Economia Financeira Internacional Ano lectivo de 2000/2001 PAEF 2001/07/23 Duração: 2 horas PARTE A (Sem consulta 60 minutos) 1. O senhor Augusto é armazenista de presuntos e enchidos. Tem vários armazéns em Portugal. O negócio tem prosperado e até surgiu a possibilidade de exportar para os E.U.A.. Como o senhor Augusto tem receio das grandes variações do câmbio, está a pensar se há-de aceitar. (1,5) a) Ajude o Sr. Augusto a evitar o risco de câmbio, sabendo que: 1 EUR = 0,9 USD i USD (3meses) = 4,6% i EUR (3meses) = 4,5% F USD, EUR (3meses) = 0,83. (1,5) b) Se o Sr. Augusto não fosse avesso ao risco e se acreditasse que o euro está subavaliado, prevendo um prémio a 3 meses para o euro de 5,(5)%, o que deveria fazer para tentar ganhar dinheiro? (4,0) 2. Que argumento se pode utilizar para reconciliar a abordagem monetária da balança de pagamentos com o facto de uma expansão do crédito interno não conduzir a uma redução das reservas no mesmo montante, mas em montante inferior? Explique. 3. Considere que em 1998 a taxa de câmbio de mercado do ECU em escudos era 1ECU=200$00. Considere ainda que a taxa de câmbio oficial do ECU em escudos tinha sido fixada em 1 ECU= 180$00 e que o peso do escudo no ECU era de 0,008. (1,5) a) Tendo em consideração as regras do sistema monetário europeu e que na altura as margens de flutuação eram de ±15% diga se era ou não possível o valor de mercado do ECU em escudos ter atingido aquele valor. (1,5) b) Quais as principais diferenças entre o sistema monetário europeu e o sistema de Bretton-Woods.
Economia Financeira Internacional Ano lectivo de 2000/2001 PAEF 2001/07/23 Duração: 2 horas PARTE B (Com consulta 60 minutos) (5,0) 1. No quadro da abordagem pelas elasticidades, e considerando todas as hipóteses do modelo de equilíbrio parcial, apresente, com o apoio da representação geométrica, um caso em que se verifique simultaneamente: um efeito inequívoco sobre a balança comercial em moeda estrangeira em resultado de uma desvalorização da moeda nacional; a manutenção dos termos de troca, seja em moeda nacional, seja em moeda estrangeira, após a desvalorização da moeda nacional. (5,0) 2. A versão absoluta da PPP admite a aplicação da lei do preço único aos bens e serviços que compõem o cabaz representativo que serve de base ao cálculo do nível de preços. Considera esta hipótese plausível num cenário que envolva as economias portuguesa e norte americana. Justifique a sua resposta.
Resolução: Parte A 1. a) i) Cobertura a prazo obtém por cada 1 USD de receita, 1/0,83 EUR (aprox. 1,2 EUR) ii) Cobertura à vista Pede emprestados dólares e converte-os hoje para euros. Por cada dólar recebe 1/0,9 EUR; Aplica os euros à taxa de juro do euro. No final de três meses tem 1/0,9*(1+0,045)= 1,1611 EUR por cada dólar que pediu emprestado; Os dólares que pediu emprestados foram aqueles que podia pagar daí a 3 meses com a receita da exportação, isto é, m': m'*1,046= m: por cada dólar de receita, pede emprestado 1/1,046 = 0,956 USD; Portanto, por cada dólar de receita, tem no final de 3 meses 1,1611/1,046 = 1,11 EUR. iii) Conclusão Nestas condições, é preferível cobrir-se no mercado a prazo. b) i) Determinação da taxa de câmbio à vista esperada para t+3m - E(S USD,EUR(3m)) [E(S USD, EUR (3m)) - S USD, EUR ]/ S USD, EUR = 0,0(5) E(S USD, EUR (3m)) = 1,0(5)*0,9 = 0,95 ii) Especulação a prazo Compra hoje a prazo euros. Daqui a 3 meses, recebe os euros contra dólares por cada dólar recebe 1/0,83 EUR.
Simultaneamente espera vender os euros no mercado à vista da altura, recebendo (1/0,83)*0,95 USD (aprox. 1,14458 USD). Assim, por cada dólar espera ganhar 0,14458 USD. iii) Especulação à vista Pede um empréstimo em dólares, os quais troca por euros. Por cada dólar, recebe 1/0,9 EUR. Aplica os euros, tendo ao fim de 3 meses 1,045*(1/0,9) EUR por cada dólar que pediu emprestado. Espera poder cambiar nessa altura ficando com 0,95*1,045*(1/0,9) USD = 1,103 USD. Por cada dólar que pediu emprestado, só terá de pagar 1,046 USD, esperando receber 1,103 USD, portanto efectuará um ganho de 0,052 USD por cada dólar.. iii) Conclusão O Sr Augusto deve especular no mercado a prazo. 2. Elementos de resposta: Oferta agregada não ser vertical. 3. a) Atendendo ao indicador de divergência o Banco de Portugal tinha de intervir no mercado cambial quando o valor de mercado do ECU em escudos atingisse o limiar de intervenção, ou seja 75% do desvio máximo de divergência. O desvio máximo de divergência = 0,15 (1-0,008) =0,1488 O limiar superior de divergência = 0,75 x 0,1488= 0,1116 Valor máximo de mercado do ECU em escudos = 180$00 (1+0,1116) = 200,088 escudos. Logo, a resposta é sim. Porque ainda não tinha atingido o limiar de intervenção para o Banco de Portugal.
b) Elementos de resposta: Teoricamente no sistema monetário europeu não temos uma moeda âncora do sistema como temos o dólar no sistema de Bretton-Woods. Na prática o SME também tinha uma moeda âncora: o marco. Isto atendendo ao peso do marco no ECU (cerca de 1/3) e ao papel do Bundesbank como banco central líder; No sistema de Bretton-Woods temos uma moeda âncora, o dólar, que é convertível em ouro por isso o sistema era um sistema padrão divisa-ouro, ao passo que no SME, não há convertibilidade do ECU em ouro; As margens de flutuação iniciais são de ±1% no sistema de B-W e de ±2,25% e ±6% no SME; No sistema de B-W não existe o mecanismo do Indicador de Divergência; No SME não existe uma instituição tipo FMI que zela pelo cumprimento das regras e concede crédito aos países em dificuldades, embora exista um sistema de apoio financeiro entre os Bancos Centrais
Parte B 1. Nota: indicam-se duas respostas possíveis, mas o aluno pode encontrar outras desde que devidamente apoiadas na representação geométrica A- É o caso do país pequeno com rigidez da procura de importações. Ou seja, a sua curva de oferta de exportações tem uma inclinação normal, mas a sua curva de procura de importações é vertical. O outro país o país grande tem as suas curvas de oferta de exportações e procura de importações horizontais. Para a representação gráfica ver PAER de 1999/9/16 ; PAEF de 2000/01/31, parte B, questão 3 e PAEF de 2000/07/07, parte A, questão 2. B- No caso do país pequeno, em geral, nós temos que há também, uma melhoria inequívoca da balança comercial em moeda estrangeira. Quanto aos termos de troca a desvalorização da moeda nacional não altera os termos de troca em moeda estrangeira e em moeda nacional. Geometricamente isso é claro em moeda estrangeira e em moeda nacional ( embora neste caso não seja tão evidente). Para a representação gráfica ver, por exemplo, no capítulo 9 do Manual de EFI, a Prova B, grupo II, p.235, com resolução na pp. 238-239. 2. Elementos de resposta: A lei do preço único não se aplica à generalidade dos serviços uma vez que os processos de arbitragem são inviáveis para a maioria deles. Logo a versão absoluta da PPP e qualquer a aplicação da mesma pode ser criticada por este facto. Particularmente, quando se consideram dois países com níveis de desenvolvimento muito diferentes (como é o caso de Portugal e dos EUA) é possível demonstrar que a lei do preço único não se aplica aos bens não transaccionáveis; Hipóteses e demonstração do modelo de Balassa-Samuelson aplicado ao contexto da questão (Portugal País pobre ; EUA País Rico ).