EBITDA: retrato do desempenho operacional Por Yumara Lúcia Vasconcelos Resumo: No atual estágio de internacionalização pelo qual o homem moderno passa, torna-se cada vez mais uma necessidade, a criação de diferenciais competitivos para sustentação de mercado. Tal preocupação repousa no seguinte argumento: se de um lado a internacionalização significa abertura de mercados, em contrapartida implica necessariamente numa maior concorrência. Concorrência esta que nada mais faz do que revelar as assimetrias sociais, culturais e econômicas da grande aldeia global. Neste contexto dinâmico e interativo, a qualidade da informação ganha posição de relevo no apoio às funções de planejamento, controle e tomada de decisão. Quadro que ressalta a abordagem comportamental da contabilidade. O presente artigo aborda o lucro como importante insumo para a construção da informação contábil, trazendo à discussão uma variação do lucro contábil muito discutida nos tempos atuais: o lucro operacional ajustado (sem a depreciação, amortização ou exaustão e juros), conhecido no ambiente internacional como EBITDA. Palavras-chave: Ebitda contabilidade- lucro operações atividade. 1. Considerações iniciais 1.1. Algumas reflexões sobre o lucro O Lucro possui várias vertentes informativas e por certo, uma única expressão não é suficiente para atender às necessidades do usuário da informação contábil, que nada mais reflete do que as finalidades dessa informação. A forma pela qual o lucro é apresentado na Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) decorre da finalidade informativa a que se presta. Uma justificativa para a forma vigente de apresentação do lucro na DRE fundamenta-se no fato de que: o entendimento de como o lucro é gerado favorece a sua leitura e interpretação. A informação do lucro num plano geral serve: p para aferir a eficiência da gestão (ótica do gestor); p de base para predições e instrumento de previsão para pagamento de dividendos (ótica do detentor do capital e do investidor); p como orientador para decisões gerenciais futuras (ótica do investidor e do gestor mista); p de base para tributação (ótica fiscal); p para avaliação da qualidade da alocação dos recursos aplicados (ótica do gestor). Assim, podemos dizer sumariamente que a divulgação do lucro objetiva fornecer informações úteis aos usuários da informação contábil, no tocante: a eficiência e eficácia da gestão econômica e financeira a visão projetiva do negócio e ao fundamento para decisões gerenciais. Embora exista uma maior preocupação por parte dos investidores e credores com a medida do fluxo de caixa, estes não deixam de recorrer ao lucro líquido e ao lucro operacional para avaliar a capacidade da empresa em gerar resultados. Sendo o lucro líquido e operacional indicadores 1
sintéticos, muitos os utilizam para atestar o sucesso ou o insucesso de um negócio, outros ainda o vislumbram como causa desses estados Retrato do desempenho operacional ou retorno aos proprietários da empresa, fato é que, o conceito que se tem de lucro reflete. e muito. a visão e especialmente, a necessidade do usuário. O conceito mais adequado é o que atende aos objetivos perseguidos pelos usuários da informação em foco. Não se trata de eleger um conceito, pois um conceito pode ser útil para determinados usuários e não o ser para outros A escolha do conceito de lucro é função da resposta à indagação: a quais objetivos se preta a referida divulgação? Desta forma vimos abordar uma expressão das mais conhecidas expressões do lucro: o EBITDA. 1.1.1. Da expressão operacional : É de fundamental importância a focagem da informação lucro no aspecto operacional. Entretanto, é forçoso dimensionar o significado da expressão operacional. Segundo muitos, o termo operacional está associado ao fator regularidade das operações numa empresa. Assim, segundo os adeptos desse conceito, toda e qualquer operação que seja regular e previsível é considerada operacional. Todavia, faz-se mister refletir acerca da semântica dessa expressão, pois existem eventos operacionais que não são regulares. O exemplo mais comum é o pagamento de horas extras nos períodos de pico na atividade. Neste exemplo, temos um evento de natureza operacional que não é regular, embora seja previsível. Ora, estima-se que nos períodos de maior atividade, um maior volume de horas de trabalho seja requerido. O mesmo se dá com os itens não operacionais: os fatores regularidade e previsibilidade não são filtros qualificados para conceituação. A ocorrência de inundações anuais previsíveis em zonas de risco podem acarretar perdas não operacionais e no entanto, são eventos esperados. A expressão operacional está vinculada ao ciclo da atividade ou melhor dizendo, à exploração do objeto da empresa. Desta forma, todo fato ligado ao ciclo, independente se previsível ou controlável 1. A compreensão desta classificação é credencial para entendimento do refinamento proposto ao lucro operacional corrente - EBITDA. Vimos, neste artigo, tratar do emprego do lucro operacional corrente ajustado (EBITDA) no processo decisório, não porque seja o melhor dos instrumentos de análise, mas por ser um dado para leitura do desempenho do negócio em sua atividade. 1 Os eventos operacionais são, em geral, mais controláveis que os não operacionais. 2
2. Em que consiste o EBITDA? A sigla EBITDA tem origem inglesa 2 e significa lucro antes dos juros, impostos sobre o lucro, depreciações e amortizações (LAJDA). DRE simplificado Receita de Vendas (-) CPV = Lucro Bruto (-) Despesas Operacionais C/Vendas Gerais e Administrativas. (=) EBITDA ou LUCRO OPERACIONAL AJUSTADO. (-) Despesas Escriturais = Lucro Operacional Antes do IR e CS (+ ou -) Receitas e Despesas Financeiras = Lucro Antes do IR e CS (-) Provisão para IR e CS = LUCRO LÍQUIDO O EBITDA concentra informação no operacional e na capacidade da empresa em gerar caixa.. Esta é a principal razão para a exclusão das despesas financeiras (juros pagos a credores) posto que não apresentam vínculo com a atividade, embora sejam, muitas vezes inevitáveis ao fomento da atividade. 2.1. Depreciação, Amortização ou Exaustão EXCLUSÃO DAS DESPESAS OPERACIONAIS. Medida do potencial de renda, independente das fontes de financiamento. A desconsideração da depreciação, exaustão ou amortização no cálculo do EBITDA, deve-se ao fato destas não representarem desembolso (saídas de caixa). Em verdade, tanto a depreciação como a exaustão e amortização, em termos de raciocínio financeiro, representam uma reintegração ao resultado de valores anteriormente desembolsados. O EBITDA consiste no potencial de caixa gerado pelos ativos operacionais. Note que falamos em potencial de caixa e não em caixa efetivo, exatamente porque parte da receita pode não ter sido a vista ou seja, pode estar em aberto no contas a receber da empresa, assim como parte das despesas podem não ter sido pagas, permanecendo pendentes no contas a pagar. O EBITDA não reflete o fluxo físico de caixa. Lembremos que as receitas e despesas são, à luz da teoria contábil, reconhecidas pelo princípio da competência e não pelo regime de caixa. De fato, se o objetivo é focar a informação no operacional e na capacidade de gerar caixa não há porquê manter despesas escriturais no cômputo, embora sejam estas operacionais. 2 Earning before interest, taxes, depreciation and amortization. 3
2.2. Despesas Financeiras A exclusão das despesas financeiras decorre do fato destas não fazerem parte do ciclo operacional do negócio (exceto para as Instituições Financeiras) ou seja, não serem ligadas ao seu objeto de exploração, e sim, à ação de captar recursos externos e ao reflexo provocado pela variação cambial. Não é relevante preocupar-se com a forma como as atividades foram financiadas quando a finalidade do usuário é verificar o desempenho operacional. 2.3. Receitas Financeiras: não possuem vínculo com a atividade principal. Consistem em aplicações de excedentes de caixa no mercado financeiro. 2.4. Juros sobre o capital próprio Não decorrem da atividade fim do negócio sendo sim, uma conseqüência dela. 2.4. Do Cálculo: Etapas de Cálculo Obtenção da DRE Reordemamento da DRE Adição do valor total da depreciação e correção monetária Subtração das despesas financeiras 3. EBITDA: quais as vantagens aplicativas? p Informa o desempenho da empresa na atividade, assim como o grau de cobertura do resultado em relação as despesas financeiras; p Reporta o reflexo das estratégias de mercado adotadas; p Serve de parâmetro para conhecimento do valor da empresa: quanto maior a capacidade da empresa em gerar caixa, maior será seu valor para o mercado assim como, quanto maior o EBITDA em relação aos recursos investidos, melhor a qualidade da gestão (monitoramento da eficácia da gestão); 4
p A medida pode ser empregada como base de cálculo para pagamento de bônus a empregados; p É um indicador que atende às exigências atuais da globalização, uma vez que não é afetado pelas diferenças de legislações fiscais ou pelo emprego de diferentes métodos de depreciação, o que facilita a feitura de comparações, inclusive entre empresas sediadas em países diferentes. Embora o IR não seja nem de natureza financeira nem operacional, a sua desconsideração no cômputo do EBITDA se deve ao fato deste representar uma despesa não controlável pela empresa e sim subordinado a aspectos fiscais. 4. Limitações Como toda e qualquer informação, o EBITDA possui um foco, uma delimitação de âmbito. Superdimensionar as funções informativas do indicador é reduzir sua eficácia e introduzir risco na interpretação do indicador. 4.1. Ponderações necessárias: p É uma medida afetada pela escolha do método de avaliação de estoques, uma vez que a contrapartida da baixa do estoque, no momento da venda, é o reconhecimento do custo. Afinal, a depender do método escolhido podemos ter um CMV sub ou superavaliado; p Não obstante reconheçamos que os gastos diferidos beneficiem exercícios posteriores aos da aplicação de recursos, estes impactam de fato no exercício em que incorrem. Ora, tais gastos mascaram o resultado do EBITDA; p Seu valor informativo é acrescido quando a técnica é utilizada em combinação com outras; p Não é uma técnica aplicável, de pronto, para Instituições Financeiras pelo fato das despesas financeiras incorporarem a atividade principal do negócio, o que exigiria refinamentos adicionais sobre o lucro operacional; p A técnica deve ser aplicada considerando-se o momento ou estágio atual do negócio (análise de contexto). Para negócios afetados pela variação cambial a rubrica despesas Financeiras ganha relevância, o que também requer do analista exames adicionais; p Quando a medida é utilizada para avaliação de empresas, em função da desconsideração de aspectos da composição do passivo, o investidor perde a visão acerca da qualidade das dívidas. É plenamente factível uma empresa valer mais ou menos em função da existência de uma dívida com potencialidade de alavancagem, especialmente as exigibilidades de longo prazo. A análise inversa é igualmente válida em se tratando de obrigações antieconômicas ou seja, cujos custos excedem o benefício auferido. Nestes casos o valor da empresa é também afetado, só que para menos. 5
5. Considerações Finais: A análise através do EBITDA é importante mas não absoluta e, descredenciar o lucro líquido em favor do EBITDA sem refletir acerca do foco informativo de cada um desses indicadores absolutos é desqualificar a própria análise. O lucro líquido não é menos ou mais importante que o EBITDA meramente. Toda e qualquer hierarquia entre indicadores deve ser norteada pelo tipo de informação desejada. Se almeja-se verificar o desempenho operacional da empresa, o valor informativo do EBITDA supera o valor da informação referente ao lucro líquido, mas não se segue daí que este último deva ser descartado para fins de análise. As citadas vantagens aplicativas do instrumento EBITDA o qualificam sobremaneira para ser um excelente benchmark econômico e financeiro o que não sugere daí, que o analista o tome como medida única para suas interpretações. 6. Referências Bibliográficas COPELAND, Tom, KOLLER, Tim & MURRIN, Jack. Avaliação de empresas Valuation : Calculando e gerenciando o valor das empresas. São Paulo: MAKRON Books,1995. ICÓ, José Antônio & BRAGA, Rosalva Pinto. EBITDA: lucro ajustado para fins de avaliação de desempenho operacional. Revista Pensar Contábil, Novembro de 2000/ Janeiro de 2001. ASSAF NETO, Alexandre. Estrutura e Análise de Balanços. São Paulo: Atlas, 2001. SÁ, Antônio Lopes de. Estudo Analítico da Rentabilidade das Empresas. Apec Rio de Janeiro, 1976.. Teoria Geral do Conhecimento Contábil. IPAT-UNA: Belo Horizonte, 1992. VASCONCELOS, Yumara Lúcia. Ebitda Redescoberta Do Potencial Informativo Dos Indicadores Absolutos. Artigo ainda não publicado. Yumara Lúcia Vasconcelos Contadora e professora universitária E-mail: yumara@terra.com.br Home Page: www.yumara.cjb.net Artigo publicado na IOB - Informações Objetivas IOB COMENTA 49/2001 6