1 Alguns fatos relevantantes sobre sistemas dinâmicos hamiltonianos integráveis 1

Documentos relacionados
Campos hamiltonianos e primeiro grupo de cohomologia de De Rham.

Variedades diferenciáveis e grupos de Lie

= f(0) D2 f 0 (x, x) + o( x 2 )

3 A estrutura simplética do fluxo geodésico

Cálculo avançado. 1 TOPOLOGIA DO R n LISTA DE EXERCÍCIOS

2 A métrica de Sasaki

Um Estudo Sobre Espaços Vetoriais Simpléticos

Divisão de distribuições temperadas por polinômios

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MATEMÁTICA. Seleção 2017/01

LISTA 3 DE INTRODUÇÃO À TOPOLOGIA 2011

1 Resultados básicos sobre grupos de Lie

Edital n.º 283 de 2013 Processo Seletivo para os Cursos de Mestrado e Doutorado do Programa de Pósgraduação em Matemática do IM/UFRJ.

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MATEMÁTICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MATEMÁTICA APLICADA

Introdução à Topologia Diferencial

Quinta lista de Exercícios - Análise Funcional, período Professor: João Marcos do Ó. { 0 se j = 1 y j = (j 1) 1 x j 1 se j 2.

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MATEMÁTICA

Processo Seletivo para os cursos de Pós-Graduação em Matemática 2017/2 PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MATEMÁTICA

Uma visita à Dinâmica Simplética

Imersões e Mergulhos. 4 a aula,

13 de novembro de 2007

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MATEMÁTICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MATEMÁTICA APLICADA

Funções suaves e Variedades

1 Álgebra linear matricial

Cálculo Diferencial e Integral II Resolução do Exame/Teste de Recuperação 02 de Julho de 2018, 15:00h - versão 2 Duração: Exame (3h), Teste (1h30)

Apostila Minicurso SEMAT XXVII

MCTB Álgebra Linear Avançada I Claudia Correa Exercícios sobre transformações lineares. Os Exercícios 3 e 4 são os exercícios bônus dessa lista.

Curso de Mestrado em Matemática Aplicada Tópicos de Topologia - Monopólos e Curvas Algébricas 2 a Série de Problemas - Dezembro 1999

Edital nº 246/2012 publicado no DOU dia 16/10/2012, p PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MATEMÁTICA

Variedades Diferenciáveis

Capítulo 6. Operadores Ortogonais. Curso: Licenciatura em Matemática. Professor-autor: Danilo Felizardo Barboza Wilberclay Gonçalves Melo

TEOREMA FUNDAMENTAL DO CÁLCULO PARA INTEGRAIS MÚLTIPLOS, O TEOREMA DE GAUSS, O TEOREMA DE GREEN E O TEOREMA DE STOKES. d f (x) dx = f (b) f (a).

Introdução à Topologia Diferencial

Fabio Augusto Camargo

Lema 1. Seja T R n R m uma aplicação linear. Então, (a) Existe uma constante C tal que T( v) C v, para todo v em R n. Prova.

Teorema Do Ponto Fixo Para Contrações 1

A Projeção e seu Potencial

Teoria Espectral em Espaços de Hilbert

Introdução à geometria riemanniana

Lista 8 de Análise Funcional - Doutorado 2018

1 Introdução. Problemas Elípticos Assintoticamente Lineares

SMA 5878 Análise Funcional II

Uma demonstração elementar de um resultado sobre a noção de diferencial em espaços normados

EXAME DE QUALIFICAÇÃO em Álgebra - Mestrado

Universidade Federal de Viçosa Centro de Ciências Exatas - CCE Departamento de Matemática Primeira Lista de MAT641 - Análise no R n

4 Teorema de Anosov. 4.1 O Teorema de comparação de Rauch

Aula número 1 (13/08)

MAT 5798 Medida e Integração IME 2017

Curvas e superfícies

3 Geometria de Contato

Capítulo 2. Ortogonalidade e Processo de Gram-Schmidt. Curso: Licenciatura em Matemática

MAT ÁLGEBRAS DE OPERADORES 2 SEMESTRE DE 2017 LISTA DE PROBLEMAS

Lista de exercícios 1 Grupos e Topológia

A forma canônica de Jordan

Introdução à Topologia Diferencial

Axiomatizações equivalentes do conceito de topologia

Nome:... Q N Assinatura:... 1 RG:... 2 N o USP:... 3 Turma: Teórica... 4 Professor: Edson Vargas... Total

O Grupo Fundamental. Estela Garcia Maringá PR, Brasil

CÁLCULO, VARIEDADES E FORMAS DIFERENCIAIS

1 Diferenciabilidade e derivadas direcionais

TÓPICOS EM ANÁLISE FUNCIONAL

Números Reais. Gláucio Terra. Departamento de Matemática IME - USP. Números Reais p. 1/2

Universidade de Aveiro Departamento de Matemática. Susana Raquel da Silva Leal Pereira. Integrabilidade e Dispersão de Sistemas Hamiltonianos

MAT Cálculo Avançado - Notas de Aula

Grupo Fundamental do Grupo Especial Ortogonal SO(n)

O teorema do mapeamento conforme de Riemann

Começamos relembrando o conceito de base de um espaço vetorial. x = λ 1 x λ r x r. (1.1)

Espaços Euclidianos. Espaços R n. O conjunto R n é definido como o conjunto de todas as n-uplas ordenadas de números reais:

Teorema da Função Inversa

O Teorema de P. Hall

Topologia. Fernando Silva. (Licenciatura em Matemática, 2007/2008) 13-agosto-2018

Compacidade de conjuntos e operadores lineares

5 O Teorema de Classificação

Aula trinta e dois: Teorema da função inversa

Um algoritmo para estimar o segundo grupo de homologia de algum grupo finitamente apresentado

Álgebra Linear e Geometria Anaĺıtica. Espaços Vetoriais Reais

CURVATURA DE CURVAS PLANAS

Fundamentos de Controle Não Linear: Conceitos Matemáticos Importantes (em Progresso)

BOA PROVA! Respostas da Parte II

Capítulo II Relatividade Newtoniana

APLICAÇÃO DO TEOREMA DO PONTO FIXO DE BANACH A UM PROBLEMA EM PROBABILIDADE 1

MAT 5798 Medida e Integração Exercícios de Revisão de Espaços Métricos

Resumo do Trabalho de Graduação

Lista de exercícios 14 Ortogonalidade

Variedades Riemannianas Bidimensionais Carlos Eduardo Rosado de Barros, Romildo da Silva Pina Instituto de Matemática e Estatística, Universidade

Instituto de Matemática - IM-UFRJ Geometria Riemanniana Lista 2 de exercícios, para entregar na aula de 5/9/2018

Uma introdução à Teoria de Singularidades. Marcelo José Saia

A noção de valorização em um anel de divisão

2 Conceitos básicos de topologia

arxiv: v1 [math.ag] 27 Oct 2017

O Teorema de Borsuk e a Teoria do Grau de de Brouwer

Álgebra Linear /2 Turma EM1 (unificada)

Notas de Aula: Análise no R n

Notas de Aula. Análise Funcional

Decimasegunda áula: Conexidade por caminhos, local, e sequências

Teoria da Medida e Integração (MAT505)

Faremos aqui uma introdução aos espaços de Banach e as diferentes topologías que se podem definir nelas.

1 Espaço Euclideano e sua Topologia

5. Seja A uma matriz qualquer. Assinale a afirmativa

Prova de seleção ao Mestrado e/ou Programa de Verão. Programas: ICMC-USP, UFAL, UFRJ

Então (τ x, ) é um conjunto dirigido e se tomarmos x U U, para cada U vizinhança de x, então (x U ) U I é uma rede em X.

Transcrição:

Seminário Brasileiro de Análise - SBA Instituto de Matemática e Estatatística - USP Edição N 0 67 Maio 2008 INTRODUÇÃO À TEORIA KAM R. L. RIBEIRO & M. V. P. GARCIA Resumo No estudo da mecânica celeste nos deparamos com sistemas hamiltonianos que são próximos de sistemas integráveis, muitas vezes não degenerados, e uma qualidade de sistemas integráveis é a presença de toros invariantes pelo fluxo do sistema. A teoria KAM descreve, por uma teoria perturbativa, o destino dos toros que verificam algumas propriedades diofantinas. Por ser uma ferramenta importante, principalmente utilizada em aplicações à física, tornase importante o conhecimento de uma demonstração rigorosa do principal teorema KAM. Para tanto introduzo sistemas hamiltonianos em variedades a partir de uma forma simplética e também um pouco de cálculo em espaços de Fréchet e, consequêntemente, o teorema das funções inversa e implícita (por Nash e Moser) nesses espaços. 1 Alguns fatos relevantantes sobre sistemas dinâmicos hamiltonianos integráveis 1 Definição 1.1. Uma varidade simplética é um par (M, ω) onde M é uma variedade e ω é uma forma simplética (2-forma fechada não degenerada). Supported by CNPq Mathematics Subject Classifications: 37J40 Key words: Sistemas hamiltonianos, teoria KAM, toros invariantes, teorema de Nash- Moser. Instituto de Matemática e Estatística, Universidade de São Paulo, SP, Brasil, ricardo@ime.usp.br Instituto de Matemática e Estatística, Universidade de São Paulo, SP, Brasil, mane@ime.usp.br 1 [1], [2], [3] 1

2 Introdução à teoria KAM 67 0 SBA Teorema 1.2. Seja f : M N um difeomorfismo entre as variedades M e N, o levantamento de f, definido por F : T M T N (x, ξ x ) ( f (x), ξ x d f (x) 1) é um simplectomorfismo entre as variedades T M e T N. Lema 1.3. Outra classe de simplectomorfismos é dada por certas translações ao longo das fibras. Considere a função F associada à 1-forma µ que leva cada (x, ξ x ) a (x, ξ x +µ x ). F é simplectomorfismo se e somente se a forma µ é fechada. Teorema 1.4 (Darboux). Uma variedade simplética (M, ω) de dimensão 2n é localmente simplectomorfa a um aberto de (R 2n, Ω 0 ). Definição 1.5. Um sistema hamiltoniano numa variedade simplética M de dimensão 2n é integrável (no sentido de Liouville), se seu hamiltoniano H admite n integrais primeiras independentes F 1, F 2,..., F n em involução. Ou seja, em toda a variedade M, 1. {H, F i } = 0 para 1 i n, 2. {F i, F j } = 0 para 1 i, j n e 3. df 1 df 2 df n 0 Exemplo 1.6. Nas coordenadas ângulo-ação (θ, I) T n R n, qualquer hamiltoniano que não dependa das coordenadas θ é integrável com integrais primeiras dadas por F i = I i para 1 i n. De fato, se H θ forma: = 0, então as equações de Hamilton tomam a simples θ = H I = ω(i) İ = 0 que têm solução explícita: θ(t) = θ 0 + ω(i 0 )t (1.1)

67 0 SBA Ricardo de Lima Ribeiro 3 Para se ter uma visão (descrição) geométrica de um sistema integrável, considere um número arbitrário de funções diferenciáveis independentes F 1, F 2,..., F m em M. Seja F = (F 1, F 2,..., F m ) : M R m. Esta função é uma submersão e todo valor de F é regular. Toda folha não vazia M c = F 1 {c} = {p M : F(p) = c} é uma subvariedade diferenciável de M de codimensão 2 m e toda a variedade M é folheada desta forma. Teorema 1.7 (Liouville-Arnol d-jost). Sejam (M, ω) uma variedade simplética de dimensão 2n, F j F (M) independentes e em involução para 1 j n e F = (F 1,..., F n ). Suponha que para algum c = (c 1,..., c n ) o conjunto M c = F 1 {c} é compacto e conexo. Então M c é um toro de dimensão n mergulhado 3 em M e existem U M vizinhança de M c, D R n vizinhança de c e um difeomorfismo Ψ : T n D U que introduz coordenadas de ângulo-ação, com Ψ ω = ω (forma simplética canônica em R 2n ) e Ψ(T n {x}) = M x x D, tal que F i Ψ não depende das coordenadas angulares. Definição 1.8. Dadas as condições iniciais (θ 0, I 0 ), ω(i 0 ) é o vetor de frequências de (1.1). Definição 1.9. O vetor ω R n é (c, τ)-diofantino se k, ω c k τ 1 k Z n \{0} e c, τ são reais positivos. O vetor ω é diofantino se for (c, τ)-diofantino para algum par (c, τ). Definição 1.10. O sistema hamiltoniano, em coordenadas ângulo-ação, é não degenerado em I 0 se [ ] ω det I (I 0) 0 2 Codimensão é a dimensão do complementar. Por exemplo, uma reta tem codimensão 1 no plano e codimensão 2 no espaço (de dimensão 3). 3 A topologia no toro é compatível com a topologia induzida de M.

4 Introdução à teoria KAM 67 0 SBA 2 Cálculo em espaços de Fréchet Referências para esta seção são [4], [5], [6]. Sejam E e F dois espaços vetoriais topológicos (sobre R), U um aberto de E e f : U F. Dizemos que f é de classe C 1 se f é contínua e existe uma função contínua D f : U E F linear na segunda variável, tal que (x, y) U E. (x, y) D f (x, y) = D f (x) y D f (x) y = lim t 0 [ f (x + ty) f (x) ] As aplicações de classe C k são as aplicações de classe C 1 tal que D f é de classe C k 1 no aberto U E de E E. Vale a regra da cadeia para funções C k no sentido de Gâteaux. 2.1 Categoria de Nash-Moser Definição 2.1. Um espaço de Fréchet é um espaço vetorial topológico com um sistema fundamental de vizinhanças convexas da origem e com uma métrica compatível com a topologia τ, completa e invariante por translação. 2.1.1 Funções tame Um espaço de Fréchet munido de uma sequência crescente de normas que definem sua topologia é um espaço de Fréchet graduado. Como de costume, o espaço de Fréchet graduado ( E, ( i ) i N ) será denotado por E apenas. Definição 2.2. Sejam E e F espaços de Fréchet graduados e U um aberto de E. Uma função f : U F é tame se, x 0 U, existem V U vizinhança de x 0, r N e C n R + tais que, x V e n N, f (x) n C n (1 + x n+r ) Diz-se que f é uma função tame C k se f é C k, no setido de Gâteaux,

67 0 SBA Ricardo de Lima Ribeiro 5 e f e suas derivadas até ordem k são tame. Assim, f é tame C se é tame C k para todo k. Um exemplo de função tame C é a transformação de Fourier. As funções tame formam um grupo multiplicativo com a operação de composição. 2.1.2 Espaços de Fréchet tame Definição 2.3. Um espaço de Fréchet graduado E é um espaço tame se existe uma família de aplicações lineares e contínuas S t : E E com 1 < t < e existem constantes C p,q R + com índices p e q naturais tais que, se k n e x E, S t x n C n,k t n k x k (2.2) [Id S t ]x k C k,n t k n x n Os operadores S t são chamados de operadores de aproximação. O espaço de Fréchet graduado F (T n ) é tame. 2.2 Os teoremas das funções inversa e implícita Teorema 2.4. Sejam E e F espaços tame, U aberto de E, f : U F função tame C k com 2 k e f (x 0 ) = y 0. Suponha que existe V 0 U vizinhança de x 0 onde a equação D f (x) x = η tem solução única x = L(x) η, e L : V 0 F E é uma função tame contínua, linear na segunda variável. Então x 0 e y 0 admitem vizinhanças V V 0 e W F entre as quais f é um difeomorfismo tame C k. Teorema 2.5. Sejam E, F e G espaços tame, U um aberto de E F e f : U G tame C k. Suponha que existe uma vizinhança V 0 U de (x 0, y 0 ) onde D 2 f (x, y) y = η tem solução única y = L(x, y) η,e L : V G F é uma função tame contínua, linear na segunda variável. Então x 0 admite uma vizinhança W sobre a qual se define uma função tame C k g : W F tal que g(x 0 ) = y 0

6 Introdução à teoria KAM 67 0 SBA x W, (x, g(x)) U e f (x, g(x)) = z 0 se f (x, y) = z 0 então y = g(x). Proposição 2.6. A função J : Diff (T n ; 0) Diff (T n ; 0) h h 1 é tame C e sua derivada é dada por DJ : Diff (T n ; 0) C (T n, R n ; 0) C (T n, R n ; 0) ou Diff (T n ; 0) (h, h) DJ(h) h = ( h h 1) 1 h h 1 2.3 Propriedade (P) Sejam E, F e G espaços de Fréchet graduados, Ω aberto de E, e k linear na segunda variável: k : Ω F G (x, y) k(x) y Diz-se que k tem a propriedade (P) em Ω se existem naturais s, l e uma sequência de constantes positivas (A m ) m N tais que, para todo x, x Ω, m N e y F, k(x) y m A m (1 + x m+s ) y l (P 1 ) k(x) y k( x) y m A m ( x x m+s + x m+s x x s ) y l (P 2 ) Exemplo 2.7. Se k é tame C 1 sobre Ω F e se k(ω) F pertence a um subespaço de dimensão finita de G, então k tem a propriedade (P) numa vizinhança de todo ponto de Ω. Lema 2.8. Sejam E, F e G espaços de Fréchet graduados, Ω aberto de E, x 0 Ω e L, l : Ω F G funções lineares na segunda variável.

67 0 SBA Ricardo de Lima Ribeiro 7 Suponha ainda que L(x) é inversível para x Ω e L 1 : Ω G F (x, y) L(x) 1 z (2.4) é uma função tame C 1, l tem a propriedade (P) numa vizinhança de x 0 e l(x 0 ) = 0. Então x 0 tem uma vizinhança aberta Ω Ω, tal que (L + l)(x) é inversível para x Ω e (L + l) 1 : Ω G F (x, z) (L(x) + l(x)) 1 z (2.5) é uma função tame contínua. 3 Teoremas KAM e demonstrações Definição 3.1. L α : C (T n, R p ) C (T n, R p ) u L α u = u α = n j=1 α j u θ j Lema 3.2. 1. A imagem de L α está contida no conjunto C 0 (Tn, R p ) definido por { v C (T n, R p ) : T n v(θ) θ = 0 } 2. Se α é não-ressonante então L α C (T n,r p ;0) é injetora. 3. A função L α é uma bijeção entre C (T n, R p ; 0) e C 0 (Tn, R p ) se e somente se o vetor α é diofantino. Neste caso, valem as desigualdades L 1 α v m A m v m+r (3.6) para todo v C 0 (Tn, R p ) e m N, onde A m e a norma define a topologia C m.

8 Introdução à teoria KAM 67 0 SBA Teorema 3.3. A função Φ α : Diff (T n ; 0) R n X (T n ) (h, λ) λ + h α = λ + h h 1 α é tame C para todo α R n. Ainda, se α é um vetor diofantino, então Φ α é um difeomorfismo entre vizinhanças abertas de (id, 0) Diff (T n ; 0) e α X (T n ). Demonstração. O objetivo é mostrar que Φ α satisfaz as condições do teorema 2.4. DΦ α (h, λ) ( h, λ) = λ+ h h 1 α 2 h h 1 (( ) ) h h 1 1 h h 1, α Mudam-se as variáveis, h = h E com E C (T n, R n ; 0) e DΦ α (h, λ) ( h E, λ) = λ + ( h E) h 1 α Dado η X (T n ), a equação DΦ α (h, λ) ( h, λ) = η é equivalente a L α E = ( h) 1 (η h) ( h) 1 λ Para que a equação acima tenha solução em E, pelo lema 3.2 é necessário que a integral em T n do segundo membro seja nula, ainda, se h V vizinhança aberta (suficientemente pequena na topologia C 1 ) de id Diff (T n ; 0) a equação [ ] ( h) 1 (θ)dθ λ = ( h) 1 (η h)(θ)dθ T n T n tem solução única λ = L 2 (h, λ) η. Mais ainda, a função L 2 : V R n C (T n, R n ) R n é tame contínua. Assim, ( h, λ) = ( h L 1 α [ ( h) 1 η h ( h) 1 L 2 (h, λ) η ], L 2 (h, λ) η )

67 0 SBA Ricardo de Lima Ribeiro 9 Ainda, L : V R n C (T n, R n ) Diff (T n ; 0) R n é tame contínua. Teorema 3.4 (KAM). Sejam H 0 F (D n R ) e I 0 D n R tal que H 0 é não degenerado e seu vetor gradiente é diofantino. Então existem uma vizinhança W de H 0 F (T n D n R ) e uma função tame C : tais que: W F (T n ; 0) R n Diff (T n ; 0) H ( f H, t H, g H ) 1. para todo H W, se u H = f H + t H então (a) u H (T n ) D n R (b) H (id, u H ) é constante em T n (c) H I (id, u H ) = (g H ) α ( C (T n, R n ) X (T n )) 2. f H0 = 0, t H0 = I 0, g H0 = id Lema 3.5. Definidos o conjunto U = { (u, t) C (T n, R n ) R n : θ T n, u(θ) + t D n R } e a função Afirma-se: X : F (T n D n R ) U X (T n ) (H, u, t) H I (id, u + t) 1. U é uma vizinhança aberta de (I 0, 0) C (T n, R n ) R n e X é tame. 2. Existem uma vizinhança aberta V de (H 0, I 0 ) F (T n D n R ) C (T n, R n ) e funções tame T : V R n e ϕ : V Diff (T n ; 0) tais que X (H, u, T(H, u)) = H I (id, u + T(H, u)) = [ ϕ(h, u) ] α

10 Introdução à teoria KAM 67 0 SBA para todo (H, u) e com T(H 0, I 0 ) = 0 e ϕ(h 0, I 0 ) = id. Demonstração. Defina a função tame C X : F (T n D n R ) U Diff (T n ; 0) X (T n ) (H, u, t, g) X(H, u, t) g α = = H I (id, u + t) g g 1 α (3.7) que se anula em (H 0, I 0, 0, id). Um simples cálculo (muito parecido com o da demonstração do lema 3.2) mostra que D 3,4 X : R n C (T n, R n ; 0) X (T n ) C (T n, R n ) ( t, g) 2 H I (id, u + t) t g 2 g 1 α (( + 2 g g 1 ) g g 1 1 g g 1, α) (3.8) satisfaz as hipóteses do teorema das funções implícitas 2.5. Lema 3.6. Dado V, do lema 3.5, definem-se o conjunto V = { (H, f ) C (T n D n R ) C (T n, R; 0) : (H, f + I 0 ) V } e a função G : V C (T n ) (H, f ) H (id, f + I 0 + T(H, f + I 0 )) Afirma-se que: 1. V é uma vizinhança aberta de (H 0, 0) C (T n D n R ) C (T n, R; 0) e G é tame C. 2. Existem uma vizinhança aberta W de H 0 C (T n D n R ) e uma função tame C F : W C (T n, R; 0) tal que G(H, F(H)) = H (id, F(H) + I 0 + T (H, F(H) + I 0 )) é constante para todo H W e F(H 0 ) = 0

67 0 SBA Ricardo de Lima Ribeiro 11 Demonstração. A função tame C definida por G : V R C (T n ) (H, f, E) G(H, f ) E = H (id, f + I 0 + T(H, f + I 0 )) E se anula em (H 0, 0, H 0 (I 0 )). Note que G(H, f ) é constante se e somente se existe E R tal que G(H, f, E) = 0. O lema estará provado assim que a invertibilidade de D 2,3 G(H, f, E) por uma função tame contínua numa vizinhança de (H 0, 0, H 0 (I 0 )) for verificada. D 2,3 G : C (T n, R; 0) R C (T n ) Onde ( f, E) [ D 2,3 G(H, f, E) + K(H, f, E)]{ f, E} D 2,3 G(H, f, E){ f, E} = H I (id, f + I 0 + T(H, f + I 0 )) ( f ) E K(H, f, E){ f, E} = H I (id, f + I 0 + T(H, f + I 0 )) D 2 T(H, f + I 0 ) f Pelo lema 2.8 com E = C (T n D n R ) C (T n, R; 0) R, F = C (T n, R; 0) R, G = C (T n ), Ω = V R, L = D 2,3 G, l = K e x 0 = (H 0, 0, H 0 (I 0 )), D 2,3 G(H, f, E) satisfaz as hipóteses do teorema 2.5. O teorema 3.4 decorre diretamente dos lemas 3.5 e 3.6 fazendo f H = F(H) t H = I 0 + T (H, F(H) + I 0 ) g H = ϕ(h, f H + t H ) Referências [1] Ralph Herman Abraham and Jerrold Eldon Marsden, Foundations of mechanics, Benjamin/Cummings Publishing Co. Inc. Advanced Book Program, Reading, Mass., 1978, Second edition, revised and

12 Introdução à teoria KAM 67 0 SBA enlarged, With the assistance of Tudor Raţiu and Richard Cushman. MR MR515141 (81e:58025) [2] Vladimir Igorevich Arnol d, Mathematical methods of classical mechanics, second ed., Graduate Texts in Mathematics, vol. 60, Springer-Verlag, New York, 1989, Translated from the Russian by K. Vogtmann and A. Weinstein. MR MR997295 (90c:58046) [3] Ana Cannas da Silva, Lectures on symplectic geometry, Lecture Notes in Mathematics, vol. 1764, Springer-Verlag, Berlin, 2001. MR MR1853077 (2002i:53105) [4] Richard Streit Hamilton, The inverse function theorem of Nash and Moser, Bull. Amer. Math. Soc. (N.S.) 7 (1982), no. 1, 65 222. MR MR656198 (83j:58014) [5] Walter Rudin, Functional analysis, second ed., International Series in Pure and Applied Mathematics, McGraw-Hill Inc., New York, 1991. MR MR1157815 (92k:46001) [6] François Trèves, Topological vector spaces, distributions and kernels, Dover Publications Inc., Mineola, NY, 2006, Unabridged republication of the 1967 original. MR MR2296978 (2007k:46002)