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Transcrição:

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DÉCIMA SEXTA CÂMARA CÍVEL Apelação Cível nº. 0003903-83.2009.8.19.0079 Apelante: MONCLAITER CANATO BARCELLOS Apelado: CLEBER LEONARDO RELATORA: Des. Teresa de Andrade Castro Neves ACÓRDÃO APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO CIVIL. DIREITO REAL. PASSAGEM FORÇADA. SERVIDÃO DE PASSAGEM. DISTINÇÃO. UTILIDADE. A passagem forçada visa garantir ao titular da terra o exercício do seu direito de propriedade, sendo indispensável o encravamento do bem. Já a servidão de passagem, prevista no art. 1378, do Código Civil, dispensa que o imóvel seja encravado, bastando que proporcione utilidade ao prédio dominante. Precedentes do TJ/RJ. Utilidade da servidão devidamente demonstrada nos autos, já que um dos acessos de pedestres da casa do autor da ação é feito pela servidão, sem contar a possibilidade de desmembramento do seu terreno com a construção de nova casa, que somente teria acesso pela servidão. Impossibilidade de extinção da servidão. Manutenção da sentença. Desprovimento do recurso. Vistos, relatados e discutidos estes autos Apelação Cível n.º 0003903-83.2009.8.19.0079, figurando como apelante MONCLAITER CANATO BARCELLOS e apelado CLEBER LEONARDO. ACORDAM, os Desembargadores que compõem a Décima Sexta Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro em conhecer do recurso e NEGAR-LHE PROVIMENTO, nos termos do voto da Relatora. RBB 1

VOTO Preenchidos os pressupostos recursais, deve o recurso ser conhecido. Inicialmente, é preciso diferenciar dois institutos, tendo em vista que a fundamentação recursal parte da premissa de passagem forçada, não obstante a utilização dos dispositivos referentes a servidão de passagem. A passagem forçada está prevista dentre os direitos de vizinhança, no art. 1285, do Código Civil, in verbis; Art. 1285. O dono do prédio que não tiver acesso a via pública, nascente ou porto, pode, mediante pagamento de indenização cabal, constranger o vizinho a lhe dar passagem, cujo rumo será judicialmente fixado, se necessário. Perceba-se que a passagem forçada prevista no citado dispositivo visa garantir ao titular da terra o efetivo gozo do seu direito de propriedade, sendo requisito indispensável o encravamento do bem, que fica sem qualquer acesso externo, o que justifica a intervenção na propriedade vizinha. Já a servidão de passagem, prevista no art. 1378, do Código Civil, dispensa que o imóvel seja encravado, bastando que proporcione utilidade ao prédio dominante. De acordo com avalizada doutrina, a servidão predial é um direito real exercido sobre a coisa alheia que consiste na constituição de um encargo sobre o prédio dominante, tendo por finalidade precípua tornar a propriedade deste mais útil, mais agradável ou mais condizente com sua destinação natural. 1 1 MELO, Marco Aurélio Bezerra de. Direito das Coisas, 1ª Edição. Editora Lumen Juris, Rio de Janeiro, 2007. RBB 2

Assim, o fato de o imóvel do apelado ter acesso à rua, o que afastaria o direito à servidão cai por terra, não merecendo qualquer amparo, já que a hipótese sub judice trata de servidão e não de passagem forçada, institutos distintos, como demonstrado acima. Nessa direção, merece destaque: Reintegração de posse. Servidão de passagem. Passagem forçada. Distinção. Imóvel encravado. Pré-existência da servidão. Prova oral. Testemunhos. Prova pericial. Improcedência. A servidão de passagem é um direito real sobre coisa alheia, instituído justamente para aumentar a comodidade e a utilidade do prédio dominante, não estando condicionado, portanto, ao encravamento deste imóvel. Difere do direito da passagem forçada, que decorre das relações de vizinhança e consiste em ônus impostos à propriedade de um vizinho para que o outro possa ter acesso à via pública, a uma nascente ou um porto. A servidão de passagem, prerrogativa de uso parcial, pelo proprietário vizinho, de imóvel de outrem, não se presume, e se constitui exclusivamente por convenção dos interessados ou em decorrência de imposição legal. A simples comodidade e conveniência, por si só, não dão ensejo ao reconhecimento de servidão de passagem em favor do proprietário de imóvel não encravado. No caso vertente, a alegada servidão de caminho é descontínua e só poderia ser considerada aparente se tivesse deixado marcas exteriores de seu exercício, hipótese em que faria jus o autor à proteção possessória, ainda que não seja titulada, vez que a aquisição desta quase posse se dá a partir do momento em que os atos que constituem a servidão são perpetrados com o intuito de exercer tal direito. Embora o autor inaugure a expressão "servidão de fato" no recurso, o fato é que a prova técnica foi conclusiva. Destaque-se que os quesitos do próprio autor (fl. 176) demonstram a pretensão evidente no sentido de instituição de uma passagem forçada, incompatível com a matéria em comento (posse), e considerando-se, primeiro, que não é escopo da ação verificar o "melhor caminho" e, segundo, a concreta demonstração do visível abandono da passagem feita no interesse do réu (caminho para o "forno de RBB 3

carvão"). Ausentes os requisitos da pretendida proteção possessória, não procede a ação nesse sentido formulada. Considerando que não restou demonstrada a posse justa do autor, bem como a presença dos demais requisitos legais, correta a sentença hostilizada. A comprovação da posse e do esbulho, cujo ônus pertence ao autor, constitui requisito essencial para a admissão e consequente procedência do pedido reintegratório. Sentença que deve ser mantida.recurso a que se nega provimento. (TJ/RJ, Apelação Cível nº. 0001120-08.2004.8.19.0043. 3ª Câmara Cível, Rel. Des. Mário Assis Gonçalves. Julg: 12/01/2010) (grifo acrescido) AÇÃO CONFESSÓRIA - SERVIDÃO DE PASSAGEM PROTEÇÃO POSSESSÓRIA.I - As servidões de passagem são restrições impostas a um prédio para uso e utilidade de outro prédio, pertencente a proprietário diverso. Não se confunde com o instituto da passagem forçada, o qual se caracteriza pelo encravamento do imóvel. Desnecessário, em se tratando de servidão de passagem ou de trânsito, a existência de outro acesso, dado que a sua finalidade é a de garantir uma melhor utilidade do imóvel dominante em face do serviente, mediante manifestação de vontade dos proprietários dos dois prédios ou, ainda, em razão de uma posse pública, mansa e pacífica. II - Prova constante dos autos que evidencia a presença da servidão de passagem há muitos anos e, as dificuldades de acesso ao imóvel do autor apelante, através de caminho alternativo. Servidão de passagem aparente, exercida de forma permanente, a ensejar proteção possessória, nos termos do enunciado da Súmula nº 415, do STF. Sentença que se reforma, para julgar procedente o pedido.iii Recurso conhecido e provido. (TJ/RJ, Apelação Cível nº. 0000126-19.2003.8.19.0009. 7ª Câmara Cível, Rel. Des. Ricardo Couto. Julg: 27/08/2008) (grifo acrescido) A questão envolve a existência de uma servidão de passagem de dois metros de largura, conforme fls. 21 e 26, que, em tese, não seria utilizada pela parte apelada, tendo o apelante fechado o caminho, já que o imóvel do autor da ação possui saída para rua e não é encravado, tornando inútil a servidão. RBB 4

O fato de o imóvel do apelado não ser encravado e ter acesso à via pública é irrelevante, como dito alhures, já que a demanda envolve servidão de passagem, não sendo o caso de passagem forçada. É preciso verificar a utilidade que a servidão possui ao apelado, já que o apelante alega que há muito tal servidão não é utilizada e tornou-se inútil, o que enseja a sua extinção. Analisando as plantas de fls. 31/32, é possível perceber que a servidão começa na Rua Dr. Paulo Rudge, ao lado da casa do apelado, confrontando com diversos imóveis. Ainda que tais imóveis sejam de propriedade do apelante, fato é que existe o imóvel do apelado, que também utiliza a servidão, inclusive para entrada de pedestres, conforme informa a testemunha inquirida à fl. 169. Nesse diapasão, é nítida a utilidade da servidão para o imóvel do autor, mormente porque a extinção da servidão impediria, inclusive o pleito do apelado em desmembrar o seu bem, para construir dois apartamentos para os filhos, já que um desses apartamentos ficaria sem passagem, visto que a servidão estaria ocupada pela garagem construída pelo apelante. Ora, a servidão é um instituto que visa o aumento das possibilidades de funcionalização de um bem, melhor atendendo a função social da propriedade. Decerto que a extinção da servidão impediria o apelado de melhor aproveitar a sua propriedade, através de um futuro desmembramento e construção de apartamentos, como pretende. É preciso consignar que o juiz sentenciante mostrou convicção no depoimento da testemunha arrolada à fl. 169, sendo certo que o colhedor da prova possui muito mais elementos fáticos para atribuir a veracidade dos depoimentos, podendo, em segundo grau, o julgador se valer das ponderações RBB 5

declaradas em primeiro grau por quem ouviu o depoimento e colheu o testemunho, razão pela qual reforço minha convicção, com base nas plantas e no depoimento testemunhal de fl. 169 sobre a utilidade da servidão de passagem. Não há que se falar, assim, em extinção da servidão com fulcro no art. 1.388, II, do Código Civil, já que não ficou comprovada a sua inutilidade, posto que ela confere acesso a diversos imóveis, dentre eles o do apelado, que tem no seu imóvel uma entrada de pedestres pela servidão de passagem, como informa a testemunha de fl. 169 e pretende, ainda, construir um apartamento nos fundos do seu terreno, fazendo uso também de tal servidão para ter chegar até este. Por fim, oportuno ressaltar que a servidão de passagem já existe há mais de 50 (cinquenta) anos, sendo certo que somente em maio de 2008 o réu, ora apelante, demonstrou irresignação e iniciou construção da garagem, que obstaculizou o acesso e utilização da servidão. Destarte, correta a sentença atacada, que deve ser mantida integralmente, não havendo qualquer motivo para sua reforma. Ante o exposto, conheço do recurso e NEGO-LHE PROVIMENTO, mantendo integralmente a sentença atacada. Rio de Janeiro, 24 de maio de 2011. TERESA DE ANDRADE CASTRO NEVES Desembargadora Relatora RBB 6 Certificado por DES. TERESA CASTRO NEVES A cópia impressa deste documento poderá ser conferida com o original eletrônico no endereço www.tjrj.jus.br. Data: 25/05/2011 17:37:27Local: Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro - Processo: 0003903-83.2009.8.19.0079 - Tot. Pag.: 6