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Transcrição:

Revsta Economa & Tecnologa RET) Volume 8, Número 1, p. 19-34, Jan/Mar 2012 Dstrbução geográfca do PIB per capta Fábo José Ferrera da Slva * Fernando de Aquno Fonseca Neto ** Resumo: O artgo apresenta uma aplcação do índce T-Thel para analsar a dstrbução terrtoral do PIB per capta no Brasl, no período 1999/2008. A decomposção do índce permte mensurar a desgualdade espacal em níves muncpal, estadual e regonal. Dos resultados subnaconas obtdos, destacam-se a melhora da dstrbução estadual no centro-oeste e o aumento da concentração muncpal no sudeste. No país, a desconcentração entre regões e entre estados fo superor ao aumento da concentração entre muncípos, estabelecendo um padrão de crescmento terrtoralmente desconcentrador, ao contráro do observado na Chna. Palavras-chave: Dstrbução geográfca; Índce T-Thel. Classfcação JEL: R12; O15; C8. As opnões expressas neste artgo são de ntera responsabldade dos autores e não refletem, necessaramente, as do Banco Central do Brasl. * Mestre em Economa pela Escola de Economa de São Paulo - Fundação Getúlo Vargas FGV-EESP). Analsta do Núcleo Regonal de Pesqusas Econômcas NUPEC) do Banco Central do Brasl em Recfe. Endereço eletrônco: fabo. slva@bcb.gov.br. ** Doutor em Economa pela Unversdade de Brasíla UnB). Professor da Unversdade Católca de Pernambuco e analsta do Núcleo Regonal de Pesqusas Econômcas NUPEC) do Banco Central do Brasl em Recfe. Endereço eletrônco: fernando.fonseca@bcb.gov.br. ISSN 2238-4715 [mpresso] ISSN 2238-1988 [on-lne] www.ser.ufpr.br/ret www.economaetecnologa.ufpr.br 19

Fábo José Ferrera da Slva, Fernando de Aquno Fonseca Neto 1 Introdução Exste uma lteratura especalzada, geralmente referencada em Barro 1991), que analsa as desgualdades regonas, buscando verfcar a exstênca de convergêncas de renda 1. Aplcado ao Brasl, Azzon 1997) harmonza dados de fontes dversas para montar uma sére de renda per capta dos estados da Federação de 1939 a 1995, dentfcando fases de convergênca e de dvergênca. Excetuando-se períodos em que os esforços governamentas voltaram-se à redução das dferenças, o artgo encontra que períodos de mas rápdo crescmento econômco assocaram-se a aumentos de desgualdades regonas, enquanto que, em períodos de baxo crescmento, houve redução. Mas recentemente, utlzando métodos não paramétrcos, Laurn 2007) e Slva e Fgueredo 2010) encontram evdêncas de convergêncas, sobretudo de clubes de convergênca: as economas muncpas tenderam a formar blocos, convergndo para estados estaconáros dferencados. O presente artgo relacona-se com o tema, porém, ao nvés de realzar testes de convergênca, o objetvo é analsar a evolução da dstrbução espacal da renda per capta em cada regão soladamente norte, nordeste, sudeste, sul e centro-oeste) e no país para o período compreenddo entre 1999 e 2008, pela metodologa atual das contas regonas do Insttuto Braslero de Geografa e Estatístca IBGE). Para sso, aplca a metodologa de Akta 2003), orgnalmente utlzada para Chna e Indonésa, aos dados do Brasl, o que permte a comparação dos resultados. Vale enfatzar a mportânca da dstrbução geográfca da atvdade econômca, tanto como ndcador de efcênca quanto de bem-estar. Em termos de efcênca, num enfoque mcroeconômco mas restrto, quanto maores os ganhos de escala e menores os custos de transporte melhor será a dstrbução terrtoral. Num sentdo mas amplo, deve-se consderar as chamadas economas de aglomeração, que se manfestam através de: ) economas de escala e escopo; ) externaldades postvas; ) menores custos de transação, que ncluem, por exemplo, menores custos de procura por consumdores. Tas requstos podem mplcar em certo nível de concentração terrtoral para a realzação de nvestmentos que, de outro modo, smplesmente não ocorreram. Além destes, 1 Para uma síntese de tas teoras, vde Sala--Martn 1996). Revsta Economa & Tecnologa RET) Vol. 81), p. 19-34, Jan/Mar 2012 20

Dstrbução geográfca do PIB per capta devem-se agregar aspectos tecnológcos - maor dfusão tecnológca e snergas - e nsttuconas, favorecdos com a concentração. Em geral, espera-se que as economas superem as deseconomas, de modo que, do ponto vsta da efcênca alocatva, a concentração espacal tende a ser preferível. Enquanto ndcador de bem-estar socal, deve-se atentar para o fato de que a dstrbução geográfca do PIB per capta não possu o mesmo apelo que a dstrbução de ndcadores como a renda domclar per capta. Anda assm, assumndo-se a exstênca de rgdez na mobldade da mão de obra, a desconcentração terrtoral da atvdade econômca tende a trazer ganhos de bem-estar. Por exemplo, os fluxos mgratóros de pessoas em dreção aos grandes centros em busca de emprego tendem a ser menores, reduzndo os custos e rscos assocados à mgração. No mesmo sentdo, mutos defendem que, nos grandes conglomerados urbanos, a partr de determnados portes, o seu crescmento gerará mas custos do que benefícos socas. Há evdêncas de que os grandes centros são mas propensos a ncorrer em problemas relaconados à superpopulação, como volênca, trânsto, polução e demas degradações ao meo ambente. A questão também é do nteresse do planejador públco, que pode ver benefícos na desconcentração produtva. Levando-se em conta que os nvestmentos têm efetos de transbordamento mas acentuados em regões de vznhança, nvestmentos em áreas menos desenvolvdas afastadas dos centros) podem potencalzar o efeto multplcador, fomentando o surgmento de polos de desenvolvmento. Tas desdobramentos serão maores quanto maor for a cadea produtva do setor em que se realza o nvestmento e mas ntegrados estverem os mercados regonas, resultando na maor geração de emprego e renda em regões dstantes dos centros. Em síntese, os argumentos apresentados mostram que a análse de ganhos ou perdas relaconados à dstrbução espacal da atvdade deve ser feta com cautela, consderando-se que envolve um dlema entre efcênca e bem-estar. 2 Análse descrtva Os dados utlzados neste artgo são da pesqusa Produto Interno Bruto dos Muncípos, do IBGE, dsponblzados para o período 1999/2008. As trajetóras dos PIBs per capta das regões, no período 1999 a 2008, em R$ Revsta Economa & Tecnologa RET) Vol. 81), p. 19-34, Jan/Mar 2012 21

Fábo José Ferrera da Slva, Fernando de Aquno Fonseca Neto de 2008, são mostradas no Gráfco 1, sendo todas ascendentes. Vale destacar os rtmos de expansão mas elevados no norte, de 3,4% a.a., sobretudo pela contrbução da Zona Franca de Manaus, e no sudeste, a partr de 2003, de 3,9% a.a., prncpalmente em função do desempenho do estado de São Paulo. Gráfco 1 - PIB per capta regonal - R$ 1.000 de 2008 Fonte: Contas regonas, IBGE. Em termos de dstrbução entre as regões, o Gráfco 2 apresenta a razão entre os seus PIBs per capta e o naconal. Pode-se perceber que o ndcador apresentou maores alterações no norte e no centro-oeste, onde, de 1999 a 2008, passaram de 0,58 para 0,64 e de 1,22 para 1,27 do valor naconal. O sul retrause de 1,17 para 1,14, enquanto o sudeste e o nordeste apresentaram as menores alterações em relação ao naconal, 1,34 para 1,32 e 0,46 para 0,47. Destacase que, com exceção do centro-oeste, as regões com PIBs per capta ncal acma do naconal cresceram abaxo da méda, ao contráro do que se verfcou com as regões de menores PIBs per capta. Assm, dentfcou-se moderada desconcentração regonal, ou seja, as dferenças regonas vêm se reduzndo, anda que permaneçam elevadas. Revsta Economa & Tecnologa RET) Vol. 81), p. 19-34, Jan/Mar 2012 22

Dstrbução geográfca do PIB per capta Gráfco 2 - PIB per capta regonal / PIB per capta naconal Fonte: Contas Regonas, IBGE. 3 Metodologa 3.1 Índce de Thel Para mensurar a dstrbução espacal dentro do país e de cada regão utlzou-se o T-Thel, cuja nterpretação é de que quanto maor o seu valor, mas concentrada é a dstrbução 2. T = Σ Onde: T é o T-Thel e é o PIB. Conforme Hoffman 1998), esse ndcador tem vasta utlzação em trabalhos empírcos e satsfaz váras propredades desejáves, como ndependênca da méda e do tamanho da população e o Prncípo de Pgou- Dalton a desgualdade cresce como resultado de transferêncas regressvas). ln / N / N Uma característca muto útl do T-Thel é a possbldade de sua decomposção em termos adtvos. Neste artgo, utlzando a metodologa desenvolvda em Akta 2003), a desgualdade de renda per capta será realzada 1) 2 Desenvolvdo em Thel 1967), baseado no conceto de entropa de uma dstrbução. Observe-se, com base na expressão 1), onde o subscrto refere-se ao -ésmo muncípo, que se seus PIBs per capta forem todos guas, o T-Thel será zero, enquanto se apenas um tver PIB per capta dferente de zero, o T-Thel será gual ao logartmo natural do número de muncípos lnm)). Revsta Economa & Tecnologa RET) Vol. 81), p. 19-34, Jan/Mar 2012 23

Fábo José Ferrera da Slva, Fernando de Aquno Fonseca Neto de duas formas: ) para as regões, o T-Thel será decomposto em um estágo; ) para o país, a decomposção será realzada em dos estágos. 3.2 Decomposção em um estágo Em cada regão do país, consdera-se a segunte estrutura herárquca estado-muncípo. Dessa forma, o T-Thel pode ser dado por: jk jk / T = Σ j Σ ln k N jk / N Onde: jk é a renda do muncípo k no estado j, é a renda total de todos os muncípos = Σ j Σ k jk ), N jk é a população do muncípo k no estado j, e N é a população total de todos os muncípos = Σ j Σ k N jk ). Defnndo-se T mj, conforme equação abaxo, para medr a desgualdade muncpal do estado j, 2) jk jk / j T mj = Σ ln j N jk / N j então o T-Thel pode ser decomposto em: j 3) j T = j T + mj Σ j j Σ Σ j = j T + T mj ES j / ln N j / N = T MU + T ES 4) Onde: j é a renda total do estado j = Σ j jk ), N j é a população total do estado j = Σ j N jk ) e T ES = Σ j j / ) ln[ / )/N / N )] mede a desgualdade dos j j estados. A Equação 4) é a decomposção de Thel em um estágo: o Thel dos estados T ES ) que mede a desgualdade dos estados, e o Thel dos muncípos T MU ) que é uma méda ponderada das desgualdades dos muncípos de cada estado T mj ) 3. 3 Os componentes T ES e T MU também poderam ser denomnados, respectvamente, de componente nterestadual e ntraestadual. Revsta Economa & Tecnologa RET) Vol. 81), p. 19-34, Jan/Mar 2012 24

Dstrbução geográfca do PIB per capta 3.3 Decomposção em dos estágos Para o país, consdera-se a estrutura herárquca regão-estadomuncípo. A desgualdade pode ser expressa por: jk jk / T = Σ Σ j Σ ln k N jk / N Onde: jk é a renda do muncípo k no estado j na regão, é a renda total de todos os muncípos = Σ Σ j Σ k jk ), N jk é a população do muncípo k no estado j na regão, e N é a população total de todos os muncípos = Σ Σ j Σ k N jk ). Se defnrmos T m, conforme abaxo, para medr a desgualdade dos muncípos da regão, jk jk / T m = Σj Σ ln k N jk / N então o ndcador T da Equação 5) pode ser expresso como: T = T + m Σ Σ Σ Onde: é a renda total da regão = Σ j Σ k jk ), N é a população total da regão = Σ j Σ k N jk ) e T RE = Σ / ) ln[ / )/N / N )] mede a desgualdade das regões. Dessa forma, a desgualdade regonal é a soma dos componentes estadual e regonal. Em seguda, defne-se T j para medr a desgualdade de renda dos estados, para o estado j na regão, jk jk / j T j = Σ ln k j N jk / N j Revsta Economa & Tecnologa RET) Vol. 81), p. 19-34, Jan/Mar 2012 7) Então T m na Equação 6) pode ser decomposto em: = T + T m RE T m = T + j j Σ j j Σ j / ln N / N j / ln N j / N 6) 5) 25

Fábo José Ferrera da Slva, Fernando de Aquno Fonseca Neto Σ Onde: j é a renda total do estado j na regão = Σ k jk ), N j é a população do estado j na regão = Σ k N jk ) e T p = Σ j j / ) ln[ / )/N / N )] mede a j j desgualdade de renda dos muncípos da regão. j = T + T j j p Substtundo 8) em 7), pode-se obter T j : Σ 8) T = + T + T + T j j p RE Σ Σ j [ Σ = T + j j j Σ = T MU + T ES + T RE 9) [ T p + T RE A Equação 9) mostra que a desgualdade pode ser decomposta em três termos adtvos: o componente muncpal T MU ), estadual T ES ) e regonal T RE ). O T MU é uma méda ponderada das desgualdades muncpas T j ), enquanto que o componente T ES é uma méda ponderada das desgualdades estaduas T p ). 3.4. Estrutura de apresentação dos resultados A análse dos resultados será desenvolvda com foco na tendênca do período, já que nosso objetvo prncpal é dentfcar um padrão médo do comportamento da desgualdade. Dessa forma, o T-Thel de nteresse, assm como seus componentes, podem ser expressos por funções lneares em relação ao tempo 4 : T = α + βt 10) Revsta Economa & Tecnologa RET) Vol. 81), p. 19-34, Jan/Mar 2012 26 Para as regões, utlzando o T-Thel conforme defndo em 10) para os anos de 1999 a 2008, e adotando a decomposção realzada em 4), a varação do ndcador pode ser composta pela soma das contrbuções dos componentes 4 A possbldade alternatva, que sera a de se comparar apenas o prmero e o últmo ano do período em questão sem fazer a regressão) não sera deal. Em 2008, por exemplo, a crse nternaconal do subprme repercutu no Brasl - e de forma dstnta entre as regões -, de modo que os resultados poderam ser substancalmente nfluencados por esse fator. Quando se analsa a tendênca, efetos pontuas são amortecdos.

Dstrbução geográfca do PIB per capta muncpal e estadual: T T MU t=1999 T T = MU + t=1999 T t=1999 t=1999 T T MU { Contrbução dos muncípos T t=1999 ES t=1999 T ES T t=1999 ES { Contrbução dos estados 11) Para o país, a varação do ndcador pode ser composta pela soma das contrbuções dos componentes muncpal, estadual e regonal: T T MU t=1999 T MU T = + T t=1999 T ES ES T t=1999 t=1999 T t=1999 t=1999 T + RE t=1999 t=1999 T t=1999 T MU { Contrbução dos muncípos T ES { Contrbução dos estados T RE T t=1999 RE { Contrbução das regões 12) 4 Resultados 4.1 Desgualdades regonas Os Gráfcos de 3 a 7 mostram os valores anuas e a tendênca lnear dos componentes estaduas e muncpas do T-Thel para as dstrbuções do PIB per capta de cada regão, no período 1999 a 2008. É valoso observar que, geralmente, tudo o mas constante, contrburão para desconcentração espacal o crescmento acma da méda de áreas com renda ncal abaxo da méda e o crescmento abaxo da méda de áreas com renda ncal acma da méda. Os resultados para o norte, mostrados no Gráfco 3, ndcam melhora da dstrbução do PIB per capta - o ndcador recuou tendencalmente 0,3% a.a. no período - refletndo a desconcentração de renda entre os estados, com prncpal contrbução do crescmento acma da méda do estado do Tocantns. No caso dos muncípos, dentfcou-se osclação e uma tendênca - anda que bastante modesta - de aumento de concentração. Revsta Economa & Tecnologa RET) Vol. 81), p. 19-34, Jan/Mar 2012 27

Fábo José Ferrera da Slva, Fernando de Aquno Fonseca Neto Gráfco 3 - Norte - Concentração terrtoral da renda T-Thel) Fonte: Elaboração própra. Gráfco 4 - Nordeste - Concentração terrtoral da renda T-Thel) Fonte: Elaboração própra. A concentração do PIB per capta no nordeste reduzu-se tendencalmente em 0,8% a.a., resultante da contrbução exercda tanto entre os estados, de -0,6 pontos percentuas ao ano p.p.a.a.), quanto entre os muncípos, -0,2 p.p.a.a.. Os resultados, apresentados no Gráfco 4, tveram como prncpas determnantes o crescmento acma da méda regonal no Maranhão 4,0% a.a. em comparação a 2,6% a.a.) e abaxo da méda nas regões metropoltanas de Salvador, Recfe e Fortaleza. Revsta Economa & Tecnologa RET) Vol. 81), p. 19-34, Jan/Mar 2012 28

Dstrbução geográfca do PIB per capta Gráfco 5 - Sudeste - Concentração terrtoral da renda T-Thel) Fonte: Elaboração própra. O Gráfco 5 revela que no sudeste ocorreu aumento de concentração de renda, com tendênca de 1,6% a.a., devdo à maor concentração entre os muncípos, que contrbuu com 2,6 p.p.a.a., parcalmente compensada pela desconcentração entre os estados, -1,0 p.p.a.a.. A melhora da dstrbução estadual decorreu do crescmento acma da méda de Mnas Geras 2,6% comparado a 2,3%) e do Espírto Santo 4,3%) e abaxo da méda do Ro de Janero 1,6%). O aumento da concentração dos muncípos fo bastante dssemnado, anda que possam ser ressaltados os crescmentos dos muncípos onde predomnam atvdades lgadas à ndústra do petróleo como Campos dos Goytacazes, Duque de Caxas e Betm), além de Santos e da mcrorregão de Osasco. Gráfco 6 - Sul - Concentração terrtoral da renda T-Thel) Fonte: Elaboração própra. Revsta Economa & Tecnologa RET) Vol. 81), p. 19-34, Jan/Mar 2012 29

Fábo José Ferrera da Slva, Fernando de Aquno Fonseca Neto Os resultados para o sul não ndcam alterações sgnfcatvas na dstrbução do PIB per capta, como pode ser vsualzado no Gráfco 6, mas vale menconar o crescmento abaxo da méda das regões metropoltanas de Curtba e de Porto Alegre compensados pelo crescmento acma da méda do Vale do Itajaí e Norte Catarnense. Destaca-se, anda, o baxíssmo nível de desgualdade dos estados desta regão. Gráfco 7 - Centro-Oeste - Concentração terrtoral da renda T-Thel) Fonte: Elaboração própra. Os resultados para o centro-oeste, apresentados no Gráfco 7, mostram a dstrbução terrtoral mas desfavorável, em função do PIB per capta do DF ser muto superor ao dos estados da regão. Contudo, é onde se observa maor desconcentração, com tendênca de 3,9% a.a., devdo ao rtmo de crescmento do DF 1,5% a.a.) substancalmente abaxo da méda da regão 2,8% a.a.). Apesar do aumento da concentração entre muncípos, nos quas não faz parte o DF, que contrbuu com 0,8 p.p.a.a., o efeto total que prevaleceu na regão é de melhora na dstrbução 5. 4.2 Desgualdade no país Revsta Economa & Tecnologa RET) Vol. 81), p. 19-34, Jan/Mar 2012 30 Em escala naconal, o Gráfco 8 revela moderada desconcentração da renda, tendencalmente 0,3% a.a., como resultado da melhora da dstrbução em níves estadual, -0,8 p.p.a.a., regonal -0,6 p.p.a.a., apesar da concentração 5 Ressalte-se que comparações dos níves do T-Thel entre as regões devem ser evtadas, já que os números de muncípos e estados das regões são dferentes. O assunto é explorado em Novotný 2007), que apresenta uma forma de contornar esse problema, reunndo muncípos com característcas comuns. Os crtéros utlzados não estão claros no artgo e vão além dos objetvos deste trabalho.

Dstrbução geográfca do PIB per capta entre os muncípos, 1,0 p.p.a.a.. Os resultados estadual e muncpal refletem, sobretudo, o comportamento da regão sudeste, que possu o maor peso do país. A desconcentração regonal se explca pelo crescmento abaxo da méda das regões em que a renda per capta era mas alta no ano ncal sudeste e centro-oeste), conforme se hava nferdo pelo Gráfco 2. Os resultados podem ser comparados aos obtdos por Akta 2003), que utlza metodologa dêntca para a Chna no período 1990-1997, obtendo um aumento do T-Thel de 0,057 para 0,085. Assm, ao contráro do padrão chnês, o crescmento econômco no Brasl vem sendo terrtoralmente desconcentrador. Os resultados estão alnhados com aqueles apresentados em Ipea 2010) que, utlzando o índce de Gn para o PIB per capta dos muncípos brasleros no período 1996/2007, também encontram pequena desconcentração terrtoral. Gráfco 8 - Brasl - Concentração terrtoral da renda T-Thel) Fonte: Elaboração própra. 5 Consderações fnas Dentre os resultados obtdos, destacam-se: ) a desconcentração em nível estadual no centro-oeste, com o crescmento do PIB per capta relatvamente menor do DF; ) a concentração em nível muncpal no sudeste, com as expansões de preço e quantum do petróleo; ) no país como um todo, a desconcentração entre estados e entre regões fo superor à concentração entre muncípos, estabelecendo um padrão de crescmento terrtoralmente desconcentrador, ao Revsta Economa & Tecnologa RET) Vol. 81), p. 19-34, Jan/Mar 2012 31

Fábo José Ferrera da Slva, Fernando de Aquno Fonseca Neto contráro do observado na Chna. De modo geral, pode-se constatar que, exceto no sudeste, as grandes regões metropoltanas, nclusve o DF, cresceram abaxo da méda regonal, como resultado da desconcentração espacal da geração de renda. Tas desconcentrações refletem os seguntes efetos: ) aumentos reas do saláro mínmo e das transferêncas, prevdencáras e assstencas, especalmente sobre o comérco dos muncípos mas pobres; bem como ) expansão do Programa Naconal de Fortalecmento da Agrcultura Famlar Pronaf) e dos preços e quantum das commodtes agrícolas, prncpalmente soja e mlho, abrangendo novos muncípos. No caso do sudeste, as expansões de preço e quantum de petróleo contrbuíram para o aumento da concentração terrtoral da renda. Vale ressaltar que tal desconcentração espacal fo modesta e favorece apenas em parte as elevações de bem-estar, que estão mas relaconadas à dstrbução pessoal da renda. Em partcular, os resultados foram condconados, em grande medda, por expansões de valores de produtos ntensvos em recursos naturas, que geralmente têm efetos reduzdos sobre a geração de empregos, nclusve devdo à maor parte de suas cadeas produtvas transbordarem para o exteror. Referêncas Akta, T. 2003). Decomposng regonal ncome nequalty n Chna and Indonesa usng two-stage, nested Thel decomposton method. The Annals of Regonal Scence 371): 55-77. Azzon, C. R. 1997). Concentração regonal e dspersão das rendas per capta estaduas: análse a partr de séres hstórcas estaduas 1939-1995. Estudos Econômcos 273): 341-393. Barro, R. 1991). Economc growth n a cross-secton of countres. The Quarterly Journal of Economcs 1062): 407-443. Hoffmann, R. 1998). Dstrbução de renda: meddas de desgualdade e pobreza. São Paulo: Edusp. IPEA. 2010). Desgualdade da renda no terrtóro braslero. Comuncados do Ipea n 60. Laurn, M. 2007). A note on the use of quantle regresson n beta convergence analyss. Economc Bulletn 352); 1-8. Novotný, J. 2007). On the measurement of regonal nequalty: does spatal dmenson of ncome nequalty matter? The Annals of Regonal Scence 413): 563-580. Revsta Economa & Tecnologa RET) Vol. 81), p. 19-34, Jan/Mar 2012 32

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