Palavras-chave: livro didático; metodologia; ensino de história.

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Transcrição:

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2 Pouco a pouco a História Social constituiu um campo de conhecimento, com métodos e problemas próprios; o que proporcionou o aprimoramento dos métodos para análise das fontes históricas, a ênfase no papel das ações humanas na história e a abertura para estudo de diferentes temporalidades. Na Inglaterra, o termo História Social significou abordagens centradas na história vista de baixo, e mesmo na cultura de classes populares. As discussões conceituais sobre classe social e cultura constituíram grande contribuição para os estudos históricos. Contribuições metodológicas também foram notáveis, como a utilização de depoimentos orais, da literatura popular, e, novas problematizações para as fontes jurídicas. 1 Da mesma forma, este trabalho de investigação privilegia as vozes daqueles atores sociais que encontram na prática cotidiana do seu trabalho, problemas levantados até hoje pela historiografia: as vozes são dos professores de História. No Programa de Mestrado acima mencionado, ao apresentar a Linha de Pesquisa de História e Ensino, a qual seguimos neste trabalho, faz um breve histórico sobre o surgimento da história enquanto disciplina escolar. Como o nosso trabalho trata das transformações que ocorreram no Ensino de História no Brasil a partir da década de 1960, esse histórico nos dá um pano de fundo para nossa posterior abordagem. Elza Nadai 2 disciplina: (1997) é citada com um resumo sobre o surgimento da [...] a história como disciplina escolar autônoma surgiu nos fins do século XIX, na Europa, imbricada nos movimentos de laicizarão da sociedade e de constituição das nações modernas, sendo marcada por duas imagens gêmeas no dizer de François Furet: a genealogia da nação e o estado da mudança, daquilo que é subvertido, transformado, campo privilegiado em relação àquilo que permanece estável. Para Nadai, a autonomização do objeto histórico unificou duas tradições do século XVIII, a do discurso enciclopédico que vinha elaborando uma doutrina do progresso e outra calcada em um conjunto de técnicas e saberes distintos, cronologia, diplomacia, viagens. O século XIX, por intermédio do método científico, positivista, remodelou tal pensamento ao adotar a linguagem das ciências naturais, a história em árvore genealógica das nações européias e das civilizações de que são portadoras. No Brasil, com a adoção da história como disciplina escolar no Colégio Pedro II, este embate vai ocorrer no interior dos mesmos movimentos de organização do discurso laicizado sobre a história universal, discurso no qual a organização escolar foi um espaço importante das disputas então travadas, entre o poder religioso e o avanço do poder laico, civil.

3 A História do Brasil, naquele momento, se apresentou como uma das disciplinas fundamentais no processo de formação de uma identidade comum. O passado era tratado de maneira que as ações humanas fossem homogeneizadas e unificadas com intuito de se constituir de uma cultura nacional. Conforme Selva Guimarães Fonseca 3, a História do Brasil foi tratada por muito tempo como um apêndice da História Universal, possuindo uma perspectiva europocêntrica, que influenciava os programas de ensino, a pesquisa histórica e os currículos dos cursos superiores. Na década de 70 do século XX, tivemos no Brasil a introdução dos Estudos Sociais, mas isso não desfez a cadeia hierárquica no ensino na qual o professor era considerado como reprodutor/transmissor dos saberes previamente concebidos na Academia, e, o aluno era considerado um mero receptor de tais saberes. Os programas de ensino e os livros didáticos transmitiam uma imagem da história que impunha o silêncio ao estudante - não apenas sua voz era silenciada como sua história era excluída. No entanto, Fonseca lembra que o trabalho do professor é interpretativo, e a escolha do conteúdo histórico a ser transmitido 4 depende do professor, da sua posição frente ao fazer histórico; o que revela um espaço de liberdade onde atuam quotidianamente alunos e docentes. 5 Ao final da Ditadura Militar no Brasil iniciou-se um debate na sociedade brasileira acerca dos papéis políticos e sociais no campo educacional, em geral, e no ensino de história, em particular. Atores sociais e temáticas que até então não haviam sido privilegiados, passam a ter seu lugar nas discussões em consonância com os novos debates e abordagens da historiografia, o que se torna um marco de ruptura no debate sobre ensino de história. Esta ruptura ocorreu, pois o professor e o aluno foram considerados como sujeitos capazes de produzir um saber histórico em sala de aula no ensino básico. Desde então, ocorreu uma abertura aos debates acerca dos novos suportes, novas fontes e novas abordagens para o ensino de história, incluindo outras formas de constituição de consciência histórica, fora do ambiente escolar, e as relações travadas entre estes meios e a sociedade. (...) Saberes docentes, formação de professores, formação de consciência histórica pelos jovens, metodologias de ensino e

4 pesquisa a partir do espaço da sala de aula, currículos e práticas pedagógicas em todos os níveis, e políticas públicas de ensino de história, além de outros, são exemplos de linhas investigativas em curso que cada dia mais ocupam espaço nos programas de pósgraduação, em obras e periódicos científicos da área. 6 Nos últimos anos (última década do século XX e início do XXI) as discussões em torno do ensino de história colocaram o Livro Didático de História em destaque, e trabalhos acadêmicos empenharam-se na análise de seus conteúdos. Alguns autores consideraram que o Livro Didático, por trazer em si posicionamentos políticos e ideológicos, se revelou como uma espécie de vilão do ensino, um instrumento de manipulação das massas escolares que recebem de cima passivamente aquilo que devem aprender. No entanto, esta idéia tem sido refutada por aqueles que acreditam numa escola que não é simplesmente uma reprodutora do conhecimento acadêmico, mas, produtora de um saber que lhe é próprio. Compartilhando desta forma de pensar sobre a escola enquanto espaço democrático, nos propomos neste trabalho a investigar a utilização em sala de aula do Livro Didático de História, nos anos de 2007-2008, no ensino básico, em uma escola pública de Londrina, no estado do Paraná: o Colégio Estadual Professora Maria José Balzanelo Aguilera. Queremos nesta pesquisa, ir além do debate acima mencionado, pois, há diversos trabalhos acadêmicos focados na análise do conteúdo do Livro Didático (LD) em si; no entanto, este campo de investigação tem levantado novas indagações sobre a práxis escolar em relação ao LD, a qual requer uma averiguação de perto sobre o modo como este material é utilizado por professores e alunos. O que queremos saber então é: como os professores trabalham o seu conteúdo em sala de aula o texto, as imagens, as fontes citadas em geral, os exercícios propostos, etc. Também queremos saber qual é o posicionamento do professor em relação a este instrumento de trabalho (se é apenas um recurso didático ou se ele trata o livro como fonte ). Nosso objetivo, mais especificamente, é saber se o professor, ainda hoje, apenas transmite o conteúdo (determinado pelo autor/editora) apresentado no livro, ou se contempla questões relacionadas à natureza da História e à sua interpretação, dando aos alunos a oportunidade de aprenderem em sala de aula o que não é possível aprender lendo os seus livros sozinhos em suas casas 7.

5 Será que o ensino dos conteúdos da História (Revolução Industrial, Primeira Guerra Mundial, etc.) apresentados pelo LD é acompanhado de uma exploração de questões teóricas, como noções de temporalidade, noções sobre rupturas e permanências, sobre o processo de construção do conhecimento e sobre a provisoriedade do conhecimento em História? E as fontes são trabalhadas adequadamente? Quais os métodos que mais têm dado certo na experiência com os alunos do ensino fundamental, quais são as principais dificuldades encontradas? Estas questões são bastante debatidas nos círculos acadêmicos da área de História, e tem sido cada vez mais fácil encontrar textos com discussões sobre tais temáticas, principalmente através da internet. Partindo do pressuposto da acessibilidade a informação gratuita e abundante, acreditamos que os professores têm a possibilidade de acompanhar as pesquisas acadêmicas, e, portanto, refletir no ensino em sala de aula algumas discussões historiográficas recentes (ainda que paulatinamente), isto é, fazer uma transposição didática 8 das teorias da História. Para saber se nosso pressuposto faz sentido, vamos perguntar de forma direta aos professores, através do questionário que será aplicado, se eles têm acompanhado os estudos acadêmicos e se fazem a transposição das discussões acadêmicas ao cotidiano da sala de aula. Nosso trabalho terá três estágios. No primeiro abordamos o fundamento teórico no qual nos pautamos quando escolhemos o tema deste trabalho; no segundo faremos uma revisão sobre a história da disciplina de História no Brasil e focaremos nossa atenção nos debates a respeito do Livro Didático; e, no terceiro, faremos uma análise dos questionários que serão respondidos pelos professores. Acreditamos que esta pesquisa poderá nos ajudar a compreender melhor o papel do professor de História, bem como, colaborar com a formação dos alunos/cidadãos. Haja vista que estes fazem parte de uma geração com acesso fácil à informação, mas, revelam uma grande dificuldade de assimilação e interpretação da mesma. Sabendo que através da história os estudantes têm a possibilidade de aprender sobre os diferentes aspectos da vida cotidiana, parece-nos conveniente analisar a atuação em sala de aula do professor desta disciplina - investigando suas concepções sobre a história e como ele faz uso do instrumento de trabalho que às vezes é o único: o livro didático. Para obtermos as informações necessárias para a análise proposta,

6 aplicaremos um questionário, onde serão contempladas questões sobre o acompanhamento dos professores quanto às discussões teóricas e metodológicas mais recentes a respeito do livro didático; o nível de participação dele na pesquisa e/ou na produção acadêmica; qual a sua avaliação sobre o livro didático utilizado; e quais são as principais dificuldades na utilização do livro, bem como os métodos que têm dado certo na experiência em sala de aula.

7 NOTAS: 1 As informações apresentadas estão na introdução do Programa de Mestrado da UEL. 2 NADAI, Elza. O ensino de história e a Pedagogia do Cidadão. In: PINSK, Jaime (org.). O Ensino de História e a criação do fato. São Paulo: Contexto, 1997. (Páginas 23-24) 3 FONSECA, Selva Guimarães. Caminhos da história ensinada. 3ed. Campinas: Papirus, 1995. 4 Não queremos aqui sugerir uma transmissão mecânica do conteúdo, mas a escolha da abordagem ou o ponto de partida do professor para a construção do conhecimento histórico com os alunos. 5 Idem. 6 Estas informações estão no texto do Programa de Mestrado da UEL, no contexto de BARCA, Isabel. O pensamento histórico dos jovens. Idéias dos adolescentes acerca da provisoriedade da explicação histórica. Braga: Universidade do Minho, 2000; e LEE, Peter; DICKINSON, Alaric; ASHBY, Rosalyn. Las ideas de los niños sobre la história. In: CARRETERO, Mario; VOSS, James (orgs.). Aprender y pensar la história. Buenos Aires: Amorrotu Editores, 2004. 7 LEE, Peter. Progressão da compreensão dos alunos em História. In: BARCA, Isabel (org.). Perspectivas em Educação Histórica. (Actas das Primeiras jornadas internacionais de educação histórica). Centro de Educação e Psicologia: Universidade do Minho, 2001. 8 Iremos utilizar com certo cuidado as idéias de Chevallard e discutir a possibilidade aplicação do seu conceito de transposição didática para o ensino de história. Cf. CHEVALLARD, Yves. La Transposición didáctica. Del saber Sabio al saber Enseñado. Buenos Aires: AIQUE, s/d.

8 BIBLIOGRAFIA: CHEVALLARD, Yves. La Transposición didáctica. Del saber Sabio al saber Enseñado. Buenos Aires: AIQUE, s/d. FONSECA, Selva Guimarães. Caminhos da história ensinada. 3ed. Campinas: Papirus, 1995. NADAI, Elza. O ensino de história e a Pedagogia do Cidadão. In: PINSK, Jaime (org.). O Ensino de História e a criação do fato. São Paulo: Contexto, 1997.