Aumento da eficiência na programação do sistema de produção em moinho de trigo



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Transcrição:

Aumento da eficiência na programação do sistema de produção em moinho de trigo Maico Jeferson de Oliveira (UTFPR) maico@agraria.com.br Kazuo Hatakeyama (UTFPR) hatakeyama@pg.cefetpr.br Luiz Alberto Pilatti (UTFPR) lapilatti@pg.cefetpr.br Resumo : Este trabalho mostra que é possível aumentar a eficiência na utilização de energia elétrica em moinho de trigo, durante a programação do sistema de produção. Isto é feito considerando a eficiência no uso da energia elétrica antes da validação do planejamento. Para demonstrar a otimização, é feito um comparativo entre a situação real num período, e a situação ideal para o mesmo período. Palavras-chave: Planejamento; Eficiência; Energia elétrica. 1. Introdução A otimização no uso dos recursos de produção é uma necessidade estratégica das empresas competitivas. Em geral as abordagens são focadas nos métodos, processos industriais e alguns sistemas especialistas, buscando aumentar a eficiência na utilização dos recursos. Este trabalho tem por objetivo demonstrar que é possível melhorar a eficiência na utilização de recursos de produção nas atividades de planejamento e controle da produção (PCP) da empresa. O PCP da empresa exerce várias atividades, a que será explorada neste trabalho é a atividade de nível tático, representada pela programação do sistema de produção. O recurso de produção em análise é a energia elétrica, e o estudo será conduzido em um Moinho de Trigo. 2. Referencial teórico 2.1 O planejamento-mestre da produção O planejamento agregado precisa ser desagregado para algumas linhas individuais, a esse processo dá-se o nome de planejamento-mestre de produção. O planejamento-mestre da produção desmembra os planos produtivos estratégicos de longo prazo, gerando como resultado um plano, chamado plano-mestre de produção (PMP), que vai direcionar as atividades operacionais (TUBINO, 2000). O planejamento-mestre de produção é difícil de ser elaborado, principalmente quando se utiliza o mesmo equipamento para diversos produtos, o processo é conduzido por tentativas (MOREIRA, 2004). A condução por tentativas torna difícil a elaboração, e exige um bom nível de conhecimento por parte de quem elabora o planejamento-mestre de produção. Embora a solução do planejamento-mestre de produção seja obtida por tentativas, Tubino (2000, p.90) apresenta algumas questões que devem ser discutidas na elaboração do PMP: a) Determinação de quais itens devem fazer parte do PMP; b) Qual o intervalo de tempo e que horizonte planejar; c) Como tratar os produtos para estoque e os sob encomenda. Tubino (2000, p.94) reforça ainda que o planejamento-mestre da produção trabalha com o tempo em duas dimensões. Uma é a determinação da unidade de tempo para cada intervalo do plano. Outra é a amplitude, ou horizonte, que o plano deve abranger em sua análise. A

determinação da variável tempo é importante para que o planejamento-mestre da produção cumpra com sua finalidade, e vai causar impacto direto na desagregação do planejamento agregado, na gestão de materiais, e na programação da produção. Estoque inicial Previsão de demanda Pedidos de clientes Planejamentomestre Estoque projetado PMP Estoque não comprometido Figura 1 - Inputs e Outputs do PMP Fonte: Estevenson (2001). O estoque existe para compensar erros cometidos na projeção de demanda (MAYER, 1990). Na produção para estoque o planejamento é baseado na previsão de pedidos, o PCP, faz a avaliação da necessidade futura, tenta prever os recursos que possam satisfazer essa demanda, e busca responder rapidamente se a demanda real não corresponde com a prevista (SLACK, 1996). A previsão de demanda, neste contexto, pode comprometer toda a estratégia competitiva de uma organização, através do planejamento-mestre da produção. Quadro 1 - Planejamento-mestre de produção Estoque inicial Junho Julho 64 01 02 03 04 05 06 07 08 Previsão demanda 30 30 30 30 40 40 40 40 Pedidos de clientes 33 20 10 04 02 Estoque projetado disponível 31 01 41 11 41 01 31 61 PMP 70 70 70 70 Estoque disponível para promessa Fonte: Stevenson (2001). 11 56 68 70 70 As equações de cálculo do planejamento-mestre estão dispostas abaixo: a) estoque disponível = (estoque inicial + PMP) (previsão de demanda ou pedidos de clientes, o que for maior); b) estoque disponível para promessa = (pedidos de clientes do período + pedidos de clientes do próximo período) PMP. O estoque disponível para promessa é calculado apenas na primeira semana, e nas semanas em que existe um valor para o PMP, pois o estoque projetado não é considerado. Quando a produção é feita subseqüentemente (todos os períodos) considera-se os pedidos de clientes referente ao período em questão. Segundo Stevenson (2001, p.412) uma vez elaborado o PMP, é elaborado o planejamento da capacidade estimada para testar a viabilidade do PMP proposto em relação às diversas capacidades. A elaboração por tentativas, de um plano viável em termos de capacidade, é a principal dificuldade. Embora a capacidade já tenha sido verificada na elaboração do

planejamento agregado, a capacidade especifica e as restrições devem ser avaliadas novamante. 2.2 O planejamento-mestre da produção elaborado pelo MRPII - os módulos master production schedule (MPS) e rough cut capacity planning (RCCP) O Manufacturing Resources Planning (MRP), segunda versão, chamado MRP II, é um software comercial desenvolvido para produções do tipo fazer-para-estoque. Sua primeira versão, o MRP foi concebido para levantamento das necessidades de materiais, o MRP II faz o levantamento dos demais recursos de produção, em uma lógica estruturada de planejamento. O MRP II é composto de vários procedimentos de planejamento agrupados em funções, associadas a módulos, pacotes de software comerciais (CORREIA; GIANESI; CAON, 2001). Segundo Correia; Gianesi e Caon (2001, p.145) o processo MPS e RCCP é o responsável por elaborar o plano de produção dos produtos finais, período a período, cuja equação básica é: Estoque final = Produção Previsão de vendas Carteira + Estoque inicial. Plano de produção agregado Previsão de vendas. Lista de recursos, tempos. RCCP MPS Política de estoques. Plano-mestre de produção Posição de estoques Figura 2 - Módulos MPS e RCCP Fonte: Correia; Gianesi; Caon ( 2001). Segundo Correia; Gianesi e Caon (2001, p.147) o módulo RCCP, ou planejamento grosseiro da capacidade, é o responsável por fazer o cálculo da capacidade que, embora seja grosseiro, pode ser executado rapidamente. Correia; Gianesi e Caon (2001, p.297) apresentam os objetivos do RCCP: a) Antecipar necessidades de capacidade de recursos que requeiram prazo de alguns poucos meses para sua mobilização; b) Gerar um plano de produção de produtos finais que seja aproximadamente viável para que não se perca tempo com o processamento do MRP e CRP, para que, então, descubra-se graves problemas de excesso de capacidade, tendo-se que voltar ao planejamento do MPS; c) Subsidiar as decisões de quanto produzir de cada produto, principalmente nas situações em que, por limitação de capacidade em alguns recursos, não é possível produzir todo o volume desejado para atender aos planos de venda, desde que o problema não tenha sido identificado no nível anterior de planejamento de capacidade. Não é um cálculo detalhado e preciso feito pelo RCCP, não são feitos cálculos para todos os recursos, apenas para os recursos críticos. Os recursos críticos são definidos em função de vários fatores: gargalos; restrições importantes; set-up, entre outros (CORREIA; GIANESI; CAON, 2001). 2.3 A produção em moinho de trigo

O sistema de produção em moinho de trigo é processamento contínuo, o volume de produtos iguais é grande, e a produção é feita para estoque, visando uma alta taxa de utilização dos recursos. Recepção de trigo Preparação de trigo Moagem Linhas de envase Expedição de farinhas Figura 3- Diagrama geral de um moinho de trigo A produção no moinho de trigo apresenta dois recursos críticos em termos de capacidade, que representam gargalos, a moagem e as linhas de envase. O princípio da moagem de trigo é o mesmo princípio da moagem de cereais. Ocorre a divisão básica em dois produtos, um nobre para alimentação humana, e o subproduto para alimentação animal. Para se chegar a estes dois produtos, no caso do trigo, é necessário o descascamento, visando o acesso a parte nobre, sem causar o esmagamento do grão (ERLING, 2004). Isso significa que a moagem do trigo não é simplesmente o esmagamento do grão de trigo. Gradativamente vai acontecendo a separação da casca, que vai constituir a parte para consumo animal, e da amêndoa, que compõe a parte nobre. Extração é a quantidade do produto nobre obtido na moagem (ERLING, 2004). O grau de extração de cada farinha será um dos parâmetros que vai definir a qualidade da farinha. A moagem é um recurso crítico que afeta dois níveis do planejamento da produção. No nível mais estratégico, a capacidade de moagem é o recurso crítico na elaboração do planejamento agregado da produção. No nível tático, a capacidade de moagem pode tornar-se um recurso crítico na elaboração do PMP, nos casos em que o moinho possui mais de uma linha de moagem, e cada linha de moagem tem seu diagrama de moagem adaptado para alguns tipos específicos de farinha. As linhas de envase tornam-se um recurso crítico na elaboração do PMP, pelo fato de que cada linha de envase é projetada para um tipo de embalagem. Sendo assim, a capacidade de produção desagregada, fica condicionada, em última análise, a capacidade da linha de envase para aquele tipo de farinha. 2.4 A validação do PMP pela capacidade A validação do PMP pode ser feita usando a lógica de cálculo do RCCP. Em sua lógica de cálculo, o RCCP utiliza os parâmetros chamados perfil de recursos, e o offset (tempo de antecedência) que é uma defasagem entre a produção do produto final e o consumo dos recursos. Com base nestes parâmetros e na alocação de cargas aos diversos recursos, tem-se o percentual de utilização dos recursos críticos, que vai indicar a viabilidade do PMP (CORREIA; GIANESI; CAON, 2001). O recurso crítico abordado neste trabalho será a moagem, a mesma sistemática pode ser aplicada ao recurso crítico representado pela linha de envase. Partindo de um PMP que indica a necessidade de produção de 45 toneladas da farinha no período, e que a extração da farinha seja de 75 %, tem-se a equação abaixo: 45 0,75 (extração) = 60 toneladas de trigo. A capacidade de moagem, primeiro recurso crítico, é especificada em fluxo de trigo.

Considerando o moinho com capacidade efetiva de 266 toneladas por dia, tem-se: a) 266 t 24 h = 11,083 t/h; b) 60 t 11,083 t/h = 5,4136 h. Essa carga é alocada ao recurso, capacidade de moagem do moinho, no período em análise. A vialibilidade do PMP em termos de capacidade é um pré-requisito para considerar a eficiência na alocação das cargas, de nada adianta escolher o plano de maior eficiência que não pode ser realizado por falta de capacidade de produção. 2.5 A eficiência na utilização da energia elétrica como parâmetro de decisão A produtividade e a eficiência são conceitos semelhantes, para Stevenson (2001, p.28) a eficiência é um conceito mais estreito e diz respeito a extrair o máximo a partir de determinado conjunto de recursos. A produtividade segundo Stevenson (2001, p.25) é um índice que mede a relação entre o output gerado e o input utilizado. A produtividade é um conceito mais amplo, desta forma tem-se: Produtividade = Output / Input. Para aumentar a produtividade deve aumentar o output produzido, ou, reduzir os recursos usados para o mesmo volume produzido, aumentando a produtividade através do aumento da eficiência. O desempenho de um sistema de PCP depende fortemente do método de alocação de capacidades adotado. Não há combinação ótima que maximize a taxa de produção em quaisquer circunstâncias (SOUZA; RENTES; AGOSTINHO, 2000). O recurso de produção energia elétrica, é um dos principais recursos de produção, e representa em torno de 20% dos custos fixos de produção no moinho em estudo, é um fator decisório, nos casos em que a indústria faz o contrato da demanda de energia elétrica com tarifas diferentes para o período do dia chamado de horário de ponta (HP), das 19:00 h às 22:00 h no horário de verão brasileiro, e das 18:00 h às 21:00 h no horário de inverno brasileiro. Neste período a energia elétrica é elevada em mais de seis vezes o seu valor. O HP vigora de segunda a sexta feira. 3. Metodologia A pesquisa é de natureza aplicada, e abordagem quantitativa. O objetivo é explorar através de um estudo de caso. Segundo Yin (2001, p.80), um ponto que deve ser enfatizado é que as habilidades exigidas para se coletar os dados para um estudo de caso são muito mais exigentes do que aquelas necessárias para se realizar um experimento ou um levantamento. Os dados foram coletados através de observações sistemáticas dos apontamentos de produção. Intencionalmente foi amostrado o período correspondente ao mês de abril de 2006. Os dados serão analisados quanto à eficiência na utilização do recurso energia elétrica, comparando a situação real com a situação ideal, aquela que o PCP deveria ter escolhido, quando se considera a eficiência na validação da programação. O estudo de caso foi realizado em um moinho de trigo, que possui uma capacidade instalada de 410 toneladas / dia, é considerado de porte médio para os padrões brasileiros. O nível de automação é elevado, e o moinho conta com 63 colaboradores para sua operação. Este moinho atua nas principais indústrias que utilizam a farinha como matéria-prima do país.

4. Dados O gráfico 1 mostra a capacidade máxima disponível, a capacidade real utilizada no mês de abril, e um limiar de horas de moagem fora do HP, a partir do qual, um aumento de utilização da moagem, vai estar usando horas do HP, nos dias em que vigora o HP. Horas de moagem 24 20 16 12 8 4 0 1/4 3/4 5/4 7/4 9/4 11/4 13/4 15/4 17/4 19/4 21/4 23/4 25/4 27/4 29/4 Dias h total h fora da ponta h real Gráfico 1 Utilização real da capacidade de moagem no período No período em estudo a demanda do mercado apontou uma necessidade de 632 horas de moagem. O gráfico 2 mostra como deveria ser programada a utilização do recurso moagem, para atender a necessidade de 632 horas de moagem, de maneira eficiente, na utilização de energia elétrica. Horas de moagem 24 20 16 12 8 4 0 1/4 3/4 5/4 7/4 9/4 11/4 13/4 15/4 17/4 19/4 21/4 23/4 25/4 27/4 29/4 Dias h total h fora da ponta h real Gráfico 2 Utilização eficiente da capacidade de moagem no período. A tabela 1 compara a distribuição das horas de moagem na programação realizada e na programação eficiente. Tabela 1 Distribuição das horas de moagem na programação real e na eficiente PMP realizado Horas usadas fora da ponta Horas usadas na ponta PMP eficiente Horas totais Horas usadas fora da ponta Horas usadas na ponta 593 39 632 632 0 632 Horas totais A tabela 2 mostra o consumo do recurso energia elétrica na programação real.

Tabela 2 Consumo de energia elétrica na programação real Fora do horário de ponta Horas Fator de correção Potência instalada - kwh Total parcial MWh 593 1 725,2 430,04 No horário de ponta 39 6,41 725,2 181,29 Total Geral MWh 611,33 Moagem do período em toneladas ( t ) Consumo específico kwh / t 6.198,83 98,62 O fator de correção serve para equiparação do consumo no HP e fora do HP, baseado na fatura de energia elétrica. Da potência instalada já foi considerado o rendimento. A tabela 3 mostra o consumo de energia elétrica na programação eficiente. Tabela 3 Consumo de energia elétrica na programação eficiente Fora do horário de ponta Horas Fator de correção Potência instalada - kwh Total parcial MWh 632 1 725,2 458,32 No horário de ponta 0 6,41 725,2 0 Total Geral MWh 458,32 Moagem do período em toneladas ( t ) Consumo específico kwh / t 6.198,83 73,93 5. Análise dos dados A elaboração do planejamento-mestre de produção por tentativas torna difícil a obtenção de um plano viável em termos de capacidade (MOREIRA, 2004), e deixa em segundo plano a preocupação com a otimização dos recursos na alocação das cargas, nos gráficos 1 e 2 o planejamento-mestre da produção foi elaborado por tentativas, o gráfico 2 mostra que é possível fazer uma alocação de carga mais eficiente do ponto de vista da utilização do recurso energia elétrica, mesmo conduzindo o processo por tentativas. O PMP vai direcionar as atividades operacionais para atender a estratégia da empresa (TUBINO, 2000). A falta de direcionamento estratégico na previsão da demanda contribui para agravar ainda mais o fenômeno observado no gráfico 1. O planejamento na produção para estoque é feito com base na previsão de demanda (SLACK, 1996), se a previsão não estiver consistente todo o planejamento subseqüente não será consistente. A definição da variável tempo no planejamento-mestre da produção pode dificultar a desagregação do planejamento agregado (TUBINO, 2000), um horizonte difuso será conivente com situações de altas e baixas inesperadas, o que contribui para agravar a situação observada no gráfico 1. A tabela 1 também mostra este desequilíbrio pela diferença nas horas utilizadas no HP, nas duas situações. O PMP precisa ser validado em termos de capacidade (STEVENSON, 2001). A lógica de validação da capacidade do processo RCCP, se baseia na disponibilidade de recursos críticos (CORREIA; GIANESI; CAON, 2001), a preocupação com a eficiência na utilização destes recursos críticos não é abordada. O gráfico 1 mostra o resultado da aplicação de apenas a lógica de cálculo para verificar a carga como forma de validar o PMP. O gráfico 2 confirma a necessidade de incluir a eficiência. A eficiência aumenta no gráfico 2, pois, houve melhora na forma de alocação de carga (SOUZA; RENTES; AGOSTINHO, 2000), ao recurso moagem.

A eficiência, ou seja, extrair o máximo com os mesmos recursos (STEVENSON, 2001), é confirmada pela comparação entre as tabelas 2 e 3, aonde o consumo específico em kwh/t na tabela 3 foi menor, ou seja, o recurso energia elétrica foi utilizado em menor escala, quando comparado com a tabela 2, para o mesmo volume de output, houve maior eficiência na situação representada na tabela 3. Com base no conceito de Stevenson (2001, p.28), quando comparadas as tabelas 2 e 3, verifica-se que houve aumento da produtividade na tabela 3, através do aumento da eficiência, ou seja, houve aumento da produtividade através das atividades de PCP. 6. Conclusão O sistema de PCP de um moinho de trigo, exercendo suas atividades de programação pode contribuir para a empresa tornar-se mais competitiva otimizando a utilização do recurso de produção energia elétrica. Para que isso ocorra o PCP da empresa deve considerar a variável eficiência nas decisões de programação da produção, antes da validação final. No caso específico de moinho de trigo, o recurso crítico, e as diferenças nas tarifas de energia elétrica para períodos de HP, podem ser representados no mesmo gráfico de carga, facilitando as decisões de rotina na elaboração da programação. A alocação de carga deve ser realizada procurando melhorar a eficiência do sistema produtivo, neste trabalho foi estudado um dos gargalos para validação da programação no moinho de trigo, a mesma sistemática é válida para as linhas de envase. Este trabalho abordou o recurso energia elétrica, outros recursos de produção também podem ser avaliados da mesma forma. Em moinho de trigo, assim como em outros sistemas produtivos que fabricam para estoque todo o planejamento é feito com base na previsão de demanda. A utilização racional dos recursos de produção vai depender em muito de uma previsão de demanda bem feita pela área comercial da empresa, que deve primar pelo acerto na previsão de demanda. Referências CORREIA, H. L.; GIANESI, L; CAON, M. Planejamento Programação e Controle da Produção. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2001. ERLING, P. Mehl- und Schälmüllerei. 2. ed. Bergen-Dumme - Alemanha: Agrimedia GmbH, 2004. YIN, R. K. Estudo de caso: planejamento e métodos. 2ª ed. Porto Alegre: Bookman, 2001 MAYER, R. R. Administração da Produção. São Paulo: Atlas, 1992. MOREIRA, D. A. Administração da produção e Operações. São Paulo: Pioneira, 2004. SLACK, N. Administração da Produção. São Paulo: Atlas, 1996. SOUZA, F. B; RENTES, A. F; AGOSTINHO, O. L. A Interdependência entre Sistemas de Controle da Produção e Critérios de Alocação de Capacidades. Revista Gestão & Produção. São Carlos, v.9 n.2 ago. 2002. STEVENSON, W. J. Administração de Operações de Produção. 6. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2001. TUBINO, D. F. Manual de Planejamento e Controle da Produção. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2000.