Aluno: Marcela Virginio Dametto Orientador: Regina Célia de Mattos. Introdução



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Transcrição:

As transformações espaciais da cidade do Rio de Janeiro a partir dos investimentos em infraestrutura para a Copa do Mundo de 2013 e as Olímpiadas de 2016 Aluno: Marcela Virginio Dametto Orientador: Regina Célia de Mattos Introdução A cidade do Rio de Janeiro será sede das Olímpiadas de 2016 e também receberá alguns jogos da Copa do Mundo de 2014. Para tanto, diversas obras infraestruturais estão sendo feitas com o intuito de prepará-la para receber esses eventos de grande porte. Nesse sentido, estão em construção quatro vias expressas que tem por objetivo facilitar a circulação de pessoas e mercadorias através da cidade do Rio de Janeiro. A construção dessas vias expressas é financiada em sua maior parte pelo governo federal através do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) da Mobilidade Urbana e o restante do investimento é feito pela Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro. As vias expressas em questão são: Transoeste, Transcarioca, Transolímpica e TranBrasil. O nosso trabalho de pesquisa é focado nas transformações espaciais que estão ocorrendo, e que ainda vão ocorrer com maior intensidade, no bairro de Deodoro e em suas nas adjacências, por conta da construção dos corredores expressos TransBrasil e Transolímpico. O corredor expresso TransBrasil ligará o aeroporto Santos Dumont localizado no centro da cidade do Rio de Janeiro ao bairro de Deodoro, localizado na zona oeste da cidade, que será um polo esportivo de grande relevância para as Olímpiadas de 2016. Este corredor expresso será construído a partir da Avenida Brasil, via expressa de extrema importância para a população que mora na cidade do Rio de Janeiro e nos munícipios da Baixada Fluminense. Já o corredor expresso Transolímpico fará a ligação do bairro de Deodoro ao bairro da Barra da Tijuca, ou seja, tem a função de conectar dois polos esportivos das Olímpiadas de 2016, visto que a Barra da Tijuca será também um polo esportivo onde serão realizadas diversas competições Olímpicas. Sendo assim, observa-se que o bairro de Deodoro, ponta tanto do corredor expresso TransBrasil quanto do Transolímpico será duplamente afetado por essas intervenções infraestruturais que estão sendo feitas para viabilizar o deslocamento mais rápido durante a realização das Olímpiadas de 2016. De acordo com a Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, A TransOlímpica vai ligar os dois principais polos de competições da cidade, Deodoro e Barra da Tijuca, onde acontecerá a maior parte das provas dos Jogos Olímpicos de 2016. Um dos compromissos assumidos com o Comitê Olímpico Internacional (COI), ela terá duas pistas de três faixas cada, sendo uma delas exclusiva para o BRT.[1] Com efeito, pode-se observar que a reconfiguração da Avenida Brasil, transformando-a em TransBrasil (nos locais por onde passarão os BRT S) e a abertura da Transolímpica são obras infraestruturais que estão sendo feitas para atender exigências de organismos internacionais tais como o COI, acima citado e o BIRD (Banco Interamericano para Reconstrução e Desenvolvimento), banco responsável por financiamentos de obras em cidades que necessitam de infraestrutura básica, mas também financiador de obras em cidades que buscam se modernizar e se capacitar para competir internacionalmente, em termos de candidaturas para sediar quaisquer tipo de megaeventos. Nosso trabalho de pesquisa busca compreender e analisar as transformações espaciais que estão ocorrendo em Deodoro e nos bairros adjacentes, por conta da construção do corredor expresso TransBrasil. A análise feita acerca das transformações espaciais que

ocorrem nessa região por conta da construção do corredor expresso Transolímpico é feita tendo como foco apenas o bairro de Deodoro, por se tratar da ponta desses dois corredores expressos. Dessa forma, nossa análise busca compreender quais e como são as transformações espaciais que estão ocorrendo, no que tange, por exemplo, às desapropriações feitas pela Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro para viabilizar a abertura ou reconfiguração dessas vias, ao aumento no valor do solo urbano dessas áreas, devido à especulação imobiliária, entre outros objetos espaciais que estão sendo transformados e que vão se revelar para nós ao longo do desenvolvimento da pesquisa. Metodologia A fundamentação teórica que nos possibilitou compreender as transformações espaciais que estão ocorrendo em Deodoro e em suas adjacências é a ideia de espaço produzido, desenvolvida por Henri Lefebvre e posteriormente trabalhada por Ana Fani Alessandri Carlos, autora de extrema importância para a fundamentação teórica deste trabalho de pesquisa [2]. Isto é, o homem em cada momento histórico, produz o espaço em que vive tanto através das técnicas que desenvolve, como através das relações sociais e de produção que estabelece. Nesse sentido, pensamos o espaço geográfico como o produto das relações sociais e de produção que nele se estabelecem e se reproduzem. Sendo assim, o espaço geográfico é também meio e condição para que essas relações possam ser estabelecidas. A sociedade está inteira na criação de seu espaço. Aqui ela emprega todos os meios de ação que seu estágio civilizatório coloca a sua disposição, a força de trabalho de seus homens, a engenhosidade de suas técnicas, o suporte de suas crenças, de seu espírito, de suas ambições. Sociedade e espaço obedecem à mesma racionalidade [...]. A sociedade e seu espaço constituem um todo indissociável no sistema de interações onde a sociedade se cria criando o espaço [3]. As sociedades humanas sempre produziram seu espaço, porém, o que ocorre no atual momento de desenvolvimento das relações capitalistas de produção é que no capitalismo essa produção assume contornos e conteúdos diferenciados dos momentos históricos anteriores, expande-se territorial e socialmente (no sentido em que penetra em todos os lugares do mundo e em toda a sociedade) incorporando as atividades do homem, redefinindose sob a lógica do processo de valorização do capital. Nesse contexto, o próprio espaço assume a condição de mercadoria como todos os produtos dessa sociedade. [4] Nesse sentido, o espaço como mercadoria é altamente valorizado em um centro urbano, ao passo que os espaços vão se tornando escassos (espaço raridade) e, portanto, seu valor de troca se eleva, condicionando e viabilizando a ação de especuladores imobiliários. Além da mercantilização do espaço, per se, na atual fase de desenvolvimento das relações capitalistas de produção, os espaços urbanos, isto é, as cidades, têm de modernizar sua rede viária, com o intuito de facilitar a circulação do capital. Portanto, a produção do espaço está intimamente ligada à produção de mercadorias e nesse sentido, a circulação facilitada delas é chave para a modernização de uma cidade. A inserção competitiva de uma cidade no âmbito internacional depende das condições que esta cidade oferece para a eficiente reprodução do capital, à medida que... a atual fase do capitalismo só se realiza produzindo um novo espaço, pressionado pelas novas exigências da acumulação mediante suas lógicas e estratégias na escala mundial. [5] Sendo assim, pode-se observar que os corredores expressos TransBrasil e Transolímpico estão sendo construídos para agilizar o deslocamento tanto de pessoas, como de mercadorias, durante as Olímpiadas de 2016. Efetivamente, não podemos afirmar que a implantação dessas vias não vá beneficiar a população da cidade do Rio de Janeiro, contudo, pode-se afirmar que essas vias expressas não estão sendo construídas baseadas nas reivindicações da população que mora na cidade do Rio de Janeiro ou na baixada Fluminense,

mas sim, devido à exigências feitas por organismos internacionais, sobretudo o COI que visam preparar a cidade do Rio de Janeiro para receber os Jogos Olímpicos de 2016. O corredor expresso Transbrasil será feito sobre a base viária da Avenida Brasil. Esta Avenida inaugurada em 1946 é de suma importância para o estado do Rio de Janeiro. Tem 58,5 km de extensão e corta 27 bairros. A Avenida Brasil é o maior trecho urbano da BR101, rodovia federal longitudinal que liga o Rio Grande Norte ao Rio Grande do Sul, passando por 12 estados brasileiros, e no município do Rio de Janeiro a Avenida Brasil faz a ligação de seu trecho norte com seu trecho sul (Rio-Santos). Essa Avenida faz também parte do percurso da BR040, rodovia federal radial, com início em Brasília, que passa pelos estados de Goiás, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Além dessas rodovias, a Avenida Brasil está no percurso da BR116, rodovia longitudinal de extrema importância para a economia do país em termos de escoamento de mercadorias em direção aos diferentes portos e/ou aeroportos do país, que se inicia em Fortaleza e se estende até o Rio Grande do Sul. Além disso, a Avenida Brasil é a base do movimento pendular de milhares de pessoas que moram na Baixada Fluminense e trabalham no centro da cidade do Rio de Janeiro e vice-versa. Devido ao intenso crescimento populacional ocorrido na cidade do Rio de Janeiro entre os anos 30 e 50 do século XX, acontecido basicamente pela chegada de imigrantes atraídos pelo forte projeto industrial que ocorria na cidade, as áreas suburbanas afastadas do centro tiveram um grande adensamento populacional [6]. Naquela época, as pessoas foram nessas áreas principalmente por quatro fatores: obras de saneamento feitas na década de 30 pelo DNOS (Departamento Nacional de Obras e Saneamento); eletrificação da Central do Brasil (1935), instituição da tarifa ferroviária única em todo o Grande Rio; abertura da Avenida Brasil que aumentou a acessibilidade dos municípios periféricos [6]. A Avenida Brasil foi a consequência espacial da associação Estado-indústria e visava incorporar novos terrenos ao tecido urbano, visando a sua ocupação industrial [6]. Desde sua inauguração até os dias de hoje, a Avenida Brasil é o principal eixo norteador da expansão urbano-industrial em direção à área periurbana da cidade do Rio de Janeiro. Contudo, pelo fato de fazer a conexão entre diversos municípios da baixada fluminense e o centro da cidade do Rio de Janeiro, além da conexão de bairros localizados na zona oeste e norte da cidade com o centro e se constituir em eixo que liga não só a cidade, mas o estado do Rio de Janeiro ao sul e norte/nordeste do país, a Avenida Brasil encontra-se saturada, no que diz respeito à sobrecarga de tráfego que recebe diariamente, o que provoca constantes congestionamentos. Sendo assim, fez-se necessário a sua reestruturação através de obras, tais como o alargamento de pistas, construção de viadutos e alças de acesso, com o intuito de facilitar a circulação de veículos por essa via. Assim, a Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro está construindo a TransBrasil, que por teoria, é uma via expressa que contará com corredores exclusivos para ônibus com capacidade de transportar mais passageiros e tornar o movimento pendular das pessoas que moram em suas margens mais rápido e cômodo. O corredor expresso Transbrasil terá 32 km de extensão e vai cortar 30 bairros do município do Rio de Janeiro. Uma de suas pontas será o bairro de Deodoro, onde haverá um terminal de integração com a Transolímpica e com a Supervia, concessionária que opera os serviços de trens urbanos da região Metropolitana do Rio de Janeiro desde 1998. A Supervia opera em oito ramais e tem um total de 102 estações. Os percursos dos trens passam pelo município do Rio de Janeiro, Duque de Caxias, Nova Iguaçu, Nilópolis, Mesquita, Queimados, São João de Meriti, Belford Roxo, Japeri, Magé, Paracambi e Guapimirim. Um dos ramais que opera na cidade do Rio de Janeiro é o que faz a ligação Deodoro-Central do Brasil e sendo assim, já existe em Deodoro uma estação de trens. Por conta da construção da Transolímpica e da TransBrasil, a prefeitura da cidade tem o objetivo de construir um terminal que possa integrar essas duas modalidades de transporte urbano, o trem e o BRT. A outra ponta do corredor expresso TransBrasil ponta está localizada aproximadamente na altura da Avenida Presidente

Antônio Carlos, localizada no centro da cidade, onde haverá um terminal para integração com o VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) até o Aeroporto Santos Dumont (ver figura 1). O bairro de Deodoro de acordo com o censo de 2010 tem uma população de 10.842 pessoas, em uma área total de 464,05ha (ver figura 2). A maior parte dessa área é de propriedade do Exército Brasileiro e para a construção dos complexos esportivos, o exército teve de ceder grandes áreas para a prefeitura da cidade. Para servir como centro de competições nas Olímpiadas de 2016, será construído o Parque Radical que será constituído pelo Centro Olímpico de BMX, que será uma instalação definitiva, o Parque Olímpico de Mountain Bike, com instalações temporárias, e o estádio de canoagem, com instalações definitivas. Nesse sentido, pode-se observar que alguns dos equipamentos que serão construídos para a realização das Olímpiadas no bairro de Deodoro, serão mantidos. O que nos inquieta é o fato de essas obras e intervenções urbanas não serem feitas a partir dos desejos e necessidades dos moradores dos bairros ou da própria cidade do Rio de Janeiro. Essas intervenções urbanas são feitas a partir de decisões tomadas em uma ordem distante tendo como direcionamento a ordem próxima [7], que é o lugar. Figura 1- Traçado da TransBrasil. Fonte: Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro Figura 2- Deodoro. Fonte: Google Earth

Em junho de 2012, a concessionária Foz Águas 5 venceu o edital de licitação lançado pela Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro e é responsável nos próximos 30 anos pela coleta e tratamento de esgoto da Área de Planejamento 5, constituída pelos seguintes bairros: Bangu, Gericinó, Padre Miguel e Senador Camará, bairros esses que por sua vez constituem a XVII RA (Bangu). Campo Grande, Cosmos, Inhoaíba, Santíssimo e Senador Vasconcellos que por sua vez compõem a XVIII RA (Campo Grande). Santa Cruz, Paciência e Sepetiba que compõem a XIX RA (Santa Cruz). Realengo, Campo dos Afonsos, Deodoro, Jardim Sulacap, Magalhães Bastos, Realengo e Vila Militar que compõem a XXXIII RA (Realengo) e finalmente Guaratiba, Barra da Guaratiba e Pedra de Guaratiba que constituem a XXVI RA de Guaratiba (ver figura 3). Nesse mesmo ano, foi instalada no bairro de Deodoro, a Estação de Tratamento de Esgotos (ETE) Constantino Arruda Pessôa. De acordo com esse edital, será feito o desassoreamento do rio Marangá e do rio Caldeireiro, que contribuem para a poluição da Baía de Guanabara. Ocorre que essas intervenções infraestruturais, além de beneficiarem a população no que concerne ao atendimento às suas necessidades básicas, fazem com que o preço do solo urbano de Deodoro e adjacências se eleve sobremaneira, o que levará a modificação do espaço e das relações sociais que se estabelecem nesse espaço (ver figura 4). Além do bairro de Deodoro, outros espaços e populações sentem os efeitos da modernização e da forte intervenção urbana em direção à zona oeste da cidade, realizadas por conta da necessidade de reestruturação urbana com o intuito de viabilizar a realização dos jogos Olímpicos segundo os padrões e normas estabelecidas pelo COI. O bairro de Guadalupe localizado a nordeste de Deodoro possui uma população de 16.697 pessoas segundo o censo de 2010, ocupando uma área de 382 ha. No final do ano de 2011, foi inaugurado no bairro o Shopping Jardim Guadalupe (ver figuras 5 e 6), o que pode demonstrar a modificação de um espaço tradicionalmente suburbano, de comércio familiar, para a consolidação do padrão internacional de comércio, onde as franquias tanto no que concerne a lojas de alimentação, vestuário ou lazer, ganham primazia no cotidiano das pessoas e dos lugares. Figura 3- Localização geográfica das AP'S. Fonte: Instituto Pereira Passos.

Figura 4- Intervenções urbanas em Deodoro. Fonte: Jornal o Globo Figura 5- Shopping Jardim Guadalupe- Cinemas Fonte: http://www.jardimguadalupeshopping.com.br/

Figura 6: Shopping Jardim Guadalupe Fonte: http://www.jardimguadalupeshopping.com.br/ De acordo com os dados fornecidos na tabela que se segue, do ano de 2008 até o ano de 2009 houve um elevado aumento na taxa de licenciamentos para construções imobiliárias na Área de Planejamento 5. Esses dados nos revelam a ocorrência de transformações no espaço urbano desta região e por consequência, as possíveis transformações que também estão ocorrendo nas vidas das pessoas que lá moram e de seus cotidianos. AP 5 2008 AP 5 2009 Total da área licenciada Total de edificações Total de unidades Unidades por tipo Residencial /Comercial 772.596 1.400 5.956 5.590 / 731 1.500.357 2.350 18.040 17.840 / 200 Tabela 01- Total da Área Licenciada, Total de Edificações, Total de Unidades e Total de Unidades por Tipo- AP 5-2008-2009. Fonte: Modificado pela autora do Instituto Pereira Passos. Tabela: 2945 Resultados e discussões De acordo com a análise ainda incipiente dos dados apresentados sobre o bairro de Deodoro e bairros adjacentes, somado ao embasamento teórico que norteia este trabalho de pesquisa, percebemos que as transformações espaciais que estão ocorrendo por conta da intervenção do Estado e de empreiteiras privadas, em prol da modernização do espaço urbano carioca que pretende receber megaeventos esportivos, afirma o alinhamento das políticas públicas e mais especificamente do planejamento estratégico realizado na cidade do Rio de Janeiro, com os padrões de modernização e produção do espaço de cidades implementados ao redor de todo mundo. Por sua vez, esses padrões de produção do espaço são moldados sob a

égide do capitalismo, que para viabilizar a acumulação cada vez maior de capital, precisa padronizar as cidades ao redor do mundo para que haja a produção, circulação, distribuição e consumo eficientes e sem margem de prejuízos. Isto é, cada etapa do processo produtivo sob o modo de produção capitalista deve ser feita visando não apenas neutralizar prejuízos, mas maximizar os lucros. Nesse sentido, a construção dos corredores expressos TransBrasil e Transolímpico são a materialização deste processo de acumulação capitalista, na medida em que estão sendo construídos para agilizar o fluxo de pessoas e mercadorias durante a Copa do Mundo de 2014 e as Olímpiadas de 2016 e não porque os moradores do bairro de Deodoro e adjacências reivindicaram essas intervenções urbanas. De acordo com o avanço de nosso trabalho de pesquisa e após a ida a campo e feitura de entrevistas semiestruturadas com os moradores desses bairros, poderemos observar se essas obras infraestruturais estão ou não beneficiando o seu cotidiano. Contudo, deve-se ressaltar que o governo federal brasileiro através do PAC, tem o objetivo de modernizar diversos setores da sociedade brasileira, mais especificamente setores econômicos e para tanto, viu se necessário fazer uma reestruturação urbana na cidade do Rio de Janeiro, sede de megaeventos esportivos. Desta feita, Carlos [4] diz: Nessa direção, a contradição fundante da produção espacial (produção social /apropriação privada), desdobra-se na contradição entre a produção de um espaço orientada pelas necessidades econômicas e políticas (em suas alianças possíveis), e a reprodução do espaço enquanto condição, meio e produto da reprodução da vida social. No primeiro caso, a reprodução do espaço se orienta pela imposição de uma racionalidade técnica, assentada nas necessidades impostas pelo desenvolvimento da acumulação que produz o espaço enquanto condição da produção, desvelando as contradições que o capitalismo suscita em seu desenvolvimento. No segundo caso, a reprodução da vida prática se apresenta, tendencialmente, invadida por um sistema regulador, em todos os níveis, concretizada no espaço enquanto norma- ditos e interditos- que formaliza e fixa as relações sociais, reduzindoas a formas abstratas e autonomizando as esferas da vida e, como consequência, dissipando a consciência espacial.(carlos,2011,p.72). Considerações Finais Pelo fato dos corredores expressos TransBrasil e Transolímpico ainda não estarem com suas obras concluídas, nosso trabalho de pesquisa ainda não pode apresentar conclusões definitivas. Isto se dá também pelo fato de que trabalhos de campo ainda serão realizados mais especificamente nos bairros de Deodoro, Magalhães Bastos e Guadalupe com o intuito de ouvir dos moradores desses bairros, quais estão sendo os efeitos dessas obras infraestruturais em seus cotidianos. Por outro lado, devemos ressaltar que um trabalho de pesquisa acerca da análise de um processo espacial não pode nunca ser considerado um trabalho de pesquisa finalizado, pois os processos que levam ao movimento de transformação espacial não cessam nunca, porque são processos sociais materializados no espaço geográfico e consequentemente materializados na vida das pessoas. O espaço geográfico está em construção permanente, à medida que é produto das relações sociais que nele se estabelecem e que por sua vez são dinâmicas e constantemente renovadas e transformadas. Segundo Doreen Massey, [...] o espaço é o produto de relações entre relações que são práticas materiais necessariamente embutidas que precisam ser efetivadas,e portanto, ele está sempre num processo de devir, está sempre sendo feito, nunca está finalizado, nunca se encontra fechado. ( MASSEY, 1999).

Referências 1 http://www.cidadeolimpica.com.br/projetos/transolimpica/ 2- CARLOS, Ana Fani Alessandri. A (re) produção do espaço urbano. 1.ed. 1 reimpr.- São Paulo. Editora da Universidade de São Paulo,2008. 3 LEFEBVRE,Henri, Espace et politique, Paris, Éditions Anthropos,1968. IN: CARLOS, Ana Fani Alessandri. A (re) produção do espaço urbano.1.ed.1. reimpr.- São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo,2008. 4-CARLOS, Ana Fani Alessandri. A condição espacial. São Paulo. 2011.157p. 5- SANCHEZ, Fernanda. A reinvenção das cidades para um mercado mundial 2.ed- Chapecó, SC: Argos,2010. 555p. 6- ABREU, Mauricio de Almeida. A evolução urbana da Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: IPP,2006.156P.IL.,Mapas;28cm. 7 - LEFEBVRE, Henri. La production de l espace. 4.ed. Paris: Anthropos,2000. 8- MASSEY, DOREEN. 1990. Power-Geometries and the Politics of Space-Time. (Hettner-Lecture 1998). Heidelberg: Departamento de Geografia da Universidade de Heidelberg.