A importância da Contabilidade e da Gestão Estratégica nas empresas familiares. Lúcia Lima Rodrigues Universidade do Minho

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Transcrição:

A importância da Contabilidade e da Gestão Estratégica nas empresas familiares Lúcia Lima Rodrigues Universidade do Minho 1

Agenda Definição de empresa familiar (EF) Principais desafios das empresas familiares Profissionalização da gestão nas EF Importância da informação financeira e não informação Sistemas de informação: ambiente interno e externo Conclusões 2

Empresas Familiares Não há uma definição consensual Empresas familiares: são aquelas em que uma Família detém o controlo, em termos de nomear a gestão, e alguns dos seus membros participam e trabalham na empresa (Associação das Empresas Familiares) São transversais na economia existindo em todos os sectores de atividade Não se limitam às pequenas e médias empresas, algumas das maiores empresas do mundo são dirigidas por famílias Constituem pilares essenciais para a estabilidade do tecido empresarial (mais de 70% do tecido empresarial) A sobreposição das duas instituições, Família e Empresa, conferem-lhes características específicas, que as tornam únicas 3

Desafios das Empresas Familiares (EF) Os maiores desafios que se colocam às EF de hoje são três: a profissionalização da sua gestão o desenvolvimento de um modelo de "corporate governance" eficaz, moderno e transparente e, finalmente a questão da sucessão de uma geração para a seguinte 4

Profissionalização da gestão nas EF Desajustamentos entre as posições de capital e as capacidades pessoais para o exercício de funções de gestão Em Portugal tivemos um choque tecnológico nos últimos anos; diz-se que falta ainda que a grande maioria dos empresários tenha um choque de gestão Importância de formar gestores e o papel precursor da AIP nos MBA 5

Profissionalização da gestão: gestores internos ou externos à família? Gestores internos à família: quando a gestão for exercida pelo proprietário, ou pelos principais acionistas da empresa, por existir entre estes e a gestão uma estreita relação, eliminam-se os custos de agência Gestores externos e independentes da família: provocam custos de agência mas diversificam o conhecimento Contudo, há quem pense que gestores externos à família são inevitáveis em empresas grandes e médias Diria que se trata de uma condição inevitável a qualquer empresa de média dimensão. Crescimento e diversificação são incompatíveis com a inexistência de gestores independentes, tornando flagrante a necessidade de inclusão de gestores não pertencentes à família em funções e órgãos de decisão, PwC, Inquérito a empresas familiares 6

Profissionalização da gestão Confusão entre a propriedade da empresa e a capacidade para a gerir: muitas vezes, a família não dispõe de alguém com experiência para liderar pessoas e projetos, nem sabe ler a informação, nem avaliar as consequências das decisões A família é dona da empresa, mas às vezes não tem um membro da família com competências suficientes para levar o negócio por diante O recrutamento de quadros de topo (e, por vezes, até para os cargos intermédios ou operacionais) é, em regra, feito com base em contactos pessoais ou mesmo relações de parentesco Necessidade de gestores profissionais 7

Importância da boa gestão Antigo ditado: Pai rico, filho nobre, neto pobre mostrando que as EF nunca envelhecem. Assim, a gestão de empresas familiares é ainda mais delicada do que parece. Confusão entre a propriedade da empresa e a capacidade para a gerir: muitas vezes, a família não dispõe de alguém com experiência para liderar pessoas e projetos, não se prepara a sucessão 8

A necessidade de informação financeira e não financeira Ambientes muito competitivos Instabilidade => as tecnologias e os sistemas de informação são ferramentas essenciais para apoiar os gestores das EF nos processos de decisão => a informação tornou-se um dos recursos mais importantes para a competitividade das empresas 9

Gestão de EF No modelo familiar tradicional, muitas vezes os gestores envolvem-se em decisões pequenas, sem relevância estratégica e desejam participar de inúmeros processos sem necessidade. Em contrapartida, usando ferramentas de gestão estratégica, por exemplo, é possível acompanhar o trabalho da equipe em tempo real, criando o hábito de planeamento e de decisão estratégica A informação estratégica porque é de longo prazo prepara melhor a sucessão 10

Sistemas contabilísticos: contabilidade financeira e contabilidade de gestão Contabilidade Financeira É obrigatória para todas as empresas porque necessária para o apuramento das obrigações fiscais Tende a ser simplificada nas pequenas e micro entidades (norma muito simples com o objetivo de reduzir os custos de contexto) =>importante para cumprir as obrigações fiscais Importante também para apresentar aos bancos quando a empresa necessita de financiamento 11

Sistemas contabilísticos: contabilidade financeira e contabilidade de gestão Contabilidade de gestão Informação de avaliação do desempenho => indicadores importantes tais como rendibilidade do ativo, rendibilidade das vendas, retorno do investimento Dá informação mais detalhada e é adaptada às necessidades da empresa de forma a medir e controlar a eficiência e a eficácia dos diversos segmentos organizacionais e os resultados das suas atividades A informação de contabilidade de gestão ajuda a apoiar os gestores nas suas atividades: de planeamento e controlo 12

Papel da Contabilidade de Gestão Estratégica (CGE) O papel da CGE é identificar um conjunto de indicadores chave que possam alertar com antecipação sobre a necessidade de mudar no futuro Estes indicadores relacionam-se claramente com mudanças na posição competitiva da empresa em relação aos seus concorrentes. Um indicador que já está a ser utilizado por muitas empresas é o das variações ocorridas nas quotas de mercado relativas Mas outros indicadores poderão ser os preços de venda dos concorrentes, os seus custos e despesas em fatores de sucesso críticos, etc. Esta necessidade da CGE de se concentrar em fatores que são externos à empresa é a maior característica diferenciadora relativamente às outras áreas da Contabilidade que tradicionalmente focam quase exclusivamente as operações internas da empresa e apenas incorporam as suas transações específicas com o mundo externo 13

Contabilidade de gestão estratégica Estratégia de crescimento e de competitividade Ligação da informação financeira com a estratégia: se temos uma estratégia de crescimento da quota de mercado teremos de ter indicadores: Ano Vendas Custos Vendas da Concorrência Custos da concorrência Quota de mercado 2015/2016 5% 4% 8% 4% 2% 14

A importância dos clientes Indicadores principais de clientes Incluem-se neste conjunto indicadores relativos à satisfação dos clientes, retenção de clientes, aquisição de novos clientes, rendibilidade de clientes e quota de mercado em segmentos alvo, estabelecendo-se uma cadeia de relações entre todos eles: Quota de mercado: account share Retenção de clientes: percentagem de crescimento das vendas a clientes conquistados Aquisição de clientes: nº de novos clientes ou volume de vendas a clientes novos; nº efetivo de novos clientes e o número de prospeções realizadas; rácio entre os resultados obtidos de novos clientes e os custos suportados para a sua captação Grau de satisfação dos clientes Mas, As empresas devem desejar mais do que clientes satisfeitos e felizes; elas devem desejar clientes rendíveis. 15

O processo de inovação Processo de inovação: processo de pesquisa das necessidades emergentes ou latentes dos clientes e consequente criação de produtos ou serviços para as satisfazer deve ser encarado como primordial no processo de criação de valor Indicadores: peso das vendas de novos produtos nas vendas totais; introdução de novos produtos no mercado comparativamente com a concorrência; quantidade de novos produtos introduzidos comparativamente com o que tinha sido planeado; tempo de geração de novos produtos; retorno de I&D; lucro por custos em I&D 16

Indicadores relacionados com os trabalhadores Existem três indicadores principais: satisfação dos trabalhadores: a forma mais usual de medir são os inquéritos Retenção dos trabalhadores: taxa de rotação dos elementos-chave da organização Produtividade dos trabalhadores: valor acrescentado por trabalhador. 17

Conclusões Há a tendência das famílias irem passando a propriedade das respetivas empresas para as próximas gerações, mas muitas vezes não a aprendizagem em gestão, o que faz surgir a seguinte questão: Como é que as famílias se prepararam para serem proprietários e gestores eficazes? Quanto mais entendemos o papel importante desempenhado pelos proprietários nas empresas familiares, mais tomamos consciência da importância que uma adequada preparação da família para esta função tem: um acionista informado é um acionista eficaz. 18

Conclusões Quando na família não há competências de gestão, há que recorrer a profissionais externos com formação em gestão para permitir que o negócio sobreviva. À medida que o negócio cresce é provável que a família não seja capaz de controlar todas as tarefas chave e não tenha todas as competências necessárias para levar a cabo o negócio. Nesse caso, há que procurar fora da família os profissionais competentes para ajudarem a manter o negócio competitivo Apesar dos custos de agência há quem defenda que gestores externos tendem a trazer diversidade e inovação à empresa 19

Conclusões Uma ideia brilhante de empreendedorismo inicial pode com o decorrer do tempo perder-se diante da falta de conhecimento técnico e especializado para gerir o negócio Não há boa gestão sem boa informação financeira e estratégica As EF têm que estar atentos ao que acontece fora e dentro das organizações, a informação deve ser completa Conhecer ao máximo a organização detendo toda a informação sobre ela e sobre o ambiente externo onde atuamos é uma forma de nos destacarmos dos demais 20

Obrigada pela atenção 21