.; 1-14 - 4.18J1:2711.."1 ESTADO DA PARAlBA PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA Gab. Des. Genésio Gomes Peleira Filho ACÓRDÃO APELAÇÃO CÍVEL ng 056.2005.000733-7/002 Comarca de Coremas RELATOR : Des. Genésio Gomes Pereira Filho APELANTE : Sociedade Anônima de Eletrificação da Paraíba - SAELPA ADVOGADOS : Maria do Rosário Arruda de Oliveira e outros APELADA : Francisca Ednalva Soares ADVOGADOS : Roberto Stephenson Andrade Diniz e José Laedson A. Silva CIVIL E PROCESSUAL CIVIL Apelação Cível Ação Declaratória de Inexistência de Débito Fatura de recuperação de consumo irregular Nulidade Ausência de prova de fraude ou artifício que impedisse a medição Consumo comprovado Direito à contraprestação mediante nova emissão de fatura condizente com as normas consumeiristas e legislação pertinente Suspensão no fornecimento Impossibilidade Desprovimento do apelo. A efetiva utilização do serviço gera necessidade de contraprestação pecuniária. Entretanto, o direito à contraprestação não dá margem para que a concessionária de energia elétrica emita fatura cie recuperação de 1 consumo de forma excessivamente onerosa para o consumidor e em desconformidade com as normas consumeiristas e legislação pertinente. A auto-executoriedade dos atos administrativos, segundo doutrina e jurisprudência indiscrepante, sujeita-se ao contraditório, e a cobrança de tarifas deve ser discriminada, contendo informações referentes ao período e ao consumo. Quanto à suspensão do serviço é indispensável a prévia notificação ao consumidor (Res. n g 456, da ANEEL, art. 91, I), o que não foi comprovado pela apelada, nos autos da ação cautelar
inominada. No caso dos autos, tratando-se de refaturamento por irregularidade na medição do faturamento, não há legitimidade para a suspensão do serviço. O autos. VISTOS, relatados e discutidos os presentes ACORDAM, os integrantes da Terceira Câmara Cível do Colendo Tribunal de Justiça, à unanimidade, em negar provimento à Apelação Cível, nos termos do voto do Relator e da certidão de julgamento de fl. 246. RELATÓRIO Cuida-se de uma Ação beciaratória de Inexistência de Débito ajuizada por Francisca Ednalva Soares em face da Sociedade Anônima de Eletrificação da Paraíba - SAELPA, alegando que a promovida enviou uma fatura de energia elétrica no valor de R$ 838,22 (oitocentos e trinta e oito reais e vinte e dois centavos), referente a uma recuperação de consumo da residência da autora. Alega que a empresa ré exigiu da autora que assinasse um contrato de confissão da referida dívida, sob a ameaça de cortar o fornecimento do serviço. Aduz que, em razão de ter se recusado a assinar o contrato, a energia elétrica de sua residência foi cortada ilegalmente. Por fim, afirma que desconhece a dívida que é inconstitucional e arbitrária. Pediu tutela antecipada para suspender a cobrança da dívida e religar a energia elétrica e a procedência do pedido. Juntou documentos às fls. 08/16. Às fls. 18/20 foi concedida a tutela antecipada para suspender a cobrança do débito cobrado e determinar o restabelecimento do fornecimento de energia da autora, sob pena de multa diária. A promovida interpôs agravo de instrumento contra a decisão que concedeu a antecipação de tutela (fls. 24/41). 10, Devidamente citada, a promovida contestou, aduzindo que a energia elétrica não é serviço essencial, mas sim serviço público de natureza pró indivíduo, e que o procedimento adotado de recuperação de consumo foi legal, tendo em vista que a autora violou o medidor de sua casa de forma ardilosa e que se encontra inadimplente. Pediu a improcedência da demanda (fls. 42/56). Juntou documentos às fls. 57/63. Às fls. 89/91 consta a cópia do acórdão que negou provimento ao agravo de instrumento interposto pela promovida. Conclusos, o MM. Juiz julgou antecipadamente a lide, pela procedência do pedido, cujo dispositivo legal transcrevo: " estarte, n tendo em vista o que mais dos autos consta e princípios de direito aplicáveis à espécie, julgo procedente o pedido vestibular e, por conseguinte, declaro a inexistência do débito concernente à recuperação de consumo e ao custo administrativo adicional cobrado à promovente, ao tempo que determino a exclusão das cobranças indevidas, determinando que seja recalculado o valor total das faturas COM base no quantia?: correspondente ao consumo real dos meses em que consta o valor indevido, o que faço com esteio nas disposições do art. 269, I, do CPC. Condeno a promovida ao pagamento das custas processuais e honorários advocaticios, os quais fixo em 10% (dez por cento) sobre o 4
valor atribuído à causa na exordial, o que faço com esteio nas disposições do art. 20 do CPC c/c art. 11, 1", da Lei n 1060/50." (f Is. 94/99). Inconformada, a promovente interpôs apelação cível (f Is. 108/118) rebatendo os mesmos argumentos da contestação e pugnando pela reforma total da sentença. As contra-razões foram apresentadas às fls. 127/129. Instada a se pronunciar, a douta Procuradoria de Justiça opinou pelo desprovimento do recurso (f Is. 138/140). É o relatório. VOTO Trata-se de apelação cível interposta pela Sociedade Anônima de Eletrificação da Paraíba SAELPA contra sentença que julgou procedente o pedido de Francisca Ednalda Soares nos autos da ação declaratória de inexistência de débito. ( A apelante, em suas razões recursais, requer a reforma da sentença, fundamentando seu estado de inconformismo, aduzindo que o procedimento adotado de recuperação de consumo foi legal, tendo em vista que a autora violou o medidor de sua casa de forma ardilosa e que se encontra inadimplente, não sendo abusivo o valor cobrado na fatura, porque correspondente ao cálculo estimado do valor não faturado em função do desvio de energia detectado. Alega, também, que deu oportunidade para a apelada apresentar recurso administrativo. Por fim, aduz que a energia elétrica não é serviço essencial, mas sim serviço público de natureza pró indivíduo. Não merecem prosperar os argumentos da apelante. Primeiramente, quanto à alegação de que foi dada oportunidade de defesa à apelada, temos que, na carta anexada aos autos lo às fls. 62/63 informando sobre a recuperação de consumo apurada, não consta a assinatura da autora comprovando seu recebimento. Assim, o acréscimo referente ao resíduo de consumo foi cobrado e inserido na fatura de forma unilateral, sem que se permitisse à apelada o exercício do contraditório. De fato, na fatura acostada aos autos pela autora consta que foi lançado em sua conta de energia elétrica um valor exorbitante, referente a um suposto consumo de energia, no qual a apelante alega que se trata de recuperação de consumo, relativo ao período em que constava em seu sistema como se o medidor de energia elétrica do imóvel da apelante estivesse com adulteração. Compulsando os autos, verifica-se que a apelante não agiu nos termos da Resolução 456/2000 da ANEEL, enviando fatura sem discriminação do consumo e do período a que se refere o valor cobrado, mas apenas informando um valor estimado, presumido, o que se contrapõe às normas consumeiristas. A apelada não negou que consumiu energia elétrica durante o período em que não foi faturado seu consumo, mas, ainda que 4
r. se reconheça o consumo e ausência de medição de consumo, a auto-, executoriedade dos atos administrativos, segundo doutrina e jurisprudência indiscrepante, sujeita-se ao contraditório, e a cobrança de tarifas deve ser discriminada, contendo informações referentes ao período e ao consumo. Não existindo prova de que a autora fraudou ou usou de artifício que impedisse a medição do consumo de energia elétrica na unidade constante no imóvel, ou, ainda que se comprove, estando a fatura de energia elétrica emitida em desconformidade com as normas consumeiristas e com a Resolução 456/2000 da ANEEL, observando também que não foi dado o direito à apelada do contraditório e da defesa, a concessionária deve se abster de interromper o fornecimento de energia elétrica, em razão da fatura de energia elétrica ora em questão, devendo também ser anulada a fatura. Porém, tendo em vista que a autora se utilizou da prestação de serviço da concessionária apelante, nada impede que a concessionária de energia elétrica adote as providências necessárias para averiguar as razões de não ter havido faturamento durante o período do ano de 2003 e emitir nova fatura discriminando o período e o consumo, tudo em er.e. conformidade com as normas consumeiristas e com as normas da ANEEL. A apelada não negou que consumiu energia elétrica durante o período em que não foi faturado seu consumo, mas apenas deduz pretensão de desconstituir a fatura de recuperação de consumo irregular. Assim, conquanto seja este discriminado, a efetiva utilização do serviço gera necessidade de contraprestação pecuniária. Por outra banda, o direito à contraprestação não dá margem para que a concessionária de energia elétrica emita fatura de forma excessivamente onerosa para o consumidor e em desconformidade com as normas consumeiristas e legislação pertinente. Quanto à suspensão do serviço, embora não se considere descontinuidade do serviço a sua interrupção ante a falta de pagamento da fatura, é indispensável a prévia notificação ao consumidor (Resolução n 2 456, da ANEEL, art. 91, I), o que não foi comprovado pela apelante, nos autos da ação declaratória. No caso dos autos, tratando-se de refaturamento por irregularidade na medição do faturamento, não há legitimidade para a suspensão do serviço. Sobre o tema, vejamos os julgados abaixo: CONSUMO DE ENERGIA ELÉTRICA A RECUPERAR - I. Ausência de prova de responsabilidade do consumidor na irregularidade do medidor. Efetiva utilização do serviço gera necessidade de contraprestação pecuniária. Recuperação do consumo com base nos critérios do art. 71 da Res. N 456, de 29/11/2000, da ANEEL. Cobrança da parcela de "custo administrativo" afastada. II. A jurisprudência já está pacificada no sentido de que é ilegítimo o corte de fornecimento de energia elétrica por débito antigo como meio coercitivo ao pagamento. (TJRS - Rh' 71000685453 - Porto Alegre i a T.R.Civ. - Rel. Des. João Pedro Cavalli Júnior - J. 14.07.2005)
- EMBARGOS DE DECLARAÇÃO - CONTRADIÇÃO - RECUPERAÇÃO DE CONSUMO DE ENERGIA ELÉTRICA - A recuperação de consumo de energia elétrica, quando não provada a autoria de fraude contra o consumidor, não pode implicar em adoção de critério igual a tal hipótese, sob pena de penalização iníqua do mesmo. Ausência de contradição com a norma da Resolução n 456/2000-ANEEL. Também não enseja contradição a dispositivo legal a imposição de parcelamento do débito, porque isso é minus perante o pedido do consumidor, de desconstituição do débito, que é plus. Embargos rejeitados. Unânime. (TJRS - RIn 71000726927 - Passo Fundo - i a T.R.Civ. - Rel. Des. João Pedro Cavalli Júnior - J. 14.07.2005) REEXAME NECESSÁRIO DE SENTENÇA COM RECURSO DE APELAÇÃO Cá/EL - MANDADO DE SEGURANÇA - CONCESSIONÁRIA DE ENERGIA ELÉTRICA - DÉBITOS DECORRENTES DE SUBFATURAMENTO POR IRREGULARIDADE NO MEDIDOR - SUSPEITA DE ADULTERAÇÃO DO ts MEDIDOR PELO USUÁRIO - AMEAÇA DE SUSPENSÃO DO FORNECIMENTO - PERÍCIA REALIZADA UNILATERALMENTE PELA CONCESSIONÁRIA - ILEGALIDADE - SEGURANÇA CONCEDIDA - REEXAME CONHECIDO - SENTENÇA RATIFICADA - 1. A sentença que concede mandado de segurança, inclusive quando proferida contra concessionária do serviço de energia elétrica, está sujeita ao reexame necessário previsto no art. 12, único, da Lei n 1.533/51. 2. É ilegal e abusiva a ameaça de corte no fornecimento de energia elétrica pela falta de pagamento de fatura expedida a partir de subfaturamento supostamente decorrente da adulteração do medidor praticada pelo usuário, não valendo, para tal fim, a perícia unilateral realizada pela concessionária. (TJMT - RNSen-AC 10.397-3" C.Civ. - Rel. Des. João Ferreira Filho - J. 04.06.2003), A energia é, na atualidade, ao contrário do que afirma a recorrente, um bem essencial à população, constituindo-se serviço público 1 indispensável subordinado ao princípio da continuidade de s.ua prestação, pelo que se torna impossível a sua interrupção em face de fatura que cobra recuperação de consumo. Pelo exposto, NEGO PROVIMENTO ao recurso de apelação, para manter a sentença monocrática em todos os seus termos. É como voto. Presidiu os trabalhos o ínclito Desembargador Márcio Murilo da Cunha Ramos. Participaram do julgamento, além do Relator, o Excelentíssimo Desembargador Genésio Gomes Pereira Filho, o Excelentíssimo Dr. Rodrigo Marques Silva Lima, Juiz de Direito convocado para substituir o Desembargador Saulo Henriques de Sá e Benevides e o Excelentíssimo Desembargador Márcio Murilo da Cunha Ramos. Presente o Parquet Estadual, na pessoa da Dra. Maria do Socorro da Silva Lacerda, Promotora de Justiça convocada.
1, - Sala de Sessões da Terceira Câmara Cível do Colendo Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba, em 13 de setembro de 2007.! t Des. Genák f Cromes Filho Relato '
/ Coordnaduia jli,:da. Registrado em e97/ 421-