arrendamento se referir que a renda seria paga no primeiro dia útil do mês anterior àquele a que dissesse respeito, tal nunca ocorreu: as partes não acordaram nem praticaram o pagamento de renda adiantada de um mês, sendo o escrito apenas uma mera fórmula, não corrigida, por lapso. 4. Julgada em parte procedente a acção, apelou a R., com êxito, tendo sido reenviado o caso à primeira instância com aditamento de novos quesitos: acordam em revogar a sentença apelada, por se anular o respectivo julgamento, devendo este ser repetido 1

posteriormente à elaboração dos novos quesitos referidos [que tomem em conta os nºs 7/12, 16, por um lado, e por outro dos nºs 13, 14, 19, 20, 22, e 23 da contestação1]. Porém, a sentença de primeira instância havia decretado o despejo imediato, por falta de pagamento das rendas respeitantes aos meses de Janeiro de 1986 a Dezembro de 1989, no montante de PTE 1.200$00 cada uma. E nas alegações de recurso concluírase: os factos admitidos por acordo devem ser considerados na sentença final ainda que não tenham sido incluídos na especificação contra a qual se não reclamou; assim, deve considerar-se assente que A. e R. acordaram que a renda era paga no primeiro dia útil do mês anterior àquele a que respeita, declarando-se prescrita a renda respeitante ao mês de Janeiro de 1986 e as dos meses precedentes uma vez que a acção deu entrada em juízo em 90.12.20. Contudo, no acórdão da relação escreveuse: como nota prévia dir-se-á que o objecto deste recurso - definido pelas conclusões - está circunscrito tão somente à questão do despejo por resolução do contrato de arrendamento com base na al. i) do nº 1 do Artº 64 RAU, uma vez que quanto às rendas - mora no pagamento - a Ap.te não formula àquele nível conclusivo, qualquer discordância com a sentença apelada; a Ap.te desdobra o seu ataque à decisão recorrida em termos do julgamento da matéria de facto e em termos do julgamento da matéria de direito; e como as questões relativas ao primeiro podem ser prejudiciais ao segundo importa começar por analisar aquelas; isto embora as críticas d a apreciação fáctica não possam, com é evidente, desligar-se inteiramente 1 Contestação: 7 - a mãe da R. tem 96 anos, necessitando de cuidados constantes; 8 - embora a casa da Travessa da Oliveira tenha precárias condições, a mãe da R. à longos anos que aí habita e, como diz, aí quer morrer; 9 - a parte do locado destinada à habitação situa-se no 1º andar, o que impossibilita a mãe da R. de aí viver, atentas as notórias e óbvias dificuldades de locomoção daquela; 10 - com efeito, a mãe da R. tem de se deslocar frequentemente a consultas e tratamentos médicos, o que torna penoso e desumano subir e descer escadas 11 - e na casa [na Travessa da Oliveira] tem a possibilidade de passar algumas horas do dia no quintal, o que lhe estaria vedado no local arrendado 12 - aqueles períodos passados ao ar livre são vitais para a mãe da R., pois tal constitui a única distracção do dia; 13 - a R. vive em economia comum com o irmão no local arrendado 14 - na verdade, já desde a celebração do arrendamento que a R. toma as suas refeições no locado com o irmão e a esposa deste e aí é visitada e procurada pelos amigos e conhecidos; 16 - a R. é solteira, e assim é a filha que maior disponibilidade tem para acompanhar a mãe na doença e na velhice; 19 - o irmão e a cunhada da R. vivem e permanecem no locado, aí tendo instalada a sua residência permanente; 20 - na companhia da R., aqueles aí confeccionam e tomam as suas refeições, dormem, recebem os amigos e por estes são procurados; 22 - só com a ajuda do do irmão e da cunhada é que R. tem conseguido proporcionar à mãe a possibilidade de se manter na casa em que esta habita; 23 - permanecem no locado, com a R., desde o início do arrendamento, o irmão e a cunhada que com aquela convivem à largos anos. 2

de uma perpectivização jurídica, sendo eloquente neste sentido o próprio teor do Artº 511 nº1 - articulação dos factos segundo as várias soluções plausíveis da questão de direito - do CPC. E, na parte final da fundamentação: quanto à decisão de direito - tal como se começou por ressalvar as questões de direito levantadas pela recorrente quanto à apelação ficam prejudicadas pela solução encontrada [quanto ao julgamento de facto]. 5. Ficou agora provado2: (a) em 85.01.01, deu de arrendamento à Ap.da o R/C e 1º andar, destinado a habitação, do prédio sito na Rua Victor Cordon, Azambuja, pelo prazo de 6 meses e renda mensal de PTE 1.200$00; (a) a casa é composta no R/C de uma divisão e no 1º andar de 8 divisões, confrontando do N. com aquela rua, do S., do Nasc. Com e do Po. com ; (c) a presente acção deu entrada em 90.12.20; (d) em Janeiro de 1985, o pai do acordaram que a casa seria entregue à Ap.da; (e) em virtude dos 96 anos de idade, a mãe da Ap.da necessita de cuidados constantes, e diz que quer morrer na casa da Travessa da Oliveira; (f) a parte do locado destinada a habitação situa-se no 1º andar, o que impossibilita a mãe da Ap.da de aí viver, atentas as dificuldades que tem de locomoção; (g) a mãe da Ap.da tem de se deslocar a consultas e tratamentos médicos, o que a obriga a subir e descer escadas; (h) mas na casa em questão, a mãe da Ap.da tem a possibilidade de passar algumas horas do dia no quintal, o que lhe 2 Na primeira sentença foi esta a matéria provada: (a) corresponde a 5.(a); (b) corresponde a 5.(b); (c) a Ap.da pagou as rendas correspondentes a Janeiro de 1985 e Fevereiro de 1985; (d) a acção deu entrada em 90.12.20; (e) corresponde a 5.(d); (f) a Ap.da mantém em débito as rendas de Janeiro de 1986 a Dezembro de 1987, e as de Janeiro de 1988 e Dezembro de 1988, também as de Janeiro de 1989 a Dezembro de 1989; (g) a Ap.da, desde à vários meses, saiu do arrendado, vivendo na T ravessa da Oliveira, em Azambuja; (h) não mais recebeu os seus amigos no arrendado, ou aí tomou as refeições, recebeu correspondência e dormiu; (i) a mãe da Ap.da necessita de cuidados constantes; (j) a mãe da Ap.da habita a casa da Travessa da Oliveira; (k) as partes não acordaram, nem praticaram, o pagamento da renda adiantada de um mês; (l) o contrato de arrendamento junto pelo Ap.te é o modelo standart, a que normalmente se recorre, e sem que todas as cláusulas sejam rigorosamente cumpridas; (m) o bom relacionamento havido entre o pai do Ap.te e o irmão da Ap.da traduziu-se na não exigência do mês de renda/caução; (n) dadas as relações de confiança existentes, nunca se colocaram problemas quanto ao local do pagamento; (o) aquando do aumento das rendas introduzido em 1985, o pai do Ap.te pretendeu que o aumento tivesse por base a data do primeiro arrendamento do locado (1963); (p) a Ap.da teve entendimento diverso e recusou-se a pagar a renda actualizada dessa forma; (q) a Ap.da paga actualmente a renda mensal de PTE 7.238$00. 3

está vedado no local arrendado e por ser solteira, a Ap.da é a filha que maior disponibilidade tem para acompanhar a mãe na doença e na velhice; (i) desde a celebração do arrendamento que a Ap.da toma as suas refeições no locado com o irmão e a esposa deste, e aí é visitada pelos amigos e conhecidos; (j) na companhia da Ap.da, o irmão e a cunhada confeccionam e tomam as suas refeições no locado, e aqui dormem, recebem os amigos, por estes são procurados. 6. Com base nestes factos a sentença recorrida absolveu a Ap.da do pedido: inexiste fundamento para a extinção do contrato se permanecerem no locado familiares do arrendatário que com ele convivam a mais de um ano (Artº 64/2 c. RAU - com esta solução atribui-se ao contrato de arrendamento a função de proteger, com seu regime vinculístico, quem não é parte no negócio jurídico, assim se ultrapassando as fronteiras da eficácia relativa dos contratos, e só se justifica se na sua base estiver a defesa do agregado familiar, Ac. RL 92.02.06, CJ, XVII, 1/154; Ac. RP 80.06.12, BMJ, 298/364). 7. Concluiu o recorrente: (a) a sentença recorrida não teve na devida conta a prova já produzida e assente nos autos, e tem agora fundamento numa deficiente valoração da que se produziu no 2º julgamento; (b) os factos relevantes, julgados com provados no 2º julgamento, estão em contradição com factos dados como provados e assentes no 1º julgamento; (c) não foi devidamente valorada a prova produzida pelos documentos oferecidos pelo Ap.te; (d) a apreciação da prova em sede 2º julgamento é contraditória, deficiente e obscura; (e) existem nos autos elementos bastantes que permitem ao tribunal de recurso modificar a decisão de facto (Artº 712 CPC), no sentido de estabelecer que a Ap.da não tem, residência permanente no locado, ou pelo menos não a tinha até à data da propositura da acção; (f) consequentemente, para decidir pelo despejo imediato; (g) se assim não for entendido, pode ainda ser ampliada a matéria de facto, ordenando-se novo julgamento, com novos quesitos, que serão sugeridos pelo tribunal de recurso (id. CPC); (h) a decisão justa jamais poderá 4

ser a absolvição do pedido, termos em que a decisão decorrida deve ser revogada e substituída por outra, numa ou na outra das direcções propostas. 8. Nas contra alegações disse-se: (a) as razões articuladas pelo Ap.te não fazem parte da questão de mérito levada a julgamento, pelo que não devem ser tidas em conta; (b) não existe qualquer contradição nas respostas aos quesitos, importando apenas investigar se a Ap.da, o irmão e a cunhada, tem a sede da sua vida familiar e social instalada no locado; (c) as respostas provado, aos quesitos iniciais [a R. desde à vários meses saiu do arrendado, vivendo na Travessa da Oliveira, em Azambuja?; não mais recebeu os seus amigos no arrendado, ou aí tomou as suas refeições, recebeu correspondência e dormiu?], por si só não esclarecem nada, tem que ser integradas no conjunto dos restantes factos, pois o estado de saúde da mãe da Ap.da e a necessidade de lhe prestar assistência, ao contrário do que sustenta o Ap.te, são questões primordiais para a resolução do litígio; (d) por outro lado, os documentos apresentados pelo Ap.te são de livre apreciação; (e) não existem assim nos autos elementos que permitam concluir, clara e inequivocamente, sobre se a Ap.da não residia no locado na altura da propositura da acção, não podendo pois o tribunal de recurso modificar a decisão de facto e consequentemente ampliar a matéria a investigar num novo julgamento; (f) deve manter-se a decisão recorrida. 9. O recurso está pronto para julgamento. 10. Como resulta, sem dúvidas, da decisão precedente desta Relação, o julgamento foi anulado para uma reponderação global da matéria de facto não só no domínio da reconstituição dos acontecimentos, mas também no domínio do juízo definitivo quanto às várias soluções de direito admissíveis. Não obstante, a sentença recorrida limitou-se a raciocinar os novos dados de facto trazidos à discussão. E mesmo assim, numa perspectiva estrita. É que, o aditamento dos quesitos relativos aos acontecimentos donde poderia concluir-se que a Ap.da afinal de contas mantinha residência no locado, imporiam necessariamente produção de prova nova ao quesito 5

10º da parte inicial do questionário (vd. nota 1), questão que foi ignorada. Assim, a matéria comprovada, vista como tem de ser, de um ponto de vista global, apresenta nítida contradição: de um lado diz-se desde há vários meses que a Ap.da saiu do arrendado, vivendo na Travessa da Oliveira, em Azambuja; de outro desde a celebração do arrendamento toma ela as suas refeições no locado com o irmão e a esposa deste, sendo aí visitada pelos amigos e conhecidos; na companhia da Ap.da, o irmão e a cunhada, confeccionam e tomam no locado as suas refeições, aí dormem, aí recebem os amigos e por estes são procurados. Consequentemente, visto o Artº 712/4 CPC, há razão para se anular de novo o julgamento. 11. Como já foi dito também, a sentença recorrida não poderia ter ignorado a reformulação do juízo decisório, incluindo o debate sobre a prescrição das rendas que foram consideradas em dívida, e motivo de despejo. É esta aliás a única interpretação possível do acordam da Relação que ordenou, pela primeira vez, a repetição. Na verdade o que foi excluído então da problemática do recurso foi o tema da mora, não fazendo sentido ter-se apreciado a restante matéria das conclusões se se tivesse pretendido manter indiscutível e definitivamente assente a verificação de um motivo de resolução judicial do contrato. Isso sim justificaria a completa invalidade da pretensão recursiva, prejudicada a apreciação de um tema inútil, porque não poderia obstar ao efeito útil já conseguido. 12. Ora, se devemos interpretar desta maneira o acórdão em questão, por razões de praticabilidade também há que aditar ao questionário os factos, referidos pela Ap.da nas alegações do primeiro recurso, mas que defende terem de ser dados por assentes, em que funda o mérito da discordância. Na ausência de pronúncia expressa da decisão do tribunal de recurso, que transitou, não poderá ser outra a solução, já que, não se pode ir mais além, no esforço hermenêutico que qualquer sentença exige como acto jurídico, aceitando mais do que tratar-se de matéria controvertida, não suficientemente discutida. E também a já citada norma do CPP nos permite fazer ampliar a investigação em audiência a este domínio. 6

13. Assim sendo, porque procedem as conclusões do Ap.te, numa das vias propostas, e visto o Artº 712/4 CPC, decidem revogar a sentença recorrida, por se anular o respectivo julgamento, devendo ser este repetido com inclusão de todo o questionário e nova resposta ao quesito 10º, aditado ainda a partir da matéria respeitante ao acordo entre as partes para que a renda fosse paga no 1º dia útil do mês anterior àquele a que respeita. 7