Análises de preços de combustíveis nas regiões sudeste e nordeste 1 Guilherme Signorini Graduando em Agronomia Esalq/USP Dra. Marta Cristina Marjotta-Maistro Pesquisadora do Cepea/Esalq/USP Artigo publicado (com algumas alterações) na revista Agroanalysis Edição: Fev/2007 Pág. 37 As vendas crescentes de carros flex, a demanda internacional por álcool, motivada por questões ambientais, e as alterações na oferta de petróleo anunciadas pela Opep (Organização dos Países Produtores de Petróleo) incentivam o setor sucroalcooleiro a fortalecer-se ano a ano. O governo tem atuado variando a proporção de álcool anidro na gasolina e também criando meios para tornar viável o uso de biomassa para a produção de combustível mas, também, para geração de energia elétrica. As condições climáticas também afetam os ânimos dos agentes do mercado. Para esta e para a próxima safra, o fenômeno El-Niño deve causar maior instabilidade na região Centro-Sul do Brasil, o que tende a afetar a colheita da cana e a produção de açúcar e álcool. Além das informações gerais sobre o setor, informações regionalizadas quanto às características econômicas e produtivas e o comportamento do mercado nas tradicionais regiões produtoras propiciam maior segurança na tomada de decisão para a realização de novos investimentos visando a expansão do setor. O presente estudo busca diminuir a deficiência de informações, no período pósdesregulamentação, no setor sucroalcooleiro e, principalmente, entre diferentes regiões do país para o mercado de combustíveis. Sabe-se que no Brasil as duas principais regiões produtoras de álcool hidratado e álcool anidro são o Centro-Sul, representada pelo estado de e a região Norte-Nordeste representada pelos estados de e. Foram analisadas séries de preços mensais de julho de 2001 a junho de 2006 para o álcool hidratado e para o álcool anidro ao produtor nos estados de, e e preços mensais para o álcool hidratado e para a gasolina C ao consumidor, no mesmo período e para os mesmos estados. As 1 Agradecemos à Profa. Mirian Rumenos Piedade Bacchi do Departamento de Economia, Administração 1
informações referentes ao produtor de álcool foram obtidas junto ao Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA/ESALQ/USP) e, às referentes ao varejo na Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Numa primeira etapa foram realizadas análises gráficas com o objetivo de avaliar o comportamento das séries de preços. As figuras 1, 2, 3 e 4 ilustram esses comportamentos. Em seguida, foram calculadas as correlações entre esses preços. As safras de cana-de-açúcar na região Centro-Sul iniciam-se em Abril/Maio e terminam em Novembro/Dezembro. Já na região Norte-Nordeste, a safra inicia-se em Setembro/Outubro e finaliza-se em Fevereiro/Março. Existe uma forte influência da região Centro-Sul sobre os preços da região Norte-Nordeste para o álcool anidro e álcool hidratado ao produtor (Figuras 1 e 2). As variações nos preços do álcool anidro são bastante semelhantes com as variações no preço do álcool hidratado. Os gráficos sugerem que as movimentações de alta e de queda iniciam-se pelo estado de e posteriormente os estados de e acompanham a tendência. Podemos inferir que essa influência ocorre principalmente porque a região Centro-Sul representa cerca de % de todo o álcool produzido no país, assim como a área colhida de cana-de-açúcar (dados do MAPA, da safra de 2004/05). 1 1 30 out/01 jan/02 abr/02 out/02 jan/03 abr/03 out/03 jan/04 abr/04 out/04 jan/05 abr/05 out/05 jan/06 abr/06 Figura 1.Variação no Preço do Álcool Hidratado ao Produtor nos Estados de, e (julho 2001 =100) e Sociologia, Esalq/USP, pesquisadora do Cepea, pelas sugestões e comentários. 2
1 30 nov/01 mar/02 nov/02 mar/03 nov/03 mar/04 nov/04 mar/05 nov/05 mar/06 Figura 2. Variação no Preço do Álcool Anidro ao Produtor nos Estados de, e (julho 2001 =100) A figura 3 mostra a variação nos preços, ao nível de varejo, para o álcool hidratado. Os preços nos três estados seguem a mesma tendência. Indices dos preços 120 100 80 60 out/01 jan/02 abr/02 out/02 jan/03 abr/03 out/03 jan/04 abr/04 out/04 jan/05 abr/05 out/05 jan/06 abr/06 Figura 3. Variação no Preço do Álcool Hidratado ao Consumidor nos Estados de, e Para o preço da gasolina, a Figura 4 mostra as tendências em cada estado. 3
105 100 95 85 80 75 nov/01 mar/02 nov/02 mar/03 nov/03 mar/04 nov/04 mar/05 nov/05 mar/06 Gráfico 4.Variação no Preço da Gasolina ao Consumidor nos Estados de, e São Paulo As correlações encontradas entre as séries de preços nos diferentes níveis para os três estados são apresentadas na Tabela 1. Ao produtor Ao consumidor Álcool Hidratado SP x AL 0,810 Álcool Hidratado SP x AL 0,740 Álcool Hidratado SP x PE 0,837 Álcool Hidratado SP x PE 0,762 Álcool Hidratado PE x AL 0,982 Álcool Hidratado PE x AL 0,948 Álcool Anidro SP x AL 0,814 Gasolina SP x AL 0,824 Álcool Anidro SP x PE 0,781 Gasolina SP x PE 0,918 Álcool Anidro AL x PE 0,993 Gasolina AL x PE 0,892 Tabela 1. Correlações entre as Séries de Preços dos combustíveis ao nível de produtor e varejo entre os estados de, e Podemos notar uma correlação significativa para os diferentes tipos de álcoois entre as regiões produtoras analisadas. Os preços de álcool hidratado ao produtor são mais correlacionados do que o preço ao consumidor. Esse resultado pode estar relacionado ao fato de que os agentes de mercado da região Nordeste procuram avaliar o comportamento dos preços em, considerando um diferencial de frete entre as regiões, para poder formar o seu preço de venda. Essas considerações também podem ser extendidas para o álcool anidro, em função da estreita relação entre os dois tipos de álcool. Já quando se trata do nível de varejo, cada região apresenta políticas 4
diferenciadas de preço para o álcool vendido ao consumidor, em função, por exemplo, de custos de transporte do produto, armazenagem, mercado consumidor etc. A correlação entre os preços da gasolina no varejo entre os estados analisados pode ser devida ao fato, por um lado, da estreita relação entre os preços do álcool anidro ao produtor (que faz parte da composição da gasolina C) e, por outro lado, da estratégia de formação de preços da gasolina A adotada pelo governo. Os preços desse tipo de gasolina tendem a seguir um padrão homogêneo para garantir a competitividade do produto nas diferentes regiões. Por fim, vale acrescentar mais alguns pontos a respeito do comportamento dos preços dos combustíveis nesses estados. Como já sugerido em outros estudos, pode-se destacar que existe uma maior correlação entre os preços de álcool dos Estados de e, em função da proximidade desses estados. Outro ponto a ser destacado é o fato de que, apesar dos preços apresentarem tendências semelhantes, eles são maiores na região Nordeste. Essa diferença está relacionada, principalmente, aos custos de transporte entre as regiões. 5