Câmbio, Exportações e Doença Brasileira



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Transcrição:

Instituto de Estudos do Comércio e das Negociações Internacionais Institute for International Trade Negotiations Câmbio, Exportações e Doença Brasileira RELATÓRIO FINAL MARCOS S. JANK (Coordenador) Presidente do ICONE e Professor da FEA-USP ROBERTO IGLESIAS Professor da PUC-RJ SIDNEY N. NAKAHODO Pesquisador do ICONE e do Kiel Institute for the World Economy FERNANDO D. CHAGUE Pesquisador da EESP/FGV-SP MARCELO M. MOREIRA Mestrando em Economia pela FEA-USP e bolsista do ICONE SÃO PAULO (SP) JULHO DE 2007

1. SUMÁRIO EXECUTIVO O objetivo deste estudo é analisar o impacto da apreciação da taxa de câmbio efetiva real sobre as exportações por meio da avaliação da estrutura das exportações e de indicadores de vantagens comparativas, concentração e rentabilidade. Complementarmente, efetuamos uma série de exercícios estatísticos a fim de identificar possíveis correlações entre o câmbio e os volumes exportados de diversas séries de produtos. A seguir, sintetizamos os principais resultados obtidos: Estrutura de exportação A participação das commodities no total exportado não se alterou substantivamente entre 1996 e 2006, nem depois do recente processo de apreciação real. A participação do agronegócio caiu entre 2003 e 2006. A grande novidade foi o aumento da participação dos combustíveis. Os combustíveis - e não o agronegócio - são os responsáveis pelo pequeno aumento da participação das commodities. O aumento da participação das commodities foi um fenômeno generalizado, motivado pelo aumento de preços internacionais desses produtos e pela queda dos preços de produtos de alta tecnologia. Houve uma melhora do saldo da balança comercial de cada uma das categorias, tanto entre commodities quanto entre diferenciados, com exceção dos produtos de alta tecnologia. Preços e volumes exportados O crescimento médio anual dos preços de todos os tipos de produtos foi maior entre 2002 e 2006 do que entre 1996-2006, mas esse crescimento não esteve concentrado somente nas commodities. Entre 2002 e 2006, a taxa média anual de elevação do preço das commodities foi de 11%, enquanto que para os preços dos diferenciados foi de 6%. Entre 2002 e 2006, o maior crescimento médio anual de preços registrou-se em combustíveis e não no agronegócio. O crescimento médio anual dos preços do agronegócio foi de 10%, semelhante aos produtos de média-baixa tecnologia. Durante o período de apreciação da taxa de câmbio efetiva real (TCR), a taxa média anual de crescimento do quantum de produtos diferenciados foi de 14%, superior à registrada para as commodities. O quantum de todos os produtos diferenciados acelerou seu ritmo de crescimento nos últimos cinco anos. Concentração das exportações Não se observa uma forte associação entre a TCR e o índice de concentração total das exportações. A desvalorização entre 1999-2002 parece ter contribuído para desconcentrar a pauta, mas a apreciação parece ter afetado um pouco a concentração somente em 2006. 2

Adicionalmente, a concentração da pauta parece estar se produzindo nas commodities, e não em produtos diferenciados. Entre as commodities, a concentração está ocorrendo em minerais e metais, mas não no agronegócio. Nos produtos diferenciados, observa-se uma tendência de desconcentração da pauta, com exceção daqueles pertencentes à classe alta tecnologia.. Por outro lado, um número menor de produtos diferenciados 1 vem sendo responsável pela maior parte das exportações. Vantagens Comparativas Reveladas As três categorias de commodities apresentam vantagens comparativas. Entre os diferenciados, baixa e média-alta mostram vantagem comparativa, enquanto médiabaixa e alta são caracterizadas por desvantagem comparativa. Entre as commodities, as vantagens comparativas têm sido estáveis (agronegócio e minerais e metais) ou vêm crescendo (combustíveis). De maneira geral, as vantagens comparativas dos diferenciados vêm caindo ao longo do tempo. No nível dos produtos, o padrão de vantagens comparativas vem se reforçando ao longo do tempo. Não há associação entre apreciação da taxa de câmbio efetiva real e deterioração do índice de vantagens comparativas dos produtos diferenciados. Quando a taxa de câmbio efetiva real era favorável às exportações, como entre 2001 e 2003, observou-se queda das vantagens comparativas dos produtos diferenciados. Nos últimos anos, não houve deterioração e os indicadores de vantagens comparativas se estabilizaram. A taxa de câmbio efetiva deflacionada pelo índice de preço ao consumidor ainda é superior ao nível de 1996-98. A taxa de câmbio efetiva deflacionada por índices de preços de atacado ou a taxa de câmbio real/dólar deflacionada pelos custos de produção mostram que a TCR nos últimos meses estaria abaixo dos níveis de 1996-98. Sem dúvida, os níveis dos últimos meses são críticos e podem desencadear novas transformações na pauta. Devem-se esperar novos desenvolvimentos nos próximos meses. A queda da rentabilidade reduziu as taxas de crescimento do quantum e esse efeito, ainda que generalizado, parece ter tido mais força entre os produtos manufaturados. A queda do ritmo de crescimento do quantum de produtos manufaturados tem um comportamento cíclico e parece estar associada à rentabilidade das exportações. O dinamismo das exportações de manufaturados depende da existência de capacidade ociosa e da situação das vendas no mercado doméstico. Nos últimos meses, aumentou a utilização de capacidade da indústria e aumentaram as vendas no mercado doméstico. Esses fatores devem ter contribuído para a redução nas exportações. 1 Quando analisado ao nível de 6 dígitos do Sistema Harmonizado. 3

Quase todos os setores de atividade tiveram queda da rentabilidade entre 2002 e 2003 e entre 2005 e 2006, mas todos conseguiram expandir as quantidades exportadas. Análise econométrica Poucas séries de quantum exportado apresentaram relação estatisticamente significativa com o câmbio. Algumas séries parecem ser influenciadas pelo câmbio em períodos de tempo que variam de quatro a nove meses. Resultados semelhantes foram obtidos usando a série de rentabilidade das exportações no lugar da taxa de câmbio efetiva real. 4

2. INTRODUÇÃO O objetivo do presente projeto é analisar o impacto da apreciação da taxa de câmbio efetiva real sobre as exportações pela avaliação da estrutura das exportações e por meio de indicadores de competitividade, concentração e rentabilidade. Complementarmente, efetuamos uma série de exercícios estatísticos a fim de identificar possíveis correlações entre o câmbio e os volumes exportados. A relação entre a apreciação do câmbio e o comércio exterior tem sido um dos temas mais debatidos nos últimos tempos, tanto no meio acadêmico quanto na imprensa. Entre 2002 e 2006, houve uma apreciação da taxa de câmbio efetiva real de 40% 2, enquanto no mesmo período as exportações e o saldo da balança comercial aumentaram em 127% e 242%, respectivamente 3. Nesse contexto, o debate tem se concentrado em duas frentes: as causas da desvalorização do dólar e o impacto da apreciação do câmbio efetiva real sobre as exportações. De forma geral, os economistas argumentam que a queda no valor do dólar resulta da política monetária, responsável pelas altas taxas de juros, e dos saldos crescentes da balança comercial. Para Luiz Carlos Mendonça de Barros, os saldos comerciais vigorosos, criados pela situação internacional e pelas vantagens comparadas que temos nos setores agrícolas e de matérias-primas, estão provocando uma força de nossa moeda 4. Seguindo a mesma linha, Alexandre Schwartzman avalia que o desempenho estupendo da balança comercial, fortalecido pela alta das commodities, geraria expectativas de apreciação futura do câmbio responsáveis pela valorização do real no presente 5. Adicionalmente, Schwartzman entende que a queda da percepção de risco pela manutenção de política macroeconômica reforçou as expectativas de apreciação futura do câmbio 6. 2 Valores deflacionados pelo INPC. 3 Calculado a partir de valores nominais em dólar. 4 O crescimento da economia, Folha de S. Paulo, 26/1/2007. 5, A lógica da conveniência, Folha de S. Paulo, 2/5/2007. 6 Deve-se observar que desde setembro de 2005, o diferencial de juros vem caindo sistematicamente e a tendência de apreciação do câmbio se manteve. 5

Por outro lado, Rogério Penha Cysne ressalta que as exportações têm crescido em todo o mundo sem que se verifique a apreciação cambial ocorrida no país: o restante da explicação está nos movimentos de capital, mais ou menos bem capturados na conta de capital do balanço de pagamentos 7. Antônio Delfim Netto também argumenta que a principal razão por trás da valorização do real não são os elevados saldos comerciais, e sim os altos juros, cuja diferença entre as taxas externas e internas e o baixo risco tende a favorecer a entrada de capital estrangeiro no país. Segundo Delfim, "a idéia de que a supervalorização do câmbio é produto das virtudes da economia brasileira é uma demonstração de ingenuidade mortal 8,9. Em resumo, a discussão sobre as causas da valorização do real está longe de gerar consenso. Para fins do presente trabalho, mais importante do que entender as causas da apreciação é analisar os efeitos do câmbio sobre os diversos setores exportadores no país. O dólar mais barato tende a impactar o comércio exterior brasileiro de diversas formas, seja pelo aumento dos termos de troca e conseqüente perda de competitividade, seja pelo barateamento das importações e pressão sobre os produtores locais. As dificuldades ocasionadas pela valorização têm gerado temores de que um processo de desindustrialização associado a características de doença holandesa poderia acarretar graves problemas ao país. Entretanto, sem deixar de reconhecer os problemas inerentes ao câmbio sobrevalorizado sobre diversos setores exportadores, estudos recentes descartam a possibilidade de que o país teria sido acometido por esse mal e de que um processo de desindustrialização estaria em curso 10. Com o intuito de avaliar as transformações no comércio exterior brasileiro decorrentes da flutuação na taxa de câmbio efetiva real optamos por enfocar a análise das exportações brasileiras no período entre 1996 e 2006. Para tanto, utilizamos um conjunto de indicadores que mostram as variações nos saldos da balança comercial, preços e volumes, concentração, vantagens comparativas e rentabilidade, os quais nos fornecem elementos 7 Câmbio: desafios e oportunidades, Valor Econômico, 9/8/2006. 8 Juro explica dólar barato, diz Delfim, Entrevista ao Valor, 10/4/2007. 9 De fato, a queda do risco-país, somada à estabilidade cambial, facilitou o acesso de empresas ao mercado internacional. Segundo a Associação Nacional dos Bancos de Investimento (ANBID), as captações externas por parte de empresas e bancos cresceram 105% entre 2005 e 2006, passando de USD 6,02 a USD 12,31 bilhões no período, aumentando a oferta de dólares no país e, conseqüentemente, criando maior pressão sobre o real. Empresas dobram captação no exterior, Folha de S. Paulo, 28/3/2007. 10 Ver NAKAHODO E JANK (2006) e MARKWALD E RIBEIRO (2007) 6

para uma análise qualitativa baseada em evidência empírica. Dados os objetivos do estudo e o limitado tempo para sua execução, os testes estatísticos foram efetuados de maneira complementar, ainda que com o rigor necessário, mas sem maiores pretensões quanto à interpretação dos resultados obtidos. Na próxima sessão, apresentamos a metodologia de desagregação dos dados, o procedimento de cálculo dos índices e a descrição dos testes econométricos utilizados. Em seguida, analisamos os resultados, discutimos as possíveis interpretações para os valores obtidos e apresentamos as conclusões. 3. METODOLOGIA As análises contidas no presente estudo basearam-se nos saldos da balança comercial, em indicadores de concentração, análise de vantagens comparativas, variações do preço e quantum dos produtos exportados e cálculo de rentabilidade das exportações. Também se efetuou uma série de exercícios econométricos por meio de testes de correlação cruzada, Granger-causalidade e vetor auto-regressivo (VAR). O exame da pauta exportadora ocorreu por meio da definição de duas categorias: commodities e produtos diferenciados. A classificação das primeiras consistiu na divisão em três classes de produtos: 1) agronegócio, 2) combustíveis e 3) minerais e metais. Os produtos diferenciados foram identificados como aqueles não commoditizados, essencialmente as manufaturas industriais distribuídas entre quatro níveis de intensidade tecnológica: 1) alta, 2) média-alta, 3) média-baixa e 4) baixa. A desagregação das commodities utilizou metodologia universal recomendada pela Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) (2004). A separação dos produtos diferenciados exigiu preparação adicional, já que não foram encontrados procedimentos satisfatórios para fins do presente estudo 1112. Assim, a relação dos produtos diferenciados (não commoditizados) foi composta por produtos industriais, de 11 Uma alternativa para a classificação de manufaturas, utilizada pela Comissão Econômica para a América Latina (Cepal) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), é proposta por LALL (2000), mas não contempla a separação entre commodities e produtos diferenciados. 12 Dentre os produtos classificados como commodities, uma única adaptação feita a pedido do ITAU-BBA refere-se à inclusão de ferro e aço na lista de commodities da UNCTAD. 7

acordo com classificação da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) (HATZICHRONOGLOU, 1997), à exceção daqueles definidos como commodities pela UNCTAD, em sua maioria pertencente aos grupos de média-baixa e baixa tecnologia 13. 3.1. Estrutura das exportações e saldo da balança comercial Inicialmente, apresentamos a estrutura das exportações, caracterizando a pauta por meio da desagregação pela metodologia proposta. O saldo da balança comercial foi utilizado como uma primeira variável de análise do impacto do câmbio sobre o comércio com dois objetivos: 1) avaliar a diferença no crescimento das exportações em relação às importações e 2) identificar as categorias de produtos mais suscetíveis à apreciação do real. 3.2. Análise dos preços e volumes das exportações 14 Uma medida arbitrária para a análise da perda de competitividade é o aumento dos preços e a redução dos volumes exportados. Com o intuito de avaliar o crescimento das exportações, utilizamos o cálculo dos índices de Fisher de preço, quantum e valor, e o crescimento médio anual 15, com adaptações ao roteiro de cálculo sugerido pela Funcex (GUIMARÃES ET AL., 1997a) 16,17. O índice de Fisher é definido como a média geométrica dos índices de Laspeyres e Paasche. O índice de Fisher de preços (IP), com base móvel, é calculado pela seguinte expressão: 13 Outro esforço adicional diz respeito à desagregação no nível que arbitrariamente definimos como produto, uma vez que a classificação das manufaturas industriais pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), com exceção dos produtos de alta tecnologia, descreve apenas os setores correspondentes a cada nível de intensidade tecnológica. Por exemplo, em média-baixa tecnologia, tivemos de desagregar os produtos de plástico e borracha, inicialmente englobados em um único setor. No total foram analisadas e classificadas 5.422 linhas tarifárias do Sistema Harmonizado (HS) a seis dígitos. Para maiores esclarecimentos, favor contatar Sidney Nakahodo (snn2103@columbia.edu). 14 Seção baseada em NAKAHODO E JANK (2006). 15 Calculado a partir da projeção logarítmica sobre o período em questão. 16 Um exemplo de adaptação é o procedimento de eliminação de dados. Neste estudo, foram retiradas as linhas tarifárias cujo somatório das exportações de 1996 a 2005 foi inferior a US$ 1 milhão, além daqueles produtos cuja quantidade exportada aparecia nula. 17 O índice de Fisher foi escolhido por incluir características desejáveis, como a reversibilidade sobre o tempo (reciprocidade entre períodos 1 e 0) e reversibilidade de fatores, em que o produto dos índices de preço e quantum é igual ao índice de valor em termos correntes (CHEVALIER, 2003). 8

p 0q1 p0q0 IP, p 1q1 p 1q0 sendo p o preço do produto, q a quantidade e i o período. Os índices de quantum (IQ) foram calculados implicitamente, deflacionando-se as séries de valores de exportações (v) pelo índice de preços: ( v0 / v 1) IQ IP Finalmente, o índice de valor (IV) é obtido pelo produto dos índices de preço e quantum: IV IP IQ 3.3. Concentração das exportações Uma forma de analisar o impacto agregado da apreciação real é ver o que acontece com a concentração das exportações, pois a apreciação tenderia a favorecer o processo de concentração da pauta. Utilizando a classificação ICONE, estimaram-se índices de concentração dentro de cada uma das sete categorias de produtos, calculados ao nível de seis dígitos do Sistema Harmonizado (HS). Além da contagem dos produtos correspondentes a 90% dos produtos exportados, utilizamos o Índice Herfindahl-Hirschman (IHH) para avaliar a concentração das exportações. O IHH é calculado pela seguinte expressão: HHI = N 2 si, i1 sendo s i a participação de cada produto i exportado num determinado setor. Dessa forma, quanto maior o HHI, maior a concentração das exportações para o dado conjunto. 9

3.4. Perdas e ganhos de vantagens comparativas O Índice de Vantagens Comparativas Revelado, medido neste trabalho pelo Índice Balassa (IB), permite-nos analisar ganhos e perdas de vantagens comparativas por produto em relação ao mercado internacional. O IB reflete a proporção de um produto na pauta exportadora de um país, em comparação com as exportações desse mesmo produto nas exportações de um parceiro comercial ou, como no presente caso, em relação ao total agregado mundial. É calculado da seguinte forma: X X CS C BI, XWS X W X s corresponde ao valor das exportações de um determinado produto ou setor, S, C é referente ao país e W ao agregado mundial. No presente estudo utilizamos um processo de normalização proposto por Larsen, conforme descrito em DE BENEDICTIS E TAMBERI (2001): BI L BI BI 1 1 X X CS CS X X W W X X WS WS X X C C, onde 1<BI L <0 e 0<BI L <1 caracterizam, respectivamente, desvantagem e vantagem comparativa. 3.5. e exportações 18 18 Em função da utilização de dados calculados pela FUNCEX e pelo IBGE, a análise de rentabilidade levou em consideração um método de desagregação da pauta diferente daquele descrito na introdução desta seção, incluindo a tradicional separação em manufaturados, semi-manufaturados e básicos, além da divisão em setores. 10

Índice de (IR) é elaborado pela FUNCEX e publicado regularmente em seu Boletim de Comércio Exterior. O IR é calculado pela seguinte fórmula: E P IR exp, C prod sendo E = câmbio nominal real/dólar, P exp = preço de exportação em dólares, C prod = custo de produção. O cálculo do índice de rentabilidade das exportações totais e setoriais se desdobra, portanto, nas seguintes etapas 19 : Construção de indicadores da evolução dos custos de produção dos diversos setores da economia; Construção de índices de preço das exportações dos diversos setores da economia 20 ; Cálculo de indicadores setoriais da evolução da rentabilidade das exportações; Cálculo de indicador da evolução da rentabilidade do total das exportações. A construção dos índices de custo setoriais tem como base a estrutura de custos dos diversos setores produtivos derivada da matriz de relações interindustriais. Observou-se a classificação de setores de atividade da Matriz Interindustrial de 1992 do IBGE (MRI-92), restringindo-se o cálculo dos índices aos segmentos que produzem bens exportáveis, vale dizer, à agropecuária, às indústrias extrativas vegetal e mineral, e à indústria de transformação. Foram considerados 31 setores. As estruturas de custo desses setores foram sendo atualizadas conforme as atualizações realizadas pelo IBGE da Matriz Interindustrial. O índice de custo relativo de um determinado setor i foi calculado a partir da expressão: P i a ij. p j m i. c s i. w 19 A metodologia do cálculo do índice de rentabilidade está descrita em GUIMARÃES ET ALT (1997b). 20 Os índices de preços utilizados são os mesmos que os calculados e divulgados pela FUNCEX; a metodologia e séries históricas correspondentes estão apresentadas em GUIMARÃES ET AL. (1997a). 11

Onde: a ij é o peso do bem ou serviço j de procedência nacional na estrutura de custo do setor i; m i, o peso dos bens importados; s i, o peso dos salários e encargos; p j indica a evolução do preço do componente j; c a evolução da taxa de câmbio (dólar); e w a evolução do salário médio por hora. Para determinação da evolução do preço p j, considerou-se: No caso dos bens de procedência nacional, o índice setorial do IPA mais compatível com o setor em questão 21 ; No caso dos serviços industriais de utilidade pública, o índice de energia elétrica industrial no Estado de São Paulo, divulgado pelo Instituto de Economia do Setor Público da Fundação de Desenvolvimento Administrativo (IESP/FUNDAP); No caso dos serviços, a variação do IPA-DI. A evolução do salário médio por hora w foi calculada pela razão entre o índice de "total de salários" da FIESP e o índice de "total de horas pagas", também da FIESP. A escolha desses indicadores da evolução dos preços dos componentes de custo levou em consideração a defasagem entre o período de referência e a divulgação do indicador, tendo em vista a intenção de divulgar regularmente os resultados relativos à evolução da rentabilidade das exportações segundo a metodologia aqui adotada. Tal consideração determinou, por exemplo, a opção pelos índices setoriais do IPA e pelos dados da FIESP 21 Os índices selecionados para cada caso específico estão indicados na Tabela A.3 de GUIMARÃES ET AL. (1997b). 12

relativos a salários, em detrimento dos índices de preços setoriais e dos indicadores de salários médios dos diversos setores que poderiam ser derivados das pesquisas industriais mensais do IBGE 22. Cabe notar que alguns dos índices setoriais do IPA, bem como o próprio IPA-DI, estão associados a mais de um componente de custo, por falta de preço disponível mais apropriado. Isso determina que o peso total dos componentes do IPA ou do IPA-DI seja alto no custo setorial. A taxa de câmbio é o outro componente central do custo setorial, cuja ponderação é dada pela participação das importações na estrutura de custos do setor de atividade 23. 3.6. Análise econométrica do impacto cambial sobre as exportações A avaliação do impacto das oscilações do câmbio efetiva real sobre as exportações baseouse na econometria das séries temporais para os principais produtos da pauta, com periodicidade trimestral. Para tanto, utilizamos testes de correlação cruzada, causalidade Granger e função impulso, conforme descrito a seguir. 3.6.1. Correlação cruzada A correlação cruzada é definida por: cov( yt, xt ) yx ( ) y x, sendo y t a variação trimestral do quantum exportado e xt a variação trimestral do índice de rentabilidade (Tabela 6) e da taxa de câmbio efetiva real (Tabela 5) defasadas em meses. Como veremos nos resultados, assumirá valores de 0 (ou seja, as duas variáveis contemporâneas) a 24 (dois anos de defasagem). 22 Note-se, ainda, que não foi feita nenhuma correção do custo da mão-de-obra, visando à incorporação de eventuais ganhos de produtividade. 23 O peso total de cada um dos índices setoriais do IPA, do IPA-DI, da variação do dólar e do salário médio por hora, na estrutura de custo dos diversos setores está apresentado na Tabela A.5 de GUIMARÃES ET ALT (1997b). 13

3.6.2. Causalidade Granger De forma simples, o teste de causalidade de Granger pode ser definido como um teste F sobre o efeito dinâmico de uma série sobre a outra. Os resultados do teste indicam uma relação de correlação e não necessariamente de causalidade econômica. Concretamente, o teste F é efetuado sobre o seguinte modelo bivariado: y y... y x... x t 0 1 t1 d td 1 t1 d td t x x... x y... y u t 0 1 t1 d td 1 t1 d td t no qual a hipótese nula do é 1 2... d 0. Assim, conseguimos verificar estatisticamente se defasagens de outra variável são relevantes para explicar sua dinâmica. Esse teste é superior à simples análise das correlações cruzadas uma vez que é controlada por efeitos dinâmicos da própria variável. 3.6.3. Função Impulso A função consiste em estimar um modelo VAR (vetor auto-regressivo) e com tais parâmetros analisar graficamente a dinâmica das séries dado um choque na outra série. No nosso caso, os gráficos mostram a resposta (em 12 ou 24 meses) da variação percentual trimestral do quantum exportado dado um choque de um desvio padrão da taxa de variação trimestral do câmbio efetiva real. 14

4. RESULTADOS 4.1. Estrutura das exportações e saldo da balança comercial 4.1.1. Estrutura das exportações A análise da pauta desagregada por categoria apresentada na Tabela 1 mostra o grau de diversificação das exportações do país 24. Não apenas existe uma divisão equilibrada entre commodities e produtos diferenciados, mas também se verifica expressiva participação de categorias composta por produtos de maior valor agregado, como as categorias de alta e média-alta tecnologia. Tabela 1: Estrutura das exportações Exportações (USD Bilhões) Participação 2003 2006 2003 2006 Agronegócio 24,306 41,040 34,0% 30,6% Combustíveis 3,796 10,590 5,3% 7,9% Minerais e metais 10,895 24,501 15,3% 18,3% Commodities 38,998 76,131 54,6% 56,8% Alta 4,951 9,118 6,9% 6,8% Média-alta 4,026 31,774 22,9% 23,7% Média-baixa 16,342 7,392 5,6% 5,5% Baixa 7,124 9,661 10,0% 7,2% Diferenciados 32,443 57,946 45,4% 43,2% Total 71,441 134,077 100% 100% Fonte: ICONE (com dados da SECEX) A Tabela 1 também nos mostra que entre 2003 e 2006, apesar da forte apreciação real, houve pouca variação na estrutura das exportações. A proporção de commodities e 24 Apesar da pulverização, existe forte concentração entre os produtos exportados, conforme afirma NAKAHODO E JANK (2006). 15

òews Real ( USD Bilhões produtos diferenciados não se alterou significativamente. Dentre as commodities, a participação dos combustíveis e minerais e metais na pauta cresceu 49,1% e 19,6%, respectivamente, o agronegócio perdeu espaço, com queda de 10,0%, apesar do crescimento das exportações do setor. Entre os produtos diferenciados houve poucas mudanças significativas, à exceção de baixa tecnologia, cuja participação reduziu-se em 28,8% nos últimos quatro anos, passando de 10,0% a 7,2% do total da pauta 25. De forma geral, o aumento da participação das commodities foi um fenômeno motivado pelo aumento de preços internacionais desses produtos e pela queda dos preços de produtos de alta tecnologia, como veremos adiante. 4.1.2. Saldo da balança comercial Conforme se observa na Figura 1, apesar da apreciação do câmbio nos últimos anos, o saldo da balança comercial vem crescendo a taxas contínuas desde 2001, chegando a USD 46 bilhões em 2006, principalmente em função do superávit obtido nas commodities do agronegócio e em minerais e metais. 40 35 30 25 20 15 10 5 0-5 -10 Agronegócio Minerais e metais Combustíveis 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 Figura 1: Saldo comercial das commodities Fonte: ICONE (com dados da Secex) 25 O crescimento experimentado no preço das commodities entre 2003 e 2006, naturalmente leva a um aumento da participação desses produtos na pauta exportadora. Os produtos diferenciados, em geral, são mais sensíveis à apreciação da taxa de câmbio real. Alta de preços e apreciação real, que são dois fatores de mudança na estrutura das exportações, estiveram presentes entre 2003 e 2006; no entanto, não houve alteração dramática na distribuição entre commodities e produtos diferenciados no total exportado. 16

Real ( USD Bilhões A Figura 2 mostra que, entre os diferenciados, os resultados também têm sido bastante positivos: no ano passado, as exportações de produtos de baixa e média-baixa tecnologia superaram as importações em mais de USD 8,3 bilhões. O saldo dos produtos de média-alta tecnologia, que em 2001 eram os principais contribuintes para o déficit da balança comercial, praticamente zerou nos últimos dois anos. Por outro lado, as importações de produtos de alta tecnologia têm crescido mais rapidamente que as exportações nos últimos cinco anos, gerando um déficit de USD 8,2 bilhões em 2006 na categoria. 10 5 Baixa 0-5 Média-baixa Alta -10 Média-alta -15 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 Figura 2: Saldo comercial nos produtos diferenciados Fonte: ICONE (com dados da Secex) 4.2. Preços e quantum A variação dos preços e volumes das exportações medidas pelo índice de Fisher mostra que o crescimento das exportações deu-se principalmente devido ao aumento do quantum exportado. Enquanto durante a maior parte da última década o preço das commodities caiu e praticamente manteve-se constante para os diferenciados, a variação média anual do quantum para ambos os grupos foi de 10,8% e 9,3%, respectivamente (ver Tabela 2). O preço das commodities vem se recuperando desde 2002, crescendo a uma taxa média anual acima de 10% nos últimos cinco anos. Uma análise desagregada mostra que enquanto combustíveis e, em menor medida, minerais e metais, experimentaram forte alta, o preço 17

dos produtos do agronegócio, principais commodities da pauta, ainda se encontra abaixo do patamar de 1996 26. Com relação aos produtos diferenciados, observamos dois movimentos distintos ao longo da última década: até 2002, à exceção dos produtos de alta tecnologia, a variação média dos preços foi negativa para as outras categorias. Entre 2002 e 2006, entretanto, essa tendência se inverte. Uma das explicações para o aumento dos preços nos últimos anos pode estar na apreciação do câmbio efetiva real. Quase todas as outras categorias, tanto commodities quanto diferenciados, vêm experimentando aumentos expressivos nos preços. Uma exceção são os produtos de alta tecnologia, que em grande parte utilizam componentes importados e que talvez possam se beneficiar da queda do dólar, tornando-se mais competitivos no mercado externo. Tabela 2: Variação média anual do preço e quantum 1996 2006 2002-2006 Preço Quantum Preço Quantum Agronegócio -1,9% 11,8% 10,1% 9,8% Combustíveis 10,6% 32,1% 26,2% 8,9% Metais e minérios 4,8% 5,4% 20,9% 8,3% Commodities 0,7% 14,8% 10,8% 9,4% Alta 3,5% 10,8% -1,9% 17,7% Média-alta 1,0% 11,6% 7,4% 5,7% Média-baixa -0,5% 8,2% 9,9% 18,4% Baixa 0,4% 6,4% 6,5% 10,2% Diferenciados 0,4% 9,3% 6,0% 14,4% Total 0,8% 9,9% 10,7% 11,7% Fonte: ICONE (com dados da Secex) A análise do quantum revela que tanto commodities quanto produtos diferenciados seguem um padrão similar, com taxas de crescimento contínuas. No primeiro grupo, destaca-se a 26 Para uma visão mais detalhada sobre a questão, ver NAKAHODO E JANK (2005). 18

vigorosa expansão no volume das exportações de combustíveis; no segundo, apesar do impacto dos ataques terroristas de 11 de setembro sobre a indústria aeronáutica, o volume das exportações dos produtos de alta tecnologia vem se recuperando rapidamente desde 2003. Esse fato parece reforçar a idéia de que a apreciação da taxa de câmbio poderia contribuir para o crescimento das exportações daquela categoria, haja vista a alta taxa de crescimento do quantum, conforme observamos na Tabela 2 27. Nas outras categorias de diferenciados, produtos de média-baixa e baixa tecnologia apresentaram taxa de crescimento a partir de 2002 superiores à média do período 1996-2006; por outro lado, o mesmo não ocorreu com os produtos de média-alta tecnologia, cujo crescimento das exportações, nos últimos cinco anos, reduziu-se praticamente à metade quando comparada à última década 28. 4.3. Concentração das exportações 29 4.3.1. Índice Herfindahl-Hirschman (IHH) O Índice Herfindahl-Hirschman (IHH) para as exportações totais do país mostra-nos duas importantes características da pauta exportadora: a alta diversidade dos produtos exportados e a baixa volatilidade do índice de concentração das exportações, conforme observado na Figura 3. A elevada desconcentração das exportações reflete o nível de diversificação da economia nacional e a constância do índice mostra que, no nível agregado, o câmbio parece ter baixa influência sobre a natureza das exportações do país. A partir da série histórica, observamos que, na maior parte da segunda metade dos anos 90, durante o período de apreciação do real, houve leve tendência de desconcentração da pauta. Nos anos seguintes, com exceção do biênio 2000-2001, quando o processo de desvalorização do real já se encontrava em marcha, a pauta continuou se diversificando. A 27 Na literatura encontramos casos semelhantes como Cingapura, cuja maior parte das exportações depende de insumos importados. Para maiores detalhes, ver FANG, LAI AND MILLER (2005). 28 A dinâmica das taxas de crescimento do quantum não indica commoditização da pauta entre 2002-2006. As taxas anuais médias de crescimento do quantum exportado das commodities do agronegócio e dos combustíveis foram muito superiores entre 1996-2001, quando comparadas ao período 2002-2006. Nos produtos diferenciados, aconteceu exatamente o contrário. Em todos os tipos de produtos, com exceção daqueles de média-alta tecnologia, as taxas de crescimento entre 2002-2006, em plena apreciação real, foram muito superiores às que vigoraram no período 1996-2001. 29 Não incluímos combustíveis nesta seção uma vez que boa parte das exportações nessa categoria constitui-se de petróleo bruto. 19

Real ( Concentração (1996=100) Real ( partir do ano passado, verifica-se uma reversão nessa tendência, com aumento do IHH, o qual retornou aos níveis verificados em 2003. Ressalte-se mais uma vez, entretanto, que tais flutuações variam com baixa amplitude de oscilação. Ou seja, o IHH total tem sido relativamente estável ao longo dos anos, o que nos leva a concluir que uma análise mais desagregada faz-se necessária, a fim de analisarmos a evolução das exportações de diferentes categorias de produtos. 0.02 0.02 0.01 0.01 Total 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 190 180 170 160 150 140 130 120 110 100 90 Figura 3: Índices de concentração total e taxa de câmbio efetiva real Fonte: ICONE (com dados da Secex e IPEA) Dentre as commodities existe uma clara desconcentração entre produtos do agronegócio ao longo dos anos, tendência que vem se mantendo, independentemente das variações cambiais. Por outro lado, entre os minerais e metais, o câmbio parece ter maior impacto sobre o nível de concentração das exportações. Entre 2003 e 2006, por exemplo, o IHH passou de 0,074 a 0,089, o equivalente a um aumento de 19,6% na concentração nessa categoria de produtos ( Figura 4). Na Figura 5 observamos que os produtos diferenciados de alta e média alta tecnologia apresentam tendência de concentração entre 1996 e 2001 e posterior redução no IHH na segunda metade da década passada. No primeiro período, o movimento explica-se pelo expressivo crescimento das exportações de aviões dentre os produtos de alta tecnologia. No caso dos produtos de média-alta, o aumento da concentração aparentemente decorre da forte presença de automóveis e máquinas e equipamentos mecânicos. A partir de 2002, 20

verifica-se uma maior tendência de diversificação nessa categoria. Nos últimos dez anos, observou-se tendência de desconcentração média-baixa 30 e baixa tecnologia. Da mesma forma, a Figura 5 não nos permite concluir que exista uma relação direta entre a apreciação real e o aumento da concentração dos produtos diferenciados. No período de apreciação real, a concentração dos produtos de alta tecnologia diminuiu (entre 2002 e 2005), e se manteve a tendência de redução da concentração dos produtos de baixa e médiaalta tecnologia. No caso dos produtos de média-baixa, simplesmente houve interrupção da tendência de queda da concentração em 2004 e 2006. Quando analisamos as exportações no nível dos produtos, observamos que existe tendência de concentração, principalmente entre os diferenciados, independentemente do nível de intensidade tecnológica 31. Como ilustração podemos utilizar o caso dos veículos, cujas exportações talvez estejam se concentrado em poucos modelos, levando a um aumento no índice de concentração dessa categoria. Por outro lado, na avaliação geral das exportações de diferenciados, os automóveis e afins vêm perdendo participação no total, uma vez que a taxa de crescimento da exportação de outros produtos têm sido mais expressiva, propiciando maior pulverização da pauta. As figuras 6 e 7 motram que, entre os produtos diferenciados, a maior concentração tem ocorrido em química orgânica e veículos. Dentre as commodities, a concentração se verifica principalmente com fumo e celulose. Por outro lado, observamos queda na concentração de algumas categorias em commodities (principalmente gasolina, alimentos e metais não-ferrosos) e produtos de menor intensidade tecnológica (couros, papéis e calçados). Em resumo, ainda que haja concentração das exportações nas agregações ao nível do produto, observamos que, por meio de uma abordagem cross-section, a relevância de uma maior gama de produtos exportados na pauta vem aumentando, levando a uma maior 30 Em 2004, houve uma interrupção na tendência de desconcentração entre produtos de média-baixa tecnologia em função das exportações da indústria naval, que totalizaram US$ 1,26 bilhão, em comparação a US$ 194 milhões em 2005. 31 A definição de produto, a qual engloba um conjunto de linhas tarifárias do Sistema Harmonizado (HS), está descrita na seção 3 (metodologia). 21

Real ( Concentração Real ( Concentração (1996=100) Real ( (1996=100) Real ( variedade ao longo das categorias e classes de produtos exportadas, tanto em commodities e como em diferenciados. 0.14 0.12 0.1 0.08 0.06 0.04 0.02 0 Câmbio real Minerais e metais Agronegócio 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 190 180 170 160 150 140 130 120 110 100 90 Figura 4: Índices de concentração das commodities e de taxa de câmbio efetiva real Fonte: ICONE (com dados da Secex e IPEA) 0.24 0.20 Alta Câmbio real 190 180 170 0.16 0.12 0.08 0.04 0.00 Baixa Média-baixa Média-alta 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 160 150 140 130 120 110 100 90 Figura 5: Índices de concentração dos diferenciados e de taxa de câmbio efetiva real Fonte: ICONE (com dados da Secex e IPEA) 22

Índice Herfindahl- Hirschman Prod. de ferro e aço Minério de ferro Plásticos e similares Madeiras Máq. E eq. Mecânicos Grãos e farelos Químicos inorg Etanol Bebidas Jóias e metais prec Aviões Ferro e aço Calçados Metais não-ferrosos Alimentos Papel Gasolina Couros Total Fumo Química org. Automóveis Prod. de madeira Prod. Cerâmicos Metais de base Borracha Telecom Polímeros Têxteis Celulose Manuf. Diversas Total Índice Herfindahl- Hirschman 0.08 0.07 0.06 0.05 0.04 0.03 0.02 0.01 0-0.01 Commodities Diferenciados Figura 6: Variação média anual entre 1996 e 2006 - Produtos com IHH positivo Fonte: ICONE (com dados da Secex e IPEA) 0-0.01-0.02-0.03-0.04-0.05-0.06-0.07-0.08-0.09-0.1 Figura 7: Variação média anual entre 1996 e 2006 - Produtos com IHH positivo Fonte: ICONE (com dados da Secex e IPEA) 23

Concentração das commodities por classe \ Real ( Concentração das commodities -Ttotal \ Real ( 4.3.2. Análise da concentração por variedade de exportações Uma alternativa ao IHH a fim de se analisar a concentração é a contagem dos principais produtos da pauta, em valor exportado 32. Agregadamente, a quantidade de produtos vem decaindo ano a ano: em 1996, 487 linhas tarifárias a seis dígitos correspondiam a 90% do total exportado em valores, número que caiu a 417 em 2006, o equivalente a 7,7% dos produtos segundo o critério ICONE de classificação. Em outras palavras, embora haja um gama cada vez maior de produtos sendo exportados, existe uma tendência de que os principais produtos estejam ganhando maior espaço no comércio exterior brasileiro. Nos últimos três anos, temos visto ligeira concentração dos produtos do agronegócio e desconcentração entre os minérios e minerais (provavelmente devido à inclusão de ferro e aço nessa categoria) entre as commodities. Pelo mesmo critério, com exceção dos produtos de média-alta tecnologia, a quantidade de produtos diferenciados exportados vem decrescendo a partir da segunda metade da última década. 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Combustíveis Agronegócio Minerais e metais 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 Figura 8: Concentração das commodities (barras) e das respectivas classes de produtos (linhas) 33 Fonte: ICONE (com dados da Secex) 140 138 136 134 132 130 128 126 124 122 120 32 Ao nível do HS a 6 dígitos. 33 Contagem de HS a 6 dígitos entre os produtos correpondentes a 90% das exportações totais 24

Concentração dos diferenciados por classe \ Real ( Concentração dos diferenciados - Total 200 180 160 140 120 100 80 60 40 20 0 Média-alta Baixa Alta Média-baixa 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 400 350 300 250 200 150 100 50 0 Figura 9: Concentração dos diferenciados (barras) e das respectivas classes de produtos (linhas) 34 Fonte: ICONE (com dados da Secex) 4.3.3. Quantum importado e concentração das exportações Um exercício interessante seria analisar o impacto das importações sobre a concentração das exportações. Se as importações estivessem positivamente correlacionadas à concentração das exportações, uma possível justificativa seria a atuação do efeito substituição, com parte da produção substituída pela importação de determinados produtos, e conseqüente impacto negativo sobre a diversificação da pauta. No presente caso, apesar da elevada dispersão dos resultados (R 2 = 0,02), verificamos tendência de diminuição da concentração com o aumento do quantum importado. Ou seja, é possível que as importações estejam contribuindo para uma maior diversificação da pauta exportadora, conforme observado na Figura 10. 34 Contagem de HS a 6 dígitos entre os produtos correpondentes a 90% das exportações totais 25

Concentração das exportações 1.4 1.2 1 0.8 0.6 0.4 0.2 0-50 -0.2 0 50 100 150 200-0.4-0.6 Quantum importado Figura 10: Importações e concentração do quantum exportado (valor médio: 1996-2006) Fonte: ICONE (com dados da Secex) 4.4. Vantagens comparativas reveladas 35 A análise das vantagens comparativas pode ser efetuada em três dimensões: pela caracterização das vantagens ou desvantagens das categorias/setores/produtos, pela comparação cruzada entre essas diferentes agregações e finalmente pela avaliação das variações desses índices ao longo do tempo. O presente estudo mostra que, como esperado, as commodities têm mantido índices de vantagens comparativas positivos estáveis na última década. Os produtos diferenciados, por sua vez, apresentaram desvantagem comparativa no mesmo período. As commodities têm se mantido estáveis, enquanto os índices para os produtos diferenciados vêm decrescendo, sobretudo a partir do ano 2000. 35 Os índices de vantagens comparativas reveladas foram calculados somente até 2005, em função da disponibilidade de dados da base UN-COMTRADE. 26

Real ( Índice Balassa (1996=100) Real ( Conforme observado na Figura 11, no grupo das commodities, com exceção dos combustíveis, cuja vantagem comparativa era negativa até a primeira metade da década passada, todos os demais produtos sempre apresentaram índices positivos. 1 0.8 0.6 Agronegócio Câmbio real 190 180 170 0.4 0.2 Minerais e metais 160 150 0 140-0.2-0.4 Combustíveis 130 120-0.6 110-0.8 100-1 90 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 Figura 11: Vantagens comparativas das commodities Fonte: ICONE (com dados da Secex e IPEA) A desagregação dos produtos diferenciados apresentada na Figura 12 permite-nos observar um comportamento bastante distinto entre as diferentes categorias. Por um lado, produtos de média-alta e baixa tecnologia tendem a apresentar vantagens comparativas positivas entre 1996 e 2006. O mesmo não ocorre com os produtos de alta e média-baixa tecnologia, caracterizadas por valores negativos do Índice Balassa no mesmo período. Ainda assim, a posição dos produtos de alta tecnologia melhorou sensivelmente em relação ao início do período, apesar do declínio após os ataques de 11 de setembro, em função da recuperação das vendas da Embraer e as exportações de celulares a partir de 2003. A Figura 12 mostra, ainda, que a desvalorização real entre 2000 e 2002 não melhorou as vantagens comparativas dos produtos diferenciados, com exceção dos produtos de mediaalta tecnologia. A apreciação real, por sua vez, não alterou a trajetória das vantagens comparativas. 27

Real ( Índice Balassa (1996=100) Real ( 1 0.8 0.6 0.4 0.2 0-0.2-0.4-0.6-0.8-1 Baixa Alta Câmbio real Média-alta Média-baixa 190 180 170 160 150 140 130 120 110 100 90 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 Figura 12: Vantagens comparativas dos diferenciados Fonte: ICONE (com dados da Secex e IPEA) Conforme observado na Figura 13, a maior parte dos produtos com vantagem comparativa está entre as commodities. Similarmente, na Figura 14 vemos que as desvantagens comparativas encontram-se, sobretudo, entre os produtos diferenciados. Outro aspecto relevante é que a maior parte dos produtos cujas vantagens comparativas têm apresentado taxas positivas de variação é classificada como commodities, ao passo que as vantagens comparativas da maioria dos produtos diferenciados vêm decrescendo ao longo da última década. Em outras palavras, produtos que na última década apresentavam Índice Balassa positivos tendem a ampliar suas vantagens comparativas e vice-versa para produtos que apresentaram desvantagens comparativas. Tal fato deve ser interpretado com ressalvas por dois motivos: 1) a queda nos índices de vantagens comparativas não significa redução nos exportações de determinados produtos, mas pode estar relacionada à expansão do comércio brasileiro como um todo, que estaria crescendo a um ritmo mais acelerado do que certos conjuntos de produtos diferenciados; 2) a maior expansão das exportações mundiais dos produtos que o Brasil vem embarcando que, apesar do crescimento em valores exportados, não têm acompanhado o ritmo de crescimento do comércio mundial. Por outro lado, a perda de vantagens comparativas dos diferenciados parece não estar associada ao câmbio. De fato, a tendência de redução das vantagens comparativas independe de processos de apreciação ou depreciação. Ainda assim, não deixa de ser 28

Índice Balassa (valor médio 1996-2006) Real ( Jóias e metais preciosos Prod. Cerâmicos Químicos inorg. Máq. Equi. Mecânicos Manufat. diversas Química org. Papel Prod. de ferro e aço Polímeros Metais de base Têxteis Plásticos e similares Minério de ferro Aviões Celulose Grãos e farelos Etanol Fumo Metais não-ferrosos Óxido de alumínio Bebidas Gasolina e Gás Calçados Alimentos Ferro e aço Madeiras Prod. de madeira Automóveis Couros Telecom Petróleo bruto Borracha Índice Balassa (valor médio 1996-2006) Real ( preocupante que a maior parte dos produtos cujas taxas de crescimento das vantagens sejam commodities e que a perda de vantagens comparativas concentrem-se, sobretudo, entre os produtos diferenciados. Nesse contexto, a contínua apreciação do câmbio poderá contribuir para a intensificação do padrão de vantagens comparativas das exportações brasileiras. 1 0.9 0.8 0.7 0.6 0.5 0.4 0.3 0.2 0.1 0-2,4% 18,9% 0,5% 9,5% 19,1% -5,7% -5,7% 14,7 % -9,8% 1,5% -3,9% 1,5% -4,0% 1,7% 1,0% Commodities Diferenciados 1,0% 1,6% 46,2% 116,0% -5,2% Figura 13: Vantagens comparativas por produto em ordem crescente Fonte: ICONE (com dados da Secex) -11,0% 1,5% 0-0.1-0.2-0.3-0.4-4,6% -0,3% 2,3% -5,9% -3,9% -4,5% -1,2% -3,4% -0.5-0.6-0.7 Commodities Diferenciados -4,4% -0,6% Figura 14: Desvantagens comparativas por produto em ordem crescente (valor médio 1996-2006) Fonte: ICONE (com dados da Secex) 29

Tabela 3: Índices de vantagens comparativas reveladas das commodities Categoria Produto 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 Média (96-06) Taxa de variação (96-06) Bebidas 0.68 0.69 0.67 0.65 0.55 0.45 0.50 0.46 0.40 0.44 0.55-9.8% Etanol 0.73 0.51 0.44 0.75 0.53 0.72 0.83 0.78 0.90 0.89 0.71 19.1% Alimentos 0.41 0.38 0.36 0.40 0.35 0.44 0.43 0.42 0.44 0.42 0.40 1.5% Outros produtos -0.33-0.42-0.51-0.43-0.47-0.33-0.42-0.36-0.32-0.31-0.39 2.6% agrícolas Agricultura Celulose 0.75 0.70 0.73 0.81 0.79 0.75 0.72 0.77 0.73 0.72 0.75-0.5% Sementes e farelos 0.55 0.76 0.70 0.63 0.72 0.79 0.78 0.80 0.83 0.78 0.73 9.5% Fumo 0.75 0.73 0.75 0.65 0.56 0.56 0.61 0.60 0.61 0.66 0.65-5.7% Produtos de madeira 0.35 0.23 0.32 0.35 0.34 0.32 0.33 0.34 0.39 0.36 0.33 1.7% Total - agricultura 0.47 0.48 0.46 0.47 0.42 0.46 0.46 0.47 0.48 0.45 0.46-0.2% Óleo e gasolina 0.57 0.45 0.45 0.58 0.40 0.65 0.47 0.53 0.51 0.59 0.52 1.5% Combustíveis Outros combustíveis -0.84-0.90-0.91-0.89-0.83-0.88-0.80-0.85-0.86-0.79-0.85 5.7% Petróleo cru -0.68-0.86-0.91-0.98 0.04 0.60 0.78 0.82 0.88 0.91 0.06 116.0% Total - combustíveis -0.17-0.35-0.39-0.23-0.04 0.33 0.39 0.41 0.42 0.54 0.09 26.3% Óxido de alumínio 0.25 0.36 0.46 0.55 0.71 0.67 0.44 0.73 0.71 0.73 0.56 14.7% Minério de ferro 0.98 0.94 0.94 0.96 0.95 0.95 0.93 0.95 0.95 0.96 0.95-2.4% Metais não-ferrosos 0.71 0.66 0.65 0.71 0.68 0.57 0.58 0.54 0.63 0.53 0.63-5.7% Minerais e metais Outros minerais e metais -0.16-0.27-0.33-0.18-0.17-0.24-0.23-0.21-0.19-0.24-0.22 0.4% Ferro e aço 0.49 0.39 0.40 0.43 0.40 0.33 0.37 0.36 0.30 0.29 0.38-4.0% Total - minerais e metais 0.51 0.42 0.44 0.48 0.45 0.39 0.41 0.40 0.36 0.36 0.42-3.1% Total - commodities 0.46 0.44 0.43 0.45 0.41 0.43 0.44 0.44 0.44 0.43 0.44-0.4% Fonte: ICONE (com dados da SECEX) 30

Categoria Alta tecnologia Média alta tecnologia Média-baixa tecnologia Baixa tecnologia Tabela 4: Índices de vantagens comparativas reveladas dos produtos diferenciados Produto 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 Média (96-06) Taxa de variação (96-06) Aviões 0.33 0.57 0.71 0.83 0.93 0.91 0.88 0.80 0.88 0.83 0.77 18.9% Outros alta -0.64-0.66-0.62-0.58-0.58-0.59-0.66-0.71-0.71-0.70-0.65-3.5% Celulares -0.91-0.40-0.20 0.14 0.52 0.56 0.57 0.54 0.36 0.62 0.18 46.2% Total alta -0.59-0.56-0.45-0.32-0.15-0.17-0.26-0.38-0.38-0.33-0.36 6.5% Química inorgânica 0.03-0.12-0.15-0.10-0.06-0.17-0.17-0.16-0.20-0.28-0.14-4.6% Máquinas e equipamentos -0.22-0.19-0.20-0.23-0.25-0.28-0.24-0.20-0.23-0.21-0.23-0.3% Química orgânica -0.17-0.17-0.16-0.18-0.18-0.32-0.26-0.31-0.38-0.40-0.25-5.9% Outros - média-alta -0.46-0.48-0.48-0.50-0.51-0.51-0.53-0.53-0.55-0.53-0.51-2.4% Polímeros -0.35-0.34-0.38-0.36-0.29-0.41-0.42-0.35-0.40-0.39-0.37-1.2% Veículos 0.12 0.28 0.30 0.17 0.23 0.19 0.15 0.21 0.26 0.29 0.22 1.0% Total - média-alta -0.22-0.17-0.16-0.22-0.21-0.25-0.24-0.21-0.22-0.19-0.21-0.7% Artigos de ferro e aço -0.29-0.27-0.30-0.33-0.34-0.33-0.30-0.42-0.43-0.47-0.35-4.5% Produtos de metais -0.34-0.29-0.32-0.39-0.40-0.37-0.43-0.37-0.46-0.43-0.38-3.4% Vidros e cerâmicas -0.10-0.06-0.05-0.06-0.06-0.11 0.00-0.01-0.03-0.02-0.05 1.5% Joalheria 0.34 0.23 0.00 0.06 0.00-0.07-0.13-0.26-0.12-0.20-0.02-11.0% Outros - média-baixa -0.58-0.59-0.60-0.73-0.71-0.69-0.72-0.74-0.28-0.67-0.63 0.2% Plásticos -0.63-0.61-0.60-0.62-0.60-0.58-0.63-0.62-0.63-0.63-0.61-0.6% Borrachas 0.07 0.06 0.06 0.08 0.07 0.01-0.04-0.07-0.14-0.14 0.00-5.2% Total - médio-baixa -0.26-0.27-0.30-0.33-0.33-0.35-0.35-0.39-0.31-0.41-0.33-2.9% Calçados 0.55 0.55 0.51 0.48 0.54 0.52 0.48 0.46 0.43 0.38 0.49-3.9% Peles e couros 0.16 0.20 0.19 0.17 0.20 0.22 0.30 0.28 0.22 0.19 0.21 1.6% Manufaturas diversas -0.26-0.27-0.33-0.27-0.22-0.26-0.22-0.21-0.18-0.22-0.24 2.3% Outros - baixa -0.75-0.81-0.80-0.78-0.70-0.74-0.82-0.81-0.82-0.84-0.79-3.9% Papel -0.23-0.23-0.24-0.23-0.26-0.29-0.32-0.31-0.38-0.38-0.29-3.9% Têxteis -0.45-0.50-0.53-0.53-0.54-0.55-0.59-0.57-0.60-0.63-0.55-4.4% Móveis 0.34 0.28 0.18 0.33 0.31 0.30 0.36 0.35 0.38 0.24 0.31 1.0% Total baixa -0.14-0.18-0.21-0.18-0.17-0.18-0.20-0.21-0.22-0.28-0.20-2.0% Total - diferenciados -0.27-0.25-0.24-0.25-0.21-0.23-0.25-0.27-0.26-0.27-0.25-0.3% Fonte: ICONE (com dados da SECEX) 31