Palavras-chave: Cálculo Diferencial e Integral. Inclusão. Libras. Surdos.
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1 XVIII Encontro Baiano de Educação Matemática A sala de aula de Matemática e suas vertentes UESC, Ilhéus, Bahia de 03 a 06 de julho de 2019 CÁLCULO DIFERENCIAL E INTEGRAL: O OLHAR DE UMA DISCENTE SURDA NO CURSO DE LICENCIATURA EM COMPUTAÇÃO Márcia Rebeca de Oliveira Lima IFBA Campus Valença marciarebeca@ifba.edu.br Ruth da Silva Araújo IFBA Campus Valença ruthjuly@yahoo.com.br Resumo: Devido às politicas públicas de acessibilidade e leis específicas hoje, é possível haver a inclusão das pessoas com deficiência no ensino superior, e algumas delas, sendo Surdas estão tendo a oportunidade de estudarem no curso de Licenciatura em Computação, onde entre os componentes curriculares, faz parte da grade do segundo semestre Cálculo Diferencial e Integral que tem reprovado muitos alunos. Diante dessa realidade, esse trabalho busca entrevistar uma aluna Surda e pontuar a vivência dela ao cursar esse componente curricular e o olhar da mesma ao propor metodologias para um ensino mais eficaz. Esse trabalho apresentou caráter qualitativo com pesquisa realizada no Instituto Federal da Bahia, campus Valença. Os resultados obtidos com essa pesquisa nos permite evidenciar que é possível a aprendizagem de alunos Surdos nesse componente curricular. Palavras-chave: Cálculo Diferencial e Integral. Inclusão. Libras. Surdos. INTRODUÇÃO Durante muitos anos a educação dos deficientes foi um tabu na sociedade, passando por momentos históricos como a exclusão, a segregação, a integração e a inclusão. Com os avanços das leis e de algumas politicas públicas, hoje é obrigatório o acesso dos deficientes em escolas regulares, com isso, muitos Surdos estão ingressando nos cursos superiores. No entanto, mesmo com a obrigatoriedade da adesão ao decreto de Lei nº de 22 de dezembro de 2005 que implanta o uso da Língua Brasileira de Sinais - Libras, e recomenda que sejam viabilizadas ações para a formação, capacitação e qualificação de professores para o uso e difusão da Língua Brasileira de Sinais, (BRASIL 2005), essa inclusão ainda perpassa por grandes dificuldades, já que muitas vezes, os professores não estão devidamente
2 capacitados para recebê-los em sua sala de aula, mesmo com o auxílio do intérprete de Libras. Alguns docentes também por não terem uma formação continuada com o objetivo de desenvolverem competências especificas, ficam sem subsídios de como manter um ensino eficaz, com metodologias apropriadas, fazendo com que o Surdo seja um mero copista e não um sujeito ativo na sala de aula. A Língua de Sinais é uma língua viso-espacial e através dela o Surdo tem a oportunidade de conhecer qualquer assunto e aprender qualquer componente curricular, como por exemplo, Cálculo Diferencial e Integral. Segundo uma professora do Instituto, Cálculo Diferencial e Integral pode ser entendido como a possibilidade de analisar o comportamento das funções matemáticas estudadas no ensino médio como gráfico, eixo, vértice, cálculo de área, entre outros. Por ser um componente curricular que exige uma boa base de estudos no ensino fundamental e médio, na licenciatura em computação existe um elevado número de reprovação dos discentes devido a esse déficit. Fávero e Pimenta (2006) indicam que para uma prática psicopedagógica favorecer o desenvolvimento psicológico do Surdo, é necessário que as estratégias de ensino de matemática favoreçam experiências significativas ao aluno e que no seu processo de escolarização ele tenha a oportunidade de lidar com as diferentes funções do número, no entanto, para obter êxito nisso é necessário que, muitas vezes, o professor desenvolva metodologias específicas para cada assunto. No curso de Licenciatura em Computação do IFBA, no segundo semestre, o componente curricular de Cálculo Diferencial e Integral são 90 horas. Nesse curso tem uma discente Surda. Como de acordo com Gardner, (1995) cada pessoa é um sujeito ímpar com forças cognitivas diferentes e que aprende de forma e estilos diferentes de outros sujeitos, mesmo que oriundos de uma mesma sociedade ou meio cultural, o objetivo dessa pesquisa é entrevistar essa aluna Surda, pontuar a vivência dela ao cursar esse componente curricular e apresentar o olhar da mesma ao propor metodologias para um processo mais eficaz de ensinoaprendizagem. METODOLOGIA A proposta metodológica foi desenvolvida no IFBA campus Valença devido ao fato de ter uma discente Surda no quadro de alunos do curso de Licenciatura em Computação. Para os fins desta análise, algumas reuniões foram feitas entre a coordenação pedagógica, o NAPNE e outros setores com os professores da discente, incluindo a professora de Cálculo Diferencial e Integral, com o objetivo de analisar como poderia ser melhor ensinado os componentes
3 curriculares a essa Surda. Ao finalizar o segundo semestre a autora da pesquisa por ser professora de Libras, decidiu fazer uma entrevista com a Surda, pontuar a vivência dela ao cursar esse componente curricular e saber o olhar da mesma ao propor metodologias para um ensino mais eficaz em Cálculo Diferencial e Integral A pesquisa empírica e qualitativa, entre outras coisas, é um método que busca recolher dados a partir de fontes diretas (pessoas), por isso, foi realizada uma entrevista com a discente onde foi questionado o seu processo de ensino-aprendizagem no componente curricular de Cálculo Diferencial e Integral, qual foi sua relação com o intérprete de Libras, com a professora e quais as sugestões da mesma para o aperfeiçoamento do ensino desse componente curricular. RESULTADOS E DISCUSSÕES Após a entrevista com a discente foram obtidas respostas que são relevantes para uma análise de como esse componente curricular impactou no desempenho dela no segundo semestre do curso. Ela deixou claro que mesmo com o auxílio do intérprete de Libras, a aprendizagem do componente curricular é muito complicada de ser entendida porque além de exigir atenção ao que o professor esta dizendo e escrevendo é extremamente necessário ter uma base sólida do ensino fundamental e médio, base essa que ela disse não ter. Também salientou que por ser um componente curricular da área técnica, a professora precisou seguir um padrão de ensino que tudo era costurado e complicado, mas que depois de assistir muitos vídeos no Youtube e ter uma professora particular dando banca a ela, ela conseguiu entender um pouco melhor os assuntos trabalhados. Ela considerou o componente curricular mais difícil do curso, até o momento, devido à base teórica que ela não tinha e que estava tentando adquirir. Ela citou que por ser Surda, ela é visual, que algumas coisas poderiam ser ilustradas e exemplificadas com a utilização de imagens, no entanto, não houve isso, já que, Cálculo Diferencial e Integral é uma loucura de números e letras, com questões enormes e com diversidades de assuntos para conseguir chegar ao resultado correto. A discente finaliza a entrevista dizendo que mesmo com toda dificuldade é possível sim aprender Cálculo Diferencial Integral, mas é necessário ir além da sala de aula por estudar bastante, buscar a ajuda de colegas que saibam explicar os assuntos, olhar os vídeos no youtube que tem vários profissionais ensinando, e como tudo na vida, é necessária dedicação. Segundo ela, o fato de ser Surda não maximizou o problema já que ela não tem nenhuma dificuldade intelectual e cognitiva. Assim como os colegas ouvintes, todos passaram por dificuldade de entendimento,
4 mas que com a dedicação e o estudo profundo, tudo é possível. Ela sugeriu um curso de extensão e, ou nivelamento para os alunos que não tiveram a base necessária anteriormente. CONSIDERAÇÕES FINAIS Esta pesquisa se propôs entrevistar uma aluna Surda, pontuar a vivência dela ao cursar Cálculo Diferencial e Integral e o olhar da mesma ao propor metodologias mais eficazes para o processo de ensino-aprendizagem. Percebeu-se que, apesar do componente curricular ser uma barreira natural para todos os alunos que fazem o curso de Licenciatura em Computação, esta cresce substancialmente com a ausência de uma base educacional formadora na educação fundamental e média. Foi sugerido pela discente que haja um curso de nivelamento para os alunos para que estes não tenham tanta dificuldade de avançarem. Interessante avaliar a opinião de Lacerda (2006) sobre o ensino para os Surdos, onde ele cita que devido às dificuldades acarretadas pelas questões de linguagem, advém a necessidade da elaboração de propostas educacionais que atendam às necessidades dos sujeitos Surdos, favorecendo o desenvolvimento efetivo de suas capacidades. Mesmo havendo pesquisas na área que para o ensino dos Surdos é necessário uma metodologia diferenciada, a entrevista da discente Surda corrobora com isso quando ela cita que por ser visual eram necessárias ilustrações exemplificando as situações, mas como não houve isso por parte da docente, o caso dela pode ser explicado por Gardner, (1995) onde ele cita que cada pessoa é um sujeito ímpar com forças cognitivas diferentes e que aprende de forma e estilos diferentes de outros sujeitos, mesmo que oriundos de uma mesma sociedade ou meio cultural, sendo assim, mesmo com o pouco uso de metodologias diferenciadas a discente logrou êxito no componente curricular por buscar meios de aprendizagem. Após a percepção do olhar da discente sobre esse e outros pontos, a coordenadora do NAPNE usará em uma reunião esse assunto como discussão, no intuito de construir uma base melhor para todos os alunos que fazem o componente curricular, independentemente se Surdos ou ouvintes, no curso de Licenciatura em Computação. REFERÊNCIAS BRASIL. Decreto n.º 5626, de 22 de dezembro de Regulamenta a Lei n Disponível em: Acesso em 10 de fevereiro de 2019.
5 FÁVERO, M.H: PIMENTA, M.L. Pensamento e linguagem: a língua de sinais na resolução de problemas. Psicologia: Reflexão e Crítica, v.19, p.231, Disponível em Acesso em 10 de fevereiro de GARDNER, Howard. Inteligências Múltiplas: a Teoria na Prática. Porto Alegre: Artes Médicas, LACERDA, C. B. F. A inclusão escolar de alunos surdos: o que dizem alunos, professores e intérpretes sobre esta experiência. Cadernos CEDES (UNICAMP), Campinas, v. 26, n.69, p. 165, 2006.
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