Interatividade e propaganda: um diálogo possível?

Documentos relacionados
Apresentação pessoal

Qual veículo eu devo escolher para falar exatamente com este perfil de consumidor?

94% Prof. Fabiano Taguchi 05/06/2015. Sentido Porcentagem Gosto 1% Tato 1,5% Olfato 3,5% Audição 11% Visão 83%

Desenvolvimento de Propaganda Interativa Sensível ao Contexto para TV Digital

do seu consumidor, provocar uma ação e ser fixada em sua memória, pois é preciso lembrar que essa ferramenta está ali para apenas um fim: vender

CURSO DE EXTENSÃO EM PROGRAMAÇÃO VISUAL. Aula I. Prof. Carlos Café Dias

Nota Prévia 7 Prefácio... 23

11/05/2015 MKI 1. Tópicos. A Implantação do Endomarketing exige a definição de um plano de ações que nos facilitará atingir os objetivos do programa.

Aprender os conceitos de sistemas multimídia Conhecer os elementos multimídia Desenvolver projetos multimídia

crescimento do tempo médio de uso do brasileiro entre junho e julho de 2009 (IBOPE, 2009). Apesar dos indicadores de uso da Internet apresentarem-se

Portfólio de Serviços

O papel da Promoção no Marketing Mix. Profª Telma Lanini

Em terra de mídia online, a inovação é offline.

NEXT, NOW : O QUE VIRÁ, ANTES DE VIR

ÍNDICE. COMUNICAÇÃO 19 Etimologia do termo 19 Diversos conceitos 20

João Josué Barbosa (UNESP) - Raiane Silva Santos (UNESP) - Resumo:

1. IDENTIFICAÇÃO DO CURSO

O COMPOSTO DE COMUNICAÇÃO DE MARKETING E SUA VEICULAÇÃO: UM ESTUDO NOS HOSPITAIS DE PELOTAS. BARBOSA, Michele Silva¹; SANTOS, Elaine Garcia².

1 Termo sugerido por Alex Primo (2008) para substituição tanto de receptor como de

Resenha. Comunicação Pública e TV Digital: interatividade ou imperatividade na TV pública (Alberto Perdigão, Editora UECE, 2010)

Sumário. módulo um INTRODUÇÃO À PROPAGANDA. capítulo 2 aspectos econômicos, sociais e regulamentares da propaganda... 27

O que é Comunicação?

Mídia. Profª Claudia R. Bouman

228 Revista Brasileira de Ciências da Comunicação

LIDERANÇA SINDICAL e suas REDES SOCIAIS

5 Conclusões 5.1. Conclusões sobre o momento da TV aberta

PARADIGMA DE COMUNICAÇÃO

Introdução PP UNISALESIANO. Aula 10: Audiência e Público-alvo

Fazer de Cada Momento uma Oportunidade de Aprendizagem!

EMENTAS DAS DISCIPLINAS CURSO DE GRADUAÇÃO DE PUBLICIDADE E PROPAGANGA

Estratégias de Comunicação em Eventos. Prof. Flávio Franceschi

REPRESENTAÇÃO CULTURAL DENTRO DA SOCIEDADE DIGITAL: A UTILIZAÇÃO DAS REDES SOCIAIS COMO PROCESSO DE COMUNICAÇÃO 1. Vitor Pachioni Brumatti 2

POLÍTICA DE COMUNICAÇÃO

ABRANGÊNCIA NO NOROESTE PAULISTA. A unidade de rádio noroeste paulista localizada na cidade de Pirangi/sp

O que é possível fazer para surpreender os seus clientes?! Prof. Ms. Alexandre Correia dos Santos

Empregados conectados: endomarketing e comunicação interna em empresas sem fronteiras

Métricas e Ferramentas

Espaço da página em que, on line, a programação da TV Correio e da Rede Record é transmitida.

LIDERANÇA SINDICAL e suas REDES SOCIAIS

MIDIAS NA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Marketing Academy. Talent Development for Business Growth

PROPOSTA DE AMBIENTE VIRTUAL DE APRENDIZAGEM MEDIADO PELA TV DIGITAL INTERATIVA

Mestrado Acadêmico em Divulgação da Ciência, Tecnologia e Saúde. Ementas 2016

A Teoria Hipodérmica e as abordagens empíricas subsequentes

Clique aqui para INTRODUÇÃO BEYOND APARELHO BEYOND ENTRETENIMENTO BEYOND IMPRESSÕES. expandindo O SIGNIFICADO DA TV

Resolução da Questão 1 Texto definitivo

LIDERANÇA SINDICAL e suas REDES SOCIAIS

TEORIAS DA COMUNICAÇÃO

Nome: Nº: Turma: Este caderno contém questões de: Português Matemática História Geografia Ciências - Espanhol

PRÁTICAS COMERCIAIS (1º Ano)

Conhecimento Específico

A IMPORTÂNCIA DA RÁDIO

Medindo a interatividade em um ambiente de autoria hipermídia: qualificando processos de inclusão digital

UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

Eder Pires da Fonseca. CEO da Penze Diretor de Eventos da Abradi-ISP BEM-VINDOS

Comunicação e linguagens. Carlos Straccia ATO DE COMUNICAÇÃO. Referências bibliográficas

Explorando estratégias pedagógicas através de Nós no mundo

CENÁRIOS DA COMUNICAÇÃO

MIDIA KIT (Projeto Comercial) TIRAGEM EXEMPLARES

Objetivos desta aula. Noções de Marketing 21/10/09

Interação, interatividade e mídia impressa. 1 Fernanda Rodrigues PUCCI 2 Universidade do Oeste de Santa Catarina, Joaçaba, SC

Venda de Publicidade Fred

1ª Série. 6NIC088 FOTOGRAFIA Conceitos de fotografia analógica e digital e sua aplicação nos meios de comunicação de massa e na comunicação dirigida.

Interpretação de textos não verbais e híbridos

Etapas de um Briefing Parte 3. UNIBAN Unidade Marte Disciplina: Planejamento de Campanha Prof. Me. Francisco Leite Aulas:

Rádio Multiplatforma. processo irreversível. por márcio villela

Garanta sua cota de patrocínio!

Relatório da CPA (Comissão Própria de Avaliação) da Pesquisa com os Estudantes do Curso Superior de Tecnologia em Marketing na modalidade EaD

CURSO: JORNALISMO EMENTAS º PERÍODO

Comunicação Digital Empresarial MANUAL DO CURSO

Política de Comunicação da Universidade Tecnológica Federal do Paraná

Manual de utilização

mídia kit 2013 Publicação da Editora Faz Sentido - CNPJ /

8 DENISE BÉRTOLI BRAGA

Nuvens 1. Gisela DAL CASTEL 2 Neusa PALMIERI ³ Sérgio MENEZES 4 Universidade Positivo, Curitiba, PR

LISTA DE CONTEÚDOS PARA RECUPERAÇÃO FINAL Professor: Airton José Müller Componente Curricular: Filosofia

HISTÓRIA DA COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL E PRINCIPAIS ELEMENTOS

SUGESTÕES DE USO DO SOFTWARE GRAPHMATICA PARA O ENSINO MÉDIO

A Teoria Hipodérmica e as abordagens empíricas subsequentes

Como ser um influenciador dentro da empresa? Isabela Pimentel - Comunicação Integrada Amcham RJ 09/11/2018

Texto 1. Considerações sobre o texto

Gestão da Comunicação Integrada

A VISÃO DA COMUNICAÇÃO PARA O FUTURO DO BROADCASTING E NOVAS MÍDIAS

O MAIOR PORTAL DE NOTÍCIAS PARA RH DO BRASIL MUND RH. CONTATO: (11) (11)

Sistema Brasileiro de Televisão. Atualizado em junho/2016

XII Ciclo de Palestras sobre Novas Tecnologias na

Comunicação e as Tecnologias Emergentes

Plano de Trabalho Docente Ensino Técnico

PLANEJAMENTO DE CAMPANHA II

INF1303 Introdução a Interação Humano-Computador Prova 1 - Parte 1 - Turma: 3VA 17-19h Professora: Maria Lúcia Seixas Data: 27/03/2007.

Sergio Mari Jr. Mestre em Comunicação Visual e professor do curso de Publicidade e Propaganda na Faculdade Pitágoras de Londrina

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO SECRETARIA DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA CURSO TÉCNICO EM INSTRUMENTO MUSICAL EMENTA

Em 1945 Vannevar Bush,diretor do ministério de desenvolvimento e pesquisa científica dos Estados Unidos, escreve o artigo As we may think, como nós

SALA DE AULA INTERATIVA PRESENCIAL E ONLINE. Marco Silva EDU/UERJ

A INTERATIVIDADE E A COCRIAÇÃO. Alexandre Luzzi Las Casas 2014

A Rádio Portal FM iniciou suas atividades no ano de 2005, com publicações no DOU, promovidas pelo Ministério das Comunicações.

LISTA DE FIGURAS, GRÁFICOS, QUADROS E TABELAS

PROJETO DE LEI N o 4799, DE 2009

Grade Curricular - Comunicação Social. Habilitação em Publicidade e Propaganda - matutino

Transcrição:

Interatividade e propaganda: um diálogo possível? GALINDO, Daniel dos Santos. Propaganda inteira e ativ@. São Paulo: Editora Futura, 2002. 205 p. Há algum tempo temos convivido com o termo interatividade na televisão, seja escolhendo a programação e o final de programas, como do já extinto Você decide, ou mesmo dando o voto de Minerva nos big-brothers da vida. O rádio, por sua vez, desde muito antes do advento da internet, usa a interatividade na forma de participação de ouvintes através de cartas, telefonemas, fax e e-mails. A mídia impressa, atualmente, também tem investido na interatividade, promovendo chats, questionamentos e pesquisas referentes aos assuntos abordados em suas edições, com o intuito de conhecer melhor seu público e a opinião dele sobre o veículo. Propaganda inteira e ativ@ pretende, justamente, ampliar este diálogo, abordando a interatividade na perspectiva da Comunicação Social, da Sociedade da Informação e do próprio Marketing e da Propaganda uma vez que este termo gera muitas dúvidas quanto a sua conceituação e utilização, além de tentar avaliar se ele pode ser aplicado de forma condizente às mídias digitais. Galindo optou por escrever um livro didático, onde cada conceito foi trabalhado para que o leitor assimile progressivamente os aspectos que o norteiam. No primeiro capítulo, ele buscou caracterizar o processo comunicacional como um fator vital para o ser humano, sendo a interação, através da troca mútua de papéis, e a persuasão 167

suas características mais profundas e indissociáveis, pois todo processo de comunicação exige persuasão, ou seja, mudança de comportamento do outro. Este significado é o mais clássico entre todos. A comunicação de massa também é discutida no texto, assim como a bullet theory (teoria hipodérmica), que prega que o indivíduo é desprovido de capacidade para lutar contra os efeitos nocivos da comunicação através dos meios massivos, propondo o autor reflexões sobre este aspecto. Será que o indivíduo é tão impotente assim diante dos meios de comunicação de massa? Será que não possui condições mínimas para receber/aceitar ou não as mensagens que são veiculadas através da mídia massiva? E é justamente daí que partem as melhores reflexões. Se o indivíduo é único, pensa e age de acordo com seu histórico de vida, sua experiência, sua estrutura familiar e seu potencial acadêmico, como poderá receber a mensagem da mesma forma que outros? Como poderá existir o processo de massificação? São propostas para reflexões mais profundas e que nos fazem, como profissionais da área de comunicação, repensar as teorias dos meios e reavaliar as posturas dos indivíduos dentro do contexto das massas. O segundo capítulo, a meu ver, é o mais excitante, pois nos remete a pontos intrigantes da Sociedade da Informação, fazendo um levantamento histórico sobre a primeira onda (processo agrícola), a segunda onda (revolução industrial) e a terceira onda (sociedade da informação), a qual surge com a característica básica da produção, distribuição, comercialização e manipulação de um produto único: a informação. O domínio da informação traz em si uma nova estrutura de poder. O circular por um novo espaço necessariamente sem fronteiras e até mesmo sem limites nos permite uma expansão do conhecimento outrora inimaginável. Esta nova possibilidade está fazendo surgir um novo tipo de receptor, menos passivo e mais reativo. Reativo, sim, pois as novas mídias respondem aos usuários, não no sentido de feedback, mas no sentido de uma resposta imediata, para sanar dúvidas e/ ou questionamentos, ou seja, de uma forma reativa. 168 Comunicação e Sociedade 42

De qualquer forma, esta possibilidade surge como desmassificante, uma vez que a mensagem poderá ser trocada com cada indivíduo, mesmo em uma grande audiência, pois cada pessoa terá uma questão, uma necessidade ou um interesse próprio, que poderá se assemelhar a um processo face-a-face ou a um processo interpessoal. O alto grau de desmassificação representado pelas novas tecnologias significa que elas são, em última instância, uma oposição às mídias de massa, ou seja, que o controle da comunicação está passando do produtor da mensagem para o consumidor da mídia (p. 84). Apesar de toda a festa com a promessa de desmassificação dos meios, temos que pensar que não basta manusear teclados e mouses para atingirmos a interatividade, pois muitas vezes nossas respostas são baseadas em respostas já prontas, sendo-nos apenas facultado escolher entre as opções que nos são fornecidas. Desta forma, fica claro que uma relação reativa não constitui de fato uma relação interativa, pois sempre parte de uma gama pré-determinada de escolhas. E, segundo o autor, a interatividade pressupõe uma resposta autônoma ou criativa e não uma resposta prevista do receptor (p. 90). Galindo finaliza de forma competente este capítulo, quando se apropria da definição de Rabaça e Barbosa (1998), de que comunicar é tornar comum, partilhar, repartir, associar, trocar opiniões, conferenciar. Enfatiza que comunicar implica participação, interação, troca de mensagens e, por isso, não pode ser simplesmente traduzido através de uma resposta digitalizada. E sob este aspecto, afirma, estamos bastante longe de uma interatividade máquina-homem que seja idêntica à face-a-face (p. 91/92). No terceiro capítulo, um pouco tradicional, o autor discorre sobre as teorias e a conceituação do marketing, o porquê de seu aparecimento. Passeia pelas novas nomenclaturas, buscando defini-las: marketing de conversão, de estímulo, redução, revitalização, entre outras. Depois, nos sub-tópicos, discorre sobre a propaganda como um instrumento do marketing para atingir objetivos de venda. Vamos encontrar um pouco mais de movimento, neste capítulo, quando o assunto é propaganda, informação e 169

persuasão. Galindo argumenta que a persuasão é uma das características básicas da propaganda, mas não se pode incriminála por isto, pois ela é um tipo de comunicação e toda a comunicação tem como característica básica a persuasão, visando à mudança de comportamento do outro. E este é exatamente o trabalho da propaganda: mudar comportamentos através do conhecimento do consumidor. Daí o surgimento da segmentação de mercado, onde se busca um perfil dos consumidores, agrupando-os e dirigindo a informação para eles de acordo com suas expectativas, suas necessidades e seus anseios. Não mais se busca a propaganda de massa, dirigida a todo e qualquer público, mas a propaganda para um público certo, aquele que realmente tem interesse e potencial de consumo. Inicia-se a fase do consumidor cativo, passando a segundo plano a fase do maior número de consumidores. Para este intento, nada melhor do que o surgimento da tecnologia da informação, que poderá proporcionar uma maior interação com o consumidor, permitindo o marketing-um-a-um. A interatividade no contexto da propaganda diz respeito, principalmente, à internet, significando o envolvimento do usuário, garantindo sua participação ativa e dando-lhe liberdade de consultar as informações (previamente estabelecidas) de acordo com suas necessidades e dúvidas. Aqui, também, a interatividade desponta como uma possibilidade de escolha ou de resposta e não de troca mútua de papéis entre receptor e consumidor e/ou emissor e anunciante (p. 169). No quarto capítulo encontramos definições de interatividade sob a ótica de vários profissionais e docentes da área de propaganda, evidenciando-se, segundo o autor, que a internet surge como um meio interativo e a interatividade, como a capacidade de os envolvidos conseguirem manter contato entre si em um processo comunicacional de mão-dupla. Galindo termina o livro esclarecendo que interatividade envolve uma relação com características marcadamente interpessoais e, principalmente, o envolvimento e a troca de papéis, ou seja, nada parecido com a relação homem-máquina, onde a interatividade não passa de uma mera escolha entre as opções 170 Comunicação e Sociedade 42

que nos são destinadas, sem a oportunidade de modificarmos mensagens, produtos ou formas de agir dos emissores das mensagens. Desta forma, chega-se à conclusão da impossibilidade ou impraticabilidade de ocorrer interatividade pelo menos não na forma como foi concebida durante toda a exposição neste livro através dos meios de comunicação ou, mais precisamente, na propaganda. O livro é instigante. Faz com que o leitor tenha vontade de buscar novas informações e complementar os assuntos que foram abordados. Como diz o próprio autor, não se trata de um trabalho finalizado, mas de uma proposta de trabalho, com um vasto campo para pesquisa e reflexão. E com certeza o é. Lúcia Sanchez Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da Umesp, professora do Curso de Comunicação Social da Uniabc e da Uniban, consultora em Comunicação Corporativa. 171