A UNIVERSALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO E A REPRODUÇÃO DO CAPITAL
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- Gabriella Paixão
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1 ISBN A UNIVERSALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO E A REPRODUÇÃO DO CAPITAL Yohana Graziely de Oliveira Buczek UNESPAR yohanagraziely@gmail.com Osmar Martins de Souza UNESPAR msouza.32@gmail.com Eixo 3: Temas contemporâneos da Educação Resumo: No contexto histórico de crise estrutural, a burguesia busca na esfera do trabalho, a implementação do modelo toyotista como uma possível superação para a crise em curso. A inauguração desse novo padrão produtivo requer transformações na educação dos trabalhadores para que aumentem a produtividade através da implementação da tecnologia e desenvolvam competências necessárias ao processo produtivo. Torna-se então, imprescindível universalizar a educação básica como condição de qualificar a força de trabalho para essa nova forma de acumulação do capital em crise estrutural. Objetivamos nessa pesquisa tecer algumas considerações sobre a relação estabelecida entre a universalização da educação e a necessidade de produção de capital, sem perder de vista os pressupostos da teoria marxiana entre trabalho e educação. Os princípios da teoria marxiana nortearam o desenvolvimento desse estudo. A pesquisa foi desenvolvida por meio da revisão bibliográfica a partir de autores que situam suas análises no campo do marxismo. Esperamos propiciar reflexões a respeito do projeto formativo da burguesia para os trabalhadores, transcritos nas políticas de Educação para todos. Palavras-chave: Crise estrutural do Capital; Universalização da Educação; Qualificação da força de trabalho. Introdução Essa pesquisa foi desenvolvida a partir das discussões do Grupo de Estudos do Espaço Marx da Unespar de Campo Mourão. Buscamos compreender o discurso da universalização da educação, afirmado como um direito de todos nas sociedades democráticas e de que forma a educação institucionalizada foi condicionada a atender determinadas especificidades do processo produtivo, e consequentemente de reprodução do capital. Objetivamos apresentar algumas considerações para a análise do discurso da universalização da educação e a reprodução do capital. Os fundamentos da teoria marxiana nortearam o estudo dessa temática realizada por meio da revisão de literatura de autores que escrevem nessa mesma perspectiva. 691
2 Desenvolvimento A relação entre trabalho e educação na sociedade do capital não se processa de forma linear, e para compreender essa relação e articulação que estabelecem com a reprodução da sociedade de classes é imprescindível fazermos algumas considerações. As crises sofridas pelo capital são inevitáveis por se constituírem parte de seu processo de reprodução. A partir de 1970, dado o desenvolvimento das forças produtivas, experimentamos um novo tipo de crise que perdura até os dias atuais, a qual, Mészáros (2011), denomina crise estrutural do capital. Essa crise, não pode mais ser explicada em termos cíclicos como as anteriores devido sua especificidade de atingir os limites da reprodução do capital. Á medida que os sintomas de crise se multiplicam e sua severidade é agravada, parece muito mais plausível que o conjunto do sistema esteja se aproximando de certos limites estruturais do capital, ainda que seja excessivamente otimista sugerir que o modo de produção capitalista já atingiu seu ponto de não retorno a caminho do colapso (MÉSZÁROS, 2011, p. 41) Esse contexto de crise que inicialmente atinge os países desenvolvidos torna-se mundial a partir de Na esfera do trabalho, a solução encontrada pelo capital para a crise em curso é a implementação do modelo toyotista 1 de produção. O objetivo do Toyotismo é aumentar a produtividade mediante extração da mais-valia relativa com a introdução da tecnologia, no sentido de reduzir o tempo de trabalho necessário para a reprodução da força de trabalho e diminuir o tempo de trabalho excedente no qual é produzido a mais-valia. [...] cabe destacar que na mais-valia relativa o aumento de tempo de trabalho excedente resulta da passagem do trabalho simples para o trabalho complexo, o qual equivale a um múltiplo do trabalho simples executado em idêntica fração de tempo, constituindo, portanto, um acréscimo de tempo de trabalho despendido, ou seja, de valor produzido (BRUNO, 2011, p. 549). Bruno (2011) pontua que essa passagem do trabalho simples para formas mais complexas de organização ocorre mediante a inovação tecnológica dos 1 Ver Antunes (2009). 692
3 meios de produção, entendida como uma necessidade do capital para seu processo de expansão, de forma que [...] o acréscimo de valor produzido se conjuga com o aumento global da produtividade, diminuindo o valor de troca de cada unidade produzida (BRUNO, 2011, p. 549). Dessa forma, surge a necessidade de qualificação da força de trabalho para aumentar a produtividade nessas formas mais complexas de organização do trabalho. Ocorre que a introdução da maquinaria e da tecnologia no processo produtivo tem como consequência uma massa de desempregados, a partir do momento em que O instrumento de trabalho, ao tomar a forma de máquina, logo se torna concorrente do próprio trabalhador. A auto expansão do capital através da máquina está na razão direta do número de trabalhadores cujas condições de existência ela destrói (MARX, 1996 p. 492). Esse exército de reserva também está a serviço constante do capital, [...] cria-se sistematicamente um exército industrial de reserva sempre disponível, dizimado durante parte do ano pelo mais desumano trabalho forçado e, durante a outra parte, degradado pela falta de trabalho (MARX, 1996, p. 672). Compreender a contraditória lógica de produção e reprodução do capital é fundamental para entendermos a função social da educação nessas relações sociais. Marx (1974), compreende o trabalho produtivo na sociedade do capital como [...] o trabalho assalariado que, na troca pela parte variável do capital (a parte do capital despendida em salário), além de reproduzir essa parte do capital (ou o valor da própria força de trabalho), ainda produz mais-valia para o capitalista. Conforme o autor acima referido, é somente a exploração da força de trabalho assalariada que reproduz capital, e nesse processo o trabalhador [...] não só repõe um valor precedente, mas também cria um novo; materializa em seu produto mais tempo de trabalho que o materializado no produto que o mantém vivo como trabalhador. Dessa espécie de trabalho assalariado produtivo depende a existência do capital (MARX, 1974, p. 133). Torna-se imprescindível, conforme Souza (2018), que as análises sobre a educação do trabalhador assalariado não sejam feitas dissociadas da 693
4 relação entre trabalho e capital na sociedade burguesa, visto que, [...] o capital para sobreviver, para reproduzir-se como capital, necessariamente tem que subsumir o trabalhador assalariado produtivo para se apropriar do mais-trabalho (SOUZA, 2018, p. 116). Adotamos esse princípio para a análise da universalização da educação e a necessidade de reprodução do capital. Com o contexto de crise estrutural instaurado, iniciaram-se discussões de âmbito internacional sobre a educação para o século XXI. Dessa forma em 1990, realizou-se a Conferência Mundial de Educação para Todos na Tailândia, financiada por organismos representantes do capital internacional, como a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e Cultura (Unesco) e o Banco Mundial. Nesta Conferência, estabeleceram-se as metas para a universalização da educação com o objetivo de superar as mazelas da humanidade. É válido informar que, após a Conferência de Jontiem, também conhecida como Conferência Geral da Unesco, foi organizada em novembro de 1991, a Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI, a qual o diretor-geral Frederico Mayor convidou Jacques Delors para presidir. [...] O texto Educação: um tesouro a descobrir é o resultado do trabalho dessa Comissão indicada pela Unesco, com o objetivo de refletir sobre educar a aprender para o século XXI (RABELO; JIMENEZ; SEGUNDO, 2015, p. 14). Nesse documento a universalização da educação é propalada como a solução para as mazelas do capital pobreza extrema, guerra, desigualdades sociais, injustiças -, proposição reiterada em outros documentos dos organismos multilaterais para a educação. O Relatório apresenta transcritos nos chamados 4 pilares da educação, as competências e habilidades necessárias para o trabalhador no processo produtivo, sob a ótica da política neoliberal (DELORS, 2012). A Declaração de Dakar, reitera o princípio da universalização da educação, enquanto política de qualificação dos indivíduos para o mercado de trabalho A educação básica demanda o mínimo de conhecimentos e habilidades para que um indivíduo seja capaz de contribuir plenamente para o seu meio ambiente local e estar no controle de sua própria vida. Num universo que se torne a cada dia mais interdependente, está evoluindo o conteúdo e, portanto, a própria ideia de qualidade da educação básica. Já não se pode mais reduzi-la a ler, escrever, fazer contas. Ela, também, tem de ensinar as pessoas a ser, a fazer, a aprender e a viver juntas (UNESCO, 2000, p. 51) 694
5 Com base nesse documento, a universalização da educação encontra-se nos limites da aprendizagem mínima reafirma os quatro pilares da educação como o desenvolvimento de competências e habilidades para o exercício do trabalho. A apropriação dos conhecimentos historicamente produzidos pela humanidade, entendidos como condição de desenvolvimento humano não são citados nesses documentos. Bruno (2011) define a universalização da educação como um conceito que [...] diz respeito a expansão do acesso à educação escolar da quase totalidade das novas gerações de trabalhadores. Embora afirmado como um direito de todos nas chamadas democracias, a universalização tem resultado tanto do interesse dos capitalistas em explorar uma força de trabalho capaz de realizar atividades mais complexas e produtivas, quanto das pressões e lutas das famílias e dos jovens por acesso a níveis superiores de qualificação e aos certificados exigidos pelo mercado de trabalho (BRUNO, 2011, p. 551). Dessa forma, a partir da universalização da educação, é designada a escola a função de formar indivíduos autônomos, flexíveis, criativos, que saibam lidar com conflitos, [...] é fundamental que o aluno saiba transformar o saber escolar em técnicas de trabalho e em comportamento adaptativo aos novos códigos disciplinares (BRUNO, 2011, p. 554). Nesse sentido, compreendemos a formação escolar, ou o projeto formativo colocado em pauta pelo capital, como o projeto educativo ideal para a burguesia para os trabalhadores produtivos. Conforma nos advertia Mészáros (2008), a educação institucionalizada, em seu sentido estrito tem como função a reprodução dos valores e ideias historicamente datadas da classe dominante. Esse quadro se assevera em tempos de crise estrutural, em que as contradições do sistema do capital são intensificadas, a educação dos trabalhadores resume-se aos paradigmas postos nos quatro pilares da Educação, os quais possuem grande articulação com os interesses do capital internacional em período de crise. Conclusão Ao analisarmos os pressupostos em que se fundamentam a universalização da educação dos organismos multilaterais, verificamos que é atribuído ao processo formativo uma educação fragmentada e superficial, baseada no desenvolvimento de competências e habilidades para o trabalho assalariado que 695
6 garante de um lado sua existência enquanto trabalhador e de outro a reprodução do capital em escala ampliada. No discurso da universalização da educação, é negado ao trabalhador a formação omnilateral e ofertado conteúdos coerentes com a reprodução do capitalismo em crise. Dessa forma, enfatizamos que um projeto educacional que contribua com a formação omnilateral dos indivíduos encontra-se diametralmente oposto aos interesses da sociedade produtora de mercadorias. Referências Bibliográficas ANTUNES, Ricardo. Os Sentidos do Trabalho. 10.ed. São Paulo: Boitempo, BRUNO, Lúcia. Educação e desenvolvimento econômico no Brasil. In: Revista Brasileira de Educação, v. 16. n. 48, set/dez, 2011, p Disponível em: < Acesso em 07 de set. de DELORS, Jacques. (Org). Educação um tesouro a descobrir: relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre educação para o século XXI. 7 ed. São Paulo: Cortez, Brasília, DF: UNESCO, KARL, Marx. Teorias da mais-valia: História Crítica do Pensamento Econômico. 2. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, MARX, Karl. O capital: crítica da economia política. 15. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, MÉSZÁROS, István. A educação para além do capital. São Paulo: Boitempo, MÉSZÁROS, István. A crise estrutural do capital. São Paulo: Boitempo, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E CULTURA (Unesco). Educação para todos: o compromisso de Dakar. Senegal: Cúpula Mundial de Educação, Disponível em < Acesso em 07 set Rabelo, Jackline; JIMENEZ, Susana; SEGUNDO, Maria das Dores Mendes. As Diretrizes da Política de Educação para Todos (EPT): rastreando princípios e concepções. In.: Rabelo, Jackline; JIMENEZ, Susana; SEGUNDO, Maria das Dores Mendes (orgs.). O Movimento de Educação para Todos e a crítica marxista. Fortaleza: Imprensa Universitária, SOUZA, Osmar Martins de. A Educação na perspectiva da emancipação do 696
7 trabalho em O Capital de Marx. Tese. Universidade Federal do Ceará,
Palavras-chave: Crise estrutural do Capital; Relatório Delors; Sebrae.
ISBN 978-85-7846-516-2 JOVENS EMPREENDEDORES PRIMEIROS PASSOS: UMA ANÁLISE A PARTIR DAS PROPOSIÇÕES DO RELATÓRIO DELORS Yohana Graziely de Oliveira Buczek UNESPAR Email: yohanagraziely@gmail.com Guilherme
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