PARA QUE E PARA QUEM A ESCOLA CAPITALISTA SERVE? Um olhar sob à luz da teoria Marxiana do valor

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Direitos fundamentais propriedade. João Miguel da Luz Rivero Fundamento constitucional

Transcrição:

1 3º ENCONTRO DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE SERGIPE A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO NA FORMAÇÃO DO PROFESSOR PARA QUE E PARA QUEM A ESCOLA CAPITALISTA SERVE? Um olhar sob à luz da teoria Marxiana do valor Autora: Guadalupe de Moraes Santos Silva Co-autora: Ada Augusta Celestino Bezerra ARACAJU 2010

2 PARA QUE E PARA QUEM A ESCOLA CAPITALISTA SERVE? UM OLHAR SOB À LUZ DA TEORIA MARXIANA DO VALOR Guadalupe de Moraes Santos Silva INTRODUÇÃO Este artigo tem como objetivo principal, fazer uma análise da escola na sociedade capitalista, à luz da teoria do valor em Marx. Neste sentido, o estudo dos conceitos encontrados na teoria marxiana do valor são de fundamental importância para entendermos como o sistema capitalista se apropria das ações do homem, em geral. Em tempo, justifica-se, por contribuir para discutirmos as influências que a escola recebe das políticas educacionais capitalistas, para atender aos requisitos desse tipo de sociedade. UM BREVE OLHAR SOBRE A TEORIA DO VALOR EM MARX Marx estudou o modo de produção capitalista e as relações de produção decorrentes dele, onde as questões mais importantes referem-se às contradições sociais do sistema capitalista. Para Marx a mercadoria é o centro da econômica da sociedade capitalista, por esta razão passou a ser o seu principal objeto de estudo, uma vez que, ela é o produto do trabalho humano, expressando-se na forma de valor de uso e de valor. Assim, a mercadoria, adquire valor não pelas suas propriedades naturais, mas por causa das relações sociais de produção que se estabelecem entre elas. O valor de uma mercadoria, na concepção de Marx, é determinado pelo tempo de trabalho socialmente necessário para produzi-la, é trabalho humano incorporado num produto. O trabalho humano torna-se indispensável na constituição do valor da mercadoria. Sem ele, as

3 coisas não teriam valor. Essa nivelação por cima significa mais exploração do trabalhador, uma vez que ele terá de acompanhar o ritmo da máquina e dos outros operários, desrespeitando as diferenças individuais. Assim, o valor individual de uma mercadoria tende a coincidir com o valor médio social, isto é, com a quantidade de trabalho médio aplicado na produção das mercadorias, valor médio ou social das mercadorias se manifesta no preço. Dessa forma, o valor se mostra através do preço das mercadorias. Marx (1982, p.24) divide o valor em valor de uso (que refere-se à utilidade da mercadoria e relaciona-se com aspecto qualitativo) e valor de troca (refere-se à capacidade que uma mercadoria tem de ser trocada por outra, relaciona-se com o aspecto quantitativo). A mercadoria é de início um objeto externo, uma coisa que satisfaz para seus proprietários uma necessidade humana qualquer. Toda coisa útil, tal como o ferro, o papel etc, deve ser considerada sob um duplo aspecto: a qualidade e quantidade. Cada uma é um conjunto de qualidades numerosas e pode ser útil às mais diversas finalidades. É a utilidade de uma coisa que lhe dá valor de uso. Mas essa utilidade não surge no ar. É determinada pelas propriedades físicas das mercadorias e não existe sem isso. A mercadoria em si, tal como o ferro, o trigo, o diamante etc, é pois, um valor de uso. (Marx, 1982, p.24) Na sociedade capitalista, a mercadoria- no processo de troca- aparece personificada como coisa (personificação das coisas), e tem o poder de comandar as relações entre as pessoas, o que Marx denomina de reificação das relações de produção, onde as relações entre as pessoas mostram-se como relações entre coisas. A personificação das coisas e a reificação das relações de produção, são processos do fetichismo da mercadoria. Para Rubin (1987:77) a idéia central da teoria do fetichismo da mercadoria não é a de que a economia política desvenda relações de produção entre pessoas por trás das categorias materiais, mas a de que numa economia mercantil-capitalista essas relações entre pessoas

4 adquirem necessariamente uma forma material, e só podem ser realizadas sob esta forma. O homem, no processo de produção deste tipo de sociedade, não se apropria do produto do seu trabalho, o produto do seu trabalho é alienado, só o que lhe resta, então é vender sua força de trabalho, pois é a única mercadoria que possui. Tudo pertence ao capitalista, desde a matéria prima até o produto final. Não se contentando, o capitalista, ainda, explora o trabalhador, e o obriga a uma rotina de trabalho excedente, produzindo mais-valia. A apropriação do trabalho excedente pode ser dividida em mais-valia absoluta ou relativa. A mais-valia absoluta é uma das formas do capitalista aumentar a exploração sobre o trabalhador, pois aumenta a jornada de trabalho e a intensidade com que o mesmo trabalho se realiza. A mais-valia relativa corresponde ao aumento da produtividade do trabalho na produção dos meios de vida do trabalhador e, portanto, no barateamento de sua força de trabalho. Na produção capitalista, o acumulo resultante da exploração da mais-valia é o que gera mais riqueza para o capitalista. O conceito de homem, adotado por Marx, é de um ser de vontade, por esta razão é sujeito; o homem é ao mesmo tempo natureza e transcendência da natureza produz cultura, escrevendo a sua própria história. O homem se diferencia dos animais, pois realiza suas vontades através do trabalho. Porém, na sociedade capitalista, este conceito não condiz com a realidade, o trabalho passa a ser fim, e não o meio.. Inserida neste contexto, e partindo do conceito de homem histórico desenvolvido pelo marxismo, entende-se a educação como um processo de atualização histórica do homem (Paro, 2001:21). Dessa forma, pode-se pensar que a educação pode produzir o homem histórico, livre, ético, e movido pela sua própria vontade, vontade esta realizada através do trabalho alienado. No entanto, o que se observa na sociedade capitalista é que a educação, e mais especificamente a escola, têm servido ao capital. A escola tem servido ao capital, tanto ao propor estratégias pedagógicas adequadas à ideologia capitalista contemporânea quanto ao propiciar para a grande maioria de seus alunos uma educação medíocre (Paro, 2002: 107).

5 ESCOLA (CAPITALISTA) PARA QUEM E PARA QUÊ? Para Leontiev (1978), o homem é um ser de natureza social e tudo o que tem de humano nele é resultado da sua vida em sociedade, no seio da cultura criada pela humanidade. O homem, historicamente, desenvolve a educação por meio da aprendizagem coletiva, ele cria e recria cultura. A educação, na sociedade dividida em classes, é uma ferramenta utilizada para formar o homem alienado e aprisionado pelas leis do sistema capitalista. Tanto na escola como na vida, a educação burguesa é um instrumento de dominação de classe, tendo seu poder localizado sobretudo na capacidade de reprodução adequadas à reprodução dos interesses e do poder burguês (PIRES, 2003, p. 47). Marx entendia a educação de forma socializada e igualitária para todos; ele acreditava que a educação era controlada e usada pelas classes dominantes. Marx era contrário a educação oferecida pela classe burguesa, pois não acreditava nos conteúdos oferecidos no currículo escolar, opondo-se a qualquer currículo baseado em distinções de classe. Nessa perspectiva, historicamente a escola pública, sempre foi vista como instrumento para manutenção da dominação. Frigotto (1996, p. 44) afirma que: a escola é uma instituição social que mediante suas práticas no campo do conhecimento, valores, atitudes e mesmo por sua desqualificação, articula determinados interesses e desarticula outros capitalista, a educação é utilizada para a obtenção de pseudos investimentos, os quais podem ser considerados puramente como empréstimos que mantém a subordinação. A escola capitalista, porque sempre preparou para viver na sociedade do capital, sem contestá-la, sempre preparou para o trabalho (Paro, 2001ª: 24). A escola apresenta um caráter contraditório, ao mesmo tempo que propaga os interesses burgueses, também possibilita à classe trabalhadora a compreensão da realidade em que está inserido.

6 A escola vem sendo substancialmente negada em seu papel educativo. E para que possa ser instrumento de transformação social, é urgente que haja um movimento de afirmação da escola enquanto instância privilegiada de apropriação do saber (Paro, 2002: 112). Importante salientar que, é com a maquinaria que se efetiva a alienação, como salienta Marx (1987, p. 243) utiliza-se a maquinaria, para transformar o trabalhador desde a infância, como parte de uma máquina parcial. Para Marx o trabalho é fator chave na construção do homem, por isso ele não pode ter caráter alienante, pois influenciará negativamente as outras áreas da vida. Assim, a educação e o trabalho, estão relacionados e são categorias essenciais na construção do processo educativo do humano. Dessa forma, os conceitos desenvolvidos pela tradição marxiana são fundamentais na compreensão da educação na sociedade capitalista. Para Manacorda,(2000: 44) o trabalho é um termo historicamente determinado, que indica a condição da atividade humana no que denomina economia política, ou seja, a sociedade fundada sobre a propriedade privada dos meios de produção e a teoria ou ideologia que a expressa. A educação é um reflexo da política adotada em um país e do interesse desse país em coordená-la, é um dos maiores instrumentos de dominação em massa dentro de um sistema. Em todas as classes sociais se cria e recria culturas populares, as quais têm uma lógica e um direcionamento nas formas de educação do homem. Para Paro (2001b: 21) educação é, pois, atualização histórica de cada indivíduo, e o educador é o mediador que serve de guia para esse mundo praticamente infinito de criação. Pensar uma educação diferenciada, requer dos profissionais que atuam na área, a consciência de que se educa para que se desempenhem novas funções e novos papéis em uma sociedade que também precisa se renovar, possibilitando ao homem meios para a promoção da renovação social, cultural, econômica, pois só se promoverá uma mudança na educação se estas estruturas também forem mudadas. Se faz necessário uma revolução cultural para que se alcance uma revolução educacional, onde os agentes diretos (professores e alunos) estejam diretamente envolvidos,

7 compromissados com esse processo de mudança. Os profissionais da educação devem buscar a capacitação para exercerem a práxis pedagógica de qualidade, possibilitando a reflexão, a criação e o entendimento social. Delors (2004:82) lembra: Um dos principais papéis reservados à educação consiste antes de tudo, dotar a humanidade de capacidade de dominar o seu próprio desenvolvimento. Ela deve, de fato, fazer com que cada um tome o seu destino nas mãos e contribua para o progresso da sociedade em que vive, baseando o desenvolvimento na participação responsável dos indivíduos e das comunidades. CONCIDERAÇÕES FINAIS Segundo Marx, do sistema fabril brotaria o germe da educação do futuro, que haveria de conjugar, para todas as crianças acima de certa idade, trabalho, ensino e ginástica, não só como meio de elevar a produção social, mas como único método capaz de produzir seres humanos desenvolvidos em todas as dimensões (Marx, 1985: 86). Com base nas idéias de Marx entende-se que educar não é um processo individual, mas é um desafio social. A superação de uma sociedade voltada à produção aos bens de consumo, e para o lucro indiscriminado, é uma ação fundamental e necessária, pois o ser humano precisa ser visto e compreendido em sua totalidade. A educação precisa ser repensada, assim como a ação dos principais atores desse palco. Sabe-se que a escola é uma das partes integrantes do sistema capitalista e, por conta disso, a sua atuação como fonte de mudanças sociais fica restrito e vigiado pelo poder político burguês. Apenas com a reforma do sistema político e econômico o ensino poderá ter algum efeito na emancipação dos menos favorecidos.

8 Neste sentido, Marx contribuiu para a educação do homem moderno, em sua teoria educacional, buscando entender o homem de forma integral. O homem precisa sair da préhistória, como Marx afirma, para dar um salto em direção a construção da sua história e emancipação. Neste sentido, a educação é ponto crucial para alcançarmos uma nova sociedade, mais justa e igualitária, e menos discriminatória e cruel.

9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DELORS, Jacques. Educação: um tesouro a descobrir. 9. ed. São Paulo: Cortez, Brasília, DF: MEC, UNESCO, 2004. FRIGOTTO, G. Educação e a crise do capitalismo real. 2. Ed. São Paulo: Cortez, 1996. LEONTIEV, A. O desenvolvimento do psiquismo. Lisboa: Livros Horizonte, 1978. p. 259-284. MANACORDA, M. A. Marx e a pedagogia moderna. São Paulo: Cortez: Autores Associado, 2000. MARX, K. O Capital: crítica da Economia Política. 11. ed. São Paulo: Bertrand Brasil DIFEL, 1987. l. 1; v.1. PARO, Vitor H(org.). A teoria do valor em Marx e a educação. São Paulo : Cortez, 2006..Administração escolar: introdução crítica. 11. ed. São Paulo: Cortez, 2002 a. PIRES, S. R. de A. Serviço Social : função educativa e abordagem individual. 2003. 336 f. Tese (Doutorado em Serviço Social ) Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2003. RUBIN, Isaak I. A teoria marxista do valor. São Paulo: Polis, 1987.