Junho de 2015 Cotação do açúcar deve seguir em baixo patamar, refletindo elevado nível de estoques globais Priscila Pacheco Trigo Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos O nível de estoques de açúcar deve permanecer em elevado patamar neste ano, segundo o levantamento da safra 2015/16, divulgado recentemente pelo departamento de agricultura dos Estados Unidos (USDA na sigla em inglês). O levantamento aponta que os estoques globais serão reduzidos em apenas oito mil toneladas, diante tanto da retração da produção quanto da expansão do consumo. China, Europa e Índia contribuirão positivamente para a menor produção global, enquanto Brasil e Tailândia deverão registrar algum incremento da produção de açúcar. Em termos de consumo, destaque para a expansão na Índia. Se confirmadas as projeções, a relação estoque consumo deverá ceder, mas se manterá em nível ainda elevado, dado o tamanho dos estoques acumulados nos últimos anos. Dessa forma, as cotações internacionais deverão permanecer em baixo patamar, como os preços futuros têm apontado. Fonte e (*) Projeção: USDA Elaboração: Bradesco 182.000 172.000 162.000 152.000 148.516 144.860 142.409 142.789 140.726 142.967 142.000 138.947 139.600 134.270134.454 132.000 130.632 129.895 122.000 112.000 mil ton 00/01 01/02 Produção Consumo 02/03 03/04 04/05 Produção mundial x consumo mundial de açúcar 1997 2012 05/06 144.014 No último mês, o USDA divulgou sua primeira estimativa para a oferta e demanda de açúcar na safra 2015/16. A produção deve atingir 173,4 milhões de toneladas, ante 174,3 milhões registrados na safra anterior. Para tal, a produção somada de Índia, China e Europa deve chegar a 1,86 milhão de toneladas a menos nesta safra. Com isso teremos a terceira retração consecutiva da produção de açúcar. Sem impacto de quebra de safra por conta de problemas climáticos, os preços internacionais seguem mais baixos, em razão dos elevados estoques gerados em anos anteriores. A demanda, por sua vez, subirá 1,6%, passando de 170,6 milhões para 173,4 milhões entre a safra anterior e esta. Nesse caso, Índia, China e Paquistão serão responsáveis pelo incremento de 1,55 milhão de toneladas no consumo global. 177.550 175.563 174.308 172.359 173.405 173.413 170.600 164.920 166.724 164.526 163.536 162.219 159.365 153.368 150.411 152.037 153.488 154.381 155.403 06/07 07/08 08/09 09/10 10/11 11/12 12/13 13/14 14/15 15/16* Produção e consumo mundiais de açúcar em mil toneladas Fonte: USDA 1
Produção e consumo mundial de açúcar Produção Consumo 2013/14 2014/15 2015/16 Estimativa Var absoluta última safra Var % última safra Participação mundial Brasil 37.800 35.850 36.000 150 0,4% 20,8% Índia 26.605 29.483 29.050-433 -1,5% 16,8% União Europeia 16.020 16.750 15.500-1.250-7,5% 8,9% Tailândia 11.333 10.970 11.400 430 3,9% 6,6% China 14.263 11.000 10.820-180 -1,6% 6,2% Estados Unidos 7.676 7.735 7.665-70 -0,9% 4,4% México 6.382 6.360 6.360-0,0% 3,7% Paquistão 5.630 5.230 5.430 200 3,8% 3,1% Mundo 175.563 174.308 173.405-903 -0,5% 100,0% Índia 26.000 27.000 28.000 1.000 3,7% 16,1% União Europeia 18.500 18.700 18.800 100 0,5% 10,8% China 16.500 17.400 17.700 300 1,7% 10,2% Brasil 11.260 11.300 11.400 100 0,9% 6,6% Estados Unidos 10.722 10.758 10.873 115 1,1% 6,3% Rússia 5.400 5.700 5.800 100 1,8% 3,3% Indonésia 5.450 5.500 5.550 50 0,9% 3,2% Paquistão 4.500 4.700 4.950 250 5,3% 2,9% Mundo 166.724 170.600 173.413 2.813 1,6% 100,0% Fonte: USDA Com esse cenário, seria de esperar alguma elevação dos preços internacionais, mas como dissemos anteriormente, nos últimos anos houve uma elevação dos FONTE: estoques, USDA e NYBOT gerados ELABORAÇÃO: entre BRADESCO as safras 2010/11 e 2014/15. Os estoques atingiram 44,3 milhões de toneladas na safra passada, o que representou 26% Relação estoque consumo mundial de açúcar 1991-2012 Projeção de estoque e consumo: USDA Projeção de preço: média dos preços futuros do consumo mundial. Ao mesmo tempo, as cotações internacionais do açúcar saíram de uma média anual de US$ 27,14 cents US$ a c / libra peso em 2011 para US$ 16,34 cents a libra peso no último ano. No mês passado, os preços atingiram o valor mais baixo desde 2009, US$ 11,87 cents a libra peso. 31,0% 29,0% 27,0% 25,0% 23,0% 22,3% 12,5421,7% 12,13 20,8% 21,0% 20,2% 19,0% 17,0% 15,0% Relação Estoque Consumo Preços Internacionais 19,2% 24,9% 23,8% 22,4% 26,3% 28,3% 6,16 29,8% 27,2% 8,34 29,1% 6,44 27,5% 23,9% 21,7% 26,2% 14,64 28,1% 22,36 27,14 19,9% 9,91 19,0% 18,2% 25,8% 26,4% 26,0% 90/91 91/92 92/93 93/94 94/95 95/96 96/97 97/98 98/99 99/00 00/01 01/02 02/03 03/04 04/05 05/06 06/07 07/08 08/09 09/10 10/11 11/12 12/13 13/14 14/15 A estimativa de produção e consumo do USDA para a safra 2015/16 indica que os estoques devem passar para 40,5 milhões de toneladas, com a relação estoque consumo chegando a 23,4%. Ou seja, queda ainda insuficiente para pressionar os 22,1% 16,34 23,4% 30,0 25,0 20,0 15,0 13,50 10,0 5,0 0,0 Relação estoque consumo mundial e preços internacionais de açúcar (US$ cents / libra peso) Fonte: NYBOT e USDA preços internacionais para cima. Dessa forma, os preços futuros indicam elevação sutil ao longo deste ano, passando de US$ 12,7 cents a libra peso em maio para US$ 14,33 cents a libra peso em dezembro deste ano. 2
Em US$ cents por libra peso Preços internacionais de açúcar NYBOT Preço futuro 1º Vencto 2000 2013 Fonte: Bloomberg Elaboração: Bradesco 35,0 30,0 28,4 32,1 29,5 Preços internacionais de açúcar Futuro 1º vencimento 25,0 24,9 20,0 21,9 17,7 15,0 13,1 14,6 15,4 14,3 12,9 10,0 jan/08 11,3 jan/09 jan/10 jan/11 jan/12 jan/13 jan/14 jan/15 dez/15 Fonte: NYBOT/Bloomberg Para o Brasil, o cenário de preços em baixo patamar também desincentivou a indústria sucroalcooleira a ampliar de forma significativa a produção de açúcar. Ainda assim, a maior parte do incremento da produção de cana-de-açúcar (que deverá atingir 654,6 milhões de toneladas na safra 2015/16) será destinada à produção de Fonte açúcar, e (*) Projeção: segundo Conab Elaboração: a Conab Bradesco 1. De fato, enquanto a produção de açúcar deverá crescer 5,0%, a de etanol deve subir apenas 1,9%. Aqui, o movimento pode ser Produção nacional de açúcar e de etanol 1993 2013 explicado pela desvalorização da taxa de câmbio, lembrando que 65% da produção nacional de açúcar é destinada ao mercado externo. Ou seja, mesmo com as cotações internacionais em queda, os preços em reais do açúcar para o produtor estão 3,4% maiores nos primeiros cinco meses deste ano, comparado ao mesmo Açúcar em mil toneladas Etanol em mil litros período de 2014. Assim, em 2015, as exportações de açúcar deverão subir ao patamar de 2013, quando foram exportadas mais de 27 milhões de toneladas. 43.000 36.000 AÇÚCAR ÁLCOOL 38.168 35.968 37.878 35.560 37.354 Produção nacional de açúcar e etanol em milhões de toneladas 29.000 27.500 27.595 28.660 29.199 25.763 22.000 19.380 23.640 15.00012.692 11.700 8.000 93/94 94/95 95/96 96/97 13.078 97/98 98/99 99/00 16.020 10.518 00/01 01/02 02/03 14.640 03/04 04/05 05/06 06/07 23.007 O principal risco para a concretização desse cenário está associado ao clima. Há um mês, o El Niño foi decretado pelos institutos oficiais na Austrália, nos Estados Unidos e no Japão 2. Esses períodos são normalmente associados ao aumento de chuvas no 07/08 08/09 09/10 10/11 11/12 12/13 13/14 14/15 15/16* Fonte: CONAB Centro-Sul brasileiro. Ademais, o fenômeno pode enfraquecer as monções na Índia, que provocam fortes chuvas entre junho e agosto. Por ora, a intensidade de fraca a moderada do El Niño está garantindo estimativa de produção recorde de cana-de-açúcar 1 A Conab Companhia Nacional de Abastecimento realiza três levantamentos para a safra anual de cana, sendo o 1º em abril, o 2º em agosto e o último em dezembro. A safra tem início de colheita em abril na região Centro-Sul e em setembro no Nordeste. 2 Instituto de Meteorologia do Governo Australiano, Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA na sigla em inglês) e a Agência Meteorológica do Japão. 3
no Brasil. O impacto agora é praticamente nulo, já que é esperado apenas um pequeno atraso nas monções da Índia. Se a intensidade do fenômeno passar para forte, como alguns meteorologistas têm apontado, isso poderá se traduzir em interrupção da colheita e/ ou alteração no teor de sacarose da cana-de-açúcar (ATR) nos maiores produtores de açúcar. Isso reduziria a relação estoque consumo, pressionando os preços para cima. É claro que o elevado estoque mundial impede que os preços atinjam o patamar observado no final de 2011, quando chegaram ao pico de US$ 32 cents por libra peso. Em suma, a estimativa de redução do estoque de açúcar neste ano não será suficiente para garantir elevação relevante dos preços internacionais do produto, dado o atual patamar de estoque. Isso é o que a curva de preços futuros está, de fato, indicando. No Brasil, os baixos preços internacionais estão sendo compensados pela depreciação do real, de maneira que o incremento na colheita de cana-de-açúcar deve se voltar para a produção de açúcar. De qualquer forma, a ocorrência do fenômeno El Niño neste ano aumenta a probabilidade de menor colheita de canade-açúcar em dois grandes produtores internacionais (Brasil e Índia), o que implicaria um ajuste maior nos estoques mundiais. Assim, o monitoramento ao longo das próximas semanas será crucial para a definição do tamanho da atual safra de açúcar e, consequentemente, dos preços praticados no mercado internacional. 4
Perfil do setor A produção mundial de açúcar deve somar 173,4 milhões de toneladas na safra 2015/16. O Brasil é o maior produtor, respondendo por 20,8% da produção mundial. Está seguido por Índia (16,8%), União Europeia (8,9%), Tailândia (6,6%) e China (6,2%). Ademais, as exportações brasileiras representam 43% do comércio internacional, seguido pela Tailândia, com 14,9%. O consumo global está estimado em 173,4 milhões de toneladas, sendo a Índia a principal consumidora, com 16% do consumo global. Na sequencia, União Europeia (10,8%) e China (10,2%) também seguem como importantes consumidores. O Paquistão representa 2,9% do consumo mundial. Entre os maiores importadores, destaque para Estados Unidos (6,5%), União Europeia (6,1%), Indonésia (6,1%) e Emirados Árabes (4,7%). O Brasil exporta 65% do açúcar que produz, sendo 75% em bruto e 20% refinado. Os principais mercados de destino do açúcar bruto produzido no Brasil são: China (10%) e Argélia (9%). Para o açúcar refinado os principais mercados são os países árabes e africanos. A produção de açúcar está concentrada em São Paulo (62%), seguido por Minas Gerais (9%), Paraná (8%) e Alagoas (6%). 5
Equipe Técnica Octavio de Barros - Diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos Marcelo Cirne de Toledo - Superintendente executivo Economia Internacional: Fabiana D Atri / Felipe Wajskop França / Thomas Henrique Schreurs Pires Economia Doméstica: Igor Velecico / Andréa Bastos Damico / Ellen Regina Steter / Myriã Tatiany Neves Bast Análise Setorial: Regina Helena Couto Silva / Priscila Pacheco Trigo / Leandro de Oliveira Almeida Pesquisa Proprietária: Fernando Freitas / Leandro Câmara Negrão / Ana Maria Bonomi Barufi Estagiários: Ariana Stephanie Zerbinatti / Thomaz Lopes Macetti / Victor Hugo Carvalho Alexandrino da Silva / Davi Sacomani Beganskas / Ives Leonardo Dias Fernandes / Henrique Neves Plens / Mizael Silva Alves O BRADESCO não se responsabiliza por quaisquer atos/decisões tomadas com base nas informações disponibilizadas por suas publicações e projeções. Todos os dados ou opiniões dos informativos aqui presentes são rigorosamente apurados e elaborados por profissionais plenamente qualificados, mas não devem ser tomados, em nenhuma hipótese, como base, balizamento, guia ou norma para qualquer documento, avaliações, julgamentos ou tomadas de decisões, sejam de natureza formal ou informal. Desse modo, ressaltamos que todas as consequências ou responsabilidades pelo uso de quaisquer dados ou análises desta publicação são assumidas exclusivamente pelo usuário, eximindo o BRADESCO de todas as ações decorrentes do uso deste material. Lembramos ainda que o acesso a essas informações implica a total aceitação deste termo de responsabilidade e uso. A reprodução total ou parcial desta publicação é expressamente proibida, exceto com a autorização do Banco BRADESCO ou a citação por completo da fonte (nomes dos autores, da publicação e do Banco BRADESCO). 6