O TRABALHO E AS RELAÇÕES COM A CONSTRUÇÃO DO SER SOCIAL
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- Eduardo Guimarães Mascarenhas
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1 O TRABALHO E AS RELAÇÕES COM A CONSTRUÇÃO DO SER SOCIAL Camila Marisa Pereira Greiciane Pereira 1 RESUMO: Propõe-se discutir o papel do trabalho na construção do ser social, bem como sua importância e como esta categoria tem duas dimensões tão opostas, utilizaremos para fundamentar este trabalho os autores: Karl Marx, Mario Alighiero Manacorda, Sérgio Lessa e Gyorgy Lukács, buscamos ainda compreender como a escola, e a educação institucionalizada de forma geral tem servido ao trabalho na lógica do modo de produção capitalista e com isto se distanciando do trabalho como atividade humana emancipadora, trazendo assim a tônica da necessidade latente de um novo projeto de educação e sociedade. PALAVRAS-CHAVE: Trabalho; Ser social; Educação. As discussões acerca do que nos torna humanos, e o que nos difere de outros animais, bem como da natureza, em relativa proporção, tem sido amplamente discutida teoricamente ao longo da história da humanidade, nas mais diversas correntes de pensamento, o pressuposto filosófico adotado para a discussão proposta neste artigo é do materialismo histórico dialético, e, portanto devemos estabelecer algumas das categorias essenciais para compreender este complexo de complexos que é o ser social. Primeiramente há que se compreender a centralidade do trabalho na construção do ser social, sabendo que somos sujeitos históricos e frutos de múltiplas determinações, materiais, históricas e objetivas e que necessitamos produzir os nossos meios de subsistência e reprodução social, dito isto partimos da base material, da necessidade de sobrevivência para a transformação que fazemos na natureza para obter tais condições, este agir, esta capacidade de previamente idealizar o que se pretende concretizar, de selecionar dentre os recursos naturais quais são fundamentais para produzir o que foi teleologicamente planejado, esta atividade humana caracteriza-se como trabalho, no sentido ontológico da construção do ser social, pois sua centralidade reside no fato que este trabalho, amplia as formas de se produzir, novas necessidades e principalmente novas possibilidades, delas descendem outros complexos, a 1 Aluna do Curso de Pedagogia da UNIOESTE (Foz do Iguaçu). greiciane.pereira@gmail.com 1
2 própria consciência é um produto social, pois são determinadas pela base material, as formas de sociabilidade, as relações que são construídas e alteradas ao longo da história estão intrinsecamente ligadas ao modo de produzir de nossa sociedade, vejamos o que diz Tonet (2005, p.218) com relação à categoria do Trabalho: [...] O trabalho é uma mediação entre o homem e a natureza, ao passo que a educação é uma mediação entre o individuo e a sociedade. Não é preciso dizer que, indiretamente, também o trabalho medeia a relação entre indivíduo e a sociedade, assim como a educação medeia a relação entre o homem e a natureza. A educação, contudo, não é a única atividade a mediar àquela relação. Outras também, como a Linguagem, a Arte, a política, o Direito, etc., cumprem essa função. Em nosso entendimento, porém, o que distingue a educação de todas as outras atividades é o fato de que ela se caracteriza não pela produção de objetivações o que não quer dizer que também não as produza, mas pela apropriação daquilo que é realizado por outras atividades. Vimos não apenas o papel central do trabalho para a construção social, como também a importância da categoria educação, uma vez que é uma forma de mediação, de interação social e também de apropriação dos saberes, no entanto não podemos deixar de considerar que em nossa sociedade, dentro do modo de produção capitalista, a educação também tem sua função de reprodução e conservação das desigualdades sociais, haja vista que é um dos aparelhos ideológicos do estado, e para a compreensão dos fenômenos recorrentes na educação deve passar inevitavelmente pela apreensão dos acontecimentos históricos da nossa sociedade, tal como seu modo de produção, a proposição de se discutir os conteúdos acima citados, é fundamental para que possamos relacionar e compreender o quanto o modo de produção capitalista, numa lógica neoliberal, reflete na escola e mais ainda no papel dado a ela. Faz-se necessário compreender o que é o neoliberalismo e como a escola tem sido permeada por esta lógica, tanto em suas políticas educacionais como na organização do trabalho escolar, vimos que o neoliberalismo caracteriza-se como uma nova estratégia de acumulação de capital, mas, além disso, ele representa um movimento político econômico heterogêneo que visa o retorno aos princípios do liberalismo clássico, vimos que o capitalismo é revolucionário no sentido que está sempre se reinventado num processo dinâmico e complexo, criando novas necessidades, formas de produzir, e público para adquirir estes produtos que resultarão na Acumulação de capital, no entanto esse sistema tende a resultar ciclicamente em crises, e uma vez que toda a produção ocorre em decorrência da extração e transformação da natureza, muitos recursos naturais estão se esgotando. 2
3 O fetiche do consumismo também está fortemente presente no processo educacional, sejam em tecnologias, recursos didáticos, novas pedagogias, enfoque por projetos ou mesmo tratando a própria educação como mercadoria, e objeto de desejo e status social, como devemos agir, o que devemos consumir como devemos nos comportar, valor de uso e de troca, pois em inúmeras vezes, também pela extração da mais valia, o preço que pagamos por determinado produto não reflete em seu custo, uma vez que foram extraídos recursos de diversas fontes e países, além das condições de exploração do trabalho em que foram produzidos, esta crítica é bem importante para a compreensão do valor de uso das mercadorias, sabemos que todos os problemas apontados são efeitos do modo de produção capitalista e a única forma de superação deste é com a transformação desta sociedade, qualquer alternativa que não esta, refere-se apenas a reformas dentro deste modelo e com intuito de garantir a sobrevivência do modo de produção capitalista. Neste sentido chegamos à proposição deste artigo que é o papel da escola, ainda que tenha a função de transmitir os conhecimentos historicamente produzidos pela humanidade, está muito mais ligado a reproduzir o nosso modelo de sociedade, ou seja, somos submetidos desde muito cedo a padrões, regras, regime disciplinar, que são uma prévia adaptação ao regime de trabalho que futuramente seremos sujeitados, Althusser caracteriza a escola como um aparelho ideológico do estado, uma vez que a conformação, a submissão, o ritmo dado pela escola, de quando fazer, como fazer, o que fazer e de que maneira, assim como a recompensa, que na escola de forma simbólica é a nota, o título, que no mundo do trabalho será substituído pela remuneração, todas estas nuances muitas vezes passam despercebidas não só pelos alunos mas por muitos educadores, o que prova o quanto a ideologia é dominante quando não temos embasamento teórico e uma discussão crítica acerca da escola, pois devemos ter claro que somente se compreende a escola se primeiro compreendermos a sociedade que vivemos. Julgamos mister ter a compreensão de que a escola deve superar estas limitações e ocupar o papel conforme defende Saviani: [...] A escola existe, pois, para propiciar a aquisição dos instrumentos que possibilitam o acesso aos rudimentos desse saber.as atividades da escola básica devem organizar-se a partir dessa questão. Se chamarmos isso de currículo, poderemos então afirmar que é a partir do saber sistematizado que se estrutura o currículo da escola elementar.[...] Esse esquecimento e essa ocultação acabam por neutralizar os efeitos da escola no processo de democratização. (SAVIANI, 2005, p.15). 3
4 Saviani nos chama atenção especificamente para a questão da sistematização do saber historicamente produzido pela humanidade, e como estes conteúdos são selecionados e trabalhados na escola, e pensando nas desigualdades sociais existentes devemos pensar nas escolas de elite e na escola pública que há uma grande diferença nos níveis e forma de transmissão e produção de conhecimentos, e estas se tornam evidentes no currículo escolar, o que atinge diretamente a nossa formação e atuação profissional enquanto professores e pedagogos, e deve nos levar a buscar a garantia de acesso às instituições de educação formal, bem como sua permanência e que esta seja de qualidade, que orientem os saberes com vistas à transformação social e superação não só das dificuldades encontradas no núcleo escolar, uma vez que estas só são parte da representação das desigualdades sociais existentes em nossa sociedade advindas do modo de produção capitalista. Pensarmos neste papel da educação, como sentido e instrumento de luta, de apropriação do que nos foi historicamente negado, passa por questões centrais quanto a essência do trabalho, bem como da educação como mediadora, Lessa nos ajuda a compreender: É essa propriedade essencial ao trabalho ser um tipo de reação ao ambiente que produz algo ontologicamente antes inexistente, algo novo que lhe possibilita destacar os homens da natureza. Em outras palavras, é a capacidade essencial de, pelo trabalho, os homens construírem um ambiente e uma história cada vez mais determinada pelos atos humanos e cada vez menos determinadas pelas leis naturais, que constitui o fundamento ontológico do ser social. E toda essa processualidade tem, no processo de generalização detonado pelo trabalho, seu momento fundante. (LESSA,2007, p. 81). A centralidade reside então no fato que através do trabalho, que mediado também pelos processos educativos, formais ou não, uma vez que transmitem, mediam e possibilitam a apropriação do saber historicamente produzido pela humanidade, e devido a isso nossa história é determinada pelo que produzimos, a nossa existência e nossa consciência e complexos sociais é por nós construída, em um processo dialético vamos construindo a nossa ontologia, tenho posto a importância de superação deste modelo desigual de apropriação dos saberes e de dos bens culturais por nós construídos, onde as classes dominantes determinam a que classes sociais se destinam os níveis de saberes a serem apropriados, bem como das condições de emancipação intelectual, que neste modelo educacional se torna impossível. Romper o papel que tem ocupado historicamente, conforme afirma Mészaros : 4
5 A educação institucionalizada, especialmente nos últimos 150 anos, serviu no seu todo ao propósito de não só fornecer os conhecimentos e o pessoal necessário à máquina produtiva em expansão do sistema do capital, como também gerar e transmitir um quadro de valores que legitima os interesses dominantes, como se não pudesse haver nenhuma alternativa à gestão da sociedade, seja na forma internalizada (isto é, pelos devidamente educados e aceitos) ou através de uma dominação estrutural e uma subordinação hierárquica e implacavelmente imposta.(meszáros, 2005, p.35). Uma vez que a escola é um espaço de reprodução desta sociedade, o que não significa que não haja espaço para as contradições, uma vez que como a escola é também espaço de apropriação dos conhecimentos produzidos historicamente pela humanidade, o cerne da questão é que o conhecimento ensinado de forma crítica é um espaço fértil para a superação deste modelo da sociedade, mas esta transformação deve ocorrer na sociedade e ser refletida na escola e não o contrário, a retórica de que só a educação transforma que nossa sociedade será melhor quando a educação for melhor, nada mais é que uma ideologia que trata a educação como redentora de problemas sociais, desviando a verdadeira problemática da educação que não tem sua causa em si, mas sim no sistema capitalista que gera barbárie e o processo de desumanização do homem em prol do capital. REFERÊNCIAS ALTHUSSER, L. Aparelhos Ideológicos de Estado. Rio de Janeiro, Graal LESSA, Sérgio. Para compreender a ontologia de Lukács. 3. ed. rev. e ampl. Ijuí: Ed. Unijuí, MANACORDA, Mario A. Marx e a Pedagogia Moderna. São Paulo: Alínea., MANACORDA, Mario A. O princípio educativo em Gramsci. São Paulo: Alínea., MARX, K.; ENGELS, F. Manifesto do Partido Comunista. 9. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, MARX, Karl. O 18 Brumário de Luís Bonaparte tradução nélio schneider. São Paulo: Boitempo, 2011, p. 80. MÉSZÁROS, István. A educação para além do capital. São Paulo: Boitempo, TONET, Ivo. Educação, cidadania e emancipação humana. Ijuí, SC: Ed. Unijuí, (Coleção Fronteiras da Educação). 5
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