MÃOS QUE FALAM: RELATO DOS ALUNOS OUVINTES SOBRE O SISTEMA DE INCLUSÃO ESCOLAR

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Transcrição:

MÃOS QUE FALAM: RELATO DOS ALUNOS OUVINTES SOBRE O SISTEMA DE INCLUSÃO ESCOLAR PALAVRAS-CHAVES: surdez; inclusão escolar; alunos ouvintes; Vivendo em um mundo globalizado como o nosso nada mais usual que encontrarmos uma diversidade de pessoas não compreendidas pela sociedade. Pessoas diferentes se constituem sempre objeto de admiração, curiosidade, assistencialismo, o que provoca reações em cadeia de todos os segmentos da sociedade. Nesse sentido, podemos falar da inserção de pessoas com necessidades especiais, destacando, neste trabalho, a concepção que os alunos ouvintes possuem sobre a interação educacional/social entre surdos e ouvintes. Os conhecimentos sobre inclusão escolar adquirido ao longo dos últimos anos trouxeram novas luzes. Por esse motivo, podemos conceituar esse movimento como um modelo de sociedade, do qual todos devem fazer parte, independente da raça, credo e condição social. A inclusão é uma força cultural para a renovação da escola/sociedade, mas para que ela tenha sucesso, ambas devem tornar-se comunidades conscientes. Sem esse sentido de comunidade, os esforços para alcançar resultados expressivos são inoperantes (FERREIRA, 2004). Desse modo, percebemos a transformação desse foco que altera o padrão de vida até então adotado. Este movimento retrata o impacto da diversidade de pessoas que freqüentam a sociedade, e, nesse sentido, vale ressaltar um tema que se destaca na atualidade (QUADROS, 1997). Como se posicionam os jovens estudantes ouvintes diante do papel da escola inclusiva como local de interação social entre surdos e ouvintes? Minha opção por focalizar esse tema é decorrente da curiosidade em conhecer a teia de relações que se desenvolvem em uma escola, além do fato de que a literatura não conta com muitas pesquisas que abordem a posição dos alunos ouvintes, diante da educação inclusiva. A pesquisa foi realizada numa escola da rede pública estadual do GRE NORTE. A referida escola conta com o maior efetivo de alunos surdos na cidade do Recife, e provavelmente de Pernambuco, freqüentando as diversas turmas. Podemos falar de aproximadamente, 330 alunos surdos, freqüentando a instituição que oferece uma estrutura mais ampla, com mais recursos, por se tratar de uma escola central que congrega alunos de vários bairros e o número total de alunos supera a casa dos 2.000.

A população de estudo foi constituída por 20 (vinte) alunos ouvintes. As turmas pertencem ao ensino médio, sendo 10 alunos do 2 ano, nomeados de A1 a A10, e 10 alunos do 3 ano, que foram nomeados de A11 a A20, todos participantes de salas inclusivas. A primeira conta com 15 alunos surdos e 40 alunos ouvintes, com idades variando entre 15 e 17 anos; a turma do terceiro ano possui 7 alunos surdos e 40 alunos ouvintes, com idades entre 17 e 20 anos. Os alunos surdos tinham em média 22 anos. Os dados coletados foram obtidos através de uma entrevista semiestruturada que foram gravadas. Utilizamos o roteiro de uma entrevista que consta da pesquisa da Prof Drª Cristina Broglia Feitosa de Lacerda autorizada, pela mesma. Marcamos os horários para trabalhar com os alunos de acordo com a disponibilidade deles. Esses horários foram indicados em consonância com a coordenação da escola, em ocasiões que não prejudicassem os alunos na assistência às aulas. Todos os sujeitos apresentaram-se bastante disponíveis para participar, se colocando sempre muito à vontade e com desejo de colaborar. Para a realização da pesquisa, apresentamos aos sujeitos, no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, os principais itens do projeto, esclarecendo os motivos que nos levaram a indagar sobre a questão da inclusão de surdos. Portanto, todas as dúvidas foram esclarecidas. As respostas foram transcritas literalmente e, organizadas de forma a apresentar os principais pontos reveladores das concepções dos alunos ouvintes em relação à situação problema da pesquisa. Essa pesquisa foi submetida ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP). O projeto Problematizando questões da surdez: o diálogo com os ouvintes e aquisição da 1ª e 2ª línguas aprovado com o número 225180-FON-032-2007/1-4, foi aprovado e cadastrado em 16/08/2008. Na analise dos dados foi evidenciado que o tempo médio de convivência entre os alunos ouvintes do 2 ano e os surdos foi de 3 anos e 8 meses. Enquanto que no 3 ano, essa média foi de 2 anos e 9 meses, contudo, nessa mesma amostra, há um aluno que estuda com os surdos há 8 anos,( portanto, desde o Ensino Fundamental) o mesmo ocorrendo no 2 ano, no qual um aluno estuda há 7 anos com surdos. No gráfico 1 analisamos o contato que os alunos ouvintes tiveram com pessoas surdas antes de estudar numa escola de caráter inclusivo.

Gráfico 1: Contato dos alunos ouvintes com surdos antes de estudar numa escola inclusiva. Como visto apenas cinco (5) alunos tiveram contato com surdos antes de estudar numa escola inclusiva, sendo esse contato através de parentes que possuem surdez, nas igrejas ou com os vizinhos. Contudo, 75% dos alunos ouvintes entrevistados nunca tinham visto ou conversado com um surdo, o que fortalece a proposta da Declaração de Salamanca que traz a escola inclusiva como eficaz na construção da solidariedade entre as pessoas. E esse contato, que surge nas escolas espaço de convivência, aprendizagem, ensino e desenvolvimento faz com que esses alunos passem a ver a surdez não como deficiência e sim como diferença, e os surdos como diferentes dos ouvintes, como mostra SKLIAR, (1997). O conhecimento de Libras por parte dos alunos entrevistados se apresentou da seguinte forma: dentre os alunos do 2 ano, três (3) referiram saber Libras, seis (6) sabem pouco, porém, desse quantitativo quatro (4) fazem o curso de Libras oferecido pela própria escola e dois (2) aprenderam com o contato diário. Apenas 1 aluno relatou não saber a língua de sinais. Na turma do 3 ano, três (3) alunos dominam a língua, cinco (5) sabem pouco e três (3) não conhecem. Os alunos que não sabem a língua são novatos na escola. A visibilidade da língua de sinais na sala de aula fez com que os ouvintes começassem a entender como relata Souza (1998), que os gestos dos surdos são, na verdade, a representação de uma língua que tem estrutura própria, passando a ocorrer o respeito à língua de sinais, sendo esta o seu elemento de identificação. Esses conhecimentos tiveram outros resultados, como, por exemplo, despertar o interesse de alguns alunos em aprender a língua em questão. Desse modo, é importante destacar que não saber a língua de sinais não impede a comunicação dentro da sala de aula. Os alunos ouvintes se comunicam com os surdos, se aproximando deles (pois alguns realizam leitura orofacial), escrevem um bilhete ou contam com a ajuda do intérprete, como vemos nos recortes abaixo:

Recortes 1: Repostas dos alunos ouvintes ao serem indagados sobre como ocorria a A 8: Falo de perto que ele vê os lábios. comunicação com os alunos surdos. A 9: Às vezes eu escrevo no papel e quando tá na conversa eu fico mais perto porque eles fazem leitura do lábio. A 15: Eu peço ajuda a quem sabe, ou eu falo porque elas vê os lábios. A 16: Eu escrevo ou peço ao intérprete ou alguém na sala que sabe dá um jeitinho Apesar de haver alguma dificuldade nas interações entre surdos e ouvintes na sala de aula, resultado da ausência de uma língua comum entre os diversos participantes, foi possível perceber que a comunicação ocorre, em vários momentos. A ausência de uma língua comum não impediu a interação social entre os alunos surdos e os ouvintes. Obviamente, no contexto analisado, como vimos, podia se contar com o português escrito, como língua comum, o auxilio do intérprete, e a Libras que alguns alunos já dominam. Em suma a experiência de inclusão parece ser muito benéfica para os alunos ouvintes que têm a oportunidade de conviver com a diferença, e a partir daí podem melhor elaborar seus conceitos sobre a surdez, língua de sinais e comunidade surda, desenvolvendo-se como cidadãos menos preconceituosos. A convivência diária com os alunos surdos tem mudado os entendimentos dos alunos ouvintes sobre as pessoas que possuem algum tipo de deficiência. Isso se reflete numa sociedade menos preconceituosa e sujeitos com visões de diferenças e não de deficiência. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Ensino da língua portuguesa para surdos: caminhos para a prática pedagógica. Brasília: MEC/SEESP, 2002. Volumes 1e 2. CAPELLINI, V.L.M.F. e MENDES, E.G. Alunos com Necessidades Educacionais Especiais em Classes Comuns: avaliação do rendimento acadêmico. Publicado em 2004. Disponível em http://www.educacaoonline.pro.br/art_alunos_cnee.asp, acessado em 19/04/2009. CORDE Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência. (1996). Mídia e Deficiências: Manual de Estilo. Constituição da República Federativa. Disponível em: htpp://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituição/constitui%c3%a7ao.htm

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