A USINA HIDRELÉTRICA DO ESTREITO-MA: ANÁLISE DE SEUS ESPAÇOS DE INFLUÊNCIA SOB A CONTRIBUIÇÃO DO TRABALHO DE MILTON SANTOS
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- Cíntia Felgueiras Ribeiro
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1 Thaís Samara de Castro Bezerra José Carlos Bezerra Universidade Estadual da Paraíba UEPB A USINA HIDRELÉTRICA DO ESTREITO-MA: ANÁLISE DE SEUS ESPAÇOS DE INFLUÊNCIA SOB A CONTRIBUIÇÃO DO TRABALHO DE MILTON SANTOS INTRODUÇÃO A Usina Hidrelétrica do Estreito-MA está sendo construída no Rio Tocantins, entre duas cidades: Aguiarnópolis-TO e Estreito-MA; localizadas num espaço com grande potencial para desenvolvimento socioeconômico, mas com carências para tal realização. Possui uma potência de 1.109,7 MW e x 106 m³ de volume de água, alagando 10 municípios (8 do TO e 2 do MA). Várias empresas estão atuando nessa obra, inclusive empresas internacionais. A justificativa para esse empreendimento é resultante das necessidades prementes de energia elétrica do país, pois o setor elétrico brasileiro é um condicionador para a expansão econômica desde a década de 90, motivada pela explosão do consumo. Os impactos ambientais, de natureza social e econômica também estão detalhados no RIMA da usina. O que não está tão evidente são as diversas relações e complexidades de sistemas de ações que envolvem todo o empreendimento, que estão circunscritas ou subordinadas a um sistema global de pensamento. A ausência de uma discussão mais crítica da construção desse evento é um fato. OBJETIVO É dentro desse contexto social, ambiental e econômico, que o estudo pretende abordar algumas das muitas evidências da obra de Milton Santos, como: a questão do excesso de finalidade das técnicas, da realidade dos territórios frente à globalização e seu desejo de homogeneização, os fixos e os fluxos, os sistemas de objetos e ações, a questão dos eventos e suas conseqüências, entre outras. METODOLOGIA 1
2 Este trabalho utilizou os seguintes procedimentos metodológicos: pesquisa bibliográfica baseada no pensamento de Milton Santos; visita in loco; depoimentos de moradores da região; depoimento de pessoas que trabalham dentro da usina; utilização de vídeos que mostram o cotidiano do empreendimento e uma simulação das áreas que serão alagadas. RESULTADOS 1. O espaço e a população do entorno da Usina Hidrelétrica do Estreito-MA 1.1.Condições de vida da população: A população rural dos dois municípios possui uma vida precária, pois os equipamentos de saúde e de educação estão distantes. A maior parte da população reside nas proximidades do rio Tocantins e seus afluentes, realizando atividades pouco tecnificadas de subsistência (a pesca e cultivo) e utilizando-o como meio de transporte e lazer. A maioria da população urbana trabalha no mercado informal, pois apresenta baixa qualificação profissional, pois não seguem as normas da racionalidade hegemônica (SANTOS, 2008, p.120). A renda familiar advém, principalmente, do chefe de família, e é no máximo 2,49 salários mínimos e 70% da população urbana vivem com menos de meio salário mínimo por pessoa. O Estado não exerce, com satisfação, suas funções sociais e políticas para o bem estar da população rural e urbana, de modo que agora, com a construção da usina hidrelétrica, essa população está se desenvolvendo economicamente, ou seja, o que era pra ser de responsabilidade do Estado (incentivos técnicos, ampliação da informação e informatização, melhor infra-estrutura, etc.), agora passa a ser responsabilidade das grandes empresas (SANTOS, 2008, p.38), mesmo que de forma indireta e sem esse objetivo Organização territorial, localização e estrutura viária: O território das cidades da região está organizado hierarquicamente em cidades consolidadas, (Imperatriz e Araguaína); de articulação, (Estreito, Tocantinópolis); complementares: (Filadélfia, Goiatins); de apoio (Babaçulândia, Darcinópolis); e cidades sem 2
3 expressão urbana, recém emancipadas (Aguiarnópolis). A usina localiza-se entre duas cidades com grande fluxo de pessoas, transportes, e está relativamente próxima às cidades consolidadas. A empresa justifica a seleção de sua área como sendo a menos impactante sócio-ambientalmente, mas na verdade, elementos dotados de técnicas hegemônicas, mesmo sendo por parte do Estado, foram levados em consideração (SANTOS, 2008, p.26), como a estrutura viária em boas condições (BR 230, conhecida como Transamazônica ; BR 226, conhecida como Belém-Brasília ), a presença da Ferrovia Norte-Sul, além do sistema hidroviário (as balsas), o que favorece tranquilamente a circulação de materiais, operários e máquinas. Milton Santos, ao falar da atuação do Estado e do uso do território, diz que as empresas transnacionais ou as instituições supranacionais não detêm de força normativa para impor, sozinhas, dentro do território, suas vontades políticas e econômicas, no entanto, a sua implantação não se resume a apenas processos técnicos, mas principalmente todo o entorno, como mercado e infra-estrutura geográfica, pois sem isso dificilmente terá êxito (2008, p.77). 2. Consequências da implantação da Usina Hidrelétrica do Estreito-MA 2.1. Meio econômico: a maior parte da energia gerada pela usina será destinada às indústrias eletrointensivas (produção de alumínio, por exemplo). Aí está o excesso de finalidade dos objetos técnicos dos quais Santos e Silveira falam, ou seja, cumprem somente o papel para qual foram planejados, (2006, p.70), e isso corresponde a uma lógica competitiva que privilegia as relações externas que estão sob o comando das empresas globais (2006, p.254), pois é certo que os produtos das indústrias eletrointensivas são exportados para o mercado internacional. Entretanto, constituindo-se como um fixo, e, como tal, modificando o lugar (SANTOS, 1997, p.50), a usina contribuiu para o surgimento de novos serviços: pousadas, clínicas, espaços privados de lazer, condomínios, restaurantes, serviços de manutenção técnica, serviços gráficos, de informação, etc. No RIMA da usina, recomenda-se que, sempre que possível, a empresa dê preferência à produção local, mas isso ainda não é possível de forma satisfatória. E, paralelamente a isso, o fluxo aumentou e modificou o valor dos novos fixos (SANTOS, 1997, p.50), de 3
4 modo que estes estão sendo cada vez mais freqüentados e atendendo às exigências da sociedade, como um melhor atendimento e boa infraestrutura Meio social: agora, a população se vê diante de uma nova configuração territorial, determinada por uma obra humana (SANTOS, 1997, p.51), que se constitui como um evento não isolado (SANTOS, 1997, p ), portanto, influenciando as ações e os objetivos da população, pois, com o surgimento dos novos tipos de serviços e ampliação dos antigos, cria-se uma expectativa social, fazendo com que as pessoas pensem em adquirir um bom nível de escolaridade e de qualificação profissional para se inserirem no novo mercado de trabalho que agora se apresenta. Agora elas estão mais preocupadas com isso, desejam se globalizarem (SANTOS, 1997), querem ter acesso á informação e à informática, já que a inserção de computadores está ampliando-se até mesmo nos pequenos comércios. Na usina, muitos operários vêm de outras cidades, confirmando a baixa qualificação da população, portanto, ao mesmo tempo em que a usina gera empregos diretos e indiretos, gera desemprego também. Um exemplo é o caso das famílias que exerciam alguma atividade agrícola e foram desapropriadas de suas terras, ficando sem renda elas e seus empregados, o que nos leva a deduzir que esta população num primeiro momento, muito possivelmente, fará parte do mercado informal, pois não terão acesso aos novos serviços, relações e idéias que estão na base da racionalidade hegemônica, que estão nos princípios da globalização, multiplicando-se cada vez mais (SANTOS, 2008, p.128) A urbanização: em função da geração de empregos diretos e indiretos, a atração de imigrantes é certa, por isso, uma pressão sobre a infra-estrutura local poderá se agravar, mesmo que a migração seja do tipo pendular. Até o presente momento, a urbanização está se intensificando, mas não se ampliando significativamente, ou seja, as pessoas que estão indo morar na região, ou mesmo passar alguns turnos do dia, estão se instalando na zona urbana que já existia antes da criação da usina devido à baixa densidade. Portanto, está havendo uma especulação imobiliária, uma valorização do espaço urbano já estabelecido, de modo que essa dinâmica 4
5 (correspondente à lógica globalizante) faz com que novos objetos urbanos sejam inseridos (praças, casas, condomínios, etc.), mas não apagando os antigos (SANTOS e SILVEIRA, 2006, p.253). Entretanto, é válido lembrar que, num futuro não tão distante, esse valor pode ser alterado quando as obras de construção parar, já que vai diminuir o fluxo e a fixação de pessoas na cidade. É o que SANTOS e SILVEIRA (2006, p ) falam sobre a valorização e desvalorização dos territórios em função, por exemplo, do momento vivido. CONSIDERAÇÕES FINAIS A globalização tenta impor suas lógicas e princípios em todos os espaços, até mesmo naqueles mais remotos. E o aspecto negativo disso, é que por mais que ela planeje (ou não) suas ações, é o lugar que, mais cedo ou mais tarde, irá distorcer os seus objetivos. No caso do Estreito-MA, é a usina hidrelétrica, atendendo a uma demanda global, quem está determinando toda a dinâmica da cidade, e também de outras próximas a ela. É a empresa que está sendo responsável por todo o processo de intensificação da urbanização, do aumento da geração de emprego, do crescimento do comércio e de toda a socialização dos habitantes. Mas é ela (a empresa mais todas as suas influências diretas e indiretas) que também, juntamente com a política, está gerando uma camada social excluída, que não dispõe de meios materiais e imateriais para se inserir na nova ordem imposta pela cultura de massa (SANTOS, 2008, p.144). A pressão que a população está sentindo diante do emaranhado de técnicas que se intensifica a cada dia no contexto socioeconômico (SANTOS, 2008, p.128), causa uma revolta, representada na deformação da cultura de massa. Um bom exemplo disso é toda a dinâmica que o comércio informal gera, resistindo à lógica dos produtos de alto valor do mercado global que não chega á maioria da população. (SANTOS, 2008, p.144). Vê-se que a área em estudo possui potencialidades para um bom desenvolvimento econômico, entretanto, a falta de um adequado planejamento social e espacial constitui empecilhos para a sua realização. É de interesse da população participar de toda essa dinâmica que está ocorrendo em seu território, mas é de responsabilidade, principalmente da 5
6 política (assegurando educação, saúde, incentivos técnicos, etc.), fornecer a correta inserção da sociedade nesse novo contexto. Falta finalizar as considerações finais. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS SANTOS, Milton. A Natureza do Espaço. 2ª ed. São Paulo: Editora Hucitec, O novo mapa do mundo: fim de século e globalização. 3ª ed. São Paulo: Hucitec, Por uma outra globalização. 15ª. Rio de Janeiro: Record, SANTOS, Milton; SILVEIRA, Maria Laura. O Brasil: território e sociedade no início do século XXI. 9ª ed. Rio de Janeiro: Record, Relatório de Impacto Ambiental-UHE Estreito. CNEC Engenharia A.S
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