,., * - ESTADO DA PARAÍBA PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA GAB. DO DES. MARCOS A. SOUTO MAIOR ACÓRDÃO APELAÇÃO CÍVEL N 200.2000.101610-0/002 - CAPITAL RELATOR : Juiz Manoel Paulino da Luz APELANTE : Alba Lúcia Queiroz Alexandre ADVOGADOS: João Paulo de Justino,e Figueiredo e Cristiano Roberto Sousa Soares APELADA : Hardwear Indústria e Comércio Ltda. ADVOGADOS: Marcos Maurício F. Lacet e Maria de Fátima Celestino APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS MATERIAIS E MORAIS. CONTRATO DE FRANQUIA. FATURAS. INADIMPLÊNCIA. DESCUMPRIMENTO. RESCISÃO. POSSIBILIDADE. PRÁTICA DE ATO ILÍCITO. NÃO CARACTERIZAÇÃO. DANO MATERIAL E MORAL. INOCORRÊNCIA. IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO. DESPROVIMENTO DO RECURSO. - A rescisão unilateral de contrato de franquia não se consubstancia em ato ilícito a causar danos materiais e morais, ao franqueado; sobretudo quando resta comprovado que a própria franqueada deu causa à rescisão, à vista do inadimplémento das faturas inerentes ao fornecimento de mercadgrias; notadamente levando-se em consideração que, Q referido contrato não foi adquirido com pagamento de preço. referenciados. - V IS TOS, relatados e discutidos os autos acima A C O R,D A, a Colenda Primeira Câmara Cível do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado, da Paraíba, à unanimidade Tfrunhecer para negar provimento ao presente recurso de apelação.: s ALBA LÚCIA QUEIROZ ALEXANDRE, devidamente qualificada nos autos, e por meio de 'adyogado, por não se conformar com a decisão do Juízo da 4a Vara Cível da Comarca da Capital, que julgou improcedente a Ação de Reparação de Danos cumulada com Indenização por Danos Patrimoniais Decorrentes de Ato Ilícito que intentou contra HARDWEAR INDÚSTRI OMÉRCIO LTDA.,
r I ' ; pessoa jurídica de direito privado igualmente qualificada e representada, interpõe recurso de apelação com o intuito de vê-la reformada. 2 Argumenta, a 'apelante, que mantém contrato de franquia (fi-anchising) com a demandada desde o ano de 1984, ou seja, há 16 anos, de forma ininterrupta, para uso exclusivo, na área geográfica de João Pessoa, do nome, dos serviços e venda dos produtos da marca VIDE BULA. A apelante sustenta que era a única franqueada da apelada ainda em atividade no comércio dos produtos* da marca VIDE BULA, das dezessete (17) lojas do tipo que esta mantinha, fato que lhe fez passar a ser conhecida por pessoas do ramo como "Alba da Vide Bula". Diz, também, que, de forma bem diversa da boa conduta contratual, a demandada, no dia 24 do mês de agosto do ano de 2000, notificou-lhe extrajudicialmente, rescindindo contrato de franquia que mantinham, como cláusula liberatória, e assinando o prazo de trinta (30) dias para a retirada do nome VIDE BULA da sua loja. 111 Finaliza sua argumentação, a apelante, afirmando que, com a rescisão imotivada e unilateral do contrato sob testilha, experimentou sérios prejuízos, inclusive com passagens e despesas com a viagem para a cidade de Belo Horizonte, cujos danos materiais totalizaram R$ 5.840,76 (cinco mil oitocentos e quarenta reais e setenta e seis centavos). Em suma, pede a reforma da decisão. A apelada apresentou contra razões (fls. 606/617), rebatendo todos os termos alegados na exordial da apelação e, por fim, pediu a manutenção do julgado com o conseqüente desprovimento recursal. A Procuradoria de Justiça, com vista dos autos, disse que a matéria aqui tratada não se coaduna com, aquelas elencadas no art. 82 do CPC, razão pela qual pedia o prosseguimento do feito sem sua intervenção. É o relatório. ;, VOTO: JUIZ MANOEL PAULINO DA LUZ Relator A apelante busca reformar a sentença de primeiro grau e, com isso, obter uma indenização por danos materiais e morais, pelo ato da apelada de rescindir o contrato de franquia que mantinham, segundo sustenta na exordial, há mais de dezesseis (16) anos, nominando tal conduta de ato ilícito. Compulsando-se os autos, entretanto, não é essa a assertiva a que se chega, muito embora as partes tenham tido oportunidade suficiente para provar suas alegações. De início, vale consignar que n" discute nos autos que o contrato de franquia em foco tenha sido adquirido de forma onerosa pela elante; ou seja, 1 '
chega-se à inexorável conclusão, inclusive pela ausência de discussão neste sentido, que a franqueada nada despendeu para vender, com exclusividade, os produtos da marca VIDE BULA. Em primeiro plano, as argumentações expendidas na peça vestibular pela apelante padecem de parâmetros no tocante ao aferimento das cláusulas e condições contratuais, já que ele não trouxe à colação cópia do contrato de franquia que diz manter vigente há mais de dezesseis (16), anos. Por esta razão, temos que nos pautar pelas diretrizes traçadas em contratos análogos, trazidos aos autos pela apelada, quando da apresentação da sua contestação. Não obstante esse fato, a comunicação da demandada (fls. 32), dando por rescindido o contrato de franquia, não deixa dúvidas acerca de sua existência e vigência, muito embora suas cláusulas e condições não possam ser aferidas, dada a sua inexistência nos autos. A primeira conclusão de mérito a que se deve chegar é no sentido de que, in casu, o ato da apelada de rescindir o contrato de franquia que mantinha com a apelante não se constituiu em ato ilícito, como proclama a irresignação, posto que foi 41 fincado nas diretrizes traçadas em contrato dessa natureza; e, para se chegar a tal assertiva, basta simples cotejo das datas dos eventos demonstrados nos autos, como evidenciarei seguidamente: A apelada afirma, em sua contestação e contra-razões, que adquiriu da empresa Vide Bula Comércio Indústria de Moda Ltda. o uso da marca para comercialização e que, ao assumir a referida pessoa jurídica, encontrou um débito da demandante, ora apelante, no importe de. R$ 47.000,00 (quarenta e sete mil reais), vencido desde o ano de 1997. Em tomando conhecimento da existência do referido débito, passou a fazer restrição de crédito para com a demandante, exigindo uma garantia real, para assim poder lhe enviar os produtos que industrializa e comercializa. 3 110 Essa assertiva se concretiza com os depoimentos das testemunhas ouvidas por carta precatória na Comarca de Belo Horizonte (fls. 477, 478 e 490), de onde se extrai que o contrato de franquia, que de fato e de direito existia, foi rescindindo por inadimplência contratual da parte da apelante. Confo-me se,pode aferir dos autos, a apelante, na condição de franqueada, deixou de pagaras,seguintes duplicatas emitidas pela demandada: Titulo n 1127CO289, Valor R$ 544,00, vencimento 25/07/2000 (fl. 50); Título n 11277CO289, Valor R$ 837,60, vencimento 25/07/2000 (fl. 53); Título n 11262CO289, Valor R$ 1.404,53, vencimento 25/07/2000; além de outros que se seguem com a documentação acostada. Com essas provas, trazidas à colação pela própria apelante, não se pode olvidar que ela, comprovadamente, deixou de honrar o compromisso primordial e essencial do contrato oneroso, que é o de pagar as faturas das mercadorias recebidas para revenda. Nesse sentido, ressalte-se que a comunicação da rescisão do contrato de franquia está datada de 24 de agosto de 2000, sey, uase um mês após ter
sido verificada a inadimplência contratual da demandante, pois comprovadamente deixou de pagar as duplicatas que devia. 4 Esse fato é incontroverso; até porque a apelante afirma, em sua exordial, que deixou de pagar as duplicatas e teve seu nome inserido no Cartório de Protesto em razão da rescisão contratual fomentada pela demandada; porém tal comunicação somente ocorreu um mês após e, inclusive, houve trinta dias para, efetivamente, tornar sem efeito o pacto havido. Do ponto de vista do que foi pactuado, ou seja, analisando-se o contrato de franquia trazido aos autos pela apelada para servir de paradigma ao caso vertente - já que a apelante, repita-se, não o trouxe à colação, percebemos que a inadimplência desta autorizou a conduta daquela, senão vejamos: Às fls. 14Ó/148 dos autos, encontramos modelos de contrato de franquia que a demandada firma com seus clientes e, especificamente na cláusula IX do mesmo, podemos observar o seguinte: "IXI A FRANQUEADORA poderá suspender o fornecimento dos produtos FRANQUEADOS, ocorrendo uma das seguintes hipóteses: IX.II Impontualidade da FRANQUEADA no pagamento do fornecimento de produtos efetuados, ou mesmo pagamento efetuado em cartório sem os acréscimos legais. IX 111 A impontualidade da FRANQUEADA no pagamento das duplicatas implicará na rescisão do contrato Assim, conclui-se que a conduta empreendida pela apelada, em rescindir o contrato de franquia que mantinha com a apelante, não pode ser considerada como ato ilícito, uma vez que o referido ato estava e efetivamente está revestido de autorização contratual, pela comprovada falta de pagamento das duplicatas acima identificadas. Assim,.não havendo a prática de ato ilícito por parte da apelada, igualmente não há que se falar em reparação de danos, quer materiais ou até mesmo morais. Para que seja acolhida a pretensão de reparar um dano material ou moral, tem de ser comprovada nos autos a conduta ilícita de quem deve suportar o ônus da reparação. O Mestre e doutrinador WILSON MELO DA SILVA, citando CARPENTER, ensina-nos que a reparação de dano decorrente de contrato é, invariavelmente, aferida pela cláusula penal aposta na avença, senão vejamos: "E Carpenter, com muito senso jurídico, com muita lógica e muita segurança, pondo-se no mesmo ponto de vista que Plániol, entende que, em últim 'se, a obrigação de
s. indenizar um,dano qualquer redunda sempre de um fato ilícito, quer na culpa cpntratual, quer na extracontratual Os danos morais oriundos da inadimplência contratual, só, não se indenizariam, ao nosso ver, no caso da existência, nos ajustes, da cláusula penal E isto porque, consoante o ensinariiénto dos doutos, a cláusula penal, nos contratos, assume comumente um caráter de prefixação, pelos contratantes, de todas as perdas e danos pelo descumprimento do ajuste. E quem assim age, aceita, de antemão, todas as conseqüências daí decorrentes". (In O Dano Moral e sua Reparação. 3a Edição. Editora Forense). 5 Temos, então, que a conduta da empresa apelada pautouse pelas cláusulas contratuais previamente acordadas, onde o respaldo jurídico lhe sobrevém, tornando-a revestida de legalidade. Na mesmíssima linha de raciocínio, podemos constatar que o contrato de franquia aqui tratado foi rescindindo por culpa exclusiva da apelante, vez que foi quem primeiro o desrespeitou, quando não efetuou o pagamento das duplicatas a que se obrigava, notadamente por ter recebido as mercadorias fabricadas e fornecidas pela apelada. Nesse sentido, igualmente, o sempre atual Professor RODRIGO MENDES DELGADO, ao analisar a reparabilidade do dano moral, proclama não haver possibilidade de reparação quando a culpa pelo ato danoso é exclusiva da vitima. Permito-me a transcrição fiel:. "Outra causa de irresponsabilidade é a culpa exclusiva da vítima. Essa causa, como classificada acima por nós, é uma causa de efeitos restritos, vez que exime apenas o pretenso autor do dano,; em decorrência de um comportamento ativo da vitima na causa ção do dano. A missão do direito é tutelar, proteger as pessoas, cujos direitos sejam ameaçados ou violados,. resguardando-as da ameaça de lesão e punindo o infrator em caso de dano, determinando que o mesmo repare os danos que causou. Assim, o direito visa proteger a pessoa que, sem culpa e participação, tenha sido alvo da atitude lesiva de outrem. A vítima, apesar de se manter dentro dos limites da legalidade, cuidando da própria vida, foi alvo de um evento lesivo,, perpetrado pelo agente que, culposamente ou dolosamente,. extravasou os limites da legalidade e foi lesar direito de outrem. Este o mister supremo do Direito. Entretanto, se a vitima, ou melhor, a pretensa vítima, concorreu em igual medida de forças ou, de força exclusiva, sem a participação do pretenso agente, causa um dano a si mesma, não haverá a quem se imputar tal responsabilidade, salvo a si mesma. Aqui o agente é algoz e vitima de si mesmo. Em isto se verificando, não há como a pretensa vítima pretender indenização,, pois, não houve e não há agente a quem posse ser imputada à responsabilidad6r-pelo everitcy;-tão ser à
.... 6 própria vitima. Se esta, realmente, quiser acionar alguém, deverá acionara si mesma. Haveria o abuso, in casu, da vitima figura duma ação judicial em ambos os pólos. Seria autora e ré ao mesmo, tempo. Um contra-senso sem tamanho. Aliás, isso é, processualmente, inadmissível, pois, uma vez que autor é réu se confundem, isto é, sejam uma mesma e única pessoa. "É intuitivo que a culpa exclusiva da vítima exime o guarda da responsabilidade, pois desaparece o liame de causalidade entre o fato da coisa e o dano causado, visto que este por definição mesmo, adveio de culpa exclusiva da vitima". (DELGADO, Rodrigo Mendes, O valor do dano moral: como chegar até ele teoria e. prática, São Pua/o: Editora J H Mizuno, 2003, p.207/208). Por se tratar de indenização com base no direito comum, a responsabilidade civil decorre dos seguintes pressupostos básicos: ação ou omissão, nexo causal e o resultado danoso. A jurisprudência pátria já se posicionou sobre o assunto, no sentido de não ser possível a indenização por danos morais em casos semelhantes aos dos autos, conforme julgados colacionados abaixo: "A rescisão do contrato de promessa de compra e venda de imóvel não gera, por si só, dano moral" (AC n. 99.014064-4, Des. Newton Trisotto). E mais: "O simples, aborrecimento, naturalmente decorrente do insucesso do negócio, não se enquadra no conceito de dano moral,,que envolve a dor, o sofrimento profundo. Há danos morais- que se presumem, de modo que ao autor basta a alegação, ficando a cargo da outra parte a produção de provas em contrário. Assim, os danos sofridos pelos pais por decorrêncial da perda dos filhos e vice-versa. Há outros, porém» que devem ser provados, não bastando a mera alegação, como a que consta da petição inicial" (in JTJ 167/45)., É importante consignar, outrossim, que a situação em foco se apresenta como sendo de rescisão unilateral de contrato bilateral, o qual restou rescindido por culpa exclusiva da parte fr:inqueada;em face de sua inadimplência. Assim, entendo que restou demonstrado nos autos que a apelante primeiramente descumpriu o contrato de franquia que mantinha com a apelada, autorizando esta, via de conseqüência, a rescindir a avença, sem que ure tal ato em ato ilícito. 1
4 4 7.. apelação. Desta forma, conheço e nego provimento ao recurso de É o meu Voto. Presidiu a Sessão, o Excelentíssimo Desembargador JOSÉ DI LORENZO SERPA, que participou do Julgamento com este Relator, em substituição ao ínclito Desembargador MARCOS A. SOUTO MAIOR, e com o eminente Desembargador MANOEL SOARES MONTEIRO. Pres'enté à Sessão, a Excelentíssima Doutora MARILENE DE LIMA C. CARVALHO, Promotora de Justiça Convocada. Sala das Sessões da Primeira Câmara Cível do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba, em João Pessoa/PB, 10 de agosto de 2006. 1110 MANOEL PAULINO DA LUZ Juiz Convocado/Relator,,.,.
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