BNDES em uma Encruzilhada Prof. Ernani T. Torres Filho Instituto de Economia da UFRJ Apresentação no Seminário da AFBNDES 03/2017 1
Sumário 1. Crédito Direcionado e BNDES 2. Mudanças em perspectiva: encolhimento e nova taxa básica 3. Alternativas 2
Crédito Direcionado Todos os governos dispõem de mecanismos de crédito direcionado. Instrumentos variam conforme país, estrutura de mercado financeiros e propósito do direcionamento: a) Fundos Públicos parafiscais: Japão, Singapura, Brasil, México b) Garantias Públicas: EUA, Europa, Brasil (não funciona bem) c) Subsídio ao juros : financiamentos à exportação d) Bancos Públicos: Brasil, Alemanha, Suiça, Japão, França, China, India, Canadá Se Juros e Risco Financeiro do Estado são elevados, só fundos e bancos públicos são efetivos 3
2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 Em que o BNDES e o Brasil se destacam nesse cenário? CRÉDITO DO BNDES / CRÉDITO TOTAL (%) 21,9 21,5 21,0 19,8 19,3 30 25 20 15 10 Taxa SELIC e Variação do IPCA em 12 m (%) Selic 12m ac IPCA 12m ac 15,6 5 0 4
BNDES não compensou a queda do crédito corporativo livre em 2016, quando a crise se aprofundou Taxa de Crescimento do Crédito Corporativo (% aa) 3,12 0,97 2,2 1,08 0,94-0,82-0,56-0,66-1,19 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 Não Direcionado Direcionado 5
... e os desembolsos colapsaram Desembolsos do BNDES (R$ bi) Desembolsos do Cartão BNDES (R$ milhões) 136,4 168,4 156,0 138,9 190,4 187,8 135,9 11.547 11.252 64,9 90,9 88,3 5.636 225 846 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 6
... e pagou adiantado R$ 100 bi de empréstimos junto ao Tesouro Nacional Dívida do BNDES com o Tesouro Nacional 506 524 428 440 376 311 253 144 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 100 bilhões representa: * 120% dos desembolsos de 2016 * 1/3 dos juros pagos pelo Tesouro em 2016 7
O Governo está estudando uma proposta de reforma da taxa de juros do BNDES: o que é a TJLP Meio de evitar que investimentos produtivos fossem penalizados pela elevada taxa de juros do Banco Central Instrumento para aumentar a competitividade da indústria de bens de capital com elevado conteúdo nacional, frente à competição dos estrangeiros Evitar maior dolarização do balanço das empresas brasileiras (FMI) 8
Por que mudar/acabar com a TJLP? Aumentar a potência da política monetária Permitir a Securitização de ativos do BNDES Acabar com o caráter discricionário da formação da taxa Reduzir a disponibilidade de recursos direcionados no mercado (encolher o BNDES) 9
A proposta apresentada pelo governo Acabar com a TJLP para novos empréstimos Nova taxa seria: IPCA + spread fixo ao longo do contrato Esse spread seria fixado mensalmente e seria igual ao spread pago pelo Tesouro Nacional nos títulos de 5 anos (NTN-B) 10
Quais seriam as consequências dessa proposta? Aumentar o custo do financiamento do investimento em reais, acima da captação doméstica das melhores empresas Tornar o preço do crédito do BNDES pró-cíclico, eliminando a possiblidade de ser usado em situações de crise (2008/2009) Reduzir ainda mais a demanda e aumentar a geração de caixa livre do BNDES (acelerar o pagamento da dívida do Tesouro?) Reduzir a competitividade da indústria de bens de capital brasileira, aumento das importações e dos coeficientes de importação, com impactos negativos sobre emprego e renda 11
Mas será que aumentaria a potência da política monetária? ARGUMENTO: 50% do crédito no Brasil é direcionado e portanto não sofre o impacto da política monetária RESPOSTA: 50% se refere ao estoque de crédito. O canal da política monetária é o fluxo de novos empréstimos. Os novos empréstimos do BNDES entre 2011 e 2016 responderam por apenas 3,8% de todos os novos créditos bancários. Efeito sobre a política monetária será mínimo, se houver 12
BNDES detém mais de 50% dos crédito bancários de longo prazo. Se só corporativo, muito mais BNDES Créditos com mais de 5 anos Em 09/2016 Fonte: BACEN 3,4 2,5 2,5 5,7 12,7 22,3 50,9 BB CAIXA ECONOMICA FEDERAL BRADESCO SANTANDER ITAU Outros 13
... e o mercado de capitais? Evolução do Mercado de Debêntures * (Em % do PIB) Leasing Corporativas Incentivada 10,5 7,7 2,0 4,0 3,7 12,6 0,5 Créditos do BNDES correspondem a 9,5 % do PIB 2,2 1,5 5,7 6,5 8,4 0,7 2004 2006 2008 2010 2012 2014 2016 14
Debêntures Leasing são a 3ª fonte dos bancos Saldo dos Principais Títulos de Dívida Bancária em Maio de 2016 (Em R$ bilhões) 533 434 435 406 Deb. Leasing Letras Financeiras CDB LCI e LCA 15
Não há como se colocar debêntures diretamente ao público no Brasil, só para bancos e... Emissões de Debêntures por Tipo de Emissão (Em R$ bilhões) 57,0 Ofertas Restritas (476) Ofertas Registradas (400) 47,5 74,9 59,5 70,4 53,9 55,2 31,8 36,7 0,0 0,0 16,0 13,7 16,2 3,2 15,0 10,9 4,5 10,6 1,9 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 16
Haveria a possibilidade de financiamentos de longo prazo em dólar Isso seria ir contra a estabilidade macroeconômica Todos os organismos internacionais são contrários ao aumento da dolarização dos passivos das empresas e dos bancos Crise de 2002 x a de 2008 17
Haveria uma alternativa à proposta do governo? Aprimoramentos da TJLP são bem vindos Indexar os créditos do BNDES ao IPCA seria uma boa proposta, já foi assim até 1994 (desindexação) O problema é colar com o risco do Tesouro automaticamente No resto do mundo é assim, mas Nossa moeda e o nosso Tesouro são fracos, por isso juros altos Quando forem muito baixos como no resto do mundo, o problema deixará de existir naturalmente 18
Como fixar o spread? Deveria ser com base no que é praticado no mercado internacional, no custo de oportunidade privado para os investidores Poderia ser fixado anualmente e revisto periodicamente. Seria um preço razoável e previsível. 19
Adicionalmente Criação de um novo título do BNDES que possa ser emitido para qualquer investidor com isenção de Imposto de renda, com lastro em créditos incentivados BNDES auxiliar as empresas a gerar títulos incentivados, com mecanismos de garantia de colocação e leilões períódicos. Reformar as normas da CVM de emissão de debentures ao público, desburocratizando o processo e reduzindo o poder dos bancos 20
Conclusões Rever a TJLP em um processo aberto, transparente e participativo Adotar uma perspectiva desenvolvimentista e realista, e não fiscalista Garantir que a nova taxa seja internacionalmente competitiva. Direcionar o BNDES para ser um agente mais atuante na retomada do investimento e no desenvolvimento do mercado de dívida corporativa. 21
BNDES: Desafios e Perspectivas Prof. Ernani T. Torres Filho Instituto de Economia da UFRJ Apresentação no Seminário da AFBNDES 03/2017 22