OITAVA CÂMARA CÍVEL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Agravo de instrumento nº

Transcrição

1 1 OITAVA CÂMARA CÍVEL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Agravo de instrumento nº Agravante: Victor Ferreira dos Santos representado por sua mãe Andréa Oliveira Ferreira Agravado: Fábio Souza dos Santos Relatora: Des. Mônica Maria Costa AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO PROPOSTA POR FILHO EM FACE DO PAI. ACORDO REALIZADO ENTRE AS PARTES E HOMOLOGADO PELO JUIZO A QUO POR SENTENÇA QUE EXTINGUIU O FEITO, COM EXAME DE MÉRITO. 1. Cuida-se de ação indenizatória proposta por filho e por sua genitora, representante legal, em face de seu pai, em virtude de acidente de trânsito. 2. Com o acordo realizado pelas partes em abril de 2012, o juízo a quo o homologou e julgou extinto o feito, com resolução do mérito. 3. Sustenta o recorrente que a transação foi extremamente desfavorável para si, ante a necessidade imediata de tratamento médico de que necessita. Destacou que o acordo em questão não estabeleceu que o réu continuasse arcando com o plano de saúde aderido pelo agravado, mas sim permanecerá custeando o tratamento médico do autor até que se complete a maioridade, por meio de um plano de saúde. 4. Pela leitura atenta do pacto em questão, constata-se que a intenção das partes era de permanência desta prestação nos moldes já existentes. 5. Conclui-se que não há provas de que o agravado vem descumprindo o pacto firmando com o agravante, notadamente referente ao pagamento das prestações do

2 2 plano de saúde, que, inclusive, já arcava antes do acordo. 6. A pretensão do ora agravante é realizar uma interpretação extensiva do acordo e até mesmo modificar as cláusulas nele estabelecidas, o que não se pode admitir, devendo ocorrer por via própria. 7. Consoante asseverado pelo juízo a quo, se a pretensão do recorrente era diversa, deveria ter formulado a transação de forma mais específica, indicando o tipo de plano desejado. 8. Precedentes jurisprudenciais. 9. Recurso ao qual se nega seguimento. D E C I S Ã O 1. Trata-se de Agravo de Instrumento interposto contra decisão do juízo da Quinta Vara Cível do Foro Regional de Jacarepaguá, que nos autos de ação indenizatória, entendeu que não assistia razão ao autor, ao fundamento de que o acordo vinha sendo cumprido nos exatos termos do que fora acertado (fl. 184). Insurge-se o agravante contra parte do decisum, referente ao plano de saúde. Sustenta que foi firmado acordo entre as partes, tendo sido homologado pelo juízo a quo. Segue aduzindo, inicialmente, que houve o descumprimento do pacto pelo réu, pois não havia depositado o pagamento mensal da quantia equivalente a 50% do salário mínimo, nem tampouco estava arcando com o plano de saúde que atendesse às necessidades do menor. Posteriormente, assevera que não há que se falar em inadimplemento do réu quanto ao pagamento mensal de metade do salário mínimo, contudo alega que a transação foi extremamente desfavorável para si, ante a necessidade imediata de tratamento médio de que necessita. Destacou que o acordo em questão não estabeleceu que o réu continuasse arcando com o plano de saúde aderido pelo agravado, mas sim permanecerá custeando o tratamento médico do autor até que se complete a maioridade, por meio de um plano de saúde. Pontua que o plano de saúde custeado pelo agravado, de administração da APPAI constitui plano de saúde médicoambulatorial básico, o qual apenas cobre atendimentos médicos

3 3 básicos, não atendendo às necessidades específicas e especializadas do recorrente. Destaca que em diversas oportunidades nos autos informou que arcava com plano de saúde administrado pela Amil, cuja cobertura, por ser mais ampla, configura necessidade premente para a continuidade dos tratamentos médicos que realiza. Pugna para que seja intimado o agravado para pagar o plano de saúde de que necessita o agravante, sob pena de multa diária de R$ 500,00. Alternativamente, requer que seja declarada a nulidade do acordo, ante a ambiguidade de seus termos. Decisão que indeferiu o efeito suspensivo (fls.192/193). Apresentadas contrarrazões às fls. 201/205. Informações prestadas pelo juízo a quo (fls.198/199). Manifestação da d. Procuradoria de Justiça no sentido de que seja negado provimento ao recurso (fls. 207/209). 2. Não assiste razão ao agravante. Cuida-se de ação indenizatória proposta por filho e por sua genitora, representante legal, em face de seu pai, em virtude de acidente de trânsito. Com o acordo realizado pelas partes em abril de 2012, o juízo a quo o homologou e julgou extinto o feito, com resolução do mérito (fls. 151 e 154). Posteriormente, os autores apresentaram petição, informando que o réu não estava cumprindo com o pacto firmado. A decisão atacada foi bem fundamentada e concluiu que o acordo vinha sendo cumprido nos exatos termos do que fora acertado. Duas questões foram ventiladas pelos requerentes em sue petitório para afirmarem que o pacto foi descumprido pelo réu, quais sejam o termo inicial para depósito dos valores acordados e o plano de saúde da criança, ora agravante representada por sua genitora.

4 4 O presente recurso é somente com relação à obrigação do recorrido de arcar com o tratamento médico de que necessita o recorrente. Inicialmente, relevante transcrever trecho do acordo firmado entre as partes (fl. 151) no tocante ao tratamento médico do ora agravante, in verbis: Ficou acordado que o réu permanecerá custeando o tratamento médico do autor até que este complete a maioridade civil, através de um plano de saúde. (...) Sustenta o recorrente que a transação foi extremamente desfavorável para si, ante a necessidade imediata de tratamento médico de que necessita. Destacou que o acordo em questão não estabeleceu que o réu continuasse arcando com o plano de saúde aderido pelo agravado, mas sim permanecerá custeando o tratamento médico do autor até que se complete a maioridade, por meio de um plano de saúde. Destaca o recorrente que o plano custeado pelo recorrido, de administração da APPAI, é referente a atendimento médico-ambulatorial básico, não atendendo as suas necessidades específicas e especializadas. Pretende que o genitor arque com um plano de saúde que atenda às necessidades do menor, indicado à fl É fato incontroverso que o réu já vinha arcando com as despesas relativas ao plano de saúde do filho desde Pela leitura atenta do pacto em questão, constata-se que a intenção das partes era de permanência desta prestação nos moldes já existentes. Consoante asseverado pelo juízo a quo, se a pretensão do recorrente era diversa, deveria ter formulado a transação de forma mais específica, indicando o tipo de plano desejado. Nota-se que o acordo foi firmado pelo menor, devidamente representado por sua mãe, e com a ciência do Órgão Ministerial (fls. 151 e 153). Não houve demonstração nos autos de mudança das condições fáticas existentes à época da transação, não podendo

5 5 impor ao réu, após a celebração, uma obrigação com a qual não acordou. Frisa-se que o próprio agravante afirma que já possuía o pretendido plano há três anos (fls.169/170), deixando de especificá-lo nos termos do acordo. Logo, conclui-se que não há provas de que o agravado vem descumprindo o pacto firmando com o agravante, notadamente referente ao pagamento das prestações do plano de saúde, que, inclusive, já arcava antes do acordo. A pretensão do ora agravante é realizar uma interpretação extensiva do acordo e até mesmo modificar as cláusulas nele estabelecidas, o que não se pode admitir, devendo ocorrer por via própria. No mesmo sentido, vale transcrever precedente do STJ: 1. A ação anulatória, embasada no artigo 486 do Código de Processo, é adequada à desconstituição do acordo homologado por sentença que não aborda o conteúdo da avença, pois o dispositivo processual prevê que "[O]s atos judiciais, que não dependem de sentença, ou em que esta for meramente homologatória, podem ser rescindidos, como os atos jurídicos em geral, nos termos da lei civil". [...] (REsp /SC, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 07/06/2011, DJe 27/06/2011) "PROCESSUAL CIVIL. TRANSAÇÃO. EXTINÇÃO DO PROCESSO. ART. 269, III, CPC. HOMOLOGAÇÃO DO ACORDO. ARREPENDIMENTO. ALEGAÇÃO POR UMA DAS PARTES. IMPOSSIBILIDADE. DOUTRINA. PRECEDENTE. RECURSO PROVIDO. I - Homologado o acordo e extinto o processo, encerra-se a relação processual, sendo vedado a uma das partes, que requerera a homologação, argüir lesão a seus interesses, somente podendo fazê-lo em outro processo.

6 6 II - Conforme registra a doutrina, se o negócio jurídico da transação já se acha concluído entre as partes, impossível é a qualquer delas o arrependimento unilateral, mesmo que ainda não tenha sido homologado o acordo em Juízo. Ultimado o ajuste de vontade, por instrumento particular ou público, inclusive por termo nos autos, as suas cláusulas ou condições obrigam definitivamente os contraentes, de sorte que sua rescisão só se torna possível 'por dolo, violência ou erro essencial quanto à pessoa ou coisa controversa' (Cód. Civ., art ). (REsp /MG, Rel. Ministro SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, Quarta Turma, julgado em 26/08/2003, DJ 29/09/2003 p. 255) Em hipóteses semelhantes, confira-se julgados dessa E. Corte de Justiça: Agravo de instrumento. Decisão que permitiu aos agravados receberem, a título de alimentos, também percentual sobre a participação nos lucros que o agravante recebe do empregador. Cláusula do acordo celebrado que contém imperfeições, que, no entanto, não deixa dúvida sobre a exclusão dos bônus anuais. Ofício subscrito pela juíza que é claro quanto à não incidência do desconto em desfavor do alimentante. Acordo entabulado há sete anos sem que os credores de alimentos jamais tivessem antes reclamado sobre o assunto. Eventual alteração que depende de modificação da cláusula de alimentos. Recurso provido. Grifei (AI , 3ª ementa, 17ª CC, Rel. Des. Wagner Cinelli, j. 20/03/2013) AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIREITO DE FAMÍLIA. REVISÃO DE ALIMENTOS. MODIFICAÇÃO DE CLÁUSULA. BINÔMIO NECESSIDADE-POSSIBILIDADE. TUTELA ANTECIPADA PARCIALMENTE DEFERIDA PARA REDUZIR O PERCENTUAL DA PENSÃO

7 7 ALIMENTÍCIA.1. A fixação dos alimentos se pauta pela dinâmica contida no binômio necessidade-possibilidade, podendo ocorrer modificação diante de mudança da fortuna de quem supre ou de quem recebe;2. O conjunto probatório prestigia a tese da agravante, pois considerando que o rendimento líquido do agravado era superior ao valor do salário mínimo vigente em abril/2010 e tendo em vista que o advento de vínculo formal de emprego importa em prevalência do valor mais alto (item 03 de acordo homologado judicialmente em 04/11/1999), deve ser restabelecido o desconto de 80% de um salário mínimo;3. Há documentos que sugerem que o agravado também exerce o ofício de cabeleireiro e fornecedor de cosméticos capilares. Contudo, não há como aferir o quantum obtido com tais atividades, havendo necessidade de dilação probatória em regime de contraditório e ampla defesa. De qualquer sorte, por agora devem prevalecer os termos do acordo firmado entre as partes, como, aliás, também entendeu a Procuradoria de Justiça em parecer de fls.117/120, cujos fundamentos adoto. RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO PARA DETERMINAR QUE SE CUMPRA OS TERMOS DO ACORDO JUDICIAL, DESCONTANDO-SE DOS VENCIMENTOS DO AGRAVADO JUNTO À PREFEITURA MUNICIPAL DE ITAGUAÍ 80% (OITENTA POR CENTO) DE UM SALÁRIO MÍNIMO grifei (AI , 8ª CC, Rel. Des. Carlos Azeredo de Araujo, j. 27/03/2012) 3. Por tais fundamentos, com fulcro no art.557, caput, do CPC, nego seguimento ao recurso. Rio de Janeiro, 22 de outubro de Monica Maria Costa Desembargadora Relatora