O EMPREGO DE RECURSOS DE COESÃO EM TEXTOS DE ALUNOS CONCLUINTES DO ENSINO MÉDIO

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Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá; As aves, que aqui gorjeiam, Não gorjeiam como lá. (...)

Transcrição:

O EMPREGO DE RECURSOS DE COESÃO EM TEXTOS DE ALUNOS CONCLUINTES DO ENSINO MÉDIO Ananias Agostinho da SILVA (UERN) 1 Débora Caruline Pereira SILVA (UERN) 2 Resumo: Este trabalho tem como objetivo analisar o emprego de recursos de coesão em textos de alunos concluintes do ensino médio, focalizando os principais mecanismos de coesão textual mobilizados pelos alunos, pautando-se na análise de instrumentos articuladores que possibilitem um melhor desenvolvimento textual e lexical, evitando o uso de repetições, ambiguidade, redundância, entre outros. Como aporte teórico nos fundamentamos, especialmente, na definição de texto e de competência textual apresentados por Rabaiolli (2004 ), bem como nos estudos de Koch (1990) sobre os elementos de coesão e coerência textual. A partir de uma análise qualitativa, de caráter descritivo-interpretativo, verificamos que os alunos não se sentem aptos a empregar os mecanismos de coesão gramatical em seus textos, e, de forma sintética, apresentamos considerações de como auxiliar esses alunos na hora de escrever textos, permitindo-lhes a produção de redações coerentes e coesas. Palavras-chave: Coesão; Textos; Competência textual 1. INTRODUÇÃO Conhecer a maneira pela qual um professor avalia o desempenho textual de um aluno nem sempre é uma tarefa fácil, necessita de saber o que, e como avaliar. Isso ocorre porque, na maioria das vezes, o aluno possui dificuldades em associar o tema atribuído pelo professor com os critérios estabelecidos para o feitio de uma boa redação. Em vista disso, nosso trabalho visa conhecer os critérios da Linguística Textual adotados pelo professor, bem como o ensino de produção textual nas séries concluintes. Intentamos identificar o porquê da falta de coerência, e, principalmente, coesão nesses textos, apresentando alternativas para um melhor aperfeiçoamento no ensino de produção de textos. Assim, utilizamos como aporte teórico os estudos sobre texto e 1 Possui Graduação em Letras com habilitação em Língua Portuguesa e suas respectivas Literaturas pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (2010). Mestre em Letras, na área de concentração em Estudos do texto e do discurso, por esta mesma universidade (2012). Douto rando em Estudos da Linguagem pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, na área de concentração em Linguística. 2 Graduanda em Letras com habilitação em Língua Portuguesa e suas respectivas Literaturas pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. 1

competência textual apresentados por Rabaiolli (2004) e baseamo-nos na definição de Linguística textual proporcionada por Koch (1990). Objetivamos fazer uma análise de textos de alunos do 3 ano (Ensino Médio) e 9 ano (Ensino Fundamental) verificando como eles empregam os recursos coesivos, se o fazem adequadamente, ou não. Por fim, apresentaremos métodos para um melhor uso dos recursos coesivos em sala de aula, para que os alunos escrevam e interpretem textos de maneira correta. Os objetivos apresentados baseiam-se na dificuldade dos alunos em escrever textos coesivos ou coesos. A preocupação das escolas e dos professores vêm se tornando frequente, principalmente em escolas públicas, as quais são consideradas instituições em que o nível escolar é menos favorável que o das privadas. Os métodos empregados pelo professor de Língua Portuguesa nem sempre são favoráveis ao nível de conhecimento do aluno, que, na maioria das vezes, não escreve corretamente. Conforme afirma Koch (2003): (...) uma metodologia que valorize atividades de leitura e produção de texto que levem o aluno a refletir sobre o funcionamento da língua nas diversas situações de interação verbal, sobre o uso dos recursos que a língua lhes oferece para a concretização de suas propostas de sentido, bem como a adequação dos textos a cada situação, ainda está longe de se tornar realidade. Nesse contexto, este trabalho apresentará uma revisão de noções de texto, competência textual, concepções de coesão e coerência, além da análise do Corpus, bem como a apresentação de métodos para que o aluno possa melhorar seu desempenho textual, e utilizar os recursos coesivos corretamente. 2. CONCEPÇÕES SOBRE TEXTO E COESÃO TEXTUAL A concepção de texto pode variar muito. Diante disso, tomaremos como base o conceito definido pela Linguística textual segundo Fávero e Koch (2002). Para elas a definição de texto pode ser tomada em dois sentidos: Texto, em sentido lato, designa toda e qualquer manifestação da capacidade textual do ser humano, (quer se trate de um poema, quer de uma música, uma pintura, um filme, uma escultura etc.), isto é, qualquer tipo de comunicação realizado através de um sistema de signos. Em se tratando de linguagem verbal, temos o discurso, atividade comunicativa de um falante, 2

numa situação de comunicação dada, englobando o conjunto de enunciados produzidos pelo locutor (ou por este e seu interlocutor, no caso do diálogo) e o evento de sua enunciação. O discurso é manifestado, linguisticamente, por meio de textos (em sentido estrito). Nesse sentido, o texto consiste em qualquer passagem, falada ou escrita, que forma um todo significativo, independente de sua extensão. Trata-se, pois, de uma unidade de sentido, de um contínuo comunicativo contextual que se caracteriza por um conjunto de relações responsáveis pela tessitura do texto os critérios ou padrões de textualidade entre os quais merecem destaque especial a coesão e a coerência (FÁVERO E KOCH, 2002:25) Assim, entendemos que texto é uma unidade linguística comunicativa. Para que um texto seja claro e conciso faz-se necessário a utilização de elementos coerentes e coesos. Para Halliday e Hasan (1976) a coesão é a porta de entrada para descrever e explicar o texto. Ou seja, um texto coeso é um texto facilmente interpretado. A coesão é uma espécie de elo onde um elemento, para ser interpretado, pressupõe outro. Citam como principais fatores de coesão: a referência, a substituição, a elipse, a conjunção e a coesão lexical (RABAIOLLI; 2004, p. 4). Podemos citar como principal fator da coesão a referência e a sequência. A coesão referencial segundo Koch (1991; p. 30) é aquela em que um componente da superfície do texto faz remissão a outro(s) elemento (s) do universo textual. Assim, podemos ter como representação um nome, enunciado, oração, entre outros. Já a coesão sequencial diz respeito aos procedimentos linguísticos por meio dos quais se estabelecem, entre segmentos do texto (enunciados, partes de enunciados, parágrafos e mesmo seqüências textuais), diversos tipos de relações semânticas e /ou pragmáticas medida que se faz o texto progredir. (KOCH; 1991, p.49). Neste trabalho faremos uma análise dos elementos coesivos empregados, ou não em textos de alunos concluintes do ensino médio. 3. MÉTODOS UTILIZADOS O material de estudo é composto por redações de alunos do 3 ano do Ensino Médio. Dentre diversos textos analisados, foram escolhidos cinco para a análise e descrição referentes à coesão textual. Dois dos textos foram escritos por alunos da zona urbana da cidade de Rafael Godeiro (RN), e os outros três escritos por alunos moradores da zona rural da cidade. Ambos são estudantes de uma escola pública estadual localizada na cidade. 3

Esses alunos pertencem, economicamente, a classe baixa, e seus pais possuem pouca, ou nenhuma escolaridade. Independente da classe social em que estão inseridos, podemos perceber que ambos possuem problemas relacionados à falta de coesão. Assim, dois dos temas propostos para a realização das redações foram: As vantagens e desvantagens do uso da internet na vida do estudante. A copa do mundo no Brasil Quando ao método utilizado neste trabalho, far-se-á uma análise qualitativa de caráter descritiva-interpretativa dos recursos de coesão empregados no texto. 4. ASPECTOS AVALIATIVOS Vejamos a seguir alguns recortes dos textos dos alunos do 3 ano, que comprovam o emprego inadequado dos recursos de coesão presentes no texto sobre a Copa do Mundo: (...) Não achei muito boa a copa do mundo porque o brasil chegou lá e perdeu a copa de 7x1 e eu achei uma umilhação essa perda da copa e também pelo custo que foi gasto nessa copa foi muito alto e poderia ajuda na construção de mais hospitais no brasil. Os elementos sublinhados acima mostram uma série de repetições da palavra copa. Nota-se que essa repetição compromete a estética coesiva do texto, fazendo com o que o mesmo se torne gramaticalmente incorreto. O termo chegou lá apresentado no fragmento em negrito apresenta um advérbio de lugar. Entretanto, ele não faz referência a nenhum termo apresentado anteriormente no texto. (...) Nesta copa de 2014 foi muito boa, tivemos muitas jogadas emocionantes, e tivemos muitos gols infelizmente o Brasil não conseguiu ser campeã mais tivemos uma festa inesquecível. Então as vezes eu mim pergunto: Será que o Brasil realmente jogou bem? Então mim vem as respostas: Não devemos nós preocupar com si eles jogaram bem ou não, o que importa é que agente é brasileiro então temos que torçer pela nossa selesão. Então temos muitos craques, então por isso que devemos dá força a eles. Então eu termino dizendo: Viva o brasil. 4

Comecemos pela análise dos termos sublinhados. A palavra então é repetida 5 vezes, notamos, assim, que o uso desse conectivo torna o texto repetitivo e sem coesão. O mesmo acontece com o verbo ter, apresentado no texto na forma tivemos. O aluno repete esse termo 3 vezes, deixando o texto com leitura de difícil compreensão. Agora, apresentaremos um excerto 3 de texto no qual o aluno emprega adequadamente alguns recursos coesivos: (...) A Copa do Mundo foi um fato histórico! É certo que muitas manifestações aconteceram, pois os brasileiros alegavam que o país não teria condições de sediar um evento tão grande e esperado pelo mundo inteiro. Muitas coisas aconteceram, muito dinheiro foi gasto, isso não podemos negar, mas, diante de tudo isso, resta-nos aceitar que o brasileiro é um povo que ama o futebol, é uma paixão nacional. Somos patriotas, amamos nossa bandeira, nosso país e nosso futebol (...) Como podemos notar, o excerto está totalmente correto. O pronome indefinido muitas, retoma aos termos anteriores, no qual o aluno faz referência às manifestações e problemas que o Brasil enfrentou para sediar a Copa do Mundo. Nota-se também o emprego correto do termo mas, que possui a ideia de contrariedade e oposição. Apresentaremos a seguir excertos de duas redações do 3 ano do Ensino Médio que possuem como tema As vantagens e desvantagens do uso da internet na vida dos estudantes. Hoje, as pessoas deixam sua vida real para viverem exclusivamente na internet, e isso se torna um vício e acaba virando uma doença. Muitas pessoas ver a internet como um esconderijo, onde elas acham sua vida sem graça e acaba criando um perfil falso, um pseudônimo fazendo elas serem perfeitas. Hoje, muitas vidas são destruídas pelo mau uso da internet. O termo onde está empregado incorretamente, pois o mesmo só pode ser usado quando faz-se referência a um determinado lugar. Notamos, também, que o advérbio de tempo hoje é repetido duas vezes em parágrafos diferentes, deixando-os repetitivos. 3 Os excertos serão transcritos de acordo com os originais. Não faremos nenhum tipo de correção gramatical ou interpretativa. 5

É notório diferentes erros em ambos os excertos. São exemplos as palavras: umilde, torçer, além do uso inadequado dos conectivos mas e mais. Convém lembrar que problemas quanto à coesão não são únicos nos textos, percebemos que além da falta de coesão, coerência e grafia, as redações desses alunos não apresentam expressão, o que faz com que os textos se tornem vazios e com pouco conteúdo. Notamos também que problemas referentes à pontuação também são frequentes, e prejudicam muito a qualidade textual e gramatical desses textos. 5. ALGUMAS PROPOSTAS QUE AJUDEM O ALUNO A APLICAR E PENSAR MELHOR SOBRE OS RECURSOS COESIVOS Consideremos algumas propostas apresentadas por Rabaiolli (2004) para que o aluno pense, escreva e utilize os recursos coesivos adequadamente: 1- É importante levar o aluno a perceber que um texto é uma unidade, um todo significativo e não um simples somatório de frases e, que tais frases, se ligam umas às outras por meio de conectores. 2- Durante as atividades de leitura, o professor deve chamar a atenção do aluno para os diferentes tipos de conectores, sejam eles de ordem referencial, seqüencial ou de outra ordem. 3- Tão logo o aluno adquire essa consciência, é fundamental conduzi-lo a concentrar sua atenção nos conectores interfrásicos. Um bom exercício é pedir que o aluno substitua os conectores utilizados num determinado texto por outros que exprimam a mesma relação, ou, diversamente, propor ao aluno que altere a relação, levando-o a concluir que, com isso, ele modifica o sentido do texto (...) (RABAIOLLI; 2004, p. 10) Percebemos que os alunos sentem dificuldades em aplicar corretamente os recursos coesivos sequenciais e referenciais. Diante disso, o professor poderá aplicar uma técnica chamada Cloze, em que a mesma leva o aluno a aplicar e pensar melhor sobre o quê e como irá aplicar os recursos coesivos em sua redação. O professor corrigirá essa redação é mostrará onde o aluno aplicou os recursos coesivos sequenciais e referenciais, além de erros referentes a ortografia e coerência do texto. A seguir, apresentamos uma redação do aluno do 3 ano. Os recursos coesivos referenciais estão apresentados em negrito e os sequenciais em itálico. 6

As vantagens e desvantagens do uso da internet na vida do estudante. A internet é uma ferramenta indispensável na vida de qualquer pessoa dentro de uma sociedade como a que vivemos hoje. Hoje, ela facilita muito a vida dos estudantes. O que é muito comum no uso da internet hoje é as pessoas viverem exclusivamente em frente a um computador, notbook, o que acaba acarretando uma certa alienação por parte das pessoas. Muitos pais vem aconselhando seus filhos de como usar corretamente essa ferramenta tão boa, mas muitos não escutam seus pais e usam do mesmo jeito. Hoje a internet é uma forma de você conviver com o mundo, sabemos que existe lá suas desvantagens, mas se vc souber utilizar de maneira correta vale a pena. 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS Este trabalho mostrou como alunos do 3 ano do Ensino Médio utilizam de recursos coesivos em suas redações. Apresentamos excertos de textos que mostram a falta de coesão em redações, além de algumas propostas em que o professor pode auxiliar o aluno na hora de escrever esses textos. Tecemos considerações a cerca do significado de texto, coesão e coerência, além de redações com temas atuais que possibilitaram um melhor entendimento deste trabalho. Como podemos notar, os concluintes do Ensino Médio, na maioria dos casos, não aplicam bem os recursos de coesão, sendo eles referencial e sequencial, o que contribui para o feitio de uma redação de baixa qualidade. O professor deve, assim, auxiliar o aluno na hora de escrever esses textos, apresentando-lhes seus erros, e ajudando-os a dissertar e argumentar melhor. Diante disso, um aluno que escreve bem, principalmente alunos concluintes do Ensino Médio, possuem a tendência de serem aprovados em processos seletivos com: ENEM, PSV, entre outros. Logo, o trabalho apresentado buscou tecer algumas considerações e meios de melhorar a escrita de redações de alunos concluintes, tentando mostrar como e porque a falta de coesão está presente na maioria desses textos. 7

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FAVERO, Leonor; KOCH, Ingedore. Lingüística textual: introdução. 6ª ed. São Paulo: Cortez, 2002. HALLIDAY, M.A.K.; HASAN, Ruqaiya. Cohesion in English. London: Longman, 1976. KOCH, Ingedore & TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Texto e coerência. 3ª ed. São Paulo: Cortez, 1993. KOCH, Ingedore. A coesão textual. São Paulo: Contexto, 1991. RABAIOLLI, Maristela. Coesão textual em contraste: Alunos de escola pública e privada. Rio Grande do Sul: UFRGS, 2004. 8