Poder Judiciário Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro Quinta Câmara Cível

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1 AGRAVO INTERNO NO AGRAVO DE INSTRUMENTO N AGRAVANTE: SONIA MARIA PETERS D AIUTO AGRAVADA: LÉA BOTELHO BALTHAZAR RELATOR: DES. HELENO RIBEIRO PEREIRA NUNES AGRAVO INTERNO. AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIREITO PROCESSUAL CIVIL. IMPUGNAÇÃO AO VALOR DA CAUSA. AÇÃO DE ANULAÇÃO DE ESCRITURA PÚBLICA DE INVENTÁRIO. VALOR DA CAUSA QUE DEVE CORRESPONDER AO BENEFÍCIO ECONÔMICO PRETENDIDO PELO AUTOR. 1) Possuindo a causa cunho patrimonial verificável e não estando relacionada a quaisquer das hipóteses em que a lei prevê um critério específico para sua valoração (arts. 259 e 260 do CPC), deve lhe ser atribuído valor correspondente ao benefício econômico pretendido. 2) No caso em tela, o que a agravante espera conseguir com a obtenção da anulação da escritura pública é reaver para si um dos imóveis objeto da partilha, sendo este, então, o resultado prático do processo. 3) Portanto, correta a decisão que acolheu a impugnação e determinou à recorrente o recolhimento das custas em observância ao valor do imóvel objeto da discussão. 4) Recurso ao qual se nega provimento. A C Ó R D Ã O A C O R D A M os desembargadores que integram a Quinta Câmara Cível do Tribunal de Justiça, por unanimidade, em negar provimento ao recurso, nos termos do voto do Relator. Trata-se de agravo interno interposto contra a decisão monocrática que negou seguimento ao recurso de apelação interposto pela ora agravante e, assim, manteve a decisão de primeiro grau que determinou o recolhimento das custas em observância ao valor do imóvel objeto da discussão. (KPMP) 1

2 Requer a recorrente, reiterando as razões da apelação, seja mantido o valor da causa em quantia simbólica. Pugna para que, caso não haja retratação, seja a questão submetida ao d. Colegiado. É o Relatório. Passo a votar. A decisão recorrida está vazada nos seguintes termos. Trata-se de agravo de instrumento interposto contra decisão que acolheu a impugnação ao valor da causa ofertada pela ora agravada para estabelecê-lo no valor do imóvel objeto de controvérsia, nos seguintes termos: LÉA BOTELHO BALTAZAR impugnou o valor dado à causa pela autora, alegando, em síntese, que o valor da causa deve ser atribuído nos termos dos art. 259, IV do CPC. A presente impugnação merece prosperar. É cediço que o valor da causa deve consistir, quando o litígio tiver por objeto a existência e validade de um negócio jurídico, no valor do objeto do contrato. No caso dos autos, a autora pretende a anulação de escritura pública de inventário, sob o fundamento de que um dos imóveis inventariados lhe pertence. Dessa forma, o valor da causa é o valor do imóvel objeto de controvérsia. Ante ao exposto, acolho a impugnação ao valor da causa. Condeno o impugnado no pagamento das custas processuais (art. 20, 1º CPC). Publique-se. Intimem-se. Alega a agravante que, no caso dos autos, o valor deve ser atribuído de forma simbólica, tão somente para fins de alçada, pois o que pretende é a anulação de escritura pública de inventário, sob o fundamento de que um dos imóveis inventariados lhe pertence. É o breve relatório. Passo a decidir. Pretende a recorrente, através deste agravo de instrumento, a reforma da decisão, para que seja mantido o valor originalmente atribuído à causa (R$ 3.000,00 três mil reais). Conforme já assinalado, a agravante postula na inicial a declaração de nulidade da escritura pública do (KPMP) 2

3 inventário dos espólios de Edgard Borges de Andrade e Maria Luiza Botelho de Andrade, sob o fundamento de que um dos imóveis inventariados lhe pertence. Dessa maneira, quer-nos parecer que não se aplica ao caso o disposto no art. 259, V, Código de Processo Civil, pois a presente demanda não tem por objeto um negócio jurídico, mas, sim, uma escritura, ato notarial por meio do qual se formaliza juridicamente uma declaração de vontade ou se constata um fato. Sucede que, possuindo a causa cunho patrimonial verificável e não estando relacionada a quaisquer das hipóteses em que a lei prevê um critério específico para sua valoração (arts. 259 e 260 do CPC), deve lhe ser atribuído valor correspondente ao benefício econômico pretendido. No caso em tela, este benefício econômico vem a ser justamente o valor do imóvel que a recorrente pretende reaver para si com a obtenção da declaração de nulidade da escritura pública em questão. Com efeito, esse é o resultado prático que a agravante espera conseguir por meio da providência jurisdicional requerida. Assim, não assiste razão à agravante ao defender que o valor deve ser atribuído meramente para fins de alçada, pois, conforme mencionado, a causa em questão tem repercussão patrimonial susceptível de quantificação. Nesse sentido, confira-se a lição de Daniel Assumpção 1. Não sendo hipótese de aplicação do critério legal caberá ao autor descobrir o valor referente à vantagem econômica que se busca com a demanda judicial. Basta verificar o valor econômico do bem da vida material perseguido e indicá-lo como valor da causa. Não tendo o bem da vida valor econômico ou sendo esse valor inestimável, caberá ao autor dar 1 NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil. São Paulo. Ed. Método Pág (KPMP) 3

4 qualquer valor à causa, sendo nesse caso comum a utilização na praxe forense da expressão meramente para fins fiscais. (grifos nossos). abaixo: A guisa de ilustração, confira-se os precedentes PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. DANOS MORAIS, MATERIAIS E LUCROS CESSANTES. VALOR DA CAUSA. CONTEÚDO ECONÔMICO DA DEMANDA. ARTS. 258 E 259 DO CPC. 1. O Superior Tribunal de Justiça pacificou entendimento de que o valor da causa deve ser fixado de acordo com o conteúdo econômico a ser obtido no feito, conforme disposto nos arts. 258 e 259 do Código de Processo Civil. 2. Em face da cumulação dos pedidos de indenização por danos morais, materiais e lucros cessantes, é de aplicar-se o art. 259, II, CPC, quanto ao valor da causa. 3. Recurso especial provido. (REsp /MT, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, QUARTA TURMA, julgado em 25/03/2008, DJe 14/04/2008 REVJUR vol. 366, p. 141) (grifos nossos) AGRAVO DE INSTRUMENTO - DES. WAGNER CINELLI - Julgamento: 25/11/ DECIMA SETIMA CAMARA CIVEL - Agravo de instrumento. Embargos à execução. Impugnação ao valor da causa. Valor atribuído em dissonância com a quantia consignada no título exequendo. Pretensão do embargante de anulação integral do título, a vincular o valor deste ao da causa. Jurisprudência do TJ/RJ e do STJ. Recurso manifestamente improcedente, ao qual se nega seguimento na forma do art. 557, caput, do CPC. Nesse contexto, deve ser mantida a decisão que acolheu a impugnação e determinou à recorrente o recolhimento das custas em observância ao valor do imóvel objeto da discussão. (grifos nossos) AGRAVO DE INSTRUMENTO - DES. FERNANDO FERNANDY FERNANDES - Julgamento: 17/07/ DECIMA TERCEIRA CAMARA CIVEL - AGRAVOS DE INSTRUMENTO. RECURSOS INTERPOSTOS CONTRA DECISÃO QUE RECONHECEU A LEGITIMIDADE DO AGRAVADO PARA PROPOR AÇÃO DE ANULAÇÃO DE TESTAMENTO E CONTRA DECISÃO QUE REJEITOU IMPUGNAÇÃO AO VALOR DA CAUSA PROPOSTA PELO AGRAVANTE. (...) VALOR DA CAUSA NA AÇÃO DE ANULAÇÃO DO TESTAMENTO QUE DEVE CORRESPONDER AO BENEFÍCIO ECONÔMICO PRETENDIDO PELO AUTOR, ORA AGRAVADO, A SER CALCULADO SOBRE O DÉBITO QUE POSSUI PARA COM O ESPÓLIO E NÃO TOMAR POR BASE VALOR FICTÍCIO. (...) CONDENAÇÃO DO AGRAVADO AO PAGAMENTO DAS CUSTAS PROCESSUAIS E DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS DIANTE DA PROCEDÊNCIA DO PEDIDO NA AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO AO VALOR DA CAUSA. RECURSOS AOS QUAIS SE DÁ PROVIMENTO. (grifos nossos). Portanto, correta a decisão que acolheu a impugnação e determinou à recorrente o recolhimento das custas em observância ao valor do imóvel objeto da discussão. (KPMP) 4

5 Ante o exposto, com fulcro no art. 557, caput, do CPC, nego seguimento ao recurso, porquanto manifestamente improcedente. Por seu turno, do exame das razões trazidas com este recurso, verifica-se que a agravante não demonstra a existência de circunstâncias que pudessem modificar o entendimento esposado na decisão hostilizada. Rio de Janeiro, 10 de julho de HELENO RIBEIRO PEREIRA NUNES Relator (KPMP) 5